O mais alto andava de um lado para o outro agoniado. Bagunçava seus próprios cabelos enquanto pensava no que Baekhyun acabara de dizer. Em seu rosto deixava que uma expressão de pura angústia transparecesse, até se jogar novamente no sofá ao lado do menor.
— Você tem certeza? — Indagou olhando fixamente nos olhos do ex anjo.
— Foi ele que eu vi, não tenho dúvidas disso. — Baekhyun balançou a cabeça.
— Mas ele morreu. — Suspirou pesadamente. — Quer dizer que ele está preso em algum lugar tipo... Inferno? Acho que está na hora de você me dizer o que acontece com as almas das pessoas que morrem.
— Nós... Quero dizer, os anjos da morte têm que destruí-las. — O menor desviou o olhar, fitando um ponto qualquer na sala. Não queria encarar Chanyeol.
Não pôde ver quando Chanyeol levou as mãos ao próprio rosto, deslizando-as por ele enquanto tentava processar aquela informação.
— Se é assim, a alma do Soo foi destruída quando ele morreu. Por que diz que ele está preso em algum lugar?
— Uma vez eu ouvi o chefe dizendo para outro anjo sobre almas que não foram destruídas por alguma razão. Eu não me lembro muito bem porque não prestei atenção na conversa. — Baekhyun deu uma última olhada no garoto da foto e fechou o álbum. — Tem uma chance da alma do seu amigo não ter sido também.
— E onde você acha que ele pode estar? — Era evidente a angústia no olhar de Chanyeol.
— Eu não sei. — Suas mãos que seguravam o álbum tremiam. — O Jongin que deve saber...
Aquele nome novamente. Alguns flashbacks se passaram pela cabeça do mais alto, começou a se lembrar de Kyungsoo. Lembrou-se dos momentos que passaram juntos e também daquele nome. Jongin.
Ou "O garoto misterioso dos sonhos", como o próprio Kyungsoo o chamava.
— Quem é esse? Você falou dele no outro dia. — Chanyeol ao notar que o outro estava trêmulo, tirou o álbum das mãos do menor e o colocou em um canto qualquer do sofá. Segurou as mãos alheias e acariciou-as devagar, como se tentasse acalmar o garoto de alguma maneira.
— O anjo que teria que dar fim à alma do Kyungsoo. Ele é meu amigo, ou era, eu não sei. — O menor começara a chorar. Chorava tanto pela dor dos ferimentos nas costas onde antes estavam suas asas, quanto por acreditar ter perdido a amizade de Jongin. — Eu tenho que encontrá-lo...
Baekhyun ia se levantar para de alguma forma sair à procura de Jongin, mas Chanyeol o puxou pelo braço, o fazendo sentar-se em seu colo. O mais alto o abraçou por trás com cuidado para não machucá-lo e apoiou o próprio queixo no ombro alheio.
— Ei... Se acalma, Baekkie. — Depositou um beijo na bochecha do garoto. — Primeiro vamos tomar um banho e trocar esses curativos, certo?
Baekhyun apenas concordou com a cabeça, e com isso o mais alto o soltou do abraço.
— Vai você primeiro, eu vou pegar algumas roupas e toalhas limpas, está bem? — Chanyeol dera outro beijo na bochecha do pequeno.
— Me ensina... — Baekhyun disse baixinho, envergonhado por ainda não saber muito sobre como se comportar sendo um humano.
O menor enfim se levantou sem perceber seu próprio rosto corado por conta da vergonha. Chanyeol riu com a cena e também se levantou para logo após guiar Baekhyun até o banheiro. Entraram e então Chanyeol começou a falar.
— Bom, você tira as roupas e entra em baixo da água para se limpar. — Achava meio estranho ter que explicar algo assim para alguém, mas não poderia culpar Baekhyun. Ligou o chuveiro e deixou que a água quente caísse.
Baekhyun olhou assustado para o chuveiro dentro do box, e novamente o maior riu, deixando o pequeno mais corado e fazendo bico.
— Não precisa ter medo, essa água não é gelada igual a do mar. — Chanyeol continuou. — Vou buscar o que havia dito.
O maior saiu e fechou a porta. Baekhyun, ainda receoso, colocou apenas as pontas dos dedos em baixo d'água para averiguar se realmente era seguro ou se aquela água também seria fria e extremamente inconveniente. Surpreendeu-se ao notar que muito contrário ao que pensava, aquela temperatura era agradável. Tratou logo de tirar as roupas que vestia e entrar em baixo d'água, sorrindo ao sentir a mesma relaxando seus músculos. Fechou o box e ficou ali por longos minutos.
Chanyeol enfim voltou com as toalhas e roupas, bateu na porta e entrou, notando pelo vidro embaçado do box que o menor ainda tomava banho. Engoliu seco.
— Baekkie, eu trouxe as toalhas e roupas. Vou deixar aqu-...
Fora interrompido quando Baekhyun muito animado abriu de uma vez o box. Chanyeol na mesma hora sentiu seu rosto esquentar ao ver o corpo do outro nu pela primeira vez, e tratou logo de cobrir sua visão com a toalha de cor escura que trouxera.
— Nyeol! Água quente é maravilhosa. — Dizia empolgado até notar que o outro escondia o próprio rosto com a toalha, e não a tirava por nada. — O que aconteceu? Por que não quer me olhar? Eu fiz algo ruim?
— Não, Baekkie. É que... Você está sem roupa.
— Mas foi você que disse para eu tirar! Aigoo. — O menor bateu o pé no chão, fazendo birra.
— Para tomar o banho sim. — Chanyeol abaixou minimamente a toalha, mas logo a puxou para cima de novo ao ver que o outro ainda estava com o box aberto.
— O que tem? Não pode ficar assim na sua frente? — Indagou enquanto desligava o chuveiro.
— Não, não pode.
— Por que não? Humanos são tão estranhos.
— Baekkie, apenas se seque e coloque essa roupa que eu trouxe, está bem? — Fechou os olhos e esticou as mãos para entregar os tecidos ao garoto à sua frente.
— Tá. — Baekhyun pegou as toalhas e roupas, e riu ao ver o jeito desajeitado com que o outro tentava sair do local ainda com os olhos fechados. — Vai bater na parede assim.
— Shh! — Enfim o maior conseguiu sair, respirou fundo e soltou um longo suspiro.
Baekhyun estava deitado de bruços no colo do namorado, em sua cama, enquanto o mesmo tratava de trocar os curativos de seus ferimentos. Vez ou outra resmungava e se rebatia, reclamando da ardência causada pelos remédios.
— Fique quieto, assim vai demorar mais. Temos que ir atrás desse Jongin, não é? Então não se mexa. — Disse simplista enquanto continuava a cuidar do menor.
Chanyeol o achava fofo até mesmo em momentos como esses. A cada dia que passava só estava ainda mais apaixonado por Baekhyun. Queria mimar, cuidar e proteger seu pequeno de qualquer coisa que pudesse fazê-lo ficar triste.
— Tá. Vai logo, Nyeol...
★
Cerca de uma hora mais tarde já estavam prontos. Baekhyun sugeriu que procurassem nos locais da cidade onde Jongin costumava frequentar, como aquela praia ou o cemitério, próximo ao túmulo de Kyungsoo. Sabia que não conseguiria ver o moreno a menos que este o permitisse, torcia para que o anjo da morte não ignorasse seus chamados, esperava que ainda fossem amigos.
Sem resultados pelas ruas, na praia, nem mesmo no cemitério - local onde agora estavam pela segunda vez naquele dia. As flores ainda estavam ali, como se acabassem de ser colocadas.
Baekhyun ofegava por conta do cansaço, haviam andado mais do que na trilha.
— Não tem problema, Baekkie. Nós vamos encontrá-lo...
— JONGIN! — Baekhyun gritou, parando próximo ao túmulo de Kyungsoo. — Eu não consigo te ver e nem sentir a sua presença, por favor se você está aí me diz...
Não tardou até que o moreno - que na verdade estava os seguindo desde que chegaram na praia antes de irem para o cemitério - permitisse que Baekhyun o visse. Estava sentado ao lado das flores em cima daquele túmulo.
O ex anjo abriu seu melhor sorriso ao ver o moreno, e sem pensar duas vezes pulou para abraçar o amigo, que o retribuiu sem pestanejar.
Chanyeol era o único no local que ainda não podia vê-lo, e isso o deixou confuso, mas não quis interromper.
— Como está, agora que é humano? — O moreno quebrou o silêncio.
— É muito bom! Você está bravo comigo? — Baekhyun apertava um pouco mais o abraço.
— Não. — Afagou os cabelos alheios.
Era a primeira vez em muito tempo que Jongin era tão carinhoso com o menor, diferente de seu habitual mau humor. Baekhyun soltou o amigo e se levantou.
— Nyeol, esse aqui é o meu amigo que falei...
— Baekkie... — Chanyeol bagunçou seus próprios cabelos, um tanto quanto sem graça. — Eu não o vejo.
Baekhyun teve suas bochechas rubras no mesmo instante em que voltou o olhar para Jongin e o mesmo estava rindo de si. Até que então permitiu que Chanyeol o visse também.
— Olá, Park Chanyeol. — Jongin foi o primeiro a se pronunciar.
Chanyeol ficou estático por alguns momentos. Aquele era realmente o garoto dos desenhos de Kyungsoo, até a expressão serena em sua face era a mesma. Olhá-lo assim era como se lembrar dos dias com Kyungsoo.
— Prazer em conhecê-lo. — O humano sorriu simpático.
O que não entendia era o motivo pelo qual Jongin mesmo amando Kyungsoo deixou que este morresse. Se não deixasse, não poderiam viver juntos como Baekhyun e ele estavam agora?
— Jongin, quando teve que cuidar do Kyungsoo... — Baekhyun os interrompera preocupado. — ...Como você destruiu a alma dele?
O anjo desviou o olhar, claramente incomodado com a pergunta, mas se propôs a relembrar.
— Quando ele morreu, eu a vi saindo de seu corpo. — Começou a explicar. — Eu me lembro de tê-la abraçado com todas as minhas forças. Eu estava chorando e meu corpo estava fraco, eu tremia e meu peito doía... Então o chefe apareceu e selou meu relógio, eu apaguei logo depois disso. Não me lembro de ter destruído a alma dele, embora tenha quase certeza que isso foi feito, já que quando acordei ela não estava mais lá.
"Relógio?" Pensou Chanyeol que prestava atenção em tudo que o anjo dizia.
— Ela não foi, Jongin. Eu vi o Kyungsoo! Ele está preso em uma floresta toda feita de espinhos. Que lugar é esse? — Baekhyun explicava um tanto desesperado.
— Floresta de espinhos? — Indagou o anjo.
— Ele sonhou com isso. — Chanyeol enfim entrou na conversa.
Jongin sabia que embora houvessem pouquíssimos anjos que se tornassem humanos, alguns deles mantinham algumas características consideradas paranormais para os demais humanos. Tal como ter visões em sonhos, por exemplo. Um fio de esperança se acendeu em seu peito, e quase de imediato suas lágrimas caíam, molhando as flores ao seu lado e como consequência trazendo a chuva.
Baekhyun se assustou com a água gelada tocando sua pele e pulou nos braços de Chanyeol, que logo o segurou, tentando acalmar seu namorado.
— Desculpa. — O anjo disse enquanto sorria e secava as lágrimas, o que não resolveu muito já que outras caíam. — Eu vou procurá-lo, está bem? Eu... Prometo que vou encontrá-lo, nem que minha existência dependa disso.
Sem esperar uma resposta, Jongin em um pulo sumiu por entre as nuvens. Estava disposto a encontrar Junmyeon. Se alguém soubesse de alguma coisa, com toda a certeza do universo seria ele.
Já no reino celestial, o anjo da morte não demorou a encontrar o arcanjo. Voou para cima do mesmo, com um misto de expectativa e até mesmo um pouco de irritação que o outro não entendeu inicialmente.
— Ei, Junmyeon! — Agarrou as vestes celestiais de seu chefe, o puxando mais para perto de si.
— Não seja insolente, anjo da morte. — Em um movimento rápido se livrou das mãos de Jongin.
— Onde está a alma do Kyungsoo? O Baek disse que ela está presa em algum lugar.
— Baek? Baekhyun? Aquele anjo traidor? — O arcanjo riu ríspido.
— Junmyeon! Por favor... Me diga o que houve com a alma do Kyungsoo...
— Algumas almas não podem ser destruídas. Almas cujos donos foram amados profundamente por um anjo, sendo de uma tríade ou não.
— Por que nunca me disse isso? — Jongin voltara a se irritar.
— Eu só cumpro com as minhas obrigações. — Junmyeon lançou um olhar autoritário para o outro.
— Por favor... Me diga para onde elas são enviadas. — O anjo da morte estremeceu por conta do olhar alheio.
— Nessas raríssimas situações, nós arcanjos temos o trabalho de jogá-las em um dos "Abismos das almas rachadas". Cada abismo tem características próprias de acordo com o anjo que o formou.
— Meu... Abismo? Eu formei um abismo? — Jongin perguntou incrédulo.
— Um novo se forma sempre que um anjo se atreve a amar um humano. O seu é a floresta dos espinhos. Representada pelos mesmos espinhos que rodeiam o seu relógio. — O arcanjo apontou para o peito do anjo da morte.
— Como eu posso chegar lá? — Jongin apertava sua camisa na região do peito e abaixava a cabeça.
— Na montanha mais alta do nosso mundo. Olhando para baixo, do outro lado dela, você vai ver a passagem para o abismo, é só pular de lá. — Junmyeon pausara por alguns momentos. — Mas tem um preço muito alto a pagar.
— Eu não me importo...
— Quando cruzar a fronteira do abismo, suas asas vão cair. Jongin, você vai se tornar um anjo caído e ficará preso no seu próprio abismo pela eternidade.
— Como se eu já não me sentisse em um abismo. — Riu com escárnio.
— Você que sabe, não me envolvo mais nos seus problemas. — O arcanjo deu de ombros.
— Obrigado por tudo, Junmyeon.
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