História Eternos Amantes - Capítulo 8 - A Arapuca

(NARRADO POR RICHARD) 

 O que Altiva estava fazendo alí? Ela devia estar internada! Esse seu aparecimento deve com certeza ter alguma coisa a ver com o sumiço de Santinha…

Andei atrás dela gritando por seu nome, mas ela não parava. Quando dei por mim, já estávamos saindo de Greenville. Era puro mato. 

Ela estava a alguns metros de distância na minha frente. Não conseguia alcançá-la. Ela passou por um portal velho, muito enferrujado e fui atrás. Entramos em um cemitério. Pelo visto, estava abandonado há um bom tempo! O que diabos ela estava fazendo alí? Seus passos não cessavam. Andamos com muita dificuldade por alguns minutos. Ela parecia já conhecer melhor o caminho, mas também tropeçava às vezes por conta do relevo variável. Pensei que ela estivesse sem rumo, ou tentando fugir de mim, até que chegamos a um jazigo. Ela bateu na porta, virou-se e ficou me olhando com o sorriso mais cínico que sabia dar.

Parei de correr quando já estava a poucos metros dela e fui caminhando lentamente proferindo algumas palavras pedindo que ela se acalmasse e parasse de fugir. De repente, a porta já envelhecida e desgastada pelo tempo foi aberta por um homem que cumprimentou Altiva, lhe fez sinal para entrar e ela foi. 

 - Muito prazer! Você deve ser Richard da Silva Taylor. -Eu apenas o olhava, afinal não fazia ideia de quem fosse. - É um prazer conhecer o homem que tentou tirar Santa Maria de mim. -Esticou sua mão para mim esperando que eu correspondesse o gesto.

Ao escutar o que ele disse, me recordei na mesma hora do dia, ou melhor, da noite em que Santinha apareceu em meu clube e chamava incessantemente por um tal de "Mateus". 

- O que você fez com a minha noiva? -Disse raivoso sem ao menos lhe cumprimentar como ele esperava. 

- Sua noiva? Não a conheço… Estou somente com a minha mulher e sua irmã aqui. -Ele disse sorrindo. 

 - Let's go! Me diga onde Santa Maria está! -Lhe puxei pelo colarinho de sua blusa erguendo-o do chão. 

 Todo o cinismo contido naquela sua falsa alegria, acabara de se desfazer. Mateus se soltou bruscamente de minhas mãos e me indicou o caminho. Entramos naquela capelinha e observei todos os detalhes, até que ele me mostrou uma pequena porta na parede e me disse: 

 - Desça. Santinha está alí. Pode ir se despedir de minha mulher. -Aquele crápula fez questão de frisar o "minha". 

Queria matá-lo! Mas a vontade de ver Santa Maria falou mais alto ainda. Comecei a descer a escadaria e logo vi minha Santinha deitada em um colchão chorando. Seu estado estava deplorável. Paralisei. 

 - Oh good! Não vai ir vê-la? -Altiva chegou em minhas costas gritando, o que me tirou do transe e fez Santinha olhar para mim. 

- Richard! -Santinha gritou no mesmo tempo em que se levantou e veio correndo em minha direção. Correspondi e fui a seu encontro. Nos abraçamos fortemente. - É perigoso ficar aqui. Mateus pode chegar a qualquer momento. Vamos sair daqui, venha. -Ela tentou me puxar pela mão. 

 - Mateus sabe que esse aí está aqui minha irmã. Ele tem planos para ele. Aguarde seu Richard da Silva Taylor! -Altiva falou em tom de vingança, o que assustou a mim e a minha noiva. 

 Santinha tentou subir as escadas me puxando pela mão, mas Altiva gritou por Mateus e ele abriu a portinhola vindo àquele lugar horroroso onde estávamos.

 - Meu amor… -Ele falou com Santa Maria. Cada vez mais queria acabar com ele. - Eu lhe dei um tempo para se despedir desse homem de grande estima que cuidou de você enquanto eu não podia e você queria ir embora? Não, não… Nós dois vamos embora sim, daqui a pouco, mas agora temos o grand finalle! -Falou garboso e gargalhou. - Vamos lá para fora.

Nos encaminhamos para o exterior daquele mausoléu e quando chegamos, Mateus puxou Santinha de meus braços e pediu para que eu ficasse mais à frente dos três. O obedeci por pedido de minha noiva que temia qualquer ato insano de seu ex. Quando me coloquei na posição pedida, ele tomou em punho uma arma que estava escondida em sua cintura. 

 (NARRADO POR ARTÊMIO)

Percorremos todas as casas da pequena cidade e nada de minha mãe branca. Voltamos ao ponto de encontro e meu pai não estava lá. Estranhamos, mas pensamos que ele talvez ainda estivesse olhando em outros lugares. Esperamos uma hora no máximo enquanto ainda tentávamos achá-lo. 

- Não é possível! Agora são dois desaparecidos! -Minha mãe preta já estava se desesperando. 

 Um senhorzinho nos disse que Richard tinha ido para fora da cidade gritando por uma mulher muito misteriosa. Pensamos ser algo perigoso, então eu e Helena fomos pelo caminho que o homem indicou. Era uma única estradinha de terra, não tinha erro! Os demais, ficaram em Greenville para caso eles voltassem.

 (NARRADO POR SANTA MARIA)

 - Não faça isso Mateus! Eu lhe imploro por tudo quanto é mais sagrado. -Eu clamava desesperada para que ele não fizesse nada contra a vida de meu amor. 

 - Nós não precisamos mais dele Santinha… Agora já estou aqui para cuidar de você. - Falou olhando para mim sem deixar de apontar a arma para Richard. Quero que você veja a morte deste senhor para que você saiba que eu sou e sempre serei seu único homem, entendeu? 

 Eu chorava muito e em um ato corri ficando na frente de meu noivo tentando protege-lo. 

 - Get out Santa Maria! Não quero que você saia ferida. -Richard falou e tentou me tirar da frente seu corpo, mas eu me agarrei ainda mais à ele e parecia ter os pés cravados naquele solo castigado. 

 - Qualquer coisa menos isso Mateus! Você não é esse monstro, você é uma pessoa boa, sempre foi incapaz de uma coisa dessas. -Eu tentava convencê-lo de desistir daquilo. 

 - Santinha, por você eu sou capaz de completamente tudo. Ouviu bem? Tudo! 

 - Escute, eu já lhe amei! Antes de ficar com Richard, ele já me escutou chamando seu nome sem parar. Eu sofri quando não pudemos mais nos encontrar… Mas agora, meu amor é Richar, não adianta o que você fizer Mateus. -Me aproximei dele na tentativa de aos poucos tirar aquela arma de suas mãos. - Todos nossos momentos felizes juntos vão ficar guardados em meu coração para sempre, agora, se você matar Richard toda esse carinho que sento por você vai se transformar em mágoa! Ele me escutou atento e senti que cada vez mais ele se sensibilizada da loucura que estava querendo cometer.

 - Será que vou ter que passar toda a minha vida te salvando desse aí, Santinha? -Altiva falou apontando para Richard quando percebeu que eu estava quase convencendo seu comparsa. - Me dê logo essa arma, vocês homens são uns frouxos mesmo! -Ela a tomou das mãos de Mateus e voltou sua atenção para Richard. Ela o odiava, sempre o odiou!

 - Solta essa arma agora, sua bruxa! -Escutei a voz amargurada de meu filho querido, Artêmio e na mesma hora, espantados, todos nós nos viramos para onde vinha o som. 

Com o susto, Altiva deixou que o revólver caísse de sua mão. Richard aproveitou o momento e a imobilizou. Quando Mateus parecia se movimentar para pegar a arma do chão, Artêmio se apressou e também o imobilizou. 

 - Liga para a polícia Helena! Liga logo, por favor. -Eu estava desesperada.

 - A polícia já está à caminho, eles já estão sabendo de tudo, agora se acalme… Você está muito fraca. -Ela tentou me ajudar.

Richard prendeu Altiva dentro da capelinha onde Mateus tinha me deixado em cárcere e quando Artêmio se vangloriava da chegada da polícia, Mateus se aproveitou e lhe deu um golpe conseguindo se libertar. Correu muito rápido em direção a arma e a empunhou mais uma vez. 

 - Se você não poderá mais ser minha em vida como mulher, será minha em lembranças no céu, Santa Maria! -Ele apontou a arma para mim. Fechei os olhos em sinal de medo e escutei o soar do disparo.

 (NARRADO POR RICHARD) 

 Quando escutei o que aquele um disse, senti um aperto muito forte no peito. Eu estava atrás dele terminando de trancar Altiva e quando escutei a arma sendo carregada, me virei rapidamente e desviei sua mão da mira de minha noiva. Acabei caindo no chão a alguns centímetros de distância dele. 

A bala fez um ângulo pequeno, saiu do cano girando, furou o ar como se fosse uma broca e acabou caindo com a ponta virada para baixo, quase sem perder o pique exatamente em cima do ombro de Mateus. Nós nos olhávamos incrédulos do que vimos agora. Santa Maria tampou a boca, Helena entrelaçou seus dedos nos cabelos, Artêmio abriu a boca sem soltar nenhum barulho e eu fiquei ainda no chão olhando para ele. A polícia chegou naquela mesma hora. Os gritos de Altiva ainda eram audíveis. 

Me levantei e fui para perto de Santinha. A abracei e ficamos olhando os policiais fazerem seu serviço. Um deles ligou para a emergência do hospital pedindo uma ambulância para Mateus que estava perdendo bastante sangue. Os policiais tomaram nossos depoimentos afim de saber o que estava acontecendo e depois disso os paramédicos chegaram para ajudar Mateus e tiraram Altiva de onde eu havia a colocado. 

 - Altiva não fez por mal não seu polícia… Ela está com problema na cabeça entende? Está delirando e Mateus se aproveitou disso. Ela estava até internada. -Santinha disparou a falar quando viu um dos homens colocando sua irmã no camburão. 

 - Fique calma Santa Maria… -Me aproximei novamente dela e coloquei uma mão em seu ombro para tentar acalmá-la. - Eles só vão colher o depoimento de Altiva e depois com certeza vão mandá-la de volta para o hospício. 

 Santinha apenas cocordou com a cabeça. Ela sabia que eu tinha razão. 

 - Vamos, nós levaremos vocês até Greenville. -Um dos policiais nos falou. 

Entramos no carro e fomos até a cidadezinha. Nunca quis tanto voltar para lá!