História Eu - Capítulo Único

Eu não sou isso... Ou melhor, eu sou. Mas eu não queria ser. Pelo menos, agora, não. Agora, eu queria tirar tudo isso. Eu morreria para me livrar disso. Eu sentia as salgadas lágrimas rolarem pelo meu rosto.
A mesma cena de antes se repetia. Mas, ao mesmo tempo, era completamente diferente.
Semana passada, eu chorava por não ser assim. E hoje choro por ser assim. Me lembrou mês passado, que chorei do mesmo modo por estar assim.
Me via no espelho, e não me reconhecia. Eu não queria esses seios. Não queria esse esmalte. Não queria esse vestido, esses saltos, essas jóias e nem essa maquiagem. Eu não me sentia assim. Mulher.
A primeira coisa que fiz foi tirar a maquiagem e o esmalte. Depois a jóias, os sapatos, para só então tirar o vestido. Peguei o que agora parecia ser a minha melhor amiga. Aquela cinta velha e surrada, mas que sempre esteve comigo.
Alguns me chamariam de maluca pelo que faço com ela quando estou assim. Outros concordam comigo que esse é o melhor uso. Pus a cinta sobre meus seios, e fechei-a, fazendo com que o local onde fica o meu peitoral perdesse todas as curvas que antes  possuía. Consegui sorrir com isso. Mas não havia terminado.
Vesti a calça jeans mais larga que possuía, e logo depois uma camiseta escrita "Cool Guy". Aquilo me fez sorrir novamente. Calcei um coturno, e terminei pondo uma pulseira de couro com um pingente de âncora. Pus alguns anéis grossos de prata em meus dedos. E um óculos escuro de aviador.
Sim, agora estava bom. Eu me olhava no espelho, e aquilo era quem eu era. Ele sim me representava. Penteei meus curtos cabelos para trás, o que me deu um ar cada vez mais masculino. Agora sim. 
As lágrimas pararam de cair. E um sorriso tomava o seu lugar. Eu era um belo homem. Quem me visse, nunca pensaria que havia seios por baixo da roupa.
Infelizmente, eu sei que aquela satisfação não iria durar. Poderia acabar amanhã ou na próxima semana, mês, ano... A qualquer momento. Mas, por enquanto, eu estava satisfeita.
O espelho estava mostrando quem eu realmente era nesse momento. Um homem. E eu, realmente, me sentia assim. Agora, nesse instante, ele reflete o que realmente sinto.