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História Eu, Aurora e Tyler - Meu amigo Tyler


Escrita por: madlyinsane

Capítulo 2 - Meu amigo Tyler


Agosto de 2017

 

  Ele mancava no caminho de volta para casa, seu pé ainda doía devido ao tombo da escada, mas pelo menos já havia desinchado e agora cabia dentro do All Star velho. Nick geralmente não percorria aquele caminho, não antes das quatro da tarde, mas um imprevisto um tanto inédito o fizera perder as três últimas aulas, coisa que não acontecia em um dia de aula normal na velha e chata West High School.

  Ainda hoje Nick não entendia a necessidade de atravessar quase quatro bairros de Nova York para frequentar o ensino mediano das escolas de West Village. Manhattan tinha ótimas escolas, era o que ele sempre dizia ao pai, não que ele se importasse muito com isso; no começo ele percorria aquele longo trajeto com dor no coração, mas hoje passou a ser o momento do dia que ele queria que parasse no tempo. Só ele e o vento por quase duas horas, longe de qualquer bagunça.

  Nicholas olhou no relógio em seu braço, eram quase três da tarde. Ele acabava de virar a esquina quando avistou sua casa, o gramado ainda coberto pela bagunça dos brinquedos deixados por Austin, o caçula da família. Ele nunca recolhia aqueles brinquedos, só os deixava cada dia mais bagunçados.

  Mais alguns passos tortos e já estava em casa, a porta da frente trancada como Anna sempre a mantinha enquanto confeitava os bolos na cozinha do fundos. A mãe de Nick era confeiteira desde que eles se entendiam por gente, trabalhava e vendia os bolos para quase todo o distrito de Manhattan, mesmo assim Vincent ainda achava aquilo uma perda de tempo, mas a esposa se recusava a abandonar aquilo pela qual era apaixonada.

  Nick deu a volta pela casa e entrou pelos fundos, agradecendo em silêncio pela mãe não ter notado sua presença, assim não teria que explicar a ninguém o porquê de estar ali naquele horário. Ele cruzou a ampla sala de estar em direção a escada que o levava para o segundo andar, seu quarto ficava o mais isolado possível do resto da família, assim ele podia manifestar suas psicoses sem ser interrompido. Ele jogou a mochila em um canto qualquer e desabou na cama, estava mais cansado que o normal, tudo doía, desde o pé até a cabeça; fechou os olhos e contemplou o silêncio por um momento, crente de que ele não duraria muito tempo.

  Levantou da cama e tirou o tênis, ainda mancando, ele foi até o espelho pendurado na parede e respirou fundo antes de tirar o suéter azul, com dificuldade. O espelho refletiu hematomas roxos por toda sua barriga e que se estendiam pelas costelas e até nas costas, ele sentia a dor de cada um deles. Eram marcas das agressões sofridas por aqueles que viam na esquizofrenia um defeito, que tomavam o diferente como inaceitável; todo dia era uma surra diferente, mas ele já havia acostumado. Nicholas era a piada da escola, não era digno nem mesmo de pena. Entre hematomas roxos e verdes, uma ferida que sangrava, era assim que ele ia vivendo.

  - Você apanhou hoje de novo, Nick? – uma voz doce e suave fez com que seu coração disparasse, mas voltou ao normal logo depois. Ele não precisou olhar para trás para ver de quem era a voz, o reflexo de seu amigo no espelho sentado na poltrona não o surpreendeu.

  - Hoje não. Já é um progresso. – disse ainda com os olhos nos hematomas, ignorando a imagem atrás de si.

  - Eu já disse o que você deve fazer, não disse?

  Nick se virou e olhou para o amigo antes de voltar a falar.

  - Não comece com essa história de novo Tyler, não quero brigar com você – ele sentou na cama novamente com as costas na parede – Eu não quero matar ninguém.

  - Mas eles quase matam você todo santo dia, por quanto tempo mais você acha que vai aguentar essas surras? – Tyler cruzou as pernas sobre a poltrona – Olha só pra essas marcas Nicholas, eles não dão a mínima pra você...

  - Chega Tyler!

  - Gritar comigo não vai curar suas feridas. Você sabe que eu sou seu único amigo, sem meus conselhos você já estaria no fundo do poço, e quem vai te jogar lá? Você já sabe quem...

  - Eu só quero ficar em paz, Tyler, longe de tudo isso, só eu e você. – ele fechou os olhos.

  - Você pode ter isso a hora que você quiser.

  - Eu sei, mas por enquanto eu vou levando – Nick respirou fundo – Nada como um dia após o outro pra curar as feridas.

  - Mas e aquelas que não cicatrizam? – Tyler perguntou.

  - Essas aí a gente dá um jeito.

***

  O tilintar dos talheres nos pratos eram a única coisa que se ouvia naquele momento. Anna dizia que um jantar em família só era jantar se fosse a mesa; a mulher, o marido e os 3 filhos. Uma farsa, aquilo era bobagem, uma grande bobagem. Nick olhava para o bife à milanesa em seu prato com o estomago embrulhado, ele não tinha o habito de comer nas refeições certas, só mexia e remexia na comida até ela ir para o lixo.

  - Você não tem nada pra contar para o seu pai, Nick? – perguntou Vincent quebrando o silêncio.

  - Eu acho que não.

  - Então me fale sobre sua mãe ver você chegando de fininho em casa as 3 horas da tarde. Está matando aula agora?

  - Eu não matei aula. – ele disse depois de tomar um gole de agua.

  - Então porque chegou nesse horário?

  - Vocês não veem o noticiário? Dispensaram todo mundo mais cedo porque um garoto foi preso com maconha, deu polícia e tudo.

  - Maconha? Nas dependências da escola? – perguntou a mãe de Nick, perplexa.

  - Isso é verdade Nicholas?

  - É verdade sim – respondeu Samantha, irmã mais velha de Nick – Eu fiquei sabendo disso, é nisso que dá colocarem seu filho na escola pública. Até o Brooklin seria melhor que West Village.

  - Samantha, por favor. – repreendeu Vincent – Mas quem era o garoto?

  - Acho que era o filho dos Klein.

  - Christian Klein? Não é o garoto que implica com você?

  - Todo mundo implica comigo pai.

  - Implicam porque você é especial – respondeu Anna ao perceber a tristeza na voz do filho – E as pessoas odeiam quem é especial.

  - Como descobriram disso? – perguntou Vincent voltando ao assunto.

  - Parece que alguém denunciou, mas não quiseram falar o nome, acho que é por segurança.

  - Esse mundo está perdido. Nem mesmo na escola nossas crianças estão seguras.

  - E bota criança nisso – disse Samantha em tom de deboche – Não é Nick?

  - O que você quer dizer com isso? Por que não diz pra mãe e para o pai por que trancou a faculdade?

  Ela largou o garfo no prato e se inclinou para frente, encarando o irmão.

  - Então diz pra ela por que parou de tomar seus comprimidos!

  - O que? Isso é verdade?

  Ele olhou para a irmã sem expressão nenhuma

  - Não todos mãe, só o Haldol.

  - Por que você parou? Por que só ele? – Anna perguntou.

  - O Tyler pediu, ele não gosta desse remédio. – ele disse com naturalidade.

  - Santo Deus, o que esse jantar virou?! Vamos começar com tudo de novo. – disse Vincent e depois saiu da mesa, deixando a comida pela metade.

  - Vincent por favor – ela pediu ao marido que ficasse na mesa, mas em vão. Ela olhou para o filho, um olhar sem expressão fixo na comida fria – Está tudo bem filho, não ligue para o seu pai você sabe como ele é.

  - Tudo bem mãe, talvez ele tenha razão.

  - Não Nick, depois eu converso com seu pai. Agora, só tome seu remédio, tudo bem? Por mim, filho.

  Anna disse antes de sair da mesa deixando Nicholas sozinho com os dois irmãos em um silêncio perturbador. Ele já não se abalava mais com discussões como aquela, já sabia o que esperar quando ele sequer tocava no nome ‘’Tyler’’. Mesmo depois de quase dois 2 anos, Vincent ainda não havia se acostumado com seu filho de 16 anos ter um amigo imaginário, era quase inaceitável.

  Ele continuou na mesa mesmo depois de todos os outros membros da família ‘’ darem o fora’’, fitando a comida enjoativa por alguns minutos, ou horas.

***

  Nick abriu o armário do banheiro em silêncio, mesmo sabendo que a casa toda já dormia. Os frascos de Valium e Depakene já estavam quase vazios, diferente do Haldol, quase cheio. Ele se olhou no espelho e não se assustou com a imagem de Tyler atrás de si.

  - Ainda acho que devia tomar esse. – ele disse com o frasco cheio na mão.

  - Está incomodado com o que seu pai disse?

  - Ele não gosta de você, Ty. Isso você já percebeu, desde a primeira vez que ele soube de você.

  - Não ligo para o que o seu pai pensa de mim, a única opinião que me interessa é a sua.

  - Eu sei. – Nick se virou para o amigo – Você não acha melhor eu tomar isso?

  - Já disse que não, isso não faz bem pra você. Você confia em mim não é?

  - É claro que sim. Só acho que...

  - Então não ache. – Tyler o interrompeu – Vamos, jogue logo todo o frasco fora, é bom pra evitar tentações. Vamos Nicholas.

  Nicholas subiu a tampa do vaso e virou o frasco de comprimidos, observando em silêncio junto com Tyler os remédios se afundarem na agua. Ele deu a descarga e eles sumiram de vez, o frasco vazio foi direto para o lixo.

  - Assim mesmo Nick. – Tyler apertou o ombro do amigo – Agora vamos, me conte sobre o seu dia.


Notas Finais


<3 espero que vcs gostem


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