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História Eu depois de você - Capítulo quatro


Escrita por: MissAtomicBomb_

Notas do Autor


Não tenho muito o que dizer hoje. Mas, espero que gostem.
Boa leitura.

Capítulo 5 - Capítulo quatro


Fanfic / Fanfiction Eu depois de você - Capítulo quatro

            Olhei o meu reflexo no espelho e dei uma piscadela para mim mesmo, não poderia ficar mais bonito. Passei minha mão pelo cabelo, para deixá-lo menos arrumado. Já havia se passado um mês que deixei o hospital e teria de fazer trabalho social na I Survived Association, um centro de reabilitação para deficientes físicos. Lá eles podem praticar esportes desde pingue pongue ao skate. Participar do grupo de voluntários da associação era uma das condições para que eu não fosse preso, além de pagar fiança. Seriam longos cinco meses...

            Meu olhar se desviou do meu reflexo entediado e foi ao encontro do porta retrato na mesa do computador. Meu pai tinha um sorriso estampado no rosto e estava na ponta de uma pedra, prestes a pular dentro da água. Nele havia um brilho da juventude, e como a minha mãe sempre dizia, parece que dividimos o mesmo rosto. Fico pensando no que se passava pela cabeça dela quando me via, se lembrava dele toda vez em que me via sorrindo... Já acordei diversas vezes sentindo suas mãos no meu rosto, ou no meu cabelo. Algumas vezes eu fingia continuar dormindo, mas em outras, não conseguia e sempre a pegava chorando. “Isso é coisa de mãe”, ela se defendia. Mas eu sabia que não era verdade. Quando eu era criança, chorava muito ao ver as fotos do meu pai, queria que ele não fosse só uma fotografia, queria que não tivesse morrido de hepatite quando minha mãe estava grávida de mim. Queria o ter conhecido e saber como seria tê-lo na minha vida. Talvez minha mãe fosse mais paciente, se ele estivesse conosco.

            — Está pronto? — Vianney colocou a cabeça pela porta entreaberta e me observou com um sorriso largo. — Está muito bem, garotão.

            Me senti mal por desejar ter o meu pai ao invés dele. Mas o que eu poderia fazer? De qualquer forma, era Vianney quem estava aqui comigo. Algumas vezes devemos parar de desejar coisas impossíveis e sermos gratos ao que está a nossa frente.

            — Preciso dar a volta por cima, não é mesmo? — saí do quarto, deixando a fotografia antiga do meu pai e tudo o que eu lamentava.

            Minha mãe estava arrumada, tirando as chaves da bolsa perto da porta da sala e lançou um olhar cúmplice para Vianney. Ele pareceu desconfortável e me olhou por um breve tempo.

            — Podemos ir? — perguntei para os dois. — Não posso me atrasar no meu primeiro dia de trabalho voluntário — fingi animação.

            Meu padrasto baixou a cabeça, olhando de soslaio para minha mãe. Ela sorriu para mim, e se aproximou.

            — Não pode, não — ela tirou dinheiro da bolsa. — Pega o ônibus antes que se atrase.

            Encarei sua mão com a pouca quantidade de dinheiro e observei seu rosto, incrédulo. Pegar ônibus? Sério?

            — Se eu fosse você, me apressaria — ela completou.

            — Mãe, o que é isso? Primeiro, não posso ir à Inglaterra neste ano, depois, você corta a minha mesada, agora isso?

            Ela coçou a cabeça e cruzou os braços, depois de colocar o dinheiro na minha mão.

            — Qualquer pessoa pode pegar um ônibus, não se sinta superior.

            — Não vai lhe custar muito me deixar naquela droga — me aproximei dela e olhei para Vianney, na tentativa de que ele me ajudasse, mas meu padrasto apenas desviou o olhar do meu.

            — Eu preciso ir na loja e o Vianney tem que trabalho no escritório. Você também tem um agora, trate de se apressar — ela andou alguns passos e depositou um beijo terno no meu rosto. — Faça isso, por você. Preciso ir agora, vamos Vianney, te dou uma carona.

            Depois que a porta foi fechada, senti-me abandonado. Como eles poderiam fazer isso? Peguei o celular no meu bolso e liguei para Lena. Não demorou muito para que ela atendesse.

            — Como está no trabalho? — ela perguntou demonstrando orgulho.

            — Ainda estou em casa. Acredita que minha mãe quer me obrigar a ir de ônibus?

            Ela riu do outro lado.

            — Sério? Não consigo imaginar isso, mas faria questão de ver — falou entre risadas.

            — Muito engraçadinha. Você bem que poderia me dar uma carona, estou com saudades — fiz minha voz mais irresistível, mas ela riu novamente.

            — Não posso, estou na loja. E além do mais, está o maior congestionamento na Champs-Elysees, se você tivesse que esperar por mim se atrasaria.

            — Congestionamento, por que? — sentei relaxado no sofá.

            — Interditaram a avenida para um desfile de moda-praia — Lena respondeu, desinteressada.

            — E por que você não está lá?

            Lena sempre esteve presente em tantos desfiles que sua frieza me surpreendeu.

            — Não gosto dessa marca, é muito vulgar. Preciso desligar, Ben.

            Sorri. Certamente um desfile de biquínis não seria pior que um trabalho voluntário. Quer dizer, minha mãe nunca saberia mesmo. Só uma faltazinha não faria diferença.

            — Tudo bem, até mais.

 

***

 

            Desci do ônibus, frustrado, mas pude me animar ao ver a Champs-Lysees lotada de pessoas e uma passarela enorme no centro da multidão. Nunca me animei com desfiles, algumas vezes, a minha mãe me obrigava a ir com ela à eventos do tipo. Mas era sempre o mesmo tédio: roupas extravagantes e sem sentido algum para mim. Como alguém se interessaria por isso? Fala sério! Mas o desfile de hoje era diferente. Me aproximei da passarela cortando a multidão e pude ver uma modelo negra só de biquíni. Depois uma loira e depois outra loira. Muitas mulheres bonitas, elegantes e sérias desfilavam, encantando o olhar de quem as viam.

            Um homem idoso se aproximou, com uma caixa de isopor.

            — Cerveja? — ele ofereceu. — Hoje eu cobro mais barato.

            Coloquei as mãos no bolso, mas lembrei que eu só tinha o dinheiro da passagem do maldito ônibus.

            — Não, obrigado — tentei parecer decidido.

            — Mas está tão barata — ele insistiu. — Pelo menos uma?

            — Só tenho o dinheiro da passagem — tive que admitir, sorrindo.

            O velho também sorriu, e saiu caçoando.

            — Coitado.

            Bufei, embora a situação fosse engraçada. Um vendedor ambulante estava caçoando o filho da dona da marca mais vendida de Paris. Fazia muito sentido.

            Depois de algumas horas, me senti entediado e peguei o ônibus de volta para casa. Ele estava mais cheio que da outra vez e isso me fez odiar mais ainda os transportes públicos.

            Já em casa, fui direto para o quarto após uma pequena refeição. Cochilei um pouco, até a minha mãe abrir a porta do meu quarto.  

            — Quer me dizer como foi hoje? — ela tamborilou os dedos na moldura da porta.

            Passei a mão nos olhos quase fechados de sono e respondi, levantando-me da cama:

            — Foi bem legal, gostei muito.

            Ela entrou no quarto, e por um momento seus olhos encararam o porta retrato com a fotografia do meu pai, mas logo desviou o olhar, um pouco atordoada. Em seguida, mexeu um pouco no celular e direcionou o seu olhar para mim.

            — Eu quis saber como foi o desfile — ela estendeu o celular para mim, mostrando a foto de uma garota ao lado de uma modelo ainda de biquíni. Não entendi a princípio, mas não foi difícil me ver atrás delas, conversando com o vendedor de cervejas.

            Levantei o meu olhar e vi uma Louisa muito vermelha. Encolhi os ombros, não havia nada a dizer.

            — Uma das minhas funcionárias foi ao evento.

            Como fiquei calado, ela continuou:

            — A I Survived Association me ligou. Acha que não vai se dar mal se faltar? Quer ser preso? Me acha ruim? Experimenta estar em uma cadeira de rodas, experimenta se colocar no lugar da sua vítima! — ela gritou e suas veias da garganta ficaram visíveis. — Se comporta como uma criança, mas se acha adulto o suficiente para sair dirigindo por aí, como se a vida das outras pessoas não tivesse valor. Como se a sua vida não tivesse valor.

            Permaneci calado, de cabeça baixa. Era constrangedor olhar para ela.

            — Eu não posso perder você também. Eu só quero que você tente se esforçar para ser um bom rapaz e saber fazer as escolhas certas, Benjamin. Sou sua mãe, tenho que querer isso — ela tocou o meu braço e em seguida me deu as costas.

            Levantei minha cabeça e percebi que, antes de minha mãe sair do quarto, olhou novamente para a foto em que meu pai sorria em uma pedra. Vi também que ela enxugou uma lágrima no olho.

           

           

           

           

           

           

            


Notas Finais


Obrigada por lerem.
Beijos da Clari. <3


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