N3: Ouve-se passos calmos em um salão escuro, iluminado apenas por tochas. Um salão que lembra o lugar onde um rei fica, um trono e um tapete vermelho que se estende até a entrada para a sala e no final tem um trono e nesse está sentado um homem, cabelos castanhos de tamanho médio, barba serrada, com aparência de 36 ou 37 anos, usando uma camisa branca, uma calça jeans e um sapatênis. Sentado, apoiando o cotovelo no braço do trono e o rosto na sua mão enquanto cruza as suas pernas. Então aparece Azazel em frente ao trono.
- Boa noite, senhor das moscas, estou aqui no intuito de devolver isto. - Azazel entrega ao homem as asas do assassino de Laís.
- Hmm, entendo, Daniel está morto... Como está aquele garoto? - Responde Belzebu.
- Está preparando o funeral de sua amada.
- Entendo... Esse rapaz... Ele é filho de Diana, certo?
- Exato.
- Quem é aquele que matou o meu irmão? - Aparece um homem das sombras, com seus cabelos claros e seus olhos vermelhos.
Roberto está no funeral de Laís.
N1: Não achei que voltaríamos para Sorocaba numa situação como essa. Ver você nesse caixão e lembrar que ontem te vi morrer... Desculpa, isso é culpa minha.
- Ela era o meu orgulho... - Falou a mãe de Laís estava chorando perto do caixão.
- Ela era o nosso orgulho. - Diz o pai de Laís.
Sinto um enorme peso na consciência e começo a pensar "se eu tivesse me afastado enquanto ainda era tempo..." a vida é uma caixinha de surpresas e dessa vez, não poderia ter sido pior.
- Você está bem?
Olho para o lado e vejo Rafael, um amigo meu e da Laís.
- É como se metade de mim estivesse sendo queimado vivo.
- Complicado... Podemos beber depois daqui, pra você afogar as mágoas, saiba que estou aqui caso precise.
- Obrigado.
Após lamentações, erguemos o caixão e colocamos no carro funerário. Todos estavam chorando, a Laís era uma pessoa muito querida por todos, ela era simpática e é difícil de aceitar isso.
Ao chegarmos no cemitério, começa a ventar e pétalas das cerejeiras e dos ipês que haviam ao redor do cemitério começam a tomar conta da paisagem, algo estranho por estar no verão. O céu nublado, o dia cinza e as pétalas dando cor ao cenário triste... É, é a sua cara Laís Hanako Mori. Comecei a sorrir em meio as lágrimas e pude ver a chuva cair enquanto o seu rosto tão tranquilo sorria para mim.
Assim que todos foram embora, deixei um buquê de rosas vermelhas em cima da sua lápide e comecei a lembrar do dia em que nos conhecemos. A Laís era a garota mais cobiçada da escola e eu era aquele cara que ficava falando besteira com os amigos enquanto jogava truco e matava aula para beber. Sempre via a Laís passar e cuidar da sua vida, mas nunca pensei em puxar assunto com ela porque eu era eu e ela era a Laís. Um dia eu estava mexendo no Facebook e vi que tinha uma solicitação de amizade, era a Laís me adicionando. Começamos a conversar, descobrimos que morávamos perto e começamos a marcar de ir juntos para a escola. Um dia eu ia tinha que ver uns amigos tocar num bar e ela não podia me acompanhar, à vista disso nos encontramos e pegamos o ônibus para ir até onde queríamos, descemos no ponto de uma praça e na hora de dar tchau, acabamos nos beijando... Laís, um dia a gente vai se encontrar. Tenho certeza.
Saindo do cemitério que já estava fechando, vejo o carro de Rafael parado ali na frente.
- Entra aí, vamos beber.
- Vamos.
Chegamos em boteco, um boteco que eu e a Laís sempre íamos e era o lugar onde sempre nos encontrávamos, sempre bebíamos juntos e dávamos risadas das idiotices do outro.
- Mesa para dois.
- Roberto? Nossa, quanto tempo! E a Laís, como ela está?
- Bem... Ela faleceu ontem.
- Nossa... Meus pêsames, essa aqui vai por conta da casa. - A Maria Helena que era balconista sentiu o quanto eu estava sofrendo, afinal, eu estava sempre animado quando ia pra lá.
Sentamos na mesa 7, logo já chegou um caneco de cerveja para mim e veio uma garçonete que eu nunca tinha visto.
- Posso anotar o pedido de vocês?
- Eu quero uma dose de cachaça. - Disse o Rafael.
- Eu quero uma porção de calabresa de mais um caneco de cerveja.
Assim que chegou os pedidos, bebemos e começamos a pedir só cerveja. No fim da noite, fomos pagar e o valor tinha chego a R$436,00. Pagamos e fomos embora. Ao chegar no carro, Rafael não conseguia pegar a chave para destrancar, então falei pra gente ir embora a pé. Passo a passo, chegamos na casa do meu irmão que mora perto do boteco. Após arranjar um lugar pro Rafael dormir, fui fumar um cigarro do lado de fora da casa.
- Está difícil pra você, né? - Apareceu o meu irmão.
- Muito...
- Imagino, vocês eram muito grudados. Você devia estar sofrendo morando em Brasília.
- Estava um pouco mas tinha a esperança de arranjar um trabalho e conseguir levar ela para morar comigo... Mas agora...
- Entendo... Não vá abusar, tem gente que se preocupa com você. Vou dormir, boa noite.
- Boa noite.
Eram 4:22 da manhã, então eu decido ir para o lugar onde a gente se encontrou pela primeira vez. Foi em uma praça, ficamos sentados na grama enquanto eu tocava violão para ela. Andando pelas ruas, um homem apareceu e deu uma coronhada na minha cabeça, pedindo o celular e a carteira. Ignorei ele e continuei andando a caminho do meu destino. Ele começou a me seguir apontando o revolver para mim, repetindo de um jeito nervoso para eu dar o celular e a carteira para ele, então eu dei um tapa com a costa da mão no rosto dele e quando ele caiu, eu falei.
- Não estou com saco para verme igual você.
O cara começou a tremer e me deixou quieto.
Chegando lá, sentei no lugar onde ficamos no nosso primeiro encontro. Ficava na parte alta da cidade, então tinha uma vista bonita de Sorocaba. Acendi um cigarro e fiquei ali sentado olhando a cidade escura enquanto amanhecia, carros passavam uma vez ou outra pela avenida, até que deu 6 horas, o horário onde as pessoas começavam a sair para trabalhar. Levanto e vou embora.
Na casa do meu irmão, o Rafael acorda e se despede, meio de ressaca, ele vai embora. Então o meu irmão que estava saindo para trabalhar, fala pra mim.
- Vou deixar você na casa da vó que os pais estão lá.
- Certo.
Então Danilo me deixa na casa da minha vó e vai trabalhar. Despeço-me da minha avó, eu e meus pais tomamos o caminho para o Plano Piloto.
Chegando lá, vejo Luci me esperando na porta do prédio com uma cara de impaciente.
- Vim fazer uma visita para você umas três vezes e você não estava.
- Desculpa...
- Que cara é essa?
- Mataram a Laís...
- Meus pêsames... Venha, vamos dar uma volta.
Luci me levou no Conjunto Nacional que fica perto e fomos comer alguma coisa.
- E aí, você está bem?
- Vi ela morrer na minha frente...
- Deve ter sido dolorido...
- Pois é.
- Tenho uma surpresa para você.
Luci me deu um colar com uma pedra azul clara.
- Obrigado...
- Isso é um amuleto que eu consegui, ele tem a capacidade de camuflar o seu poder demoníaco. Consegui senti-lo assim que você pisou no Plano Piloto...
- Você ainda quer poder?
- Não sei...
- Você sabe como fazer o ritual?
- Sei, não é difícil.
- Ótimo, passe amanhã depois do almoço em casa, quero que me ensine.
- Tudo bem.
Levantamos e fomos embora.
Chegando em casa, vejo a minha mãe fazendo a janta e decido perguntar uma coisa que eu sempre quis saber.
- Mãe, aconteceu alguma coisa quando você estava grávida de mim?
Ela fez uma cara séria e falou.
- Não aconteceu nada.
- Por que você ficou tão séria?
Ela virou e quebrou a colher de pau na minha cabeça, sequer pude acompanhar com os olhos esse movimento dela.
- Eu já falei que não aconteceu nada.
- Está bem.
É certo que eu já sei o que aconteceu mas sempre quis ouvir isso da voz dela... Mas aquela colherada foi estranha. Bem, fui deitar e tentar dormir.
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