História Eu estou de volta, Sakura - CAPÍTULO XXXIV

  Sakura comeu como um leão. Parecia descontar toda a raiva ou o que quer que estivesse sentindo na comida. Kaito ficou um pouco tenso vendo-a destroçar com tanta voracidade as pobres carnes e legumes do prato.

- Sakura, vai com mais calma...

- por quê? – ela parou o encarando.

- porque desse jeito você vai fazer sua comida sangrar.

Ela riu e quase engasgava. Imagina o desespero dele vendo-a tossir com os olhos arregalados. Haruno parecia mais viva, mais ativa, porém não tão sorridente quanto de costume. No fim a garota pequena havia devorado dois pratos de comida, quase três. Enquanto ele próprio só conseguira comer um. Tudo por conta de Matsuri.

Quando terminaram, ela o levou para fora. Os dois sentaram bem em frente na sombra do hotel. Naquele horário alguns hospedes saíram para tomar banho e caminhar. Tinha muitas pessoas. Ouviam-se risadas de todas as partes, era realmente tranquilo. A rosada mantinha os joelhos contra o corpo e os braços em volta deles. Seu olhar se perdia no nada.

- Kaito.

Ele estava ao lado dela.

- oi.

- o que te faz gostar de mim?

O rosto do rapaz pegou fogo, mas respondeu com tranquilidade.

- muitas coisas em você me fazem gostar. Seu jeito de falar, sua forma de pensar, aquele tique sutil que você tem de colocar o cabelo atrás da orelha...

Ali ele mesmo se perdeu nos pensamentos e parou de falar. Sakura também não insistiu. Era perceptível que ela estava em conflito com alguma coisa e parecia buscar uma solução. Haruno levantou de repente colocando as mãos na cintura. Respirou fundo e deu um grito. Aquilo assustou as pessoas em volta, já Kaito riu da reação dos outros.

- vamos apostar uma corrida?

- o que?

- isso mesmo que você ouviu.

Ela virou para ele com um sorriso de orelha a orelha. Ele não teria como dizer não.

Distanciaram-se bem de onde estavam. O sol da tarde pairava no céu pálido queimando a cabeça dos banhistas. Pararam muito longe sobre algumas rochas altas que beijavam o mar. Takamoto diminuiu o ritmo vendo que Sakura fazia o mesmo e quando finalmente atingiram o topo mais alto ela levantou os braços.

- ganhei!

- como você pode ter ganhado se eu nem sabia onde era o limite?

O vento forte os desequilibrava. A garota sentou com as pernas penduradas para a água e ele fez o mesmo. Ela parecia pensativa novamente. Ele se perguntava se ela ficaria daquele jeito o resto do dia.

Olhando para baixo notou corais no fundo da água. Esses eram em sua maioria vermelhos e verdes. Esticou os braços se espreguiçando. Deu uns tapinhas no ombro do companheiro – é uma queda e tanto, né? – ela falou sem olhá-lo. Kaito concordou com a cabeça como em sinal de retórica. A jovem parecia um pouco nervosa, talvez pelas coisas que vinha pensando em segredo.

- por que você gosta de mim?

Novamente uma pergunta estranha,

- eu já respondi isso.

- não. Eu quero saber por que você se deixou apaixonar por mim.

- não é como se eu pudesse ter controle nisso.

- mas você podia ter se afastado antes quando percebeu que poderia acontecer.

- acho que sim.

Era um clima estranho. Desconfortável até. Era como uma despedida sem se despedir. Pra Takamoto estava ficando triste a conversa. Os olhos verdes da jovem ainda pareciam aéreos. Onde ela queria chegar? Acabaram mudando de assunto e riram um pouco. Sakura esquecera como era boa a companhia dele. Ouvir histórias e contar as próprias suavizava-lhe a mente a fazendo esquecer por vezes do plano que havia criado. Voltaram à estalagem, mas nada de Sasuke por lá. A moça sentiu o corpo cansado e decidiu deitar um pouco. Kaito a deixou na porta do quarto e saiu.

Deitada na cama de portas trancadas, ela via as hélices girar devagar no teto. Agora podia se deixar abraçar por pensamentos misturados a cochilos.

- eu acabei fazendo o que menos queria. Sabia que ia acabar assim. Quando o conheci estava presa a um medo sobre o Sasuke-kun e esse medo me deu liberdade de deixar o Kaito entrar. Mas lá eu já sabia que acabaria criando um apego por ele. Meu Deus! Que pessoa insensível eu sou... – pensava de olhos fechados.

- o pior de tudo é que além de confundir o que sentia por ele acabei bloqueando o Sasuke-kun também. Ele deve está com ódio da minha cara. Será que eu criei esse “sentimento” pelo Kaito pra me proteger de me magoar com o Sasuke-kun? Aquele beijo no parque... Foi depois daquilo. Eu preciso sentir de novo e descobrir o que é. Mas será que não é maldade demais? Ele vai entender... Eu espero. Acho que até o Kaito está esperando que eu descubra da forma que for preciso. Eu sei que eu... Amo o Sasuke-kun, mas preciso me livrar desse sentimento estranho pelo Kaito.

Acabou acordando dentro das quatro da tarde. O lençol da cama ficara marcado em seu rosto. Tomou outro banho e se aprontou. Muito em breve partiriam de volta Konoha. Saiu do quarto olhando para as laterais em busca de seus companheiros. Nenhum dos dois. Desceu e nada. Kaito teria sumido igual Sasuke? Bufou sem perder a pose. Acabou no fim achando o rapaz do lado de fora apreciando a vista. Dessa vez ele parecia pensativo. Ela se acomodou do lado.

- acordou dorminhoca?

Ela riu.

- Sakura eu não te disse tudo...

- tudo?

Takamoto suspirou e a olhou. Notou as marcas claras em seu rosto. Sorriu.

- essa missão acaba pra você quando voltar a Konoha e entregar os manuscritos ao Hokage. Mas pra mim não acaba nisso.

Haruno se acomodou melhor para ouvir.

- infelizmente eu não poderei voltar com... Vocês dois.

A jovem sentiu uma tristeza e um alívio ouvindo aquilo. Era perfeito! Se tinha algo a resolver consigo sobre ele, poderia fazê-lo enquanto estivessem ali e quando voltasse para casa estaria tudo acabado.

- você ficará aqui até acabar esse problema da Vila?

Ele concordou com a cabeça.

- ordens do Hokage. O que significa que o tempo que tenho pra está com você é somente agora.

O olhar dele parecia desanimado, como um cão pidão. Aquilo fez as bochechas da garota acender e o estômago roer. “é isso. Preciso saber se isso é real!”. Antes que ela pudesse se aproximar mais, o rapaz levantou. Kaito caminhou até a beira da água, seguido pela rosada. Ela segurava o cotovelo do braço estirado na frente do corpo. Descalço sentiu a espuma da marola lhe banhar os dedos. Os pés afundaram na areia macia que brilhava de sais.

Pararam lado a lado sem trocar palavras. Sakura se sentia um pouco nervosa, como uma pré-adolescente. Mordeu o lábio inferior desviando os olhos para o lado. Kaito sabia que ela estava assim, e também sabia que ela pretendia fazer alguma coisa. Seu medo era de a resposta óbvia chegar nela, assim como já havia chegado nele há alguns dias. Ele pôs as mãos no bolso do calção. A garota não se mexia, parecia congelada. Então ele soltou uma risadinha.

- o que foi? – ela indagou.

- você fica muito fofa assim.

- assim como?

Kaito virou o corpo na direção dela.

- Sakura... – ele parecia sério. Os grandes olhos verdes brilharam.

- você quer descobrir, não quer?

Ela não respondeu.

- você quer saber se isso aí dentro é real.

“como é que ele também sabe? Eu sou tão transparente assim?”. Takamoto alisou o cabelo liso da moça, que voava desordenado. Mais uma vez ele suspirou.

- tem, acho que, duas semanas. Tem esse tempo que você age diferente comigo. Tímida, delicada... Eu gosto! Não entenda errado. Mas eu vejo que você sabe que não está apaixonada por mim. Nossa como dizer isso me deixa triste! Mas nós dois sabemos que é verdade. O que você quer é descobrir se existe algum sentimento real por mim e não só uma dúvida passageira.

Sakura recuou um pouco, constrangida, pois ao ouvir tudo aquilo, ela mesma parecia mais mesquinha. Kaito então a embalou nos braços aproximando-a de seu corpo. Segurando a jovem pela cintura ele a fitou novamente.

- Kaito eu...

- se é pra tê-la nem que seja uma última vez, eu não me importo.

Então fechou os olhos e delicadamente tocou os lábios vermelhos de Sakura. O coração dela pulou disparado e seu corpo tremeu, mas envolta por ele acalmou os músculos e relaxou fechando os olhos e retribuindo o beijo.

Takamoto a envolveu ainda mais a apertando contra si. Apoiava-lhe a cabeça com a mão. Sakura respondeu aquilo com mais desejo intensificando o beijo molhado. Sentia-se excitada e sabia que ele também estava. Era até engraçado depois das coisas que ele havia dito. Haruno lhe mordeu o lábio e agarrou-o pelo cabelo longo. Da mesma forma ele correspondeu enroscando os dedos nas mechas rosa. Apertava e beliscava-a na altura da cintura e descia para as pernas. Aproveitava cada segundo raso de ar para sentir o cheiro da pele dela. Para ele aquilo era uma despedida. Alguns gemidos saíram de ambos e quando finalmente se soltaram suas bocas e envolta delas estava vermelho.

Ele sorriu. Ela não precisou dizer nada. Aos poucos ele se afastou permanecendo segurando a mão da garota. Todas as dúvidas lhe foram tiradas naquele toque, naquele beijo. Coçando a cabeça Takamoto falou sem pretensão:

- droga! Depois disso eu fiquei mais apaixonado.

Ele a puxou de volta a estalagem. Sakura permanecia calada como se pensasse e processasse tudo. O sol já se punha no horizonte deixando o céu rosado. Pararam no corredor de seus quartos quando Haruno se tocou do que estava acontecendo.

- temos que arrumar suas coisas pra que você vá antes do anoitecer. Eu sei que sua viagem vai durar alguns dias, mas também sei que sair de uma cidade pra outra a noite é muito chato por causa da escuridão da estrada.

Ele não a olhava nos olhos, seguia na frente guiando-a. quando entraram no quarto dela, Sakura se soltou. Ele já estava pegando a bolsa de coisas da jovem. Ela o encarou. Kaito virou para ela sem entender.

Sem esperar alguma reação, a moça foi para cima dele beijando-o novamente. Ele a abraçou e a guiou até a cama em meio à amassos calorosos. Derrubou-a sobre o colchão e a empurrou para cima deitando o corpo no dela. A boca passeava pelo pescoço e de vez em quando mordia o queixo pequeno da garota. Sakura o abraçou contra si sentindo seu cheiro, sentindo seu corpo. Com a liberdade da privacidade ele subiu a mão devagar e apertou-lhe o seio, com a outra imprensou a cocha dura contra o próprio quadril. A língua correu sobre o colo e sobre a barriga. Mas ele parou por aí, sabia que ela não permitiria um avanço maior. Não para ele. Reteve-se em concentrar seu desejo na pequena boca ofegante. Antes que desse um passo a mais, Sakura o jogou para baixo dela, sentando sobre seu quadril. Colocou o cabelo atrás da orelha e deixou escapar um sorrisinho sexy. Ele adorou aquilo. Abaixou e lhe deu um último beijo. Desmontou do rapaz e se recompôs.

- o que foi isso agora?

Kaito precisava de uma resposta. Após tomar a bolsa acomodando-a nas costas, colocou a capa preta dirigindo-se devagar a porta. O rapaz sentou e desceu da cama. Ajeitou o cabelo bagunçado e a roupa amarrotada. Ainda respirava sem precisão.

- isso foi uma despedida.

Uma longa gargalhada pôde ser ouvida do corredor até as escadas. "Que mulher incrível" Takamoto pensou pra si mesmo. Ele acompanhou a rosada até uma colina pouco depois da estalagem. De lá dava para ver as árvores da floresta mais ao longe. Ela virou para o companheiro uma última vez. Ele entendeu no jeito dela o que precisava entender. Sakura pegou em seu rosto e deu dois tapinhas.

- se cuida. Não vá perder a outra orelha que eu não vou está aqui pra ajudar.

- não vou. – ele sorriu em resposta.

  A mulher virou de costas para o mar. Agora voltaria a própria realidade. Kaito ficara para trás e naquele quarto qualquer questionamento sobre seus sentimentos foram apagados e abandonados naquela cama. A única coisa que a preocupava mesmo era o paradeiro do Uchiha. Acreditava que ele iria embora junto dela, mas aparentemente ele havia ido sozinho. Se é que havia voltado para Konoha. Sem mais argumentos contra lhe pulsava uma verdadeira vontade de gritar para ele tudo que sentia e se ele quisesse cair de cabeça em algo louco com ela, ela o faria. Só não sabia se ele estaria ainda disposto a isso.