História Eu estou de volta, Sakura - CAPÍTULO XLII

Kizashi parecia concentrado no logo além. Não havia virado para Sasuke quando começou a falar. O rapaz por sua vez, ficou quieto ouvindo-o sem questionar seu método. O senhor ajeitou as mangas do kimono e sentou direito.

- quando aquela menina nasceu Mebuki teve bastante trabalho para colocá-la pra fora. Tive muito medo de perder a mãe dela naquele dia, mas tudo deu certo. Assim que pus a Sakura nos braços e aqueles olhos verdes brilharam pra mim eu soube que ela seria minha maior razão de viver. Antes dela, claro que tentamos ter outros, mas a Mebuki acabou perdendo os outros dois. Tivemos muito medo dessa gravidez. Pra nossa surpresa a Sakura veio forte, saudável. Ao longo do crescimento dela, ela se mostrava mais e mais parecida com a mãe, cabeça-dura como a Mebuki. Mas também tinha muito de mim. Gosto de dizer que a parte boa ela puxou a mim. Aquele sorriso e a forma positiva de ver a vida ela aprendeu comigo.

Quando entrou na academia ela preferiu não nos contar que outras crianças a maltratavam, não sei por quê. Mas quando ela apareceu com uma amiguinha, a Ino, isso me tranquilizou porque ali eu vi que ela não estava crescendo sozinha. Então ela foi escolhida para integrar o time sete de Kakashi. Obviamente eu como pai coruja, procurei saber quem eram os coleguinhas dela: Uzumaki Naruto; e você, Uchiha Sasuke. Perguntei-me bastante com a minha mulher se era seguro deixá-la com vocês dois. Claro que confiávamos em Kakashi, mas vocês dois eram dois meninos com problemas além do que Sakura poderia entender. Uma criança de doze anos ainda. Eu sabia desde aquele dia que envolvida com o único descendente dos Uchiha coisas ruins poderiam acontecer a ela. Eu quase pedi que a tirassem do time, mas Kakashi me convenceu do contrário. Quando vi a felicidade dela em está no mesmo grupo que você eu acabei desistindo de afastá-la. Por muito tempo me arrependi de não ter feito isso.

Então houve todos aqueles “problemas” que você sabe bem. E você foi embora. Pra mim sempre foi óbvio que Sasuke não se sentia em casa e nem feliz em Konoha naquela época. Ver minha garotinha, que eu amei e cuidei com tanto cuidado murchar por um molecote me deixou em pedaços, e eu não podia fazer nada. Você não tem... Idéia de como é doloroso pra um pai ver sua filhinha preciosa chorar e não poder ajudar em nada pra passar essa dor. Mebuki disse “é coisa de criança. Logo, logo ela o esquece e se apaixona por outro. Aí sim, você terá com o que se preocupar”. Eu não sabia o que era mais assustador nesse caso.

Com o tempo ela pareceu bem. Minha Sakura ficou forte como nunca esperei, mas ela filha de Haruno Mebuki tinha de ser durona mesmo. Destacou-se no aprendizado com a melhor: Tsunade. Meu orgulho! Aquela menininha risonha deu lugar a uma moça determinada e inteligente. Você sabe que ela é bastante inteligente, não é? Pois bem, aos poucos as pessoas começaram a ver nela o que eu sempre vi. E assim como o nome que lhe dei, ela trouxe felicidade a todos a volta dela. Aí você voltou.

Ela tentou fazer parecer que isso não era nada. Aquele jeito grosseiro dela. Mas eu via no olhar dela que sua presença causava algo mais ruim que bom naquele coração, e que provavelmente ela não havia “superado” como a Mebuki dizia. Tudo que eu mais desejei naquele período conturbado da história da nossa vila era que assim que as coisas voltassem ao normal, você sumisse como fez da outra vez. Eu acreditava tolamente que com isso minha menina seria feliz de novo. Mas depois da guerra vi como ela parecia completa simplesmente por você está por perto, me perguntei se não seria melhor daquela forma. Foi aí que você novamente foi embora a deixando sozinha. E com isso eu percebi que ela jamais seria feliz com outro homem que não fosse você.

Eu não sei até que ponto sua relação com ela se aprofunda, não sei até que ponto você está disposto a cuidar dela e nem seus sentimentos reais pela minha filha, mas fique sabendo Uchiha Sasuke que se mais uma vez partir o coração daquela menina, eu sou capaz de abrir você em dois. Sim eu sei até onde seu poder vai, sei muito bem. Todavia não subestime o amor de um pai por sua filha.

O rapaz ao dar-se conta estava sentado frente a frente com aquele senhor olhando-o nos olhos arduamente. Sentiu a mão suar e muitas coisas lhe passaram na cabeça. Nas palavras daquele homem saído da juventude, pôde sentir e entender o quão profundo era o relacionamento dele e Sakura. Assim como Kizashi disse, aquele senhor seria incapaz de causar-lhe mal por diferença entre suas forças, mas tê-lo ameaçado daquela forma direta e suicida simplesmente pela felicidade de alguém que ama o deixou admirado, perplexo. “então é assim que pais agem” pensou. Kizashi levantou e foi até a varanda. Apoiando-se no parapeito debruçou o corpo e escorou os cotovelos. As luzes ofuscavam sua visão pra mais longe. Sasuke levantou e chegou até o lado dele.

- Kizashi-san – ele curvou o corpo para o senhor que apenas o observou sério – eu sei que ouviu muitas coisas horríveis sobre mim, e eu não posso negá-las. Mas posso garantir que aquela criança da qual ouviu falar não é essa mesma pessoa que se curva diante do senhor. – ele continuou olhando para os próprios pés enquanto falava – sei melhor que qualquer um que fiz muitas vezes a Sakura chorar, sobre isso não há desculpas nem o que fazer de qualquer forma essas coisas ficaram no passado. O qual não pretendo trazer de volta. Eu sei que o senhor quer apenas a melhor pessoa pra sua filha pra fazê-la feliz como ela merece, e eu sei que ela merece isso. Quando voltei quis me manter distante pra não magoá-la de novo com meu jeito estúpido de agir, mas não consegui. No fim entendi que não é apenas ela que se sente ligada a mim, a minha felicidade em si depende dela. E eu quero está ao lado dela. Eu amo sua filha, Kizashi-san. E eu lhe peço permissão para namorá-la.

Coçando o bigode, o homem descruzou os braços e tocou o ombro de Sasuke, que levantou devagar o olhando firmemente nos olhos. Kizashi enfim deixou escapar um sorriso, não daqueles costumeiros bobos que sempre vinham dele. Ele sorriu com cuidado, quase sério.

- você tem minha permissão Uchiha.

Sasuke quase soltava um suspiro aliviado. Há muito tempo não se sentia tão tenso quanto naquele momento. Lembrou de toda conversa que teve com Naruto antes da festa “afinal foi praticamente como ele disse que seria”. Kizashi colocou as mãos dentro das mangas do kimono e chamou o rapaz pra voltar ao andar de baixo – elas devem está nos procurando.

Quando chegaram à cozinha as mulheres ainda riam alto e conversavam freneticamente. Ao ver Sasuke acompanhado do pai, Sakura congelou momentaneamente. Muitas coisas passaram na cabeça. Se eles haviam conversado, se a conversa tinha dado certo, o que o pai achara de sasuke pessoalmente, e muitas outras coisas. Mas conteve-se no sorriso bondoso de Kizashi “acho que deu tudo certo”. O Uchiha rastejou até ela ficando calado do lado. Os dois homens ajudaram a levar um belo porco assado. Sim! Um porco assado pra comemorar o dia que sakura deixou de ser solteirona.

Voltando pra sala, todos esperavam ansiosos. O cheiro havia se espalhado pelo corredor entrado nos outros cômodos, subido as escadas e saído por todas as frestas. Até mesmo quem passava fora parava alguns instantes para apreciar e se imaginar dando uma dentada naquela carne cheirosamente suculenta. Sasuke finalmente achou Naruto que sentou ao lado dele na hora da refeição. Hinata, Sakura e Ino conversavam como se eles não existissem. Sai uniu-se aos rapazes.

- eu disse, não disse?

Naruto começou.

- com os pais da Ino foi bem simples também. Eu só tive de chegar e dizer a verdade.

O loiro fechou os olhos tentando não imaginar que tipo de “verdade” sai falou pra mãe de Ino. Sasuke por sua vez estava calado, ainda parecia um pouco nervoso depois de ter sido tão sincero com o sogro. Naruto lhe deu um tapinha nas costas sorrindo satisfeito.

- a parte mais difícil já passou.

O Uchiha olhou para o prato que segurava. Aquela carne realmente cheirava muito bem. Colocou na boca, primeiro o acompanhamento e por fim tirou um pedaço do porco e comeu.

Depois de jantarem Mebuki recolheu a maioria dos pratos. Ela parecia realmente contente. Pediu a Sasuke pra ajudá-la a levar os pratos para a cozinha. Sai sussurrou enquanto ele saía “agora é a vez da mãe”. Depois de colocar a louça suja na pia, ela parou o rapaz antes dele sair na porta.

- então Uchiha Sasuke, seja franco comigo: o que você sente pela minha filha?

- Mebuki-san eu...

A mulher parecia diferente, parecia apreensiva e determinada. O jovem de cabelos pretos reconheceu naquele jeito a própria namorada. Mebuki apoiava as mãos no quadril. Ele respirou fundo, teria de ser mais direto.

- eu sei que seu medo é que eu faça algum mal a ela, mas te garanto que isso não acontecerá. Sakura é a única pessoa nesse mundo que eu seria incapaz de machucar.

- sua fama diz o contrário.

- eu sei. Não tenho como provar agora, mas a senhora verá que minhas intenções com ela são as melhores.

- você ama minha filha?

Ela estava séria. Nem piscava.

- sim, eu amo.

- ótimo, porque eu quero muitos netos. Não entendo se a ama de verdade por que estão só namorando e não noivando?

- o-o que?

A mulher caiu na risada – é brincadeira. Mas eu fico feliz que tenha sido sincero. Espero que ame mesmo, porque aquela desajuizada não vive sem você. Eu não deveria dizer essas coisas, mas que se dane eu sou a mãe dela e posso dizer o que eu quiser. Tem meu total apoio esse namoro e quem sabe, saia um casamento disso, não é? Mas não vamos apressar as coisas!

Sasuke ficou de boca entreaberta sem saber o que responder. Visivelmente envergonhado.

- ainda bem que ela escolheu você, garoto. É um dos meninos mais bonitos da idade dela que vi aqui na Vila. Apesar do Kizashi ter aquele jeitão protetor, medo de você magoar a bebezinha dele coisa e tal, eu não tenho essa besteira. Até porque a gente só aprende a viver sofrendo mesmo. Aproveitem mesmo! Vocês dois são jovens tem que fazer as coisas todas.

Ela passou por Sasuke na porta e fechou a boca dele levantando-lhe o queixo com a mão.

- espero não ter colocado idéias na sua cabeça... Ou espero sim.

Mebuki saiu rindo sozinha. Quando o Uchiha voltou à sala as coisas pareciam do mesmo jeito.

A festa ainda se estendeu algumas horas. No fim as pessoas começaram a ir embora. Todos se abraçaram e se despediram, afinal estavam em família. Ino e Sai avisaram da partida aos amigos e Hinata e Naruto também foram depois. Sakura agradeceu aos quatro por terem vindo.

- provavelmente teria sido mais difícil se vocês não estivessem aqui conosco.

Ficaram apenas os pais dela, Sasuke e a própria Sakura. Havia uma bagunça em cada canto que olhavam. Os quatro então se ajudaram para limpar. Depois de arrumar tudo, a noite anunciou ser madrugada. Na porta de saída Kizashi e Mebuki se despediram do casal.

- boa noite mãe e pai.

Eles a abraçaram como se ela fosse embora por muito tempo.

- ei! Não precisa disso.

Depois de se afastar, Sasuke se curvou diante dos dois – boa noite.

No caminho de volta a maioria das casas já estavam escuras. Sakura caminhava pouco atrás dele. Sasuke parou e virou-se pra ela. A garota parou também.

- o que foi?

Ele desabotoou o primeiro botão da camisa. Soltou um suspiro longo e estendeu a mão pra Sakura. A rosada olhou os dedos longos na direção dela e hesitou antes de pegar. Enquanto caminhavam de mãos dadas, passaram frente à entrada do cemitério. Os postes iluminavam o muro baixo. O vento corria a vontade naquele setor.

Sakura então desviou a rota dos dois.

- sabe anata... Se for pra fazer direito então eu também tenho que fazer minha parte. Não acha?

- o que você tem em mente?

Ela parou frente ao portão, empurrou-o e puxou, mas estava trancado. Sasuke ainda não entendia o plano dela, todavia resolveu acompanhar para ver no que daria.

- e agora, senhorita perturbadora dos mortos?

Haruno semicerrou os olhos para ele.

- agora a perturbadora dos mortos será invasora também.

Subindo no muro baixo, sem esforço ela pulou para o lado de dentro. Olhou para ele do lado de fora parado – vai vir ou não?

Revirando os olhos ele a seguiu. Depois de caminharem um pouco no escuro silencioso, Sakura soltou um “viva!” que assustou momentaneamente o rapaz que a acompanhava. Aos poucos ele conseguiu achar onde estavam finalmente. Ela ajoelhou-se diante de uma lápide que claramente continha Uchiha Mikoto e ao lado Uchiha Fugaku. A jovem encostou as palmas uma na outra.

- olá. Os dois não devem me conhecer. Eu sou Haruno Sakura, a namorada do filho mais novo de vocês, Sasuke.

O rapaz ficou de pé ainda algum tempo. Um sentimento estranho o tomou ao ver aquela cena. Não sabia exatamente o que era, mas sentia um misto de tristeza e alegria. Ele sentou com a moça e assim como ela iniciou uma conversa com os pais.