História Eu estou de volta, Sakura - CAPÍTULO XLVI

  A primeira noite do festival finalmente chegou.

Sakura chegou cedo à casa do namorado ansiosa. Quando a recebeu o rapaz estranhou o fato de ela não está de kimono como disse que estaria. Ela explicou que só inauguraria no último dia. Com isso Sasuke também decidiu usar o próprio no último dia. Saíram de casa apressados pela moça. Ela o guiou no meio da cidade até um grande centro de convivência.

Era a céu aberto. Havia muitos estandes de madeira com vendedores fogosos, esses gritavam animados chamando atenção para seus produtos que variavam desde takoyaki a bonecas de madeira. Lanternas vermelhas se estendiam sobre a cabeça das pessoas presas a cabos entre postes que costuravam a praça. Muita gente de fato usava kimonos de cores e tamanhos variados. Muitas crianças corriam brincando e via-se em todas as direções competições de todos os tipos. Brinquedos de arremesso, brinquedos de tiro ao alvo, “pesque um peixe”. Barracas de máscaras típicas coloriam o ambiente recheado com os diversos rostos de porcelana, dos mais lindos aos mais assustadores como a conhecida hannya representando sentimentos humanos fundidos e confusos de amor, ódio, ciúme e tristeza.

Enquanto caminhavam devagar devido à multidão Sasuke se admirava com tudo ao redor. Não se lembrava de já ter estado em algo tão grandioso. Havia tambores sendo tocados, grupinhos competindo karaokê, e bem à frente onde a maior concentração de pessoas se encontrava, em fila passava a atração principal do momento: vários homens carregando altares cheios de enfeites coloridos e lanternas. Enquanto seguiam fogos de artifício eram soltos anunciando a passagem. Moças pintadas dançavam e rodavam atrás com suas longas yukatas e haori floridos.

Muita gente ria, outras prestavam atenção maravilhadas, algumas cantavam já bêbadas àquela hora. Era uma grande festa viva. Sakura o puxou pela manga da camisa e apontou para o outro lado discretamente. Naruto e Hinata estavam lá – vamos lá? – ela indagou. O Uchiha concordou com a cabeça e ambos ziguezaguearam entre as pessoas. Hinata reconheceu a amiga e foi logo ao seu encontro.

- chegamos agora. O que estão achando?

- esse ano está mais bonito que ano passado. O Naruto-kun quase pedia pra entrar na pista de desfile só pra pular com o pessoal! Claro que eu não deixei, não ia ficar sozinha.

O loiro encostou perto de Sasuke e se apoiou no ombro dele – já imaginou nós dois ali no meio pulando só de cueca igual eles estão fazendo? Seria maravilhoso!

O Uchiha tirou o cotovelo do colega de cima de si.

- não.

Os dois casais afastaram-se do grande movimento indo direto para as barracas de comida. O cheiro acabara por guiá-los até lá. Muitos cozinheiros faziam os pratos na hora para o publico degustar com os olhos. Naruto acabou sentando no banco de uma das barracas hipnotizado pelo sukiyaki suculento que estava sendo preparado na hora.

- Naruto! Você só pensa em comida?!

Sakura se preparava para dar-lhe um cascudo, mas a delicada esposa do rapaz segurou a mão dela rindo sem jeito “vamos deixar ele aqui e vamos pra outra barraca”. Haruno concordou um pouco relutante, mas deu os braços com Hinata. O Uzumaki bateu no banco ao lado convidando Sasuke.

- vamos comer, a gente encontra elas depois.

O rapaz de cabelos negros suspirou enquanto observava à namorada sumir com a mulher de seu amigo. Acabou cedendo. Pediu uma grande poção para acompanhar o galego em sua refeição.

Cutucando-o com o cotovelo, Naruto piscou o olho para o amigo. Com um pedaço de carne na boca Sasuke perguntou desconfiado o que ele queria.

- é hoje?

- o que? Não.

- e por que não?

- porque não.

- “porque não” não é resposta. Diga aí, por que vai adiar então? Achei que estava ansioso por isso.

O Uchiha olhou ao redor como se procurasse um espião. Não encontrando ninguém se voltou estranho para o amigo.

- eu vou esperar o último dia.

- do Hinamatsuri? É o dia que apresentam as bonecas.

- sim. A Sakura disse que é a noite mais bonita das três. Achei que seria interessante fazer isso no final do festival, sei lá.

- é bem legal realmente.

Os dois terminaram a comida e pagaram – vamos achá-las – Sasuke cortou o assunto. Procuraram por alguns minutos até perceberem as duas admirando as bonequinhas a venda.

Naruto abraçou Hinata por trás lhe dando um susto. A garota pulou e quase gritou. Sakura por sua vez viu o namorado se aproximar e sorriu. Apontou para as bonecas comentando sobre a história delas e significados. O Uchiha pegou a que ela tinha em mãos para analisar mais de perto.

- é sua?

A rosada fez que não com a cabeça. “essa está à venda” ela concluiu. O rapaz virou-a dos dois lados. A pequena usava uma yukata vermelha com um sombreiro da mesma cor. O cabelo era reto preto e tinha uma franja que lhe dava um aspecto infantil. Media próximo de quinze centímetros. Era um pouco pesada. Os olhinhos desenhados em risco e as bochechas rosadas davam o charme da peça.

Entregou então de volta a Sakura. Tirou do bolso algumas notas e pagou ao vendedor. Haruno ficou apenas o observando.

- é minha?

- agora é.

A jovem sorriu ruborizada e acariciou a cabeça do pequeno presente. A atenção dos dois só foi cortada quando Hinata correu até um estande mais distante. “leques!” ela disse apressada. Havia um monte deles. De todas as cores e formas e tamanhos. Alguns artesãos faziam em tempo real para os clientes. Aproximando-se com o namorado, a moça notou um branco de formato especifico no fundo. Enquanto Sasuke falava com Naruto, ela pediu ao artesão para colorir o que ela havia escolhido. Voltou ao encontro do companheiro com o objeto em mãos e estendeu pra ele. Era igual o símbolo Uchiha.

- esse é seu.

O rapaz pegou com um sorriso agradável no rosto – obrigado.

Depois de algumas horas Naruto e Hinata foram pra casa. A futura mamãe estava cansada e ultimamente dormia mais que qualquer coisa. Despediram-se deles. Agora estavam a sós finalmente. Parecia que quanto mais tarde ficava mais gente aparecia para amontoar o já preenchido festival. No fim quem carregava o leque era a própria Sakura “você combina com ele” foi o que Sasuke disse ao lhe entregar o objeto.

Fizeram uma parada, dessa vez pra própria Haruno comer. As apresentações continuavam no centro da praça. Num altar improvisado, alguns senhores subiram para falar. O casal parou junto das outras pessoas para ouvir. Eram agradecimentos e lembranças sobre a guerra e seu fim. Fazia parte do longo discurso dividido em três. Quando o mais velho com um grande kimono negro acabou de falar, todos iniciaram um tipo de procissão atrás dele e dos outros como ele.

- pra onde essas pessoas estão indo? – Sasuke perguntou.

- faz parte do ritual do festival. Você quer acompanhar pra ver onde vai dar?

Ele a olhou um pouco indeciso, mas acabou concordando. Bem no atrás das outras pessoas, o casal seguia. Sakura havia colocado a bonequinha no bolso da saia. Uma mão segurava a do namorado timidamente, a outra segurava o leque Uchiha.

Estavam subindo uma colina. Ventava bastante, e o caminho era todo iluminado de tochas presas nas árvores. “eles pensaram em tudo” Sasuke observou. Havia um trajeto, uma estrada. Subia dando algumas curvas e às vezes parecia dar voltas. No topo, todos se enfileiraram lado a lado. A rosada puxou o namorado para perto. Logo a frente de todos havia um grande espaço que permitia visualizar bem além de onde estavam. Encontravam-se no topo da íngreme colina.

- e agora?

O senhor tornou a falar. Ele ressaltava as perdas dos entes queridos na grande guerra. Algumas pessoas choravam, mas no geral todos prestavam bastante atenção. Ao terminar o discurso, o senhor se abaixou. Foi quando Sasuke notou aos pés dele algo feito aparentemente de papel colorido. O velho desdobrou o papel e acendeu-o por dentro. Era uma lanterna. Ele se virou para o lado do penhasco, levantou os braços na altura dos ombros com o objeto em mãos e o soltou enquanto pronunciava o nome de alguém. A lanterna ao invés de cair, subiu aos ares.

Logo outras pessoas pegaram do chão que estava repleto do mesmo objeto de cores variadas e fizeram o mesmo. Cada pessoa se aproximou em seu tempo da beirada e soltou a lanterna ao vento. Todos diziam nomes, alguns sussurrados, outros gritados. O Uchiha olhou para a namorada sem entender. Sakura o levou até um dos papeis dobrados no chão. E apanhou um para si e outro para ele.

- fazemos isso para lembrar as pessoas que perdemos. No começo eram apenas para os que morreram na guerra, mas hoje todos fazem por seus entes queridos e companheiros que já se foram desse mundo.

Suspirando o moreno olhou em volta ouvindo várias vozes de todas as idades e a cada segundo uma nova lanterna acesa subia. Nos nomes pronunciados pôde sentir a dor e a saudade que seus donos deixaram aos ainda vivos. A rosada então acendeu a lanterna dele e lhe entregou novamente. O Uchiha olhou demoradamente o objeto ardente na mão. Ele brilhava. Era leve e quente. Virou então para a beira caminhando alguns passos em sua direção. Equilibrando-o na palma, levantou na altura do cotovelo e sacolejou o braço para cima soltando os dedos da lanterna.

- mãe... Pai.

Ela subiu ao encontro de tantas outras. Haruno lhe tocou o ombro – falta uma.

Pegando a outra, essa ardia num vermelho vivo com o centro alaranjado. Ele sorriu pra moça que gentilmente apoiou-se em seu ombro. Sasuke levantou esse um pouco mais alto, e deixando a voz escorrer clara disse:

- nii-san.

A lanterna atingiu as outras rápido. Um grande coral de vozes preencheu o vale escuro abaixo. Já o céu coloria-se de luzes em todos os formatos. Como uma interminável nuvem da madrugada repleta de sentimentos. O vento delicadamente as levou consigo até suas luzes tornarem-se apenas lembranças aos olhos das pessoas.

  Sakura enfim puxou o rapaz consigo voltando o caminho – esse é o fim do festival essa noite.