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História Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Seventeen


Escrita por: MadeixasNegras

Notas do Autor


Espero que gostem! :)

Capítulo 17 - Seventeen


Fanfic / Fanfiction Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Seventeen

O frio que havia iniciado na noite de quinta-feira se estendeu pelo resto do mês. Na manhã de sexta-feira, quando acordei e abri a cortina da janela encardida do quarto em que eu estava, me deparei com uma fina camada de neve cobrindo todas as calçadas, carros e telhados à vista. Suspirei, engolindo minha raiva amargamente. Particularmente, eu odiava neve. Tudo ficava mais congelante e difícil de se realizar, e em dias de neve a única coisa que eu desejava era ter um aquecedor portátil junto a mim. 

Agasalhada dentro de cinco blusas de tecidos diferentes, desci as escadas metálicas do Rich Motel com a mochila nas costas e pude ouvir o som da televisão da recepção. A repórter do noticiário local comentava sobre o primeiro dia de neve na reta final do ano e previa nevascas para o mês de janeiro. Varri a recepção com os olhos rapidamente, mas não encontrei nenhum funcionário. Vi apenas que Gordon Richmond estava dentro de seu escritório. 

"Posso me atrasar, mas vou cobrar meu dinheiro desse porco", pensei. 

Andei encolhida até a porta de vidro fosco que indicava o escritório e bati nela algumas vezes antes de entrar. Não pedi licença. Gordon Richmond tomava o que parecia ser café numa caneca escura e rodava parcialmente na cadeira giratória em que estava sentado. O ranger da cadeira e o uivo do vento frio do lado de fora deixaram a situação mais desconfortável do que eu gostaria.

-Bom dia, sr. Richmond. Vim falar a respeito das parcelas. Há alguns dias o senhor não me entrega nenhuma delas, quero saber o motivo. - disse, com a voz ligeiramente alterada.

-Bom dia, Amielise... - ele não parecia estar esperando meu questionamento àquela hora da manhã - O sr. Carson só me entregou algumas delas, estava esperando ele entregar as restantes. Mas, como você parece precisar, posso te entregar o dinheiro hoje. 

Desviei o olhar de Gordon, desapontada pela incompetência de Derek, mas não surpresa. Agradeci os esclarecimentos e me retirei, sem mais palavras. O dia sucedeu normalmente. Depois de alguns dias sem ver determinadas pessoas no colégio, avistei Hazel e Miles no refeitório e almocei junto de Grace. Nada tinha mudado. Às vezes, eu me via observando Hazel e Miles conversando algumas mesas à frente da nossa, imaginando sobre o que eles falavam. 

-E você, Amie? Como estão as coisas depois de tudo o que aconteceu? - Grace perguntou, abrindo o pacote de seu sanduíche. 

-Tudo dentro da normalidade. Acho que o pior já passou... 

-Conseguiu terminar seus trabalhos na recuperação? 

-Devo estar no final. Já fiz tantos trabalhos que perdi a conta, mas Noah é um bom tutor.

-Ouvi falar. Uma pena que ele vá terminar o Senior Year ano que vem, vai fazer falta na comitiva de estudos. - comentou Grace, bebericando um pouco de leite.

Ficamos um pouco em silêncio, até que disse o último comentário antes de terminarmos o almoço. 

-Ultimamente só venho me preocupando com a neve que vem por aí. - disse, sugando meu refrigerante de limão pelo canudo.

-Mesmo? Eu até gosto da neve, sabe? As coisas ficam mais aconchegantes. - ela riu, contagiante.

Apenas sorri e terminei de beber minha Sprite. Não falei mais com Grace depois do almoço, mas nosso pequeno intervalo juntas foi o bastante para eu me sentir presente naquele colégio. Passei o resto das aulas me perguntando o que restava para eu terminar minha recuperação no fim da tarde, e logo que vi, já estava me dirigindo à sala do clube de jornalismo outra vez. Apesar de ser cansativo, me faria falta. Ficar no colégio depois que todos iam embora já fazia parte da minha rotina, e passar tempo com Noah também era. As breves conversas que tínhamos antes de irmos embora à noite me faziam sentir menos sozinha. 

Naquela sexta-feira, andei até à sala do clube de jornalismo carregando uma ansiedade boba de ver Griffin e poder conversar com ele novamente. Talvez eu estivesse carente de atenção depois de passar um bom tempo sozinha, mas fosse o que fosse, queria vê-lo outra vez. Antes de entrar na sala, não o vi no corredor nem próximo da máquina de refrigerantes. Esperei que ele já estivesse dentro da sala, mas quando adentrei o lugar, também não o encontrei. Senti a péssima quebra de expectativa descer pela minha garganta, como um xarope amargo. Suspirei e fui até uma das carteiras da frente, vendo Noah Reynolds escrever algo em um caderno, sentado em sua habitual escrivaninha.

-Oi, Noah. - sentei e deixei minha mochila no chão.

-Ei, Amie! Tenho uma boa notícia. - exclamou Noah, mas enérgico que o normal - Acho que terminamos por hoje. 

-Quê? Mas eu nem fiz nada ainda! - perguntei, com as sobrancelhas franzidas, achando se tratar de uma piadinha.

-Não há mais nada a fazer. Faltei ontem e não pude te avisar, mas você finalizou tudo. Feliz? - Noah sorriu, com orgulho. 

Por um momento, fiquei em silêncio, mas logo sorri e deixar uma risada genuína escapar. Saber que eu poderia ir para o hotel antes de escurecer me fez extremamente feliz. Outra etapa estressante da minha rotina tinha acabado e eu não pude me conter, levantei e puxei Noah para um abraço. Não sei se Noah esperava por aquilo, mas o auxílio que ele havia me dado nas últimas semanas só podia ser expressado por um abraço apertado.

-Valeu mesmo, Noah. 

-Uau, não sabia que você esperava tanto por esse momento... - sorriu Noah, meio desconcertado.

Respirei fundo e passei a mão pelo meu cabelo gelado, sorridente. 

-É que você me ajudou bastante. - sentei em minha carteira outra vez e me apoiei no tampo da mesa - Não tivemos tempo de falar muito mas eu queria te agradecer. Semanas atrás eu perdi a minha mãe, saí de casa, enfim... Foi difícil e você esteve aqui, mesmo que fosse para me dar exames pra fazer. 

A expressão perplexa de Noah fez eu me perguntar se estava indo rápido demais. Ele se sentou no tampo da escrivaninha e cruzou os braços, me olhando.

-Nem sei o que dizer, Amie. Nós não somos tão próximos mas sinto como se eu fosse um amigo seu de longa data. Você também me foi uma companhia muito boa. Você e Griffin, na realidade. 

Baixei os olhos, meio envergonhada por desejar que Griffin também estivesse ali para compartilhar da minha alegria repentina. 

-Por que ele não veio?

-Tinha algumas consultas médicas pra ir. Ainda restam alguns cronogramas e ele também termina o que precisa recuperar. E aí, meu trabalho aqui acaba. - Noah sorriu singelamente e estendeu os braços - Não vou ser mais ser monitor!

-Pelo menos não por enquanto. - disse, sorrindo - Sabe, eu conversei com ele ontem. Ficamos nos perguntando o porquê da sua falta e isso acabou rendendo uma conversa legal. 

-Griffin é um cara ótimo, realmente. Sinto que a doença dele o faça perder tantas oportunidades.

-Chega a ser injusto. - comentei, sentindo meu coração bater mais rápido.

-Ele deu o número de telefone pra você? - Noah perguntou.

-Não, deve ter esquecido. 

"Ou talvez ele simplesmente não quisesse dar o número", pensei.

Noah acabou me passando o número de Griffin. Disse para eu mandar uma mensagem e adicionar o contato. Noah e eu conversamos mais um pouco, até às cinco da tarde. Ele disse que pretendia ir para alguma universidade particular por causa dos pais, ou até sair do estado. Saí do colégio pensando em como nossas realidades eram diferentes e me perguntei sobre o que Griffin gostaria de cursar. 

Flocos de neve começaram a cair quando eu passava pela Main Street, próxima ao Randall Park. Resolvi fazer um caminho diferente naquele fim de tarde para comprar um calzone no D. P. Dough, já que meu almoço tinha sido pouco para me sustentar o resto do dia e eu não tinha tomado café da manhã. A fila de pedidos para viagem estava curta e eu levei sorte. 

Apesar do frio, decidi comer meu jantar num banco do Courthouse Park. As decorações e luzes natalinas iluminavam bem o parque e alguns transeuntes ainda circulavam por ali, não me senti sozinha. Na verdade, sentar num banco de parque era algo terapêutico para mim. Observar a multidão e tentar imaginar de onde vinham e para onde iam aquelas pessoas era um passatempo divertido. Tive, porém, uma surpresa bem desagradável quando eu estava indo embora. 

O céu ainda não tinha ficado escuro totalmente, então pude ter certeza do que eu vi. Guiava minha bicicleta por algumas trilhas do Courthouse Park quando vi um grupo isolado perto dos muros da repartição pública de Cortland, do outro lado da rua, na calçada. Eram alguns garotos de idades variadas num burburinho incessante, usando roupas bufantes e capuzes na tentativa de esconder o rosto do frio e de algum provável policial à espreita. Pareciam a chaminé de uma fábrica exalando fumaça, a qual era rapidamente dissipada pelo vento frio que soprava naquele fim de tarde. O cheiro de erva queimada era bem característico. Era até corajoso da parte deles fumar num lugar público em conjunto.

Parei com a bicicleta e fechei um pouco os olhos na tentativa de enxergar algum rosto conhecido. Logo pude ver um sujeito de casaco de lona escuro e capuz cinza, e pelos fios desarrumados do cabelo claro, soube quem era. 

"Luke Warren, você sempre se supera", pensei.

Luke se virou para trás, tentando ver se havia alguém os espiando, e pude ver que ele não era um dos que estava fumando. Ele passava pacotinhos para o bolso dos outros caras rapidamente, aparentemente com medo de algo ou alguém arruinasse o negócio deles. Baixei os olhos e segui com minha bicicleta até a esquina do Courthouse Park. Voltei o olhar para Luke mais uma vez antes de ir embora, e dessa vez vi que o grupo se despedia. Peguei o impulso e me distanciei antes que Luke pudesse imaginar ter me visto. O estado de Luke me entristecia. E, apesar de ter dito o que pensava na frente dele, eu sabia que não podia fazer nada para mudar sua realidade.

Segui para o Rich Motel antes que escurecesse e a neve se intensificasse. Àquela altura do campeonato, eu não sentia mais desconforto ao entrar naquele quarto antiquado. Na verdade, eu não podia exigir muita coisa. Os únicos cobertores que eu possuía para me aquecer estavam ali - sabe-se lá há quanto tempo sem ver uma máquina de lavar - e aquele ambiente com cheiro de carpete já exalava uma aura diferente. Não mais um quarto de um hotel qualquer, mas algo que remetia à casa, ao meu lar.  

Deitada debaixo dos cobertores empoeirados do meu quarto, eu ouvia o áudio da televisão em um canal qualquer enquanto mandava, enfim, uma mensagem para Griffin. Hesitei diversas vezes, apaguei e reescrevi n palavras, mas acabei mandando só um "oi" com uma carinha feliz, dizendo que eu era a Amielise da recuperação. 

"Espero que ele saiba quem eu sou. Talvez ele já tenha esquecido... Ou não, veremos", pensei.

Deixei o celular de lado, esperando que Griffin me respondesse o quanto antes, e enquanto mudava de canais, senti o celular vibrar. Virei os olhos imediatamente para o celular, com o coração acelerado, mas era uma ligação de Derek. Suspirei ao atender a chamada.

-Alô? 

-Boa noite, Lisie. Como vai?

"Você ainda pergunta?", pensei.

-Bem, na medida do possível. O que foi? - indaguei, me esforçando ao máximo para não parecer grossa.

-Quero que dê uma passada aqui amanhã de manhã. Eu e Sally estamos arrumando nossas caixas e queremos que você veja o que quer manter e o que vai para o lixo.

-Lixo? Você disse que iria vender os móveis, não jogar fora.

-Isso, é isso o que eu quis dizer. Venha por volta das oito. 

Assenti e encerrei a chamada. Não seria muito bom para o meu psicológico vasculhar os pertences de Lucy e ver o que seria jogado fora e o que eu iria ficar. Mas, de qualquer forma, eu precisaria fazer isso em algum momento, e seria agora. Fui dormir mais cedo, sem ficar passando de canal em canal na televisão, mas demorei a pegar no sono. Fiquei me revirando na cama durante algum tempo. Não soube dizer se foi por minutos ou algumas horas, mas o tempo pareceu interminável, assim como o período de luto pelo qual eu estava passando. Mas, felizmente, algo dentro de mim insistia em dizer que era tudo uma fase. E eu estava esperando essa fase passar.


Notas Finais


Espero que tenham gostado! :)


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