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História Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Twenty


Escrita por: MadeixasNegras

Notas do Autor


Depois de alguns meses, espero que gostem do capítulo (e não tenham me abandonado) :')

Capítulo 20 - Twenty


Fanfic / Fanfiction Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Twenty

Já passava das seis horas quando paramos em frente ao quintal da casa de Miles. Era uma enorme casa, toda térrea, com uma garagem grande e algumas árvores frondosas no jardim. Tudo parecia ser bem cuidado, a grama estava aparada e os arbustos podados. Luzes amareladas transpassavam pelas cortinas da sala, dando um ar de aconchego para o interior da casa.

-É uma senhora casa. - comentei, assim que paramos em frente ao jardim.

-É mesmo. Minha tia vive aqui faz não sei quantos anos e tudo continua muito bem conservado.

-Sua tia? - virei-me para Miles - Achei que morasse com seus pais.

-Eu não moro com eles desde pequeno. Eles eram muito ausentes então me mandaram pra cá até eu terminar o ensino médio. Acho que foi melhor assim. 

Não questionei. Entramos na casa e pude sentir o calor me envolver. O tom da mobília era todo em tons pastéis e as cristaleiras me lembraram Sally. A cozinha era separada da sala por uma copa e havia uma lareira no canto da sala de estar, perto da televisão. Não havia ninguém no cômodo. Miles pediu para que eu me acomodasse num dos sofás e disse que iria me preparar um chá, visto que só tinha compro dois cafés no New York Bagel.

Sentei no sofá macio da sala de Miles e fiquei observando as brasas crepitarem na lareira. O som era reconfortante, apesar de eu nunca ter tido uma lareira. O tapete da sala era meio áspero e tinha uma estampa antiquada. Aquela casa parecia pertencer a uma idosa, dona de vários gatos. Olhei ao redor, varrendo o cômodo com os olhos. Tudo era muito limpo e provavelmente a tia de Miles não gostaria de ter um animal dentro de casa.

-O que você quer fazer? - Miles sentou no sofá ao lado e me entregou uma xícara de porcelana.

-Qualquer coisa, não sei.

-Podemos assistir um filme ou jogar. Curte jogos de console? - ele me perguntou, esfregando as mãos na calça.

Beberiquei um pouco do chá - chá preto com açúcar - e dei de ombros. Nós poderíamos fazer qualquer coisa, para mim não importava. Só o fato de eu ter um teto sobre a minha cabeça já me deixava feliz. 

-Não sou muito boa com jogos. Acho que o filme cai bem.

-Tudo bem então.

Miles ligou a televisão e acessou a Netflix, e eu fiquei me perguntando desde quando existiam televisões com acesso à internet. Fiquei quieta e esperei que Miles sugerisse algo para que nós assistíssemos. A primeira opção foi um stand-up de um comediante que ele gostava, mas eu disse que não era muito fã. Aparentemente ele queria ver algo que nos fizesse rir.

-Olha, podemos ver esse aqui. Nesse filme o Hitler acorda na atualidade e fica famoso.

-Como isso poderia acontecer? - perguntei, um pouco confusa pela premissa do filme.

-Não sei, a gente precisa assistir pra ver. 

Miles iniciou a projeção e se sentou ao meu lado. Não me lembro de muita coisa da história, mas ele riu bastante e eu fiquei satisfeita por Miles estar se divertindo. Até que, lá pela metade do filme, ouvimos passos vindo do corredor e paramos o filme. Uma senhora de meia idade vinha até nós, com uma expressão convidativa. Ela tinha olhos claros miúdos e um cabelo ondulado castanho avermelhado, e usava num chinelo cor de rosa igual ao que eu tinha. 

-Miles, quem você trouxe hoje? 

-É minha amiga do colégio, vai passar a noite aqui hoje. - ele disse, meio indiferente.

A senhora parou ao meu lado e sorriu, discretamente.

-Qual seu nome, querida?

-Amie. Prazer em conhecê-la. - sorri de volta, esperando causar uma boa impressão.

-Meu nome é Catherine Harrison, sou tia do Miles. Se precisar de algo, pode falar com um de nós. Vou arrumar sua cama no quarto de visitas, está bem?

Apenas assenti com a cabeça e me recostei no sofá, ainda um pouco desconfortável por estar na casa de Miles. Ele se virou e me encarou, depois que Catherine havia se retirado.

-Quer continuar assistindo? Você parece cansada.

-Eu queria tomar um banho, se for possível.

-Claro, vou pedir pra Cathy te arrumar uns sabonetes. - Miles se levantou e saiu da sala, me deixando sozinha outra vez.

"Então ele chama ela de Cathy? Do que eu chamo ela? Sra. Harrison, dona Cathy?", pensei.

Optei pela formalidade e esperei que Miles voltasse. Na verdade, eu só queria me deitar e dormir o máximo que eu conseguisse. Depois de alguns minutos, Miles disse que eu poderia tomar meu banho e que a sra. Harrison queria saber de que sabor de pizza eu gostava. 

-Marguerita está bom. - disse, antes de entrar no quarto de visitas.

Havia alguns cobertores e mantas em cima da cama e sabonetes sortidos em cima da pia do banheiro. Tive sorte por cada quarto ter seu banheiro. Poderia ter o mínimo de privacidade. Passei um bom tempo parada debaixo do chuveiro, deixando a água quente cair nas minhas costas. O vapor estava fazendo meu estresse amolecer e escorrer para o ralo junto com o sabão. Saí do banho um pouco mais desperta e vesti as roupas mais confortáveis que carregava comigo na mochila. 

Ouvi a campainha tocar assim que saí do quarto de visitas. Era a pizza, e não demorou muito até que a sra. Harrison chamasse eu e Miles para comer. Eu e ele nos sentamos na copa da cozinha, e Catherine ficou de pé, apoiada com o cotovelo na bancada. 

-São amigos há muito tempo? - ela perguntou, olhando para nós.

-Não muito. - Miles se deu ao trabalho de responder mais rápido - Desde que as aulas começaram depois do feriado de Colombo.

-Ah, entendi. E seus pais, o que fazem, Amie? - ela se virou para mim, interessada.

Parei de mastigar e pensei em mil coisas para dizer, mas nenhuma delas conseguiu sair audível pela minha boca cheia. Eu não podia falar de Lucy ou de Derek e deixar a tia de Miles preocupada.

-Ahn... Meus pais são divorciados. - disse, num tom de encerramento.

Miles provavelmente notou o meu desconforto e interviu antes que a sra. Harrison pudesse responder.

-Ela não gosta muito de falar sobre isso. - disse Miles, mordendo um pedaço da sua pizza havaiana.

-Tudo bem, entendo. - Catherine sorriu e começou a lavar as louças. 

Dei uma olhadinha para Miles, mas ele estava distraído e não notou. Resolvi guardar minha satisfação. A angustiante ideia de que eu ainda precisava contar a Miles tudo o que aconteceu não saía da minha cabeça. E mesmo assim, eu não conseguia achar um bom momento para contar a ele. 

Depois do jantar, eu e Miles ficamos no quarto dele até que nós tivéssemos que nos deitar. Miles rodava em sua cadeira giratória em frente a sua escrivaninha e eu estava sentada na beirada de sua cama, dando uma olhada em todas as mensagens que eu ainda não tinha respondido. As de Griffin eram uma delas. Eu apenas tinha mandado um oi na sexta-feira passada e Griffin havia respondido perguntando se eu era a garota que conversou com ele perto da máquina de bebidas. Respondi que sim e disse que tinha terminado de recuperar minhas notas. Mandei uma carinha feliz logo em seguida.

-E a Hazel, ela vem falando com você? - Miles perguntou, arremessando uma bolinha colorida para cima repetidas vezes.

-Na verdade, não. Acho que desde que vocês terminaram.

-Parece besteira, né? Aconteceu tudo tão rápido. - ele retrucou, franzindo as sobrancelhas - Eu e ela almoçamos juntos uns dias mas ela parecia distante. 

Senti meu celular vibrar e vi uma mensagem de Griffin. Era um gif de uma carinha dançando e comemorando alguma coisa de forma ridícula. Miles continuava a falar, e eu tinha a impressão de só responder com alguns grunhidos afirmativos. Perguntei a Griffin sobre o estado dele e sobre quanto tempo ele ainda levaria recuperando as notas, e nós começamos um diálogo rápido. Griffin disse que os exames médicos que ele havia feito estavam todos normais, e por último mandou outro gif, dessa vez do Garfield dormindo e roncando, com a legenda "esse sou eu nos últimos dias". Dei uma risadinha e ouvi Miles me chamar.

-Do que você tá rindo aí? - Miles perguntou, com um sorriso ligeiro.

-Ah, é um cara que eu tô conversando.

-Flertando a essa hora, Amie? - ele riu e sentou na beirada da cadeira, aparentemente querendo ver de quem se tratava.

-Não é nada disso, é só um amigo do colégio que eu conheci umas semanas atrás.

-Qual o nome?

-Griffin. Ele é estrangeiro, veio do País de Gales.

-País de Gales? Onde fica isso? - Miles indagou, confuso.

-Não sei, deve ser na Europa? 

Encerramos a noite tentando saber onde ficava o País de Gales sem ter que olhar no Google, e chegamos à conclusão de que poderia ser perto do Reino Unido.

-Você já viajou pra fora? - perguntei, deixando o celular de lado.

-Que nada, só fui uma vez ver as Cataratas do Niágara e pra Flórida, de férias.

-As cataratas ficam na fronteira do Canadá, então dá pra dizer que você foi pro exterior.

-Mas eu não pisei no lado canadense. 

-Mesmo assim, você tem mais sorte que eu. Nunca saí de Cortland, no máximo Syracuse.

-Quê? Você não conhece Nova York? 

-Não, só por foto. Minha mãe morou lá um tempo. 

-Você tá perdendo tempo, tem que visitar ao menos uma vez. - Miles disse, voltando a girar na cadeira.

Não falamos mais nada depois disso. Já era um pouco tarde e eu disse que estava muito cansada, e que iria deitar mais cedo. Miles só me desejou boa noite e disse o horário que levantava antes de ir pro colégio.

"Tinha me esquecido disso. Tenho aula amanhã", pensei, amargurada.

Antes de fechar a porta do quarto de visitas, encontrei a sra. Harrison no sofá da sala e desejei boa noite. 

-Geralmente eu levo o Miles de carro para o colégio nos dias de neve. Posso dar carona pra você. - ela disse, suavemente.

-Tudo bem. Obrigada, sra. Harrison.

-Pode me chamar de Cathy. 

Assenti, com um sorriso discreto, e voltei para o quarto de visitas. Deitei na cama macia debaixo de alguns cobertores felpudos e com cheiro de amaciante, e meu corpo estremeceu ao pensar que eu poderia continuar no Rich Motel se não fossem as circunstâncias. Escorreguei para mais debaixo das cobertas e sorri, pensando na sorte que eu tive.


Notas Finais


Espero que tenham gostado! :)


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