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História Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Twenty Six


Escrita por: MadeixasNegras

Notas do Autor


Espero que gostem! :)

Capítulo 26 - Twenty Six


Fanfic / Fanfiction Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Twenty Six

Quando acordo, quase sempre a primeira coisa para a qual eu olho é a janela do quarto. Vejo como está o tempo lá fora, a cor do céu, se há nuvens, e por aí vai, porque me ajuda a prever como será a vibe do meu dia. Mas, naquela manhã de quinta-feira, a primeira coisa em que prestei atenção foi que Miles não estava mais ao meu lado. Na noite passada, depois que tive um pequeno colapso após ligar para Fumiko e informar a morte de Lucy, Miles me acalmou e nós conversamos por algum tempo, até que dormimos encostados um no outro. Achei engraçado o fato de que, primeiramente, nós deixamos um espaço enorme no meio da cama para que não nos encostássemos, e no fim das contas acabamos dormindo abraçados.

Sentei na cama da suíte do Ritz, ainda com a visão embaçada, e vi o horário pelo celular. Era quase dez da manhã. Suspirei pensando no que eu haveria perdido de importante no colégio. Grace poderia me ajudar com isso depois que eu voltasse para Cortland. Mesmo querendo dormir mais um pouco, me forcei a levantar e enxaguei o rosto no banheiro da suíte. Fui até a sala de estar, mas não encontrei Miles. Coincidentemente, nessa hora ouvi um barulho no corredor e a maçaneta da porta de entrada girar. Um Miles com as bochechas vermelhas e o cabelo bagunçado entrou na suíte, dessa vez completamente vestido, ainda usando o casaco que eu o havia dado. Percebi que ele carregava um pequeno pacote de papel em uma das mãos. Ele me olhou, sorriu levemente e me cumprimentou com um abraço breve. Um pensamento bobo e rasteiro passou pela minha cabeça, imaginando como ele me cumprimentaria em outras circunstâncias que martelavam minha mente desde o dia anterior. Ao invés de um abraço, com um beijo na bochecha, talvez?

-Faz tempo que você acordou? – ele perguntou ao sentar em um dos sofás.

-Sim, agora mesmo. Onde você foi?

-Pegar minha carteira lá no rinque. – Miles mostrou a carteira e a guardou novamente no bolso da calça – Comprei uns pãezinhos pra você. Já tomei café aqui por perto.

Sentei ao lado de Miles no sofá e abri o pacote. Havia três pães doces recheados com creme dentro dele, e Miles aparentemente não havia trazido café ou qualquer bebida.

-Você acordou cedo hoje, pelo visto. – disse, mordendo um dos pãezinhos.

-É, nem precisei de despertador. Na verdade, a ansiedade falou mais alto. Eu só queria pegar minha carteira de volta. – Miles voltou seu olhar para o meu rosto inchado de sono – Foi meio difícil sair de lá sem te acordar. Seu braço tava bem apertadinho ao redor de mim.

Miles deu uma gargalhada e eu só continuei mastigando, querendo que ele desviasse do assunto. Senti minhas bochechas arderem, meu rosto muito provavelmente havia ficado todo vermelho, mas Miles não comentou nada sobre isso. Acho que ele deixou passar.

-Obrigada por ter me acalmado ontem.

-Você nem me contou o que aconteceu pra você chorar daquele jeito. – ele cruzou as pernas e apoiou a cabeça em uma das mãos.

-Ontem, depois que você dormiu, eu liguei pra uma amiga da minha mãe pra contar sobre o falecimento. – mordi outro pãozinho, dando uma pausa – E deu pra perceber que ela ficou bem triste e preocupada, disse que ia me ligar de novo e tal. E aí eu não aguentei e comecei a chorar. O descontrole me atingiu em cheio.

-Acho que é comum. Você ainda tá enfrentando o processo de luto, é normal não superar tudo de uma vez. – Miles comentou, com o olhar perdido na sala de estar – E cada um tem sua forma de jogar pra fora o que tá sentindo.

Apenas assenti.

-E o Luke, te ligou também? – ele voltou seu olhar para mim.

Confesso que não esperava essa pergunta de Miles. Achei que ele não se importasse.

-Ligou ontem pra ver como eu tava, aí eu falei onde a gente foi e tal.

-Ele deve ter achado uma loucura.

-Não, eu não comentei que nós não voltamos pra Cortland. Se ele foi pra aula então provavelmente ele estranhou o fato de a gente não ter ido. – terminei o último pãozinho e tentei desviar o assunto – E a Cathy, já te ligou?

-Já, quando eu tava na rua. Era sobre isso que eu tinha que falar. Ela disse que vai vir buscar a gente por volta do meio dia na frente do Ritz.

-Você contou tudo o que rolou pra ela? – perguntei, amassando o pacote dos pães.

-Tive que contar, né? Ela disse que entrou em pânico quando não me viu em casa de madrugada, pensou que eu tinha sofrido um acidente e essas coisas... Aí me chamou de irresponsável e me proibiu de sair de Cortland por um mês. – ele sorriu, meio sem graça – Acho que é uma punição justa.

-Achei um castigo razoável, você não vem aqui pra Nova York com frequência mesmo.

-Quem disse? – Miles me olhou, sorrindo – Você sabe se eu venho aqui direto, por acaso?

-Ué, eu achei que fosse algo fora da rotina pra você vir aqui. – disse, genuinamente confusa.

-Eu não venho todo fim de semana, mas pelo menos uma vez por mês eu tento vir aqui. Mudança de ares, sabe? Essa cidade me faz bem. – ele se levantou do sofá e parou na minha frente, estendendo a mão para que eu levantasse – Você vai querer voltar aqui algum dia?

-Aqui no Ritz ou em Nova York? – segurei a mão de Miles, mas não levantei.

-Você quem sabe. – ele me puxou e me fez ficar de pé, bem próxima dele.

-É uma oferta tentadora... Quem sabe. – eu sorri, entrando na provável brincadeira hipotética de Miles.

Senti o ardor voltar para as minhas bochechas novamente, e me odiei por isso. Saí da sala, deixando Miles mais uma vez, e disse que ia me trocar no banheiro. Precisei lavar meu rosto com água gelada para que o vermelho saísse. Precisava admitir para mim mesma que eu estava começando a me sentir atraída por Miles desde o Wollman Rink, no dia anterior. Poderia ser algo totalmente passageiro, mas eu tinha que ser honesta comigo mesma. Miles poderia ser um bom partido se as coisas continuassem bem como estavam, mas Luke ainda estava envolvido na história.

Embora houvesse a possibilidade de o lance com Luke também ser algo passageiro. Ele me tratava muito bem e parecia bem apaixonado, mas talvez só fosse o jeito dele lidar com “rolos”. Isso não era tão comum para mim. E o que mais incomodava nisso tudo era o fato de que esse clima romântico poderia estar longe de passar pela cabeça de Miles, e que ele me via apenas como uma amiga que precisava de apoio emocional e carinho naquele momento específico. Talvez ele ainda até gostasse da Hazel, mesmo que fosse meio burro da parte dele. Isso certamente eu teria que perguntar, mais cedo ou mais tarde.

Depois de me vestir, voltei para a sala de estar e encontrei Miles distraído no celular. Perguntei se podíamos pegar nossas coisas e sair, e ele concordou. Tão discretamente quanto chegamos, Miles e eu saímos da suíte Avenue do Ritz-Carlton.

-Um dia eu vou voltar aqui, pode ter certeza. – ele disse, baixinho, com uma convicção que me fez sorrir.

Descemos pelo elevador sem encontrarmos ninguém. Pensei que iríamos ver Ariel na recepção, mas Miles disse que avisou por mensagens que nós estávamos de saída e que o quarto já estava liberado. Outra vez, lá estávamos nós na rua. A avenida continuava movimentada e o barulho do trânsito se intensificou, porque já era quase onze horas da manhã, perto da hora do almoço.

-E agora? – perguntei, encarando uma das entradas do Central Park no outro lado da rua.

-A gente espera a Cathy chegar. – Miles apontou para um banco próximo do hall de entrada do Ritz, e lá nos sentamos.

-Perdemos um dia de aula em nome desse rolê todo. – comentei.

-Valeu a pena. – ele se virou para mim – Pelo menos eu achei que valeu.

-Eu também. – fiz uma pausa e encarei a avenida - Você perguntou sério se eu queria voltar aqui algum dia?

-Eu tenho cara de quem brinca em serviço? – Miles riu.

“Odeio isso. Ele sempre fala as coisas sorrindo, nunca sei se ele tá brincando ou falando sério”, pensei, meio ansiosa.

-É sério, quando você quiser dar um passeio é só me dizer. Desde que você tenha dinheiro pra gente ir e voltar, claro. – Miles sorriu e tirou uma gargalhada de mim.

-Tá bom... – dei uma risadinha - Escuta, você vem falando com a Hazel desde o que aconteceu entre vocês? – mudei o tom da conversa antes que minha curiosidade me matasse.

-Não muito. – Miles disse, com um semblante agora sério, quase que indiferente – A Hazel é complicada demais e eu gosto das coisas mais simples. Sem falar que, lembrar disso me dá vergonha. Eu fui com sede demais ao pote e acabei sendo meio idiota e imaturo.

Realmente, Miles havia mudado consideravelmente desde o rolo com a Hazel. Ele parecia mais decidido sobre as coisas, não tão influenciável, e agora tinha seu próprio ponto de vista sobre as coisas. Talvez ele sempre tivesse sido assim, mas acho que a queda por Hazel o fez ficar mais bobo, só seguindo os passos dela. Aliás, até a aparência dele parecia ter mudado um pouco, porque seu cabelo havia crescido e ficado com um ondulado bonito.

-Mas é isso, né? A gente vai mudando pra melhor conforme as merdas acontecem. Por que você perguntou disso? – ele indagou, me tirando dos meus pensamentos.

-Ah, só queria saber seu parecer sobre a história, se você ainda é afim dela, essas coisas.

-Você ainda achava isso? Nossa, pode esquecer. Era só uma quedinha que foi revivida depois de uns anos sem ver a Hazel e eu fiquei meio emocionado com tudo. – ele riu – Já passou.

-Ah...

-E você e o Luke? É sério mesmo? Você nem me explicou direito.

-Expliquei, sim. Você que não quis ouvir, ficou todo putinho, meio enciumado.

-Ciúmes, sei. – ele riu, sarcasticamente – Eu fiquei foi preocupado, porque aquele cara é um mala. Você mesma achava isso há pouco tempo, o que te fez mudar de ideia? Ele beija bem?

-Não adianta me provocar. – lancei um olhar cerrado para Miles - Eu mudei de ideia porque... Sei lá, ele deixou de fazer algumas merdas e eu fiquei feliz por isso. E ele me tratou muito bem desde quando a gente se conheceu, saiba você. E aí foi rolando um clima, mas às vezes eu acho que se ele não tivesse investido provavelmente não teria rolado nada.

-Então é assim que funciona com você, só os outros tem que ter atitude e partir pra cima?

-Eu não disse isso. – franzi as sobrancelhas.

-Mas disse que foi por conta dele que você entrou nessa. Pensa só, você tá fazendo isso porque curte ele mesmo ou só porque é conveniente ele estar afim de você? Ou porque você passou por um momento difícil e ficou fragilizada?

-Por que você tá supondo tantas coisas? Não dá pra simplesmente aceitar que eu posso gostar do cara e pronto? – subi o tom de voz, um pouco incomodada por Miles me dizer verdades que eu não queria ouvir – Por que você se importa tanto?

Uma buzina estridente interrompeu nossa discussão quando ela estava prestes a ir para um lado ruim.

-Nossa carona chegou. – Miles disse, encerrando o assunto.

Ele não parecia ter ficado magoado nem nada, mas eu fiquei sentida. Miles poderia simplesmente me apoiar, como amigos fazem, ou talvez ele quisesse plantar algumas ideias na minha cabeça para que eu percebesse algo diferente. Minha mãe costumava dizer que quando você tem um problema, é bom deixar que pessoas de fora dele deem opiniões. Elas conseguem perceber alguns detalhes que você não vê. Talvez ficar com Luke fosse furada mesmo e Miles estivesse tentando me contar isso. Mas, naquele momento, eu só me preocupei em entrar no carro de Cathy e ir para casa.

Miles sentou no banco da frente e eu fiquei sozinha no banco de trás. Cathy apenas me olhou pelo retrovisor, mas não disse nada. Ela começou a conversar num tom mais baixo com Miles. Não me atentei muito à conversa, só fiquei olhando as ruas e a paisagem se modificar conforme íamos para o interior do estado novamente. Em determinado momento, Cathy falou algo que me chamou atenção e me fez lembrar de Lucy outra vez.

-Você só vai entender a minha preocupação quando tiver filhos. É um medo que não dá pra explicar. Nesses momentos você imagina mil e uma coisas que podem ter acontecido.

-Eu tentei te ligar e você não atendeu. – Miles soltou.

-Você sabia que eu não ia atender porque eu te avisei. E isso não anula o fato de você ter sido irresponsável por ter esquecido sua carteira no rinque. Se você não tivesse esquecido, teria voltado para casa ontem. – Cathy tirou o olhar da rodovia e o direcionou a Miles – É essa a questão.

“Você só vai entender quando tiver filhos.” É algo que praticamente todos os pais ou responsáveis dizem quando a criança faz alguma coisa errada ou tem algum descuido, como no caso de Miles. De fato, a responsabilidade de ter que cuidar de alguém deve ser mesmo indescritível. Pensei em Lucy e na enxurrada de consequências negativas que ocorreram depois da gravidez que deu errado e depois da minha, que não necessariamente deu certo, mas aconteceu. Às vezes eu penso que, se eu não tivesse nascido ou se Lucy não quisesse ter filhos, a vida dela provavelmente teria sido bem melhor. Não sei dizer se todas as desgraças da vida dela foram causadas por mim ou não, mesmo que de forma indireta. Eu evito esses questionamentos para tentar me sentir menos mal e menos culpada pelo colapso da minha mãe antes de ela ir pro hospital e morrer.

Era por volta da uma e meia da tarde quando voltamos a Cortland. Cathy parou em frente à garagem da casa, deixou eu e Miles descermos e disse que ia comprar algo para o almoço, que voltava logo. Nós não trocamos muitas palavras assim que entramos em casa. Estava tudo muito quieto e cinzento, e eu estava agoniada pela falta de sol. Quer dizer, no dia anterior o céu havia ficado azul e sem nuvens escuras por uma parte do dia, mas não foi o suficiente para mim. Eu queria o próximo mês todo só com dias ensolarados e bonitos para que eu pudesse andar de bicicleta e ir ao Suggett Park tomar um sorvete.

Depois do almoço, liguei para Grace para saber o que eu tinha perdido de matérias no dia de hoje. Ela disse que não havia sido nada demais, o que me confortou, e depois me perguntou o motivo de eu ter faltado. Pelo visto, ela não havia percebido que Miles também faltou. Acabei dizendo que não estava me sentindo muito bem, mas não era grave e que no dia seguinte eu iria para a aula de novo. Grace pareceu aceitar a desculpa. Outra pessoa com quem eu falei depois do almoço foi Luke, mas não fui eu que liguei, e sim ele. Ele me perguntou se eu queria dar uma volta e que se sim, ele iria me buscar em casa. Como eu queria conversar com ele de verdade, disse que sim. Era algo que estava corroendo minhas entranhas por mais que eu só estivesse pensando nisso há poucas horas. Luke passou com a picape na frente da casa de Cathy por volta das três. O céu estava cinza claro, sem nuvens nem vento, só um frio indiferente, e para a minha alegria, mais leve que os outros dias. Luke me cumprimentou com um selinho e sorriu, mas não conversamos durante o trajeto para qualquer que fosse o destino. Após uns minutos passando por algumas avenidas movimentadas, entramos numa rua parada perto do Suggett Park, coincidentemente o parque em que eu estava pensando mais cedo.

-A Wickwire Pool é aqui perto, né? – comentei, olhando umas quadras para baixo.

Luke concordou.

-Eu gosto de ir lá no verão. No Suggett Park.

-Eu não curto muito, mas de vez em quando é bom ir em algum parque respirar ar puro.

Paramos em frente a uma casa pintada de um azul forte e um tom de amarelo claro – o que eu achei bem curioso e engraçadinho – na Madison Street. Luke desligou o carro e desceu, seguido por mim.

-É sua casa? – perguntei, apontando para o terreno.

-É. Fica tranquila, não tem ninguém lá dentro por agora.

Não entramos dentro da casa em si, apenas passamos por um caminho cimentado ao lado dela que levava a um galpão nos fundos. Havia alguns pinheiros frondosos por ali e a grama parecia ter sido aparada recentemente. Luke empurrou uma porta de correr e abriu o galpão. Não havia muito por ali, na verdade, me lembrava uma versão menos poluída da garagem de Carter. O chão era carpetado, um sofá e uma poltrona de couro rasgado ocupavam mais da metade do espaço e dividiam o lugar com um rádio, pilhas de CDs e uma televisão relativamente pequena.

-Eu iria te oferecer uma cerveja, mas você não bebe. – Luke riu da própria observação – Quer uma água ou algo assim?

-Não, valeu. – dei um sorrisinho amarelo e me sentei no sofá com os braços e pernas meio encolhidos de frio.

Luke se aproximou do sofá e se sentou bem próximo de mim, cruzando o braço ao redor dos meus ombros.

-Aqui não tem termostato, mas a gente se esquenta. – ele sorriu e se inclinou para me beijar.

Ficamos ali naquele sofá por uns instantes, o único som que se ouvia era o da respiração ofegante de Luke e o dos pássaros do lado de fora. Antes de chegar ao galpão, eu estava hesitante e só queria conversar para tirar as dúvidas que tinha a respeito do que Luke sentia, mas assim que começamos os amassos e Luke me segurou do jeito carinhoso que ele fazia, meus pensamentos incômodos desapareceram por um tempo. Miles também. Lembrei porque tinha me convencido de que estava apaixonada por Luke e do porquê de me sentir bem com ele. Mesmo me sentindo meio boba, tratei de conversar com ele sobre os questionamentos que voltaram para a minha mente. Suavemente, me afastei dos lábios de Luke e comecei a falar, enquanto que ele me encarava com um olhar semicerrado e passava uma das mãos em meu rosto.

-Eu queria te perguntar umas coisas. – disse, pensando em como dizer o que eu queria.

-Diz.

-A gente tá namorando?

-Ah... – as sobrancelhas de Luke se franziram levemente – Não sei. Por quê?

-Sei lá, queria saber.

-Sabe... – ele tirou seu braço de ao redor de mim, mas continuou ao meu lado - Eu te acho uma garota incrível, linda e da hora, achei que tivesse tudo certo em não firmar nada por enquanto. Só passaram alguns dias, tá ligado?

-Sim, eu entendi, e tá bem de boa isso o que a gente tem... – Luke me interrompeu.

-Tipo, eu não vejo necessidade em querer rotular nada. A gente fica, passa um tempo junto, se diverte, não é bom pra você?

-Sim, claro, eu não tô dizendo isso.

Desviei o olhar de Luke e suspirei. Até ali eu tinha me expressado meio mal. Parecia que eu era uma emocionada que queria um anel de compromisso no primeiro encontro, mas não era bem assim, e Luke não parecia se esforçar para tentar entender meu ponto.

-Eu queria um negócio mais concreto, entende?

Luke demorou um pouco a responder.

-O que é mais concreto pra você do que isso aqui? – ele sinalizou com um dos dedos, apontando para nós dois - Não é como se nós fôssemos casados.

Ele abriu um sorriso de escárnio e levantou uma das mãos apontando para o dedo anelar.

-Ah, Luke, por favor, você entendeu o que eu quis dizer. – dei um sorrisinho, tentando não parecer tão rígida naquela situação.

-Não tem meio termo pra você, Amie? Ou a gente é só amigo ou é namorado, compromissado? – Luke franziu a testa, me olhando mais seriamente – Eu gosto pra caramba de você, mas é melhor a gente ir aos poucos. Não tem porque correr.

-Eu também gosto de você e eu entendo. Só queria uma garantia de que você não vai me abandonar no meio do caminho ou algo assim. – pela primeira vez naquela tarde eu me expressei como gostaria.

Luke suavizou o olhar e sorriu com o canto da boca.

-Am, eu não vou te deixar pra trás. – ele pousou as mãos em meus ombros – Relaxa, tá?

Achei que ali o assunto iria ficar de lado, mas Luke me lembrou de algo que eu já estava esquecendo.

-Você e o seu amigo Miles conversaram sobre alguma coisa assim ontem? – o braço de Luke voltou a ficar ao meu redor.

-Não, quer dizer... A gente conversou sobre essas coisas e eu comentei da gente, mas não se alongou muito. Foi só pra ele saber mesmo.

Ele provavelmente notou alguma insegurança na minha voz.

-Você quer me contar alguma coisa? – Luke perguntou, com a voz mais baixa. – Pra encerrar esse assunto logo.

Um monte de coisas passou pela minha mente nesse momento. Eu queria ser honesta com Luke e contar que eu e Miles tínhamos passado a noite em Nova York em um hotel, e que eu dormi abraçada com ele por conta do meu colapso nervoso, e que durante o tempo que passamos juntos eu me senti atraída por ele de um tanto bem razoável, mas não falei nada. Seria melhor guardar tudo para mim e evitar qualquer possível discussão. Quer dizer, Luke não aparentou ser ciumento, mas eu não iria correr o risco. Aquela noite ficaria entre eu e Miles e morreria entre nós também.

-Não. Já te falei o que eu queria. – e sorri.

Não falamos mais sobre isso pelo resto da tarde. Luke me levou para dentro da casa e disse que iria fazer algumas panquecas. Foi um momento divertido que aliviou a tensão acumulada dentro daquele galpão. Um lado brincalhão que eu não tinha visto de Luke se mostrou enquanto ele tentava virar as panquecas na frigideira aquela tarde, fazendo caretas e dançando algumas das músicas que eu colocava para tocar. E me convenci de que Luke estava certo, que nós tínhamos que ir devagar e que tudo se acertaria depois de um tempo, como qualquer coisa.

Por volta das seis, Luke me deixou em casa com a picape. Uma chuva fininha caía quando ele se despediu de mim como na primeira vez em que ficamos. Ele se aproximou de mim para destravar minha porta, e quando não restava mais nenhum espaço entre nós, ele me beijou pela última vez naquele dia. Acho que Luke me fazia bem, sim. Entrei naquela picape me sentindo angustiada e voltei no fim da tarde totalmente leve e boba.

Entrei na casa de Miles e me deparei com Cathy assistindo televisão, de braços cruzados num dos sofás próximos da lareira, que estava acesa. O som da madeira crepitando e o calor do ambiente me fizeram arrepiar. Fiquei sentada perto dela sem trocar palavras por um tempo, apenas compartilhando da presença uma da outra. Quando Miles apareceu na sala perguntando o que iríamos jantar, meu coração acelerou e voltou ao normal em questão de segundos, e me odiei por isso. Era aquele nervosismo péssimo de quando vemos alguém que gostamos entrar no recinto. Infelizmente eu não podia controlar. Algumas das faíscas da noite no hotel ainda estavam dentro de mim, mas me fiz ignorá-las.

Fui dormir relativamente cedo naquela noite. Deitei antes mesmo de Cathy, mas não dormi de imediato. Apenas me enfiei debaixo dos vários edredons que estavam por ali e fiquei quieta, encarando o teto, sentindo o calor me envolver. Resolvi dar uma olhada no celular até pegar no sono e fiquei surpresa ao ver uma chamada perdida de Fumiko. Nem tinha percebido aquilo antes. Ainda dava tempo de retornar a chamada considerando que no Oregon seria umas oito horas, mas deixei para fazer isso no dia seguinte, mesmo com a ansiedade começando a me roer por dentro. Não sabia exatamente o que ela queria me dizer, mas tinha uma vaga ideia. Talvez me oferecer dinheiro ou só conversar. Mas, isso eu saberia só no dia seguinte.


Notas Finais


Espero que tenham gostado! :)


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