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História Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Twenty Nine


Escrita por: MadeixasNegras

Notas do Autor


Espero que gostem! :)

Capítulo 29 - Twenty Nine


Voltar à minha casa depois da morte de Lucy foi uma experiência. Não consegui achar um adjetivo que descrevesse como eu me sentia encarando a casa e o quintal em que passei toda a minha vida, literalmente. Perdi a conta de quanto tempo passei sentada no meio fio da Banks Street, minha antiga rua, encarando cada detalhezinho do pequeno sobrado que foi o primeiro lar de Lucy nos Estados Unidos, décadas atrás. Observei a calçada cinzenta rachada, a grama alta e congelada, os arbustos e cercas-vivas sem podar, o assoalho da varanda sujo como no dia em que retiramos a mobília da casa, as vidraças embaçadas por conta do frio, a calha cheia de neve e folhas murchas, a árvore em frente ao gramado – antes frondosa, com folhas verdes brilhantes – com uma aparência quase que esquelética por conta dos galhos secos.

Acredito que fiquei sentada no meio fio da calçada úmida da Banks Street por mais tempo que deveria. O céu escurecia aos poucos, assim como a temperatura também ia caindo, e por mais que parte de mim quisesse voltar até a casa de Miles e me desculpar por ter sido tão histérica, a outra parte não queria ver Miles nem se ele estivesse pintado de ouro. A mistura de sentimentos era complexa demais para que eu tentasse entendê-la naquele momento. Muitas e muitas coisas passavam pela minha cabeça, que estava a mil, ao contrário do meu corpo, que estava estático, sem mexer um músculo sequer. Pensava sobre o que Miles achava de mim depois do meu surto horas atrás, sobre quais prováveis xingamentos Luke estava usando para me descrever para outras pessoas depois da nossa briga – também no mesmo dia -, sobre o que Betty Lou achava sobre eu ter simplesmente deixado minhas coisas em sua garagem e depois sumido, sem dar maiores explicações.

O som do toque do meu celular me despertou do transe em que eu estava. Levei um susto maior do que imaginei, e lentamente peguei o celular do meu bolso, me movendo quase como um robô cujas articulações estivessem enferrujadas. O identificador de chamadas mostrava o nome do Fumiko na tela. Revirei os olhos sem querer. Não queria falar nada sobre nada com ela naquele momento, porque provavelmente qualquer coisa que ela fosse me dizer seria sobre Lucy. E eu definitivamente não estava com cabeça para falar dela. Pensar tanto se eu deveria ou não atender fez com que Fumiko desligasse, mas segundos depois, o celular começou a tocar de novo. Contrariando a minha vontade, atendi.

-Alô? Amie? - a voz de Fumiko perguntou do outro lado da linha, numa calma habitual.

-Oi, Fumiko. Sou eu.

-Pode atender agora?

-Sim, claro. – disse, tentando soar convincente.

-Liguei pra saber como você está.

-Ah... – não consegui evitar dar uma pausa, hesitante, mas optei por falar o de sempre - Bem, tá tudo bem.

-Mesmo? – Fumiko perguntou, quase que adivinhando que eu estava mentindo.

-É, tô seguindo da maneira que dá depois de tudo o que aconteceu... Talvez eu consiga descansar a cabeça um pouco agora com a semana do Dia de Ação de Graças.

-Isso é verdade. Na verdade, é sobre isso que eu quero te falar. Escute, eu queria te fazer uma proposta bem sincera.

Num piscar de olhos, aquela conversa tinha despertado todos os meus sentidos. Estiquei uma das pernas e me ajeitei no meio fio de concreto duro da calçada.

-Pode dizer.

-Eu gostaria de saber se você aceitaria passar a semana do Dia de Ação de Graças comigo e com a minha família. Falo em nome de todos nós. – pude notar uma mudança no tom de voz de Fumiko, agora afável, quase que amoroso.

-Nossa, isso é... – fiz outra pausa, procurando as palavras para descrever o quão surpresa eu estava com aquele convite – Eu realmente não sei, não quero te incomodar de maneira nenhuma...

-Incomodar? Claro que não, é uma proposta sincera. Eu e o pessoal vamos ficar muito felizes em te receber!

Uma onda de dúvidas e perguntas inundou minha mente e me impediu de responder Fumiko prontamente. Ao mesmo tempo que eu me sentia maravilhada por ter a possibilidade de sair de Cortland por uma semana inteira, eu me sentia ansiosa por pensar que ficaria uma semana na casa de uma mulher que vi poucas vezes em toda a minha vida, cuja família eu não fazia ideia de como era e nem se realmente me queriam lá. Mesmo assim, parecia tentador.

 -Por favor, pense com carinho. Você precisa disso nesse momento difícil e eu realmente gostaria de te ver depois de tantos anos. Me ligue pra dizer a resposta até domingo e, caso você queira, eu te dou maiores detalhes, tudo bem? Vou ficar muito feliz em te ver.

Disse algumas palavras insossas de despedida e desliguei a chamada. Outra vez, parecia tentador. Lá no fundo, apesar de tudo, eu queria ir. O timing da ligação de Fumiko foi simplesmente perfeito. Bem na semana em que eu me desentendi com praticamente todos os meus amigos em que estava me apoiando nos últimos tempos, ela me liga e oferece uma oportunidade de ouro. Só havia um único detalhe: eu não tinha dinheiro o suficiente para largar tudo para trás e viajar até o outro lado do país.

Pensando bem, eu tinha dinheiro para me manter por mais um mês ou dois a contar daquela data, por mais que tivesse dito a Miles que eu não tinha dinheiro para ir a Nova York. Na verdade, eu tinha. Acontece que, considerando que Derek não iria me mandar mais parcela nenhuma, eu precisava economizar de todas as formas possíveis. O único gasto recorrente que eu estava tendo eram os almoços no colégio, porque de resto, Cathy e Miles estiveram me bancando pelos últimos dias, o que foi muita sorte da minha parte. Mas isso não iria durar para sempre, e muito provavelmente em breve eu precisaria ir para outro hotel de beira de estrada. E aí, o dinheiro seria gasto num piscar de olhos. Eu até poderia comprar passagens de ida e volta para o Oregon com o dinheiro que me restava – mais ou menos seiscentos dólares em espécie – mas aí eu voltaria com os bolsos vazios e totalmente sem ideia do que fazer para arranjar mais.

-Tem que ter alguma solução, eu não posso deixar essa oportunidade passar... – pensei comigo mesma, ainda sentada no meio fio.

Percebi que minhas pernas começavam a formigar por estarem há tanto tempo na mesma posição, e me fiz levantar dali para ir aonde quer que eu fosse. Olhei de relance para minha antiga e amada casa e me pus a andar rapidamente pela Banks Street - agora totalmente escura, iluminada apenas pelos postes de luz amarelada – antes que ficasse mais tarde e mais frio. Vagando pela West Main Street, um pouco mais movimentada, tive um lampejo. Lembrar de Lucy me fez lembrar de Derek e toda a sua irresponsabilidade e canalhice, o que consequentemente me lembrou do dinheiro que ele nunca chegou a me entregar. Eu precisava arranjar um jeito de conseguir as parcelas que faltavam e eram minhas por direito, e não demorou muito até que minha mente maquinasse o bastante para pensar numa ideia.

Atravessei a avenida até um posto de gasolina da Sunoco, que estava às moscas. Entrei na loja de conveniência e me deparei com um senhor vestindo um casaco xadrez e um gorro engraçado lendo um jornal que não pude identificar. Uma música ambiente tocava ao fundo, deixando a loja um pouco menos fantasmagórica.

-Aqui tem telefone público? – perguntei, sem muita cerimônia.

O senhor apenas apontou para o lado de fora, em que havia uma cabine telefônica iluminada próxima da última bomba de combustível do posto. Agradeci rapidamente apenas assentindo com a cabeça e corri até a cabine, que ironicamente estava sendo utilizada por alguém. Enquanto a pessoa terminava a ligação, tive tempo de vasculhar meus bolsos em busca de alguma moeda. Era perigoso, arriscado e até meio burro que eu deixasse absolutamente todo o meu dinheiro na minha mochila o tempo todo, mas eu não correria o risco maior de deixar as notas numa gaveta qualquer do quarto de visitas da casa de Miles e arriscar que um deles descobrisse. Eu trabalhava sempre com a sorte.

Logo, a pessoa na cabine saiu e eu pude entrar. Inseri uma moeda e disquei o código padrão de ligações públicas. Esperei que a voz eletrônica pedisse o código do estado para o qual eu ligaria, e esperei que ela dissesse o número do Michigan. Finalmente, pude discar o telefone de Sally e esperar a ligação ser completada. Era muita sorte da minha parte o fato de Sally ter me dado o número de seu celular na nossa despedida, insistindo para que eu ligasse sempre que quisesse ou só precisasse. Bom, eu estava fazendo isso agora. Minha ida para o Oregon dependia dessa ligação.

-Alô? – a voz doce de Sally preencheu meus ouvidos e me deu uma pontada de esperança que eu precisava para fazer aquela ligação.

-Oi, Sally. É a Amie, como vai?

-Amie! Que saudades, estava esperando você ligar desde que nos mudamos. Como você está? – Sally falava com um entusiasmo que eu simplesmente não conseguia entender.

-Ah, tô até bem. Espero que vocês estejam se adaptando bem aí no Michigan. – disse, cerrando os dentes, tentando parecer sincera desejando o bem estar de Derek.

-Detroit é linda, você precisa nos visitar algum dia. Correu tudo bem desde que nós nos mudamos? Derek disse que nós poderíamos deixar as caixas do lado de fora porque logo depois você viria buscar, deu tudo certo?

Precisei dar uma pausa e respirar fundo quando Sally explicou o detalhe das caixas. Derek a convenceu a deixar minhas coisas no relento com uma facilidade que eu não teria. Querendo ou não, aquele homem era muito, mas muito, persuasivo. E, ao mesmo tempo, pude tirar um peso das costas sobre Sally. Ela não sabia de nada.

-Sim, tudo certo. – suspirei, sentindo a raiva borbulhar dentro de mim.

-Ah, que bom! Já sabe com quem vai passar as festas de fim de ano?

-Ainda não sei ao certo, na verdade. – a pergunta de Sally me pegou um pouco de surpresa.

-Você podia vir passar com a gente! Faço questão, até de pagar a ida e a volta se você quiser! – Sally deu uma risadinha, talvez indicando que a última frase fosse uma piada, mas algo me dizia que a conversa estava indo no rumo que eu queria e me permiti sorrir também.

-Poxa, eu bem que queria, mas os exames finais do colégio estão chegando e eu preciso me preparar. –inventei qualquer coisa sobre meus estudos que parecesse minimamente convincente para ela.

-Ah, tá certo. Você precisa se dedicar à escola. É uma pena, mesmo.

-Eu queria te pedir um favor, se eu puder. – falei, rapidamente, antes que ela pudesse continuar com aquela conversinha boba.

-Claro! Qualquer coisa.

-Obrigada. Queria que você passasse um recado pro meu pai. Sempre tento ligar no celular dele, mas o número dá ocupado. – comecei, quase que sentindo dor por chamar aquele homem terrível de pai.

-Passo sim, o que é?

-Pode lembrar ele de me enviar o dinheiro que combinamos antes da mudança? Acho que ele se esqueceu.

-Ele não me falou nada sobre isso... Por que será que ele esqueceu de algo tão importante?

“Por que será, né, Sally? Talvez porque ele seja um pai horroroso.”

-Realmente não sei... Mas agradeceria se você pudesse dizer pra ele. Ele disse que iria me mandar antes do Dia de Ação de Graças.

-Bom, se é assim, vou dizer pra ele. Qual é o endereço de envio?

-Rosewood Avenue, número um, Cortland, Nova York. – disse pausadamente, porque provavelmente ela estaria anotando isso em algum lugar – O código postal é 13045.

Escutei a respiração de Sally enquanto ela supostamente anotava isso num papel.

-O valor é de dois mil e seiscentos dólares, aliás. É bom dizer isso também, caso ele tenha esquecido. – sorri com escárnio do outro lado da linha, esperando que aquilo desse certo.

-Muito bem, então. Tudo anotadinho. Vou pedir para que ele te mande ainda essa semana, para chegar antes do Dia de Ação de Graças.

-Isso, perfeito. Obrigada de novo, Sally.

-Por nada! É uma pena que ele não esteja em casa agora, senão eu passaria o telefone para ele e vocês conversariam direitinho.

Sorri diante da necessidade de Sally dizer a maioria das palavras no diminutivo, e também pelo fato de sorte realmente estar ao meu favor. Nem ao menos Derek estava em casa para tentar me refutar.

-É mesmo. Mas enfim, obrigada por tudo, preciso desligar.

-Então tá bom, fica com Deus, viu? Quando precisar é só ligar de novo, tá?

-Tudo bem. Até, Sally.

E logo desligamos. Respirei fundo e fechei os olhos, mentalizando que aquilo iria dar certo. Derek simplesmente não conseguiria mentir sobre isso para Sally. Talvez sobre as caixas e sobre eu ter estado ciente de que eles iriam se mudar antes da data, mas sobre isso, não. Sally acreditaria em mim até o último segundo e perguntaria o porquê de Derek não ter mandado esse dinheiro antes. Eu sabia como funcionava o sistema entre eles. Ela ficaria comovida e mandaria Derek enviar o dinheiro o mais rápido possível, porque “a Lisie precisaria muito”. E, se eu estivesse certa, ele teria que fazer isso em nome da paz dentro de casa. Poderia dar errado, é claro, mas eu tinha que arriscar se quisesse o meu dinheiro de volta.

Assim que saí da cabine telefônica e um vento frio arrepiou todos os pelos do meu corpo, senti meu celular vibrar no bolso da calça. Vi que era uma mensagem de Miles, o que fez meu coração acelerar por inúmeros motivos. Ele dizia que Cathy iria servir o jantar dali quinze minutos. Apenas isso, e nada mais. Entendi aquilo como uma oferta de paz, mesmo sabendo que talvez Cathy simplesmente tenha mandado que ele me avisasse como qualquer outro dia normal e Miles tenha mandado a mensagem sem vontade nenhuma de me ver de novo. Ela não sabia do que tinha acontecido antes de chegar em casa.

Não demorei muito até chegar à casa de Miles, porque a West Main Street não ficava muito longe dali. Bati na porta algumas vezes e entrei, sem esperar que alguém abrisse para mim, e me deparei com Cathy de costas, mexendo em algo no fogão da cozinha. Fechei a porta da sala e senti o calor do ambiente me envolver. Cathy me olhou e sorriu, dizendo que se eu não tivesse andado rápido, provavelmente teria perdido o horário de servir o jantar. Andei pelo corredor até o quarto de visitas e deixei minha mochila em cima da cama. Pensei se deveria ir direto para o banheiro tomar uma ducha quente ou antes ir conversar com Miles. Minha bússola moral apontou para o quarto de Miles.

-Oi. – disse, um pouco baixo, assim que abri a porta do quarto.

-Ah, é você. – Miles respondeu, me olhando de canto.

Ele estava deitado na cama, digitando alguma coisa no celular. Dessa vez, o computador estava desligado, o que era difícil de acontecer. Fechei novamente a porta do quarto e senti um cheiro de sabonete inundando o ambiente. Pelos fios de cabelo molhadas nas têmporas de Miles, supus que ele tivesse acabado de sair do banho. Andei meio sem jeito até a beirada da cama e me sentei, um pouco afastada dele.

-Desculpa por hoje. – foi tudo o que eu consegui dizer em primeiro momento.

-Tudo bem, você tava com razão. Eu sinto muito por ter sido um idiota também.

-Eu... – comecei, pensando em dizer o quanto eu tinha sido histérica, mas mudei de ideia - Você não tinha o direito de contar o que rolou pra qualquer um.

-Eu sei. – Miles me encarou, deixando o celular de lado – Desculpa, de novo.

-Tá... Eu também não devia ter te batido.

-Tá tranquilo, nem doeu. – Miles esboçou um sorriso, o que me fez ficar mais confortável com aquilo tudo.

-Eu fiquei mal por ter gritado daquele jeito. No mesmo dia eu estive na posição de quem fez merda e de quem foi prejudicado por ela e eu sei bem como é. Às vezes a gente não faz por mal. – disse, com o olhar perdido no chão do quarto - E agora eu consigo entender melhor por que o Luke ficou daquele jeito. Não foi justo ter discutido daquele jeito com você.

-É, pode até ser... Mas eu fiz as coisas entre você e o Luke ficarem ruins. Não era minha intenção, mesmo.

Não soube muito o que falar em primeiro momento, mas algo me dizia que era a hora de dizer o que eu devia ter dito para ele mais cedo. Ou melhor, o que eu ia dizer, mas as circunstâncias impediram.

-Sabe, foi meio besta isso tudo que aconteceu. Você só foi desabafar com o Peter Stallion porque algumas coisas não saíram como você imaginou no Ritz e... Só não aconteceu.

-É, é verdade. – Miles deu uma risada sem graça – A tal da falsa expectativa.

Ficamos em silêncio, agora um pouco mais confortáveis na presença um do outro, e eu já conseguia olhar para ele sem me sentir culpada. As desculpas estavam dadas, as coisas esclarecidas, só faltava eu dizer o que eu precisava para finalizar aquilo tudo e me sentir leve outra vez. E era o que eu ia fazer, até que Miles deu sua última cartada e eu não tive que dizer mais nada para ele saber do que tinha que saber.

-Não aconteceu, você disse. – ele começou, me olhando novamente, deu uma pausa hesitante e logo continuou – Mas você quer fazer acontecer?

Poderia parecer uma pergunta idiota para qualquer um que estivesse na mesma posição que eu, mas ali, naquele momento, me pareceu muito razoável. E nós fizemos acontecer, ignorando tudo que tinha acontecido antes naquele dia, ou no anterior, ou nos outros antes desse. O que importava era fazer acontecer, coisa que nós dois queríamos. Assim que Miles me puxou para um beijo caloroso, eu não lembrei de Luke nem por um segundo. Na verdade, eu só fui lembrar dele depois, mais tarde, quando já estava deitada na cama do quarto de visitas, pronta para dormir. Lembrei de poucos dias atrás, quando Luke e eu ficamos na caminhonete de frente ao McDonald’s, ou então no galpão da casa dele, e eu achei que estava indo tudo bem, e que ele estava muito provavelmente gostando de mim pra valer, e que eu tinha me soltar e entrar na onda. Tudo isso perdeu o sentindo depois da briga na arquibancada, e principalmente, depois do momento que eu e Miles tivemos pouco antes do jantar naquela noite.

Quando Miles me perguntou se eu estava com Luke só porque ele beijava bem, vi isso como uma provocação e me senti um pouco envergonhada, mas agora eu poderia dizer que o Miles, sim, beijava bem. Naquele curto espaço de tempo, fizemos o que deveríamos ter feito no Ritz quando ele me consolou depois da ligação para Fumiko. As mãos quentes de Miles passavam pelos meus ombros e meus cabelos frios, nossa respiração estava mais que ofegante e, acima de tudo, nossos lábios não se separaram um segundo sequer. Ironicamente, quando as coisas estavam começando a ficar intensas e Miles arriscou levantar a parte de baixo da minha blusa, a voz de Cathy invadiu o cômodo e nos fez ficar petrificados. Era ela, chamando para o jantar. Miles e eu abrimos os olhos e separamos os rostos, encarando um ao outro. Não consegui definir qual era a expressão estampada na cara de Miles, talvez fosse incredulidade. Ou simplesmente a adrenalina fazendo com que ele não conseguisse demonstrar nenhuma expressão razoável naquele momento.

Antes de sair do quarto, Miles arrumou os cabelos e pousou a mão em uma das minhas pernas que estava em cima da cama, me chamando casualmente para ir jantar, que já estava pronto. Ele saiu, ainda meio desconcertado, e deixou a porta aberta. Minhas bochechas estavam ardendo e eu sentia como se café fervendo estivesse correndo pelas minhas veias. Tentei entender o que tinha acontecido ali naquele quarto há poucos instantes, mas me convenci de que não precisava ter uma explicação.

O resto da noite se sucedeu como se nada de anormal tivesse acontecido. Jantamos, conversamos um pouco de frente para a TV, Cathy lavou a louça e eu e Miles fomos cada um para nossos quartos depois de desejar boa noite, trocando um olhar quase que magnético. E aí, foi a hora em que me lembrei de Luke e do que havia rolado no quarto ao lado. A última surpresa daquele dia bizarro foi reservada para os últimos minutos da noite, quando recebi uma mensagem de voz de Derek na caixa postal.

-Você realmente conseguiu enrolar a Sally, não é, Lisie? Você poderia ter me ligado pessoalmente, eu não ia te negar nada, você sabe. Mas, já q as coisas aconteceram assim, vou ser justo. Seu dinheiro vai chegar no máximo depois de amanhã, dependendo da neve. Tente não me culpar caso seu pacote demore a chegar.

Ouvi algumas repetidas vezes antes de me convencer que aquilo era real. Eu iria ter meu dinheiro de volta. Meu plano havia funcionado. Não consegui fazer mais nada a não ser sorrir.  


Notas Finais


Espero que tenham gostado! :)


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