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História Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Three


Escrita por: MadeixasNegras

Notas do Autor


Espero que gostem! :)

Capítulo 3 - Three


Fanfic / Fanfiction Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Three

Olhei para cima e suspirei. Tinha perdido a fome com a falta de apetite de Hazel. Acho que nunca um horário de almoço tinha sido tão desconfortável. Hazel estava jogando suas cenouras de um lado para o outro na bandeja, pegando em seu garfo com a ponta dos dedos, sem perspectiva nenhuma. Hazel ficou assim desde quarta-feira passada, quando ela me contou que Miles e ela tinham ficado juntos pela segunda vez em alguns anos de amizade. Achei que ela fosse agir normalmente, mas Miles não tinha tocado no assunto com ela desde então, e isso fez com que Hazel ficasse extremamente irritante e emotiva. Eu, pelo menos, estava agindo normalmente com os dois, mas uma insistente nuvem negra de desconforto flutuava sobre nós, e pelo visto, seria eu que teria que espantar ela. 

-Escuta, Hazel. Ficar desse jeito não vai adiantar nada. Se você quer que ele toque no assunto, vai lá e fala com ele, porque se você continuar assim, nem eu vou ficar mais perto de você.

-Faz isso. Vai ser libertador. - Hazel falou, sem olhar para mim, apenas mexendo e remexendo a sua cenoura na bandeja. 

Respirei fundo, me controlando para não arremessar aquela bandeja no chão. Hazel era minha melhor amiga, mas quando ela encanava com alguma coisa, eu tinha que tirar um tempo para ficar longe dela. Levantei da mesa e andei até as máquinas de refrigerante que ficavam perto do corredor dos armários. 

Talvez um pouco de açúcar me animasse e me fizesse ter alguma perspectiva para aquele dia cinzento, literalmente. Escolhi uma lata de Pepsi Twist e paguei um dólar nela. Ouvi um estalido metálico e apanhei a latinha. Abri o lacre de alumínio e dei uns goles no refrigerante, recobrando os sentidos depois de um período inteiro de aulas ministradas por professores que pareciam querer que você dormisse. 

Saí de perto das máquinas automáticas e saí andando em direção à minha mesa, me esforçando para beber da lata e andar ao mesmo tempo. Mas, quando eu vi quem estava sentada de frente para Hazel na nossa mesa, quase derrubei a latinha no chão. Quinn e Aubrey Harper exibiam seus lindos sorrisos idênticos para Hazel, que pela primeira vez em todo o horário de almoço, tinha tirado os olhos da bandeja. Franzi as sobrancelhas e senti que tudo começou a ficar em câmera lenta. Dezenas de milhares de perguntas inundaram a minha mente enquanto eu andava até a mesa, imaginando por que diabos Quinn e Aubrey estavam sentadas justamente ali.

-Amie! Quinn e Aubrey estavam perguntando por você. - Hazel me disse, atiçando ainda mais a minha curiosidade. 

Sentei em meu lugar, desconcertada, e vi o olhar das gêmeas se voltar para mim.

-Como...? Por quê?

-Luke nos contou que você gosta de música boa. - Quinn começou, arrumando seu gorro desbotado em seu curto e repicado cabelo ruivo.

-Aquele dia na biblioteca, lembra? - Hazel perguntou.

"Como esquecer, não é?", pensei, intrigada.

-Lembro. Luke me mostrou a playlist do iPod dele.

-E você gostou, pelo visto. Isso é bom. Precisamos de gente assim. - Aubrey falava frases curtas, com algumas mechas de cabelo loiro caídas na frente do rosto - Depois da aula vamos na casa do Carter e pensamos em chamar vocês. 

Hazel e eu nos entreolhamos, e eu tive a impressão de que nós pensamos exatamente o oposto uma da outra. Tive certeza assim que Hazel abriu a boca.

-A gente vai. 

Mordi a parte de dentro da boca para não gritar.

-Falou, Carter vai levar a gente na caminhonete. Até mais tarde. - Quinn se despediu, e tão repentinamente quanto chegaram, ela e Aubrey foram embora.

-Você tá louca, Hazel? Bateu com a cabeça? Eu não vou na casa de Carter Lewis nem que me paguem! - arregalei os olhos e comecei a surtar, porque Hazel tinha nos comprometido naquele maldito programa e eu não queria ir de jeito nenhum. 

-Vai sim, e vai comigo. - Hazel sorriu pela primeira vez desde a semana passada - Vai ser legal conhecer novas pessoas! Amie, confia em mim. Eu sei o que tô fazendo.

Inclinei a cabeça para o lado e cruzei os braços, desistindo de tentar discutir com Hazel. Ela iria com aquela gente e ia me arrastar junto, e eu não poderia fazer nada. Não falei mais com Hazel desde o almoço, por causa do horário de aulas daquela sexta-feira. A única pessoa com quem falei foi Grace Campbell, na aula de literatura. 

Na semana passada, a sra. Madison tinha pedido uma redação com 5000 palavras sobre a origem do Halloween - lembro bem da indignação de Miles - e Grace e eu fomos as donas das melhores redações da nossa classe. Aquilo não era novidade por parte de Grace, que era a aluna mais aplicada que eu tinha conhecido naquele colégio, mas para mim foi uma surpresa ótima. Eu gostava de literatura e tinha me inspirado bastante depois de ter assistido Halloween, e essas duas coisas me fizeram sair bem na redação. Acontece que a sra. Madison era meio do contra, e ao invés de beneficiar a mim e Grace, fez com que nós duas pagássemos pela incompetência do resto da turma.

-Srta. Silvermann e srta. Campbell, muito bem! Gostei muito das redações de vocês e gostaria que isso fosse transmitido para a classe. Quero um seminário sobre esse mesmo tema na aula da semana que vem. - o sinal da última aula soou exatamente no momento em que a sra. Madison ia acrescentar mais alguma coisa - Isso é tudo. 

Os outros estudantes se levantaram e um burburinho típico de final de semana começou na sala. Fiquei parada na minha carteira, tentando raciocinar da mesma maneira que a sra. Madison.

-Amie? Você está bem? Parece pálida. - Grace perguntou, dobrando seu casaco de tricô em cima da carteira.

-Tô bem, só... Tentando entender por que eu vou ter que fazer um seminário sendo que eu fui uma das pessoas que melhor entendeu o conteúdo.

-Acho que nós duas somos as melhores dessa turma e temos que ser misericordiosas. Passar nosso conhecimento para os menos afortunados. - Grace sorriu, se aproximou e sentou na carteira ao meu lado.

-É uma visão bem otimista. - sorri de volta, encarando meu fichário. 

-De qualquer forma, relaxe. Temos até quinta-feira pra poder fazer isso. Podemos começar segunda, na biblioteca? - Grace perguntou, desfazendo um nó do seu cabelo cheio de cachinhos. 

-Tudo bem. Obrigada, Grace. 

Levantei e me despedi de Grace. Ela era uma ótima pessoa, e me enchia de de tristeza saber que eu tinha me afastado dela depois que Gina tinha saído do colégio. Ainda naquele ano, eu iria me aproximar dela outra vez. Saí da sala de literatura quando o corredor já estava totalmente vazio. Foi até assustador ver a rapidez com que os alunos tinham se dispersado e ido para casa. 

-Mas é claro, é uma sexta-feira, véspera de Halloween... - disse para mim mesma, ouvindo minha voz ecoar pelo corredor.

Senti um estalo de repente. Arregalei os olhos e arranquei pelo corredor, como se o chão estivesse se abrindo atrás de mim. O barulho da sola dos meus tênis contra o piso encerado preencheu o vazio do corredor. Meu coração estava acelerado e eu estava cintilando de ansiedade. Eu tinha me esquecido completamente de que Hazel ia para a casa de Carter depois da aula junto com as gêmeas, e provavelmente eu já tinha perdido a carona. 

Parei de correr quando cheguei no pátio, que estava praticamente vazio. Não havia nenhuma caminhonete estacionada por ali. Eu já estava a ponto de ligar para Hazel quando escutei uma buzina rouca vinda do lado contrário ao que eu estava. Virei para o lado do barulho e vi Carter dirigindo uma picape GMC esverdeada dos anos 1990. Uma das janelas do banco de trás abriu e Hazel acenou, me chamando. Corri até a picape e entrei no banco de trás, hesitante. Estava fazendo aquela loucura por Hazel. 

Carter e Luke estavam no banco da frente, as gêmeas estavam sentadas na carroceria fechada e eu e Hazel estávamos no banco de trás. O carro fedia a cigarros e aromatizantes de pinho, e o estofado dos bancos era estranhamente confortável. Carter acelerou e saiu do estacionamento vazio do colégio, indo em direção ao trajeto que eu fazia todos os dias para voltar para casa. Olhei para Hazel, que me retribuiu com um sorrisinho empolgado. Minha cabeça estava a mil e eu só pensava em como me livrar daquela situação logo de uma vez. 

Acabou que o trajeto até a casa de Carter foi mais rápido do que eu pensei. Apenas descemos a estrada que levava ao colégio e viramos em algumas esquinas. Carter estacionou a picape velha na frente de uma pequena garagem branca de madeira, um pouco depois da esquina da Scammell Street. Logo reconheci onde estávamos e percebi que se eu precisasse fugir, não estaria totalmente deslocada. Desci da picape, agradecendo por não sentir mais o maldito cheiro de cigarros, mas logo que entramos na garagem, senti minha cabeça doer. O cheiro conseguiu ficar inúmeras vezes mais forte. 

Parecia que eu tinha voltado no tempo vinte anos atrás. Tudo naquela pequena garagem era grunge e me lembrava os anos 1990. O ambiente era escuro e era iluminado por uma faixa de luzes natalinas que logo em breve parariam de piscar. O chão era todo de um carpete de cor escura que parecia ter sido limpo há alguns dias, alguns puffs e almofadas estavam espalhados pelo chão e haviam algumas fitas cassetes em cima do sofá de couro marrom encostado na parede. Uma TV de tubo com um VHS integrado estava num canto, perto de uma estante cheia de CDs, pôsteres de bandas antigas estavam pelas paredes e uma geladeira que fazia um barulho estranho estava em outro canto do cômodo. Aquele lugar parecia ser a personificação de Carter Lewis. 

-Caralho, Carter! A coisa mais moderna nessa porra de garagem é o meu Blackberry. - Hazel comentou de maneira estúpida, se jogando em cima do sofá, aparentemente confortável.

"Desde quando ela tem intimidade com esse povo?!", gritei em meus pensamentos, nutrindo fortemente uma vontade de gritar na cara de Hazel.

Para a minha surpresa, Carter riu alto e se sentou ao lado de Hazel no sofá, logo ligando a TV antiga. Quinn se sentou num dos puffs enquanto digitava algo no celular, Aubrey acendeu seu habitual cigarro em um dos cantos do cômodo e Luke pegou algumas latas de Coors Light de dentro do frigobar. Num instante, todos naquela maldita garagem estavam bebendo ou fumando, e Luke Warren veio me oferecer uma lata de cerveja. 

-Já tomou dessa? - ele perguntou, se aproximando de mim ao alisar suas mechas de cabelo castanho claro.

"A pergunta seria se eu já tomei uma cerveja sequer".

-Não, só vejo ela no mercado. - afundei as mãos nos bolsos, desconfortável.

-Pega essa, vou abrir uma pra mim. - Luke riu e me deu a latinha antes que eu pudesse recusar. 

Sentei em uma almofada desbotada ao lado do sofá em que Hazel estava agora ao lado de Luke, e dei uma olhada na latinha. Vi pelo rótulo que ela tinha um baixo teor de álcool, mas eu não iria arriscar. Deixei a latinha no chão, disfarçadamente, e passei a olhar o show do Metallica que passava na TV. A filmagem era antiga, típica de vídeo cassete, e assistindo aquele show eu fui divagando, até que imergi completamente em meus próprios pensamentos.

Imaginei-me flutuando num vácuo, onde eu não estava presa na garagem de Carter Lewis vendo um show do Metallica. Por uns minutos, fiquei remoendo a mais nova amizade de Hazel com aquelas pessoas e imaginando por que diabos ela tinha mudado de um dia para o outro. Talvez eu não fosse uma amiga tão boa quanto eu imaginei. Ou talvez ela tivesse mudado sem que eu nem percebesse. 

-...Amie? Tá me ouvindo, porra? - Quinn estava rindo na minha frente, acenando. 

Num susto, voltei para a garagem de Carter Lewis e abri um sorriso amarelo, na tentativa de fingir que estive o tempo todo ali. 

-Sim, eu só tava... - fechei os olhos e sorri, balançando a cabeça - Tava distraída.

Quinn sorriu e se sentou desajeitadamente no puff que estava perto da minha almofada. A postura de Quinn conseguia ser ainda pior que a minha, mas eu estava tão acostumada a ver ela largada daquele jeito que não me importei muito. 

-Você vai beber isso? - Quinn apontou para a latinha de cerveja que eu tinha deixado esquentar sem tomar nem um gole.

Sem dizer nada, apenas entreguei a cerveja para Quinn, que a bebeu sem hesitar.

-Eu disse pro Luke que você é certinha e não iria beber nada. - Quinn disse, ao jogar a lata vazia numa cesta de lixo - Não se desculpe. Você tá certa.

Apenas prensei meus lábios e deixei meu olhar se perder no carpete escuro da garagem, sem dizer nada.

-No que você tava pensando quando eu te chamei? - a ruiva se acomodou no puff, como quem se ajeita para ficar num lugar por um bom tempo.

-Nada demais, só... Pensando nesse início das aulas e como a minha vida tem sido até agora. Sabe, umas semanas atrás nunca passou pela minha cabeça que eu estaria aqui com vocês na garagem do Carter, e olha pra mim agora! - nós duas rimos e começamos a quebrar a barreira que tinha se estendido entre nós por anos - Foi tão de repente, nunca passou pela minha cabeça que a gente pudesse conversar algum momento.

-Relaxa, Silvermann. Se eu te chamei aqui, é porque é de verdade. Eu não sou uma daquelas vadias falsas do nosso ano. Posso ser uma vadia, mas não sou falsa! - Quinn gargalhou e se levantou, indo para outra direção. - Só fica de boa e aproveita. 

"Isso foi estranho. Quem diria que eu estaria conversando com uma das gêmeas? Esse mundo realmente dá voltas."

Assim como Quinn, deixei meu corpo se espalhar em cima da minha almofada e suspirei, deixando um pouco do sentimento desconfortável que eu tinha até então ir embora. Se eu já estava ali, por que não tirar proveito da situação? Hazel parecia tão feliz junto com Carter no sofá que eu até me perguntei se ela não teria coragem de ficar com ele também. 

-Eu odeio perder apostas. Você devia ter bebido pelo menos um pouco pra eu ganhar 50 dólares da Quinn. - Luke Warren sentou na ponta do sofá, ao meu lado.

-Apostaram 50 dólares que eu não ia tomar um gole de cerveja? Que tipo de aposta idiota é essa? Vocês são doentes. - disse, franzindo as sobrancelhas, num tom que já entregava que eu estava à vontade.

-Foi uma ideia minha pra tirar minhas conclusões. - Luke cruzou os braços e esticou suas pernas para frente.

-Era bem mais fácil você vir aqui e perguntar pra mim. Achei que você era mais esperto, Warren.

-Amielise Silvermann sabe falar, senhoras e senhores! - Luke bateu palmas e me fez rir de forma idiota, totalmente inusitada.

Um breve silêncio se estendeu entre nós, como um pequeno intervalo para que a gente pensasse no que dizer em seguida. Lá do outro canto da garagem, ouvimos Quinn e Aubrey se contorcer de rir, aparentemente depois de passar um trote pelo celular de alguém.

-Se eu fosse você, tomava cuidado com as Harper. Podem não ser falsas de maneira escancarada, mas têm um caráter questionável. Na dúvida, fique longe delas. 

-Quinn acabou de vir falar comigo e eu tive uma boa impressão dela, pelo menos por um momento. 

-O que você acha de uma pessoa que rouba o celular de alguém, passa trotes a cobrar e depois devolve o celular hackeado? - Luke me olhou bem no fundo dos olhos, intimidante - Fique longe delas.

Voltei meu olhar para as gêmeas. Rindo daquele jeito, elas pareciam ser inofensivas. Luke me provou o contrário com poucas palavras. 

-Honestamente, acho que não são só elas que tem o caráter questionável aqui dentro. Vocês quatro são os demônios daquele colégio, e você não tem muita moral pra dizer nada sobre as Harper.

-Se você diz... - Luke sorriu discretamente, carregando uma expressão de satisfação.

Meu olhar se perdeu no chão novamente. Não sabia se eu estava fazendo a coisa certa me metendo com as Harper, Carter Lewis e Luke Warren, mas naquela tarde de sexta-feira, eu não estava pensando muito no que eu estava fazendo. 

 


Notas Finais


Espero que tenham gostado! :)


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