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História Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Five


Escrita por: MadeixasNegras

Notas do Autor


Espero que gostem! :3

Capítulo 5 - Five


Fanfic / Fanfiction Eu, Eu Mesma e Minha Ignorância - Five

Acordei assustada, de novo. Minha mãe não parava de tossir no quarto ao lado. A tosse tinha começado de madrugada e se estendeu até às oito, quando eu finalmente consegui me levantar e fui ver se ela estava bem. Ela estava pálida como um fantasma e estava toda encolhida debaixo de seus cobertores. Suspeitei de uma possível tuberculose e disse que iria chamar uma ambulância, mas Lucy disse não.

-Volte a dormir, Amie. Eu vou ficar bem.

Tentei, não consegui. Resolvi que era hora de levantar e agir. No prazo de uma hora, tomei o desjejum, levei o café e os remédios de Lucy até o seu quarto, limpei a cozinha e deixei a casa o mais apresentável possível. Essa rotina - tirando as tosses - fazia parte das minhas matinês de sábado, graças à minha mãe.

Para Lucy Silvermann, havia dois tipos de pessoas no mundo: as que tiravam o fim de semana para descanso e as que faziam no fim de semana tudo o que não tinham feito no resto dos dias. Depois que minha mãe ficou debilitada e Derek saiu de casa, eu passei a fazer parte do segundo grupo de pessoas, graças a ela.

Naquele sábado de Halloween, saí de casa por volta das dez horas para fazer as compras do mês e voltei perto do meio dia. Azar ou não, eu ainda não tinha carteira de motorista, então tinha que buscar as compras de bicicleta, chovesse, nevasse ou fizesse sol. Acontece que, além de fazer as compras, fui até o Centro comprar o almoço meu e de Lucy, e no caminho de volta, peguei uma tempestade de vento que quase me fez sair voando pelos ares.

-É o azar do Halloween, Am. - Lucy conspirou, rindo contagiosamente diante de suas superstições bobas, logo depois de eu voltar e contar como tinha sido a ventania.

-É, sim. - concordei ironicamente, servindo um pouco do arroz com curry de um restaurante asiático da Homer Avenue.

-Vai ficar em casa hoje?

"Claro, só vou dar uma passadinha na festa de Halloween do Carter Lewis mais tarde e de quebra receber uma visita da polícia!", pensei.

-Não sei, acho que vou passar na Hazel mais tarde. - disse, remexendo o curry fumegante no meu prato.

Lucy assentiu e voltou a comer seu almoço improvisado, vagarosamente. No meio da refeição, escutei meu celular tocar no andar de cima e saí da mesa. Quando olhei no identificador de chamadas, vi que era Miles. Fechei os olhos e dei vários tapas mentalmente. Tinha esquecido completamente de Miles.

-Alô? Amie? - a voz de Miles ecoou pela linha e eu pensei em algo sensato para dizer.

-Oi... Foi mal, eu esqueci totalmente de te ligar ontem e só passei uma mensagem.

Minha voz tremida provavelmente entregou a minha falta de interesse no que Miles tinha para dizer, mas aparentemente ele não notou nada, e continuou:

-Não faz mal, pelo menos você atendeu minha chamada. Escuta, é importante. Ontem eu conversei com a Hazel.

A importância daquela conversa tomou outra magnitude na minha cabeça. Miles e Hazel tinham ficado há umas semanas atrás e o assunto ficou por isso mesmo, mas parecia que eles tinham, finalmente, se resolvido. E Hazel, como sempre, não me contou.

-Engraçado, ela falou comigo ontem e não disse nada. Quando vocês conversaram? - perguntei, ardilosa, cerrando os olhos.

-De tarde, depois da aula. Eu quis me encontrar com ela, mas ela disse que tinha um compromisso e só podia falar por mensagens.

"É, eu sei bem o compromisso que ela tinha de sentar no sofá do Carter."

-E o que ela disse?

-Na verdade, a iniciativa foi minha. Eu decidi que a gente não podia ficar naquele clima pesado depois do que aconteceu há umas semanas atrás e resolvi falar o que eu sentia. Disse que eu gosto dela, desde a época em que a gente tava no mesmo clube, e queria ver o que ela achava disso.

Eu estava estarrecida diante da coragem de Miles. Ele falava calma e levemente, como se suas palavras se transformassem em plumas e não tivessem peso algum. Realmente, Miles era um garoto estranhamente precioso. 

-E...? - continuei, curiosa pelo que viria a seguir.

-E aí ela mandou umas mensagens dizendo que ela tava confusa desde o que aconteceu, mas que com a minha confirmação sentiu coragem pra dizer que gostava de mim também. E conversa vai, conversa vem... Decidimos ficar juntos. 

Pude quase sentir o sorriso de Miles se formando pelo outro lado do telefone. Eu entendia perfeitamente o sentimento de confusão de Hazel e a insegurança de Miles, mas o fato de eles realmente terem ficado juntos me fez sentir estranha. Com pena de Miles, e com raiva de Hazel. 

Por que ela não se deu ao trabalho de conversar com ele pessoalmente? Por que teve que dizer tudo isso sentada no sofá de um dos garotos mais desprezíveis do High School sendo que poderia dizer ao vivo? Eu estava inconformada. 

-Amie? Você tá aí?

-Sim, sim! É que é muita informação. Você e Hazel estão, oficialmente, juntos? - falei as palavras separadamente, meio lesada, não acreditando que Hazel tinha mesmo feito aquilo.

-Am, quer que eu diga outra vez? - Miles riu, genuinamente feliz por finalmente ficar com a garota que ele admirava há tempos.

-Nossa, Miles! Eu tô... - permiti que um sorriso se formasse em meus lábios e deixei as palavras correrem - Muito orgulhosa de você. De verdade, isso só aconteceu por sua causa, porque se dependesse da Hazel, ia demorar bastante...

Escutando o que eu dizia pelo telefone, Miles poderia até crer que eu estivesse realmente feliz, mas olhando a minha postura incrédula pelo outro lado da linha, ele teria suas dúvidas. 

-Só me decepcionei outra vez quando ela disse que estaria ocupada de novo nessa noite, então a gente não poderia se encontrar. Mas, o que você me diz de a gente se encontrar hoje? Queria te contar os detalhes.

-Sinto te decepcionar, Miles... Mas eu também tenho um compromisso essa noite e seria difícil eu me encontrar com você. Que tal na semana que vem, em qualquer dia depois da aula?

-Oh, tudo bem... Eu acho. Seria tão louco se o compromisso de vocês fosse o mesmo! - Miles riu de sua própria piada e eu forcei um riso nervoso, me sentindo culpada por mentir para aquele garotinho feliz.

-Ah, seria mesmo! - sorri com os lábios tortos e encerrei a conversa do jeito mais desajeitado possível.

Desliguei o telefone e agradeci por Miles não ter, explicitamente, desconfiado de nada. Acabei me sentindo um monstro. E querendo socar a cara sardenta de Hazel. Ela mentiu - duas vezes seguidas! - para o mais novo namorado, sem o menor descaramento! 

-Vou arranjar uma serra elétrica igual a do Leatherface só pra perseguir a Hazel hoje à noite. - resmunguei, depois de guardar o celular no bolso do meu jeans.

Não consegui terminar de comer o arroz com curry, que estava gelado depois que desci até a cozinha depois da ligação. Meu coração ficou angustiado e meu estômago ficou dando voltas e voltas até o anoitecer, lá pelas seis horas, quando resolvi ir atrás da minha máscara de assassino e deixei as coisas do colégio de lado.

Minha "fantasia", entre muitas aspas, seria uma máscara de hóquei velha que Derek havia deixado para trás no porão antes de sua mudança; não fazia ideia do porquê, um par de botas pesado com fivelas que eu tinha ganhado de minha mãe, um macacão encardido e velho que eu tinha compro uns anos atrás, um casaco de lona e um facão sem gumes, que eu tinha achado num brechó em algum Halloween passado. Nunca imaginei que a máscara de hóquei ou o facão de mentira poderiam ser úteis em alguma coisa, mas agora eles realmente teriam algum uso. 

Recebi várias mensagens seguidas de Hazel quando faltava uma hora para a festa, enquanto eu estava improvisando algumas gotas de sangue falso no casaco, rezando para que elas fossem laváveis. Assim que olhei as mensagens de Hazel, senti o enjoo voltar algumas vezes mais, potencialmente ameaçador. Ela dizia que estava com as Harper na frente da casa de Carter e mandou uma foto, a qual mostrava algumas pessoas que já estavam esperando a confirmação de entrada na casa. Pedi que ela esperasse um pouco mais, depois de falar que eu realmente ia, e tive a sensação de que ela ficou radiante, apesar do clima pesado de Halloween.

-Se você soubesse realmente por que eu vou...  - divaguei, me olhando no espelho.

Meus últimos preparativos foram bem corridos, para que eu conseguisse ser, pelo menos, um pouco pontual. Fiz alguns riscos e cicatrizes com meu lápis preto no rosto, além da dupla clássica de lápis e rímel pretos, e tentei ficar o mais pálida possível. Mesmo que as pessoas não fossem ver o meu rosto totalmente, eu queria que minha fantasia tivesse um certo capricho, nem que fosse para eu me sentir bem comigo mesma. Tentei, também, fazer alguns riscos com uma ponta de compasso no macacão, tentando dar um ar de retalhos na roupa que já era velha, mas não consegui muito mais do que arrancar fiapos de umas costuras mal feitas. 

Decidi, de última hora, ir de bicicleta. Seria bem incomum ver um cosplay do Jason andar de bicicleta pelas ruas de Cortland, mas eu correria o risco só para ver a cara de uns pedestres desavisados nas calçadas. No Halloween, tudo de bizarro, insano e esdrúxulo pode acontecer. 

-Am? Conseguiu achar a máscara? - Lucy entreabriu a porta do meu quarto, agasalhada num roupão felpudo, e sorriu ao meu ver.

-Sim, consegui. - respondi, limpando uma poeira invisível do casaco pingado de sangue falso, tentando disfarçar minha vergonha. 

-Tomara que você e Hazel consigam vários doces. Tente pegar a maioria de caramelo, porque eu quero eles pra mim!

É, eu tinha dito à Lucy que a ida até a casa da Hazel era para que nós fôssemos perambular pelas ruas atrás de doces. Ela não desconfiava de que, na verdade, eu iria na festa de Halloween mais insana da cidade e provavelmente iria ficar no mesmo ambiente que muitos delinquentes bêbados, tudo a troco de vigiar a Hazel. Fazia parte do acordo que eu tinha feito com a minha consciência.

-Pode deixar. - sorri, feliz por ver Lucy daquela maneira, mais radiante do que o normal. 

Apanhei a máscara pesada e desconfortável de hóquei e a prendi acima do rosto, deixando meu campo de visão livre por mais uns minutinhos. A forma da máscara era bem desproporcional para o meu rosto, mas a graça da minha fantasia ridícula era ela, e eu não poderia deixar ela para trás. 

-Tente não voltar muito tarde. Nunca se sabe se um maníaco agressivo pode sair dando tiros por aí. Cuidado, você e a Hazel, por favor.

-Sim, eu sei. - confirmei, ao colocar o facão de mentira num dos compartimentos na cintura do macacão - Eu tenho um facão desses, qualquer um pode vir pra cima. 

Lucy me olhou, com uma cara de reprovação típica de mães. 

-É sério, eu só posso ter esse facão por uma noite e eu não tenho medo de usar. - curvei as sobrancelhas para cima, provando que eu estava falando sério.

-Faça isso, seja mandada pra um reformatório e espere eu ir atrás de você com um facão de verdade. 

Ri até minha barriga doer. Não era muito comum que eu e Lucy tivéssemos esses momentos, mas quando eles aconteciam, era de aquecer o coração. Andei até ela e a abracei, sentindo sua respiração chiar dentro do peito.

-Tem certeza que vai ficar bem sozinha? E se alguma coisa acontecer, que nem ontem?

-Eu disse que você pode ir. - Lucy passou a mão em meus cabelos, encaracolados nas pontinhas e ondulados por todo o resto, sentindo a aspereza de sua pele contrastar com os meus fios - Pra cuidar mais de si mesma. Se divertir.  

-Se qualquer coisa; eu tô dizendo, qualquer coisa te incomodar, me liga na hora, tá? 

-Eu vou, não se preocupe.

-E se eu não atender, ligue para a emergência. Já sabe, né? 

-Sim, senhorita. Eu sei do procedimento. - Lucy se afastou e me empurrou levemente para fora do quarto, carinhosamente - Fique com seu celular à vista, não beba e não me apareça aqui com um filho. Ande, senão vai perder sua hora.

Revirei os olhos, sorridente, e abracei minha mãe pela última vez antes de sair. A última coisa que fiz foi pegar as duas garrafas de Sprite que eu tinha compro mais cedo para levar na festa, as chaves de casa e uma capa de chuva preta. Saí pela porta da frente e pude ver que algumas crianças das ruas de baixo estavam pela Banks Street, tentando garantir seus doces mais cedo que as outras. 

O tempo lá fora estava mais escuro do que deveria estar àquela hora do dia, por causa das nuvens negras que não saíam do céu desde o início da semana, e as rajadas de vento de mais cedo ainda estavam atacando os transeuntes que se aventuravam a passar pelas ruas ali por perto. 

Ainda assim, eu estava decidida a ir até aquela maldita festa. Lá pelas sete e quarenta, coloquei as garrafas de refrigerante na cesta da bicicleta junto da minha capa de chuva dobrada e tracei a rota que eu e Luke fizemos da casa de Carter até onde eu estava, no dia anterior. O trajeto até lá era relativamente longo, mas eu fiquei tão distraída com as decorações de Halloween da vizinhança e das avenidas que o tempo passou rápido. 

Já estava escuro quando avistei a casa iluminada de Carter algumas quadras antes de chegar realmente lá. O som da música também estava bem alto, e provavelmente, algum dos infelizes vizinhos de Carter iria chamar a polícia, uma hora ou outra. Deixei minha bicicleta encostada num pinheiro do estacionamento vazio de uma empresa de transportes que ficava na South Main Street, a poucos metros da esquina onde ficava a casa de Carter. 

Todo cuidado era pouco quando se tratava de algo relacionado a Carter Lewis, e enquanto eu andava pela calçada úmida e iluminada até a esquina da casa dele, eu refletia seriamente sobre os motivos que estavam me levando a ir até lá. Mas não dava mais tempo de voltar atrás, e mesmo que o arrependimento batesse, eu iria até aquele pandemônio.


Notas Finais


Espero que tenham gostado! :)


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