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História Eu não gosto de ninguém - Four


Escrita por: _lanabrd

Capítulo 4 - Four


É incrível o jeito como a vida pode mudar radicalmente em algumas horas, se ontem foi minha melhor noite de sono, hoje sem sombra de dúvidas foi a minha pior. Sua imagem aos prantos insistia em me atormentar todas as vezes que eu fechava os olhos, eu não queria, mas era inevitável, eu tinha que pôr um fim na nossa relação se não quisesse que os nossos momentos mais íntimos fossem expostos para todos.

Uma, duas, três, quatro, cinco, dez e quando dei por mim vinte quatro horas já tinham se passado e nem sinal de você, nenhuma mensagem e nenhuma ligação. No meus pensamentos a nossa ultima conversa me atormentava.

 

—"Não Arthur, eu não gosto de ninguém."—

 

Essa foi a ultima coisa que você ouviu de mim, e eu me culpava tanto por ter mentido tão descaradamente a ponto de falar isso pra você. Eu me sentia tão mal. Eu já tinha vomitado duas vezes só hoje e eu posso confirmar que não estou doente, é só tristeza. A tristeza me invadiu e tomou meu ser de um jeito tão devastador que eu nem ao menos sei identificar que dia é hoje ou quanto tempo faz que estávamos separados. Eu te amo tanto, com tanta força que terminar com você estraçalhou meu coração e o dizimou em mínimos pedaços e agora eu não te teria mais para me ajudar a catar cada um deles, eu teria que me virar sozinho. A única coisa que me mantinha firme da minha decisão era o fato de saber que você estaria melhor sem mim, era o fato de saber que a Carol iria cumprir com a palavra dela e você não teria a sua privacidade violada. Eu faria qualquer coisa para saber que você estaria bem, faria qualquer se no fim você fosse mais feliz e nada te prejudicasse, mesmo se eu tiver que me manter longe de você, ainda assim eu faria. Não sei dizer se isso é amor demais ou de menos, mas sei que algo com certeza eu sinto.

De acordo com o calendário já tinham se passado dois dias que estávamos separados, faziam dois dias que eu não tinha nem noção de onde e o que você estaria fazendo agora, mas se fossemos medir pela dor que eu estava sentindo, esses dois dias virariam anos, décadas, milênios.

Meus pais ainda estavam na maldita viagem e eu me amaldiçoei por não ter ido com eles, recebi uma mensagem no celular e por um momento toda minha tristeza se converteu em uma felicidade imensa só em pensar na possibilidade que ela poderia ser sua.

Me limitei a só ver o nome de quem tinha enviado a mensagem, Lorenzo. Nem ao menos abrir pra ler, só bloqueei o celular novamente e o joguei em cima da mesa do computador. Em algum momento eu acabei adormecendo, meu estomago roncava, desde o café que tomei com você que eu não como nada, na verdade eu não faço nada a não ser sentir uma tristeza imensa, não sair da cama e só me levantar pra fazer necessidades fisiológicas.

Uma, duas três, quatro, vinte uma vezes depois que a campainha continuou a ser tocada incessantemente eu resolvi me levantar para saber quem se atrevia a me tirar do meu estado de quase vegetação.

Ao abrir a porta encontrei um Lorenzo que uma feição nada agradável, não falei nada e apenas saí de lá e me joguei no sofá, ouvi a porta atrás de mim ser fechada e o garoto me acompanhar e se sentar no sofá ao lado do meu.

Fiquei fitando o teto por alguns segundos com um silêncio assustador se fazendo presente no cômodo, digo assustador por que eu não tinha a mínima ideia do por que ele está ali, nenhuma possibilidade conseguia me convencer. Então apenas suspirei alto e pude ouvi-lo se remexer no sofá onde estava. Ele murmurou algo como "Você não vai falar nada?" E eu permaneci em silêncio fitando o teto como se realmente existisse algo muito interessante nele.

 

—"Então, já que você não vai dizer nada eu digo."— Dessa vez minha atenção estava focada no que ele tinha me dizer, mas meus olhos continuaram a fitar o teto. —"Porque você terminou com Arthur?"— Não falei nada e apenas fiquei ali parado, como se não tivesse o escutado. —"Peter, olha pra mim quando eu estiver falando. Você ta me escutando? Você sabe que o modo como você terminou com ele foi errado."— Dessa vez ele conseguiu me atingir, eu me sentei corretamente e meus olhos que antes encaravam o teto, agora estavam fixos nos dele.

 

—"Eu nunca disse que faria o que é direito."— Minhas palavras soaram ásperas e minha expressão permaneceu intacta, em uma espécie de neutra e serena expressão de quem não tinha feito nada de errado.

 

—"Porra Pete, eu achei que você tinha mudado. Você me disse que mudou. Que com o Arthur seria diferente, que dele você realmente gostava muito. Você até falou de amor. E agora Pete, o que você vai fazer agora? Vai deixar ele escapar assim do nada?"— Ele parecia nervoso e depois de olhar firme em meus olhos e não perceber nenhum hesitação o humor dele não melhorou muito.

 

—"Não se conserta o que já nasce com defeito. Não tem jeito, não há nada a se fazer."— Ele me puxou pela camisa e me fez ficar em pé a força. Nem deu tempo de pensar em fazer algo quando senti meu rosto todo doer e um gosto horrível invadir minha boca. Mais duas vezes essa dor se fez presente e o Lorenzo já tinha acertado três socos em meu rosto.

 

Eu não tinha forças para revidar, eu não tinha nem forças direito para me manter em pé. Eu estava sobrevivendo com uma torrada com geleia e um xicara de café de dois dias atrás no estomago, era extraordinário eu ainda estar consciente. Pelo menos até ser socado, eu apaguei um pouco depois de sentir a dor do que eu constatei ter sido o terceiro soco. Quando acordei estava em minha cama, com o Lorenzo me olhando sentado na beirada da mesma, e um cheiro bom de macarrão inundando meu quarto. O meu amigo sorriu e nem precisou me pedir desculpas, não tinha motivos para ele se desculpar, eu sabia muito bem que se ele me socou foi porque eu estava sendo um completo babaca. Não era típico dele bater tão seriamente, só quando algo realmente o incomodava muito. E com certeza essa era a situação.

 

—"Come o macarrão. Do jeito que te conheço sei que você não andou se alimentando corretamente."— Sorri para ele que pegou o prato em cima da cômoda, que fica ao lado da minha cama e me deu.

 

Não fiz cerimonia alguma e comi o macarrão como se fosse a melhor comida do mundo inteiro, e realmente não estava ruim. Quando terminei de comer fui obrigado a tomar um longo e demorado banho frio. Coloquei roupas limpas e arrumei o cabelo. Desci pra sala e me joguei no sofá oposto ao que o Lorenzo estava deitado. Ficamos em silêncio durante dois filmes inteiros, ficados demais nos filmes ou apenas em nossos próprios pensamentos. Eu já estava procurando o terceiro filme quando ouvi ele se remexer no sofá e se sentando ao meu lado no que eu estava.

 

—"O Arthur teve lá em casa chorando a dois dias atrás."— Olhei-o surpreso e ele deixou um suspirar alto lhe escapar dos lábios. —"Ele estava tão triste, me disse que não tinha ideia do porque você resolveu terminar. Que estava tudo muito bem."— Ele parou de falar e fitou a televisão a nossa frente, que agora deveria estar passando o começo do que seria o nosso terceiro filme consecutivo.—"Eu vou estar sempre ao seu lado, sempre te apoiando, não importa qual seja a sua sexualidade, isso pra mim é algo irrelevante."—Seus olhos voltaram a fitar os meus e pude perceber uma pinta de tristeza neles.—"Então por que ainda assim você não confia em mim? Por que ainda assim você não percebe que tudo que eu faço é pra sua felicidade? Você é meu melhor amigo, eu te aceitaria até se o seu parceiro fosse o cara mais feio do mundo."— Uma lágrima solitária escorreu pelo meu rosto e um abraço apertado invadiu meu ser. Eu sabia que podia sempre contar com ele, mas ainda assim tive medo.

 

—"Você também é meu melhor amigo, mas vamos combinar "Eu te aceitaria até se seu parceiro fosse o cara mais feio do mundo"— Ri forçado e vi a face dele tomar uma expressão confusa.—"Não precisa dar em cima de mim assim na cara dura."— Ele me deu um peteleco e rimos juntos. 



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