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História Eu Não Sou Gay! - John Watson ainda não é gay, acredite


Escrita por: Death-Lady

Notas do Autor


XD

Capítulo 2 - John Watson ainda não é gay, acredite




 

TÍTULO ORIGINAL DO CAPÍTULO:

– A OCASIÃO EM QUE JOHN WATSON NÃO SOUBE LIDAR COM A PRÓPRIA HOMOSSEXUALIDADE E O FATO DESTA ESTAR, APARENTEMENTE, LIGADA A SHERLOCK HOLMES –

 

 

Cento e cinquenta e quatro minutos mais tarde, em valor completamente estimado, o ranger provocado pelo abrir de uma porta fez-se presente em meio ao silêncio anterior, surgindo à sala-de-estar, pouco depois, um Sherlock Holmes totalmente vestido em seus habituais trajes, sentando-se à sua poltrona de modo casual; no rosto, de pele tão clara e aparentemente macia, a falta de expressão característica.

Portava-se de forma absolutamente... normal e Hamish, quem tomara um lugar em sua própria poltrona para ler as últimas notícias em seu jornal, perguntava-se quanto daquilo poderia ser encenação – não era possível que Sherlock realmente não importava-se com o fato de ter sido pego em atos não ortodoxos pelo amigo. Não que John contasse com uma reação exagerada, como a de um adolescente em plena puberdade descoberto pela mãe a bater umazinha, não, ele apenas não previu, ou preparou-se, para aquela completa falta de reação.

'Mas, afinal, o que esperou?' perguntou a si mesmo em mente, enquanto os orbes permaneciam, mesmo sem seu consentimento ou que sequer se desse conta, sobre a figura do outro, quem relaxava-se por total contra o assento aparentemente deveras acolhedor, cruzando as longas pernas à frente, sacando de um dos bolsos de suas calças um maço de cigarros, a insígnia real estampada na embalagem parecendo emprestar-lhe um "quê" a mais de imponência; retirou um dos tubos cancerígenos, prendendo-o suavemente entre os lábios de formato excepcional; um pequeno isqueiro metálico foi sacado em seguida, cuja tampa foi retirada do caminho e o fogo alaranjado mostrou-se, não demorando a ser colocado junto à ponta do cigarro, queimando-o de imediato.

"Vamos, John, não me olhe dessa forma." Com a primeira inalada profunda, vieram as primeiras palavras [compostas] de Sherlock naquela manhã. O isqueiro e maço foram devolvidos ao exato bolso de que haviam saído. O soldadinho da morte continuou preso entre os lábios do detetive enquanto falava, sendo que suas mãos encontravam-se por demais ocupadas na tarefa de juntarem-se uma a outra e serem repousadas contra o colo deste distraidamente. Um sutil sorriso lateral prosseguiu. "Não é como se você nunca antes houvesse me visto fumar um cigarro na vida", a face começava a sumir dentre a névoa provocada pela abundante fumaça, constantemente inalada e expirada, deixando às vistas apenas a boca, contorcida naquele sorriso deveras entranho, conhecedor, que causava ao dito John arrepios. "Ou visto um outro homem sem roupa."

Sherlock Holmes apreciava uma boa foda mental, o bastardo, e John havia tido a infelicidade de provar desta apreciação naquela manhã. Aparentemente, permaneceria a servir de diversão ao outro, sabendo Holmes encontrar-se demasiadamente entediado naquela última semana, tendo aparentemente resolvido todos os casos importantes ocorridos em Londres. E os não importantes. Até mesmo os chatos. Ele necessitava de uma distração, e o fiel amigo lhe era sempre tão prestativo neste quesito!

"Não é isso..." Constrangido, Watson respondeu, os dedos apertando as bordas do jornal em mãos por puro reflexo. E lá se foi a ótima matéria acerca do audacioso roubo a um carro-forte, que acontecera no mês anterior – ele nunca mais haveria de saber quem foram os responsáveis. 

"O que é, então?" Questionou o outro, finalmente (!) apanhando o cigarro entre os dedos indicador e médio da mão esquerda, soprando para longe de si toda a fumaça, conforme ambos os cotovelos repousavam contra os braços da poltrona, afundando ali graças ao material macio.

John procurou não reparar na forma como Sherlock umedeceu o próprio lábio inferior utilizando-se da ponta de sua língua, tão demoradamente que não poderia ser um movimento casual, como procurou não notar demais no movimento de sua mão direita contra o tecido maleável de seus calças sociais, procurando dar mais atenção à maneira com que as cinzas caíam do objeto cilíndrico diretamente contra o carpete.

Fuzilou o outro com um olhar, alternando o mesmo entre ele e a sujeira, fingindo dar grande importância ao fato, enquanto o outro simplesmente lhe rolava os olhos em resposta, demonstrando todo o seu desinteresse em relação à limpeza do apartamento, o que, com toda certeza, John já havia percebido há tempos.

"Não imaginei que você..." o jornal foi deixado momentaneamente de lado, repousando contra a mesinha de centro – a qual não poderia mesmo ser considerada uma mesinha de centro, sendo um tanto mais alta, e nunca realmente ocupava o centro –, conforme ele levantava-se, tomando de sobre o console da lareira o belo cinzeiro em cristal, afanado por Sherlock em uma ocasião deveras interessante no palácio de Buckingham. O objeto foi colocado sobre a coxa esquerda do outro, possivelmente com uma força um tanto exagerada, considerando a careta desgostosa tomando suas feições, enquanto John fazia o seu melhor para não encará-lo nos olhos, rosto ou qualquer outra região do corpo, preferindo manter sua visão presa à parede logo atrás. Continuou: "sabe, não pensei que apreciasse os prazeres carnais." 'Veja só, estas cortinas estão imundas! A sra. Hudson precisa ser avisada.'

"Eu sou apenas humano. Mesmo não acontecendo com muita frequência, eu também possuo os meus momentos de necessidade sexual. É bastante comum – eu pesquisei." 'É claro que pesquisou.' Holmes lhe sorriu novamente, utilizando-se do cinzeiro com um manear de cabeça sutil, quase imperceptível, em agradecimento. Os orbes ridiculamente claros acompanharam com ar desinteressado conforme o amigo voltava-se à própria poltrona e o devolvia um olhar estranho, antigamente muito incomum às faces dele, embora, com o passar do tempo, houvesse passado a fazer parte das expressões utilizadas durante o dia-a-dia. Franziu o cenho. "Qual é o problema, John? Está me olhando com aquela expressão, de novo."

"Que expressão?" John lhe ergueu uma sobrancelha em curiosidade, cruzando uma das pernas sobre a outra e novamente tomando em mãos seu jornal. Não pretendia lê-lo, uma vez que já havia perdido o interesse em qualquer das inutilidades ali descritas; entretanto, o grande pedaço de papel impresso era um interessante escudo contra os olhares do amigo, por detrás de qual ele poderia esconder-se rapidamente assim que necessário, sem precisar de explicações quanto ao porquê.

"A mesma com que me encarou quando entrou como um maluco em meu quarto." Especificou Sherlock casualmente, tragando seu tubo cancerígeno mais uma vez, ao passo em que, na poltrona em frente, John engasgava-se com a própria saliva, os olhos comicamente arregalados.

'Cuzão', pensou, recuperando o controle de suas expressões faciais e contorcendo-as no mais próximo de 'caguei para você' que lhe era possível. Pigarreou desconfortavelmente, remexendo-se no assento, já não tão confortável, de sua poltrona; o jornal foi colocado em frente a sua face, cumprindo com louvor sua única tarefa naquele momento: manter o olhar do detetive longe do rosto do amigo, antes que conseguisse, com suas deduções bizarras, encontrar aquilo o que o próprio John procurava não encontrar – ou fingir que já não o havia feito, de qualquer maneira.

"Quer chá?" Mudou de assunto, com um apontar singelo do polegar às próprias costas, em direção à cozinha, onde sobre a mesa, logo ao lado do maçarico de Holmes, jazia o pequeno bule de chá. O líquido encontrava-se frio àquela altura, mas Watson não esperava realmente que o amigo tivesse interesse em chá naquele momento.

"Foi você quem fez?" Perguntou, a voz um tanto embargada, dado ao fato de ter-se pronunciado em meio a uma tragada profunda.

"Sim."

"Nesse caso, não." Um sorriso lateral foi dirigido a John, quem não importou-se em desviar do jornal seu par de orbes, sabendo o outro zombar de suas habilidades inexistentes quando a cozinhar. Sherlock, ligeiramente desgostoso com a forma com que foi deliberadamente ignorado, levantou-se de sua poltrona, o cigarro devidamente apagado ao cinzeiro e o objeto sendo voltado ao seu lugar anterior. Caminhou rapidamente à porta, as pernas compridas não demorando em demasia a colocá-lo em frente a mesma. "Onde está a sra. Hudson?", a pergunta fora dirigida a John, quem não teve tempo de responder, nem deu-se ao trabalho, certo de que Sherlock já abria a porta, pondo-se a gritar, com a cabeça para o lado de fora: "sra. Hudson! Traga-nos um pouco de chá, mulher!"

"E alguns bolinhos." Completou o amigo de seu lugar, sem tirar a atenção da matéria interessantíssima que lia. O casamento de Sir Anthony J. Preston, fosse lá quem fosse o desgraçado. Interessantíssima, de fato.

"... E alguns bolinhos!" Voltou a sentar-se à poltrona, desta vez cruzando as pernas em estilo indiano, cotovelos sobre a partezinha entre joelhos e coxas, as mãos juntando-se ao meio, conforme pousava as pontas dos indicadores suavemente nos lábios, assumindo uma pose pensativa, olhos grudados na figura de seu companheiro de moradia. "John?" Não demorou a chamar, encarando-o com afinco.

"Diga, Sherlock." Murmurou distraidamente, sem desviar o olhar de sua matéria. Aparentemente, o tal Sir Anthony J. Preston costumava ser um importante executivo numa importante corporação de um importante setor da economia. Interessantíssimo.

"Não espera que eu realmente acredite estar lendo este jornal, não é mesmo?" Seu tom de voz zombava do amigo de maneira quase cruel, como se o mesmo fosse uma simples criança pega num ato de rebeldia, e cada átomo do ser de John odiou-o imensamente por isso. O maldito não poderia simplesmente guardar suas opiniões e seus desmascaramentos para si mesmo? Haveria mesmo de acabar com as esperanças do amigo de passar despercebido?

"É claro que espero, estou realmente lendo." Defendeu-se, baixando o jornal apenas milímetros, para que pudesse franzir o cenho em direção ao outro, ignorando completamente a forma quase desenfreada com que resolvia bater seu coração. Ele lhe sorria. Havia uma enorme vontade em John de quebrar cada um dos ossos do – maravilhoso – rosto de Sherlock, apenas para que este não mais lhe lançasse outro daqueles sorrisos, ou outra daquelas expressões desprezíveis. Aquelas expressões que berravam: 'eu sei o que esconde!' e lhe ria nas faces com desdém.

"Então, diga-me, sobre o que lê?" Desafiou, os olhos faiscando em direção ao outro.

"Sobre um tal Sir Anthony Preston. Sujeito importantíssimo, se quer saber. Casou-se com uma certa srta. Mumphred, quem agora chama-se sra. Preston – obviamente. Pessoas interessantíssimas. " Despejou tudo de uma única vez, procurando manter estável a voz e passar algum tipo de confiança, sua expressão mortalmente séria sendo retribuída por Sherlock, cujo sorriso havia sido, finalmente, contido. Era verdade aquilo o que dizia, exceto por seu interesse na vida de Sir Preston, e o amigo sabia bem disso.

Calaram-se, então. Os sons no cômodo compreendiam unicamente as respirações dos dois indivíduos, sendo a de um deles um tantinho mais contida que a do outro. Encontravam-se em tão absurdo silencio, que John era quase capaz de escutar o burburinho incansável de pensamentos do amigo em seus ouvidos, como o som dos próprios pensamentos; esperava apenas Holmes encontrar-se mais compenetrado em si mesmo que nos pensamentos de John, pois se ele sentia a confusão invisível ao redor, o outro haveria de sentir ainda mais.

O detetive o encarava, mas não parecia realmente enxergá-lo. O cenho se franzia, juntando as sobrancelhas escuras ao meio. A expressão exibida pelas faces era aquela séria, quase em branco. Ele mal respirava.

‘Talvez,' pensou John, 'ele tenha se perdido em qualquer outro pensamento. Algo mais importante que duvidar da verdade em minhas palavras'. Começava a alegrar-se internamente, quando o detetive, ainda com o azul cristalino de seus olhos engolfando e afogando o outro, pronunciou-se:

"Acredito que devamos conversar sobre aquilo o que viu hoje."

Rápido. Súbito. Direto ao ponto. E aterrador.

As entranhas de John se contorceram, parecendo criar vida e embolarem-se umas contra as outras, em busca de causá-lo alguma dor. O animal, cuidadosamente guardado em sua jaula, esta fortificada depois daqueles acontecimentos da manhã, rugiu alto, debatendo-se em sua prisão diante das lembranças... as malditas lembranças. A forma como o corpo alvo de Sherlock movimentava-se; o caminhozinho de pelos escuros descendo de seu umbigo a baixo, bem baixo; a mão de dedos incrivelmente firmes agarrada ao membro de glande inchada, tão necessitada de atenção. E não eram apenas as lembranças da cena, mas daquilo o que sentira John ao assisti-la, a ânsia que o tomara... a insuportável ânsia de tomar tudo aquilo dentro dele... forte...

"N-não." Sacudiu a cabeça rapidamente, a garganta reproduzindo um ruído estrangulado. Desespero lhe estampou o rosto, parecendo espancá-lo com sua força, enquanto John deixava seu jornal desajeitadamente contra a mesa ao lado; o objeto escorregou e caiu ao chão; sequer dirigiu o olhar para tal acontecimento. "Não precisamos conversar sobre aquilo, não precisamos conversar sobre nada." Levantou-se num rompante, os joelhos trêmulos quase abandonando-o na tarefa de manter-se em pé. Ao conseguir se estabilizar, pôs-se a andar, rumando à cozinha, o cômodo mais próximo, embora não soubesse o que deveria fazer ali.

"Sim, nós precisamos." Sherlock prontamente seguiu-o, parando ao batente das portas corrediças da cozinha. Ao que tudo indicava, não deixaria que o amigo escapasse daquela desagradável conversa.

"Não, não precisamos. Nada aconteceu, de qualquer maneira. Não há nada sobre o que falar." A mão agarrou a borda metálica, fria, da porta da geladeira, colocando-a aberta. Alguns tomates, frutas de forma e aspecto já desconhecidos dado o estado de decomposição, um pedaço de queijo embolorado, bolachas, cabeça decepada, amostras de sangue. John bufou, havia sido acometido por uma fome repentina e não tinha nada ligeiramente comestível ali - aquela cabeça começava a degradar-se, não se poderia salvar nada dela.

"John." Chamou o amigo, sem conseguir resposta alguma; ao invés disso, John bateu, com desnecessária brutalidade, a porta da geladeira novamente, escutando algo rolar e cair dentro dela... 'Espero que não seja a cabeça', pensou ele, virando em direção aos armários, abrindo a primeira porta. Nada, absolutamente nada.

"Precisamos fazer compras." Comentou, partindo para a porta ao lado. Aspirinas. "O que as aspirinas estão fazendo aqui? Não deveriam estar aqui... eu devo levá-las para o seu lugar..." Apanhou a embalagem de comprimidos, os olhos focados em qualquer lugar distante do outro, conforme punha-se a caminhar. Sherlock lhe trancava a passagem, mas ele não pretendia que o fizesse por muito tempo. "Acho que você deveria procurar algo o que fazer, está me atrapalhando e..."

"John!" Sherlock Holmes berrou, as mãos voando aos ombros do amigo, numa tentativa bem sucedida de fazê-lo parar, onde firmou as pontas dos dedos, apertando-o com delicadeza. Suas contas, tão azuis e tão bonitas, pareceram encarar o mais profundo da alma de John; sua expressão era séria, compenetrada. E o desesperado John não pôde mais livrar-se daquilo, a coisa que escondia até de si mesmo; não enquanto levou a Sherlock um olhar profundo, de pupilas dilatadas e íris brilhantes. Incrivelmente brilhantes. "Eu preciso falar com você." De olhos um tanto mais abertos que o habitual para si, pareceu estar muito próximo de cair em loucura. "Eu vou falar com você."

John encontrava-se pronto a ceder - afinal, não havia nada mais a se fazer. O outro não o deixaria descansar, sabia, e ele mesmo não possuía mais a vontade necessária para discutir com um Sherlock Holmes tão destemido a conseguir aquilo o que queria.

Estava horrivelmente cansado.

"Tudo bem, Sherlock..." Suspirou, abaixando o olhar aos próprios pés, observando a maneira como um dos cadarços de seus sapatos esportivos estava perigosamente solto. "Vamos conv..."

"Meninos, trouxe um cházinho para vocês! E os bolinhos que pediram!" Foi a fala a interromper aquela de John, seguida da aparição repentina de uma sra. Hudson deveras sorridente, carregando em mãos uma bandeja em prata e, sobre a tal, um bule de chá, duas bonitas xícaras - de aspecto tão antigo quanto a própria senhora – e alguns bolinhos com coberturas coloridas. Deparando-se com a imagem do par de homens tão intensamente compenetrados um no outro, parou. "Oh, me desculpem, não pensei que pudessem estar em um momento íntimo. Que cabeça a minha!" Seu sorriso transformou-se numa expressão de desculpas, enquanto ela recuava quase sorrateiramente, tendo John olhando-a de forma aliviada, e Sherlock de pálpebras fechadas e maxilar trancado, não exatamente contente com a interrupção. "Vou deixar a bandeja aqui, sim? Mais tarde volto para buscá-la" Posicionou o objeto sobre a mesinha-de-centro-que-não-era-mesmo-uma-mesinha-de-centro-e-nunca-realmente-ficava-ao-centro, preparando-se para sair.

E Hamish reencontrara sua necessidade de esquivar-se.

Era o momento perfeito. A oportunidade esperada por ele para que se livrasse do que quer que Sherlock poderia vir a querer falar.

Plantou na face uma máscara sorridente; desviou-se do aperto do outro, quem ainda procurou mantê-lo no lugar, desistindo com um movimento esperto do mais baixo ao desvencilhar-se; e, caminhando com normalidade, foi até a senhora a encará-lo com alegria.

"Obrigado, sra. Hudson. Não quer juntar-se a nós para o chá?" Verdadeiramente, John teria dito 'Por favor, junte-se a nós para o chá!'... teria caído de joelhos em frente à mulher, se isso a fizesse ficar; porém, preferiu pela sutileza, contendo-se tanto quanto lhe era possível.

"Oh, querido, não será incômodo?" Ela perguntou, embora não parecesse realmente importar-se. Estava feliz pelo convite, como muito via-se em suas faces. "Você e Sherlock pareciam em um momento muito importante, eu não quero atrapalhar."

"Não, não será incômodo algum... a senhora não atrapalha..." John tratou de aumentar ainda mais seu sorriso, ao ponto de machucar as bochechas e deixar a sra. Hudson ligeiramente assustada. Eram muitos dentes expostos ao mesmo tempo. "Não é mesmo, Sherlock?"

Voltaram-se os dois ao dito sujeito, quem recompunha-se à entrada da cozinha, as costas sendo colocadas completamente retas e a camisa social em cor púrpura escolhida por si naquele dia sendo ajeitada com cuidado, não demorando a girar-se nos próprios calcanhares e encará-los com expressão alguma no rosto, fosse aprovativa ou não. John sentiu algo em seu interior comprimir-se.

"Claro, não há problema algum." Sua voz era tão inexpressiva quanto sua face, talvez alguns tons mais baixa que o habitual, mas, de qualquer maneira, normal. Não dirigiu seu olhar, agora não mais tão azul quanto havia parecido anteriormente, ao melhor amigo ou à senhora, mantendo-o à frente, sempre à frente. "Oh, mas vejam só, há apenas duas xícaras e nós somos três", foi a observação seguinte, falsamente – e tanto que ambos os demais presentes notaram – preocupada. "Sentem-se e aproveitem o chá, eu irei me ausentar por alguns momentos. Com licença." E, com tais palavras, retirou-se do apartamento. Ouviram-se seus passos nas escadas e, logo em seguida, o bater da porta de entrada.

E lá se foi Sherlock Holmes.

Com a sua partida, houve certo choque. Ele nunca fora o ser humano mais educado a encontrar-se pela espaçosa Londres, não era de seu feitio ceder a outros sua xícara de chá, ou utilizar-se de 'com licença' ao ausentar-se de determinados recintos – ele costumava simplesmente sair, simplesmente pegar o que queria e que se virassem os demais. Era como Sherlock era.

Havia algo muito errado com aquele Sherlock que lhes estivera na presença pouco antes, a forma como seus olhos pareceram tão vazios, desalmados, até mesmo para sua figura naturalmente desprovida dos chamados sentimentos humanos.

"Está tudo bem entre vocês dois? Ele parece estar bem irritado." Comentou a sra. Hudson, enquanto punha-se a aconchegar ao sofá dos inquilinos.

"Ele está bem... nós estamos. Sherlock está apenas precisando de um pouco de ar fresco, a senhora bem sabe quanto tempo ele passa trancafiado neste apartamento. " As palavras de John eram tranquilizadoras quando as pronunciou e, conforme sentava-se ao lado da senhora, a bandeja - previamente apanhada da mesinha - sendo cuidadosamente deixada sobre a retangular mesa-de-centro-que-era-realmente-uma-mesa-de-centro-e-ficava-realmente-ao-centro, ele procurou convencer a si mesmo delas.

Sherlock estava bem.

Eles estavam bem.

Não havia nada errado acontecendo.

Ele não havia agido como uma criança para desvencilhar-se de uma conversa séria.

Não havia mágoa alguma no olhar do amigo quando deixou-os para trás.

Sherlock estava bem.

Sherlock estava sempre bem.

Nada haveria de destruir aquele homem, muito menos as ações pouco pensadas do ex-soldado inconsequente.

Sherlock não era destrutível, atingível ou magoável, John estava apenas sentindo-se culpado. E por que diabos sentia-se culpado? Não fizera coisa alguma, não cometera erro algum... a não ser aquele, de invadir o quarto do outro... e aquele, de assisti-lo batendo umazinha... e aquele, de, talvez, e apenas talvez, sentir por ele o que não deveria sentir um amigo.

 

 


Notas Finais


Primeiramente, gostaria de agradecer a quem favoritou e a quem leu. Obrigada!

Espero que tenham gostado, foi escrito com muito amor no <3 Qualquer erro encontrado basta me dar um toque e eu corrijo XD

Mais drama a caminho para o próximo capítulo, estejam preparados :D

-xoxo-


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