História Eu, nós e pontas duplas - Prólogo do epílogo do prefácio

Todos os laços que eu crio me destroem. É por isso que fico recluso quase sempre.

Eu sempre achei que deveria ter um amigo reserva pro caso do anterior me substituir. O problema é que, dependendo da quantidade de vezes que se é substituído, você não consegue continuar. Dependendo da quantidade de vezes que um mesmo desentendimento se repete, o problema deixa de ser os outros e passa a ser você.

Eu havia sido substituído dez vezes em menos de dois anos.

É claro que, se eu soubesse o que há de errado em mim, não iria precisar de amigos reserva. Normalmente, fico sentado em frente ao espelho durante um bom tempo tentando ver se os defeitos se sobressaem, mas só vejo espinhas e uma barba rala que coça de vez em quando. Não recebo respostas do espelho quando aceno. Meu reflexo não diz coisa nenhuma também; só me encara como se eu fosse um tolo. E sei que sou, já que o reflexo só transparece o que está de fato em meu semblante.

Ficar inquieto me incomoda. O silêncio cheio de vazio é pior que uma sala em que todos conversam sem prestar atenção em você. Na sala, você pode se distrair. O silêncio é doloroso e palpável demais pra que você consiga desviar dos seus problemas.

Todos os laços que crio me destroem. E isso se repete novamente quando dou um laço malfeito em meu tênis e tropeço na frente de um ônibus. Eu também deveria ter vidas reservas, mas só tenho uma, então espero que o tempo trate de me substituir por alguém que consiga ter um único amigo.