História Eu, que nunca quis você. - Aceite as consequências

Munidas de força e um ótimo senso de humor, as duas kunoichis não tiveram problemas em arrastar a espada decapitadora para fora do quarto. O único empecilho em questão seria descer as escadarias e sair do hotel com ela sem que ninguém suspeitasse do enorme embrulho de papelão muito semelhante à um caixão fúnebre.

— Karin, o que é nós vamos fazer com essa coisa? Aliás, como é que vamos carregar isso por aí?  Daqui a pouco temos que ir ao ateliê acompanhar a ultima prova da Sakura e dar os últimos ajustes aos nossos vestidos. Você não acha melhor deixarmos essa espada no seu quarto?

— Não, de jeito nenhum! Eu conheço o Suigetsu... pode ter certeza que o primeiro lugar que ele irá procurar, sem nenhuma cerimônia, será o meu quarto. Ele vivia invadindo meus aposentos antigamente, não é agora que esse hábito vai mudar.

— E depois, o que você vai fazer? Vai simplesmente esconder o brinquedo dele?

— Olha, tá aí uma boa questão... — Karin ria enquanto ambas desciam as extensas escadarias do prédio com cautela. — Eu ainda não decidi o que farei com isso. Mas não se preocupe, a trarei de volta comigo no final do dia.

— No ritmo em que estamos, será final do dia e ainda estaremos descendo escadas por causa dessa sua ideia maluca! — Ino parecia brava, mas era fielmente cumplice da amiga para o que ela precisasse, mesmo que fosse uma loucura sem sentido. — Uzumaki, pode ter certeza de que iremos precisar de um banho antes da prova de nossos vestidos. Caso contrário iremos estragar os tecidos com nosso suor.

Depois de terminarem os infinitos lances de escadas, não foi nenhum desafio atravessar o movimento hall de entrada do hotel e entrar no primeiro táxi que dobrava a esquina. Duas belas mulheres correndo por aí com um embrulho pesado era algo que chamava atenção, mas não ao ponto de parecerem suspeitas. Se tivessem sorte, fariam a prova do vestido sem nenhum problema e depois poderiam curtir um ótimo almoço e quem sabe desfrutar de um relaxante banho em um onsen nos limites de Konoha.

Entrando no ateliê, não foi surpresa para elas que o guarda-volumes do estabelecimento não tivesse espaço suficiente para uma espada daquele tamanho. A pobre da recepcionista cedeu o único espaço possível para guardá-la:  o vão debaixo da cama de descanso das noivas. Após o constrangimento, ambas correram para o quarto 2, onde Sakura e Hinata as aguardavam enquanto uma senhorinha media a barra do vestido da noiva.

— Hm, pensei que a Sakura-chan fosse se casar de shiromuku. 

— E ela vai. — Ino cochichou baixinho no ouvido da ruiva. — Vai ter a cerimônia tradicional e na recepção do casamento uma mais moderna. Eu acho isso um esbanjo, mas a Sakura-chan tá meio que viciada naquelas novelas brasileiras onde as mulheres se casam com vestidos que parecem cachoeiras. —  As duas desataram-se a rir.

— Onde é que vocês duas estavam? Perderam os últimos ajustes do meu shiromuku! Se não fosse pela Hinata, eu estaria perdida.

— Oe, Hinata-chan! — A loura cumprimentou a amiga morena que estava tentando cobrir sua nudez durante a troca que modelito. —  ... Longa história, Sakura. Você não faz ideia do que a Karin me fez passar até chegarmos aqui.

— Depois vocês me falam. A costureira está com o houmongi de vocês ali.

—  Sakura, eu não vou usar um houmongi. Posso não ser casada ainda, mas estou em um relacionamento mais do que sério com o Sai.

— Mas ainda é solteira! Ande, vistam-se logo pois ainda faltam os vestidos de madrinhas de vocês. —  Sakura estava de braços abertos, tentando se contorcer para conseguir olhar para as amigas. —  Aliás, você sabe me dizer se os meninos já foram fazer a prova de roupa deles?

— O Sai me disse que o Sasuke e os outros já tinham feito isso ontem à tarde...

A prova de vestidos durou quase a tarde inteira, o que deixou as garotas mais do que famintas. Sakura mostrou ser uma noiva um tanto quanto neurótica com a perfeição dos mínimos detalhes. Nenhuma barra poderia estar desalinhada. Todos os cristais deveriam estar em seus devidos lugares. Karin tinha certeza que as donas do estabelecimento não iriam querer vê-las tão cedo ali.

—  Meninas, o que vocês acham de almoçarmos/jantarmos no restaurante do onsen? Está quase dando dezessete horas e eu estou louca para relaxar em uma fonte termal. Lá poderemos finalmente bater um papo e vocês me colocam a par dessa desventura que tanto atrasou vocês duas. Tudo bem por você, Hinata?

—  Sim, Sakura-chan. O Naruto-kun vai estar na despedida de solteiro do Sasuke-kun, então ele não estará me esperando em casa.

—  Ah, Hinata... deve ser muito bom chegar em casa e ter um marido a quem abraçar, não é? —  Ino suspirava com as mãos juntas sob o peito esquerdo. —  Não vejo a hora de finalmente subir ao altar.

—  Não vai demorar pra isso acontecer, Ino-chan. —  A morena abriu um sorriso meigo daqueles que só ela era capaz de dar.

—  Meninas, desculpem atrapalhar seus devaneios sobre a vida de esposa, mas precisamos ir logo. Tenho que passar pra vocês a nova configuração de padrinhos e seus acompanhantes de entrada. Andem, vamos logo com isso. —  Sakura voou apressada até seu carro e o deixou no ponto de partida. —  Ino e Karin, mas que coisa é essa que vocês estão carregando?

—  Longa história. —  Ambas disseram ao mesmo tempo.

—  Meu Rikudou, vocês vão ter muito o que me explicar hoje. Agora andem, coloquem isso aí no porta-malas. Hinata, tire o tampo aí atrás pra ver se esse negócio aí cabe.

As garotas entraram no carro em clima de discontração e com muitas gargalhadas. Ino relatou, com um certo exagero, o pedido mais que inusitado de Karin e como elas "bravamente" desceram mais de vinte lances de escadas carregando uma espada de dois metros de altura. Depois que tinham realmente conseguido descer com aquilo dava para achar engraçado.

— Quer dizer então que vocês roubaram a Kubikibocho do Suigetsu... —  Sakura não aguentava mais controlar a risada. Seus braços fizeram uma curva fechada para estacionar o carro no estacionamento do onsen.

— Karin-chan... como você teve coragem de fazer isso? — Hinata estava perplexa.

—  Meninas, ele só está colhendo o que ele plantou. Ora, como é que ele pensou que iria partir o coração de uma dama e sair ileso disso?

—  Partir seu coração? Karin, depois disso eu duvido completamente que você tenha um coração! —  Ino se divertia enquanto auxiliava Sakura na baliza.

— Karin, você ainda sente alguma coisa pelo Hozuki? —  Sakura era a unica a olhar séria para ela naquele momento.

—  Eu? Sentir alguma coisa por aquele bastardo? Sakura, eu acho que estava ensandecida quando um dia achei que o amava. Pare de bobagem!

— A Hanabi acha ele uma gracinha, me desculpe dizer... —  Hinata cobria a boca abafando um risinho.

—  Hinata, você é uma menina malvada! Bate aqui, amiga! —  Ino a cumprimentou.

As garotas desceram do carro e caminharam alegres até a recepção do onsen, que naquela altura da modernidade, era o último dentro do perímetro urbano. Se quisessem algum outro, deveriam ir para a cidade termal de Konoha. O cheiro de comida transbordava através da sala de refeições, e a barriga das meninas cantavam como uma orquestra em resposta.

— Konnichiwa. Gostaríamos de uma mesa para quatro e um ofurô para banho.

— Sinto muito, senhoritas. Infelizmente hoje estamos com o estabelecimento totalmente reservado para uma despedida de solteiro. — A recepcionista abriu um sorriso singelo.

— Despedida de solteiro, huh? — Sakura levou a mão ao queixo. — Por um acaso é a recepção do Sr. Uchiha?

— Isso mesmo. Você pode acreditar que aquele pedaço de mau caminho vai se casar? Sortuda da mulher que o terá nos braços.

— É, sortuda mesmo Shanar... — Sakura foi interrompida na hora por uma Ino que sabia muito bem como ler os gestos da melhor amiga.

— Tudo bem então. — Karin interveio. — Vamos jantar em algum outro lugar. Arigatou!

Frustradas e com fome, as kunoichis voltaram arrasadas para o carro. Sentiam tanta fome que não perceberam um detalhe crucial, que só foi notado na metade do caminho que faziam até uma casa de chá.

— Meninas, vocês tão sentindo falta de alguma coisa? Tem alguma coisa estranha... — Sakura observou.

— Não, acho que nada... — Ino respondeu enquanto procurava alguma coisa para comer no porta-luvas.

— Gente, ai caramba... eu sei que o que é. — Hinata ficou tão vermelha que preocupou as demais meninas que voltaram-se para ela. — Sakura-chan... a espada do Suigetsu...

— A Kubikiribocho desapareceu! — Karin exclamou.

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Glossário:

Shiromuku: Traje tradicional das noivas no Japão. É erroneamente  chamado de Kimono no ocidente.

Onsen : é o termo japonês para águas termais, também aplicado à casas de banho modernas.

Houmongi: Traje semi-formal utilizado geralmente por moças solteiras amigas da noiva em sua cerimônia de casamento.