Eram umas dez horas quando acordamos, Laurel e eu ficamos na cama olhando para o rosto uma da outra e em silencio. Comecei a fazer carinho em seu roso e abri um sorriso involuntariamente. Depois de uns minutos Maju bateu na porta “querem ir no parque agora á tarde?” me levantei e abri a porta, para que ela pudesse entrar. “Ah, bom dia” “bom dia Maju” disse Laurel ainda deitada na cama. “Então, parque?” “sim, o parque. Eu tava olhando e é bem pertinho daqui, poderíamos ir apé mesmo, o que vocês acham?” “eu quero, vamos Laurel?” “não tem como dizer não pra essas duas carinhas pidonas” eu e Maju caímos na gargalhada, mas estávamos felizes que íamos no parque.
Nos arrumamos depois do almoço e saímos. Tarah ia nos encontrar lá, sem o Alex, pois não queria deixar a Maju sozinha de vela. No caminho, Maju estava mega animada e reparei o quão linda ela estava, com uma calça bege, camisa soltinha (alias, eu quem tinha dado aquela camisa) e o chapéu, ela ficava muito linda com aquele chapéu, parecia um nenê. “Como assim to pensando nela desse jeito?” pensei comigo “a Laurel ta aqui do meu lado, mas a Maju, ai cara, olha pra ela, toda feliz, sempre de bem com a vida. Mas porra, eu to a mais de um ano com a Laurel, eu jogaria tudo pro alto pra ficar com a Maju? Será?”.
Acabei parando no meio do caminho sem perceber, Maju e Laurel me olhavam com uma expressão confusa “Ana, tais bem?” “to sim, só... Só vou voltar pra pegar uma garrafinha d’água okay?” “mas a gente já trouxe amor” “é, é, eu sei, mas... Já volto” voltei deixando as duas ali, paradas e sem saber o que estava acontecendo. Fui o mais rápido possível e sem olhar pra trás, nem tinha me dado conta que só tínhamos andado duas quadras e em menos de dois minutos eu já estava na frente do prédio. Subi as escadas correndo e assim que cheguei me deparei comigo mesma no espelho que tinha no final do corredor do meu andar. Notei minha expressão de desespero e vi que não podia ficar assim “Ana, volta pra lá agora, lida com isso como adulta e não como uma criança fugindo do bicho papão” falei isso em voz alta pra ver se entrava na minha cabeça.
Depois de uns dez minutos parada de frente pro espelho, respirei fundo e fui em direção da escada, mas assim que comecei a descer vi a Maju subindo “merda, ela não” pensei. “Ta tudo certo contigo Ana?” “por que veio você e não a Laurel?” “porque eu quis vir, ela só quis esperar, mas fiquei preocupada contigo” meus olhos se encheram de lágrimas, minha própria namorada não quis vim me ver, saber se to bem, mas a Maju, que ficou comigo por um mês e meio que agora é basicamente minha melhor amiga veio. Mas ela estava começando a se tornar mais que uma melhor amiga, no fundo eu sabia disso, sabia que o jeito que olhei pra ela nesse tempo que ela ficou aqui não era o mesmo jeito que eu olhava pra qualquer amigo meu, era quase o mesmo jeito que eu olhava pra Laurel, mas nem pra ela eu olho assim, era só no começo mesmo.
“Ana? Tu viajou de novo, tens certeza que tais bem?” “que merda mano, eu não to bem” os olhos preocupados dela era tudo que eu menos queria ver agora. Ela ainda estava na escada e começou a vir na minha direção, mas dei um passo pra trás “Ana, o que esta acontecendo?” por um segundo achei que não fosse conseguir responde-la, mas pensei em algo e então falei “você vai ficar mais uma semana aqui?” “provavelmente, pois ainda não tem previsão da minha escola sair da greve” “okay, vamos fazer assim então, eu preciso conversar contigo, mas só contigo. Vamos descer, voltar pra Laurel e ir pro parque e fingir que nada disso rolou okay?” “pode ser, se é isso que vai te fazer melhor”. O rosto dela parecia de culpa, como se ela tivesse feito algo e meu coração se partiu em pedaços, não resisti abraçá-la e dizer que a amo. Ficamos mais uns dez minutos abraçadas e eu já tinha me esquecido do quão bom era ficar assim, abraçada nela.
Já eram três da tarde quando chegamos no parque. Laurel estava toda feliz e nem ligou de eu ter demorado tanto. Compramos cinco ingressos de cada, Tarah e Maju eram as duas mais animadas do grupinho, queriam ir nos brinquedos mais altos, nos mais perigosos e etc. mas eu sendo medrosa, não queria ir em nenhum. Maju me arrastou para todos que foi e me fez ter três ataque de ansiedade. Acabei ficando mais com a Maju que com a Laurel, mas ela nem se importava, até onde ela sabia eu considerava a Maju uma irmã. Tarah tirou varias fotos minha com a Maju, ela sempre foi apaixonada por fotografia e fez basicamente um book nosso. Mas de duzentas fotos tiradas, somente umas vinte foram com a Laurel, e eu fiquei de fato triste com isso. Mas a tarde foi foda demais, me fez ver que ou eu to muito certa de jogar um relacionamento de mais de um ano pro alto e ficar com a Maju, ou eu sou completamente louca, pois eu amei os momentos que eu largava a Maju e ficava só com a Laurel, admirando a beleza dela sobre as luzes do parque. Definitivamente eu precisava de um tempo sozinha, pra pensar, mas sozinha de verdade, sem Laurel e Maju.
Chegamos em casa por volta das sete da noite e simplesmente deitamos no chão da sala, as quatro ficaram lá, conversando sobre coisas mega aleatórias até a Laurel se virar pra mim, me dar um beijo e dizer que precisava ir, pois já estava tarde. Não pedi para que ficasse, pois se ela fosse agora eu teria mais tempo pra conversar com a Maju. Fui com ela até o quarto, pra ajuda na arrumação das coisas , mas depois de uns minutos ela parou, me olhou e fechou a porta. “Ta tudo bem com você?” “eu to bem sim” “Ana, tens certeza disso? Não tivesse nenhuma recaída? E por que ficasse tão grudada na Maju depois de vocês terem ficado mais de meia hora aqui? O que exatamente aconteceu aqui?” logo pensei “deu merda”. Fiquei em silencio, mas vendo os olhos dela começarem a encher de lagrimas eu vi que tinha a obrigação de dizer algo “se tais questionando minha fidelidade, por favor, para” “mas como eu não questionaria? Sei que vocês duas já tiveram um envolvimento, Ana” “foi um envolvimento de somente um mês e meio, tu acha que eu seria capaz de voltar a sentir algo por ela e jogar um ano e quatro meses pro alto, só pra poder voltar com ela sendo que contigo eu já tenho estabilidade?” “okay, isso tu não faria mesmo, mas porra, eu sei que você ainda tem seus segredos, sei que a gente não é totalmente aberta uma com a outra e sei que tem sentimentos que você esconde, não sei se isso pode ser bom ou ruim” “relaxa que isso não vai rolar, ta ouvindo” nisso me levantei da cama e a abracei “eu te amo porra, não vou te deixar nem hoje nem nunca”.
A deixei na porta do prédio e esperei que o carro dela sumisse na esquina. Logo em seguida comecei a subir as escadas, porém, não parei no meu andar, continuei até chegar no terraço. Chegando lá eu deitei no colchonete que eu e Tarah deixamos guardado de baixo de uma casinha que tinha lá. Fiquei lá olhando pras estrelas e esqueci do mundo, eu era somente eu naquele momento. Depois de um tempinho, lembrei que meu fone estava no bolso da flanela e então o coloquei, abri o spotify e coloquei Anchor do Novo Amor. A letra fazia sentido em partes, mas não fazia sentido pra Maju, nem pra Laurel, fazia sentido pra Ana, pra mim mesma. Eu estava cansada de não ter uma ancora pra mim mesma, por mais que a Laurel fosse uma pra mim e que sem ela eu acho que já teria cometido suicídio. Mas eu não quero mais isso, quero me tornar menos dependente dela e não sei o que fazer pra isso mudar, mesmo sabendo que isso tinha mais que a obrigação de mudar.
A Laurel é o amor da minha vida e eu não me imagino mais sem ela, mas e meu amor próprio? Não sei onde o coloquei, não sei em que canto joguei. Tenho auto estima baixa desde os oito anos de idade e nunca fiz nada pra mudar, apenas me agarrava em pessoas pra suprir o amor que nunca dei pra mim mesma. Eu só queria aprender a ter amor próprio, mas eu não sabia o que fazer e muito menos como pedir ajuda pra isso. Lembro que a Maju fazia de tudo pra eu aceitar que sou incrível em tudo que eu fazia, até hoje ela tenta fazer isso, mas eu nunca consegui aceitar nada que ela falasse.
Depois de mais da metade das minhas musicas tocarem, eu acordei da minha viagem e notei que o céu tinha nublado e o vento frio dizia que estava prestes a chover. Fiquei lá até que o céu começasse a desabar, o que não demorou muito. Os únicos momentos que eu conseguia me sentir bem comigo mesma era quando chovia e eu sentia a chuva em mim. A musica que estava tocando só melhorou tudo, era Pieces do Andrew Belle. Me fez sentir uma onda de amor que eu nunca tinha sentido, a musica, a chuva, os raios que caiam no chão bem longe daqui. Creio que é um dia dos quais eu me amo durante cinco minutos e depois tudo desaparece, mas esses momentos eram de certa forma infinitos.
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