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História Eu tentei - Pesadelo


Escrita por: Eric_Elgae

Notas do Autor


Oi gente.
Desculpem a demora. Era pra ter postado sexta, mas eu cheguei tarde em casa, sábado passei fora e hoje hibernei hahaha

Bom, hoje temos um aviso:

Cenas de agressão. Cuidado com a sensibilidade.

Boa leitura, nos vemos lá embaixo.

Capítulo 16 - Pesadelo


Fanfic / Fanfiction Eu tentei - Pesadelo

Eu encarei aqueles olhos castanho avermelhados. Não podia ver muito, mas ele estava aproximando a cabeça de mim, e tudo que eu fiz foi fechar os olhos.

E esperei pelo beijo.

Que não aconteceu.

Ao invés de finalmente sentir o gosto dos lábios dele nos meus, eu senti algo morno na minha barriga.

Um cheiro azedo e cheio de álcool subiu ao meu nariz. Senti Seiya se afastar, e quando vi, ele estava com as mãos nos joelhos, encurvado.

Vomitando.

Eu esperava um beijo.

E ganhei vômito na roupa.

Aquilo não podia estar acontecendo. Simplesmente não podia.

Estava tudo tão perfeito... Tão... Tão... Melhor do que qualquer coisa que eu já tivesse sonhado um dia.

Algumas pessoas se afastaram xingando e torcendo o nariz. O Seiya continuou vomitando, e vi que logo menos ele ia cair. O amparei rapidamente, e fui levando ele pra fora da pista. Saori, Marin e Shina logo se aproximaram da gente.

-O que foi?

-Há não, eu sabia que ele estava exagerando.

-Meu Deus, Ikki, você está todo imundo...

Fui afastando elas e praticamente carreguei o Seiya.

-Eu vou levá-lo ao banheiro, já já voltamos. Sei lá, arrumem um suco, algo doce ou alguma coisa que ele possa comer pra ver se melhora um pouco.

Saori nos acompanhou enquanto Shina, que não estava lá muito sóbria foi atrás do que eu sugeri. Marin foi achar alguém para limpar aquela sujeira. Um pouco antes de entrarmos em um banheiro que havia próximo das escadas, Saori me interpelou.

-Ikki, o que foi aquilo que...

-Preciso cuidar do Seiya, Saori. Depois conversamos. Além do que eu estou... Enfim...

Entrei no banheiro e foi como se houvesse entrado em uma caixa. O som da festa ficou abafado. O lugar tinha três boxes e dois mictórios, e uma pia grande com um espelho que ia da parede ao chão. A luz era meio esverdeada, mas dava pra enxergar claramente. Levei Seiya até a pia, onde ele ficou de cabeça baixa.

-Ei, como está se sentindo?

-Há... Tá tudo girando...

-Respira devagar, vai...

Fiquei massageando as costas dele de leve. Ele arrotou algumas vezes.

-Quer vomitar mais?

Ele mal me respondeu, apenas sacudiu a cabeça. Por sorte o banheiro estava vazio, e consegui arrastá-lo até um Box antes que ele sujasse tudo a sua frente mais uma vez. Seiya se ajoelhou e vomitou com vontade.

Enquanto ele ficava ali, tirei a camisa e observei o estrago feito. A frente inteira estava suja, isso sem contar minha calça que também estava em petição de miséria. O que dava pra fazer era enxaguar a camisa na pia, tirar a sujeira grossa e ir embora.

Fim de festa.

Enquanto eu ainda tentava decidir o que fazer, vi a porta ser aberta e com alívio encarei uma cabeleira castanha.

-Ikki. Que bom que achei vocês, cadê o...

Nessa hora Seiya fez um barulho enorme, e eu apenas apontei a cabeça em direção ao Box. Shun revirou os olhos, mas acabou sorrindo.

-Saori arrumou com os garçons duas trocas de roupa limpa. Pediu que eu encontrasse vocês e entregasse.

-Shun, você e ela devem ter caído do céu, como pode? Eu já estava prestes a afogar o Seiya no vaso. Olha o que ele fez comigo.

Shun deu uma risada sem graça.

-Ele está muito mal?

-Acho que é mais enjoo mesmo. Você consegue alguma coisa pra isso? Ele deve melhorar rápido se tomar algo.

-Há, consigo sim. Me espera aqui, tá bem?

-Certo. Vou trocar de roupa, e tentar trocar a dele também.

Shun saiu e eu me aproximei do Box. Seiya estava sentado, com a cabeça dentro do vaso sanitário.

-Ei... E aí?

-Argh... Eu comi alguma podre na rua, só pode ser isso.

-Sei... Beber demais nem tem nada a ver com isso, não é?

-Eu não to bêbado Ikki. Só com uma dor de cabeça desgraçada, acho que depois desse...

Ele olhou com uma cara enojada para o vaso e puxou a descarga.

-Depois dessa crise, vai ficar tudo bem.

-Sei. Acabou a festa parceiro, vamos, vamos tirar essa roupa suja.

-Roupa suja?

Com alguma dificuldade o ergui do chão. Ele não estava sóbrio de jeito nenhum.

-Olha no espelho e me diz se sua roupa não está suja.

Zonzo e fazendo uma careta de dor, ele piscou várias vezes antes de conseguir se mirar no espelho.

-Nossa... Eu fiz isso é?

-Fez.

-Com você também?

-Sim.

-Por que... Por que eu vomitei em você?

-Não lembra?

-Ehhhh... Não?

Uma tristeza enorme se abateu sobre mim quando ele disse aquilo. Então ele não lembrava mesmo de nada... Nem que tinha dito que queria me beijar... Nem que eu estava bonito... Nem que tinha dançado comigo...

Nada.

Tudo não passou de uma ilusão.

De uma maldita ilusão.

Eu podia chorar se quisesse que ele não lembraria. Mas me limitei ao básico.

-Foi... Não foi nada, eu tava passando perto na hora.

-Há... Me desculpa...

-Desculpo se você trocar de roupa logo.

-Tá bom...

Ele começou a puxar a camiseta que estava usando, e acabou girando algumas vezes pelo banheiro. Não tive paciência praquilo.

-Seiya, fica quieto e deixa que eu te ajudo.

-Pera, eu to quase...

-Quase caindo e se machucando. Fica parado e deixa tudo comigo.

Ele parou, a camiseta na metade dos braços erguidos, o rosto tampado e o abdome descoberto.

Não nego que poder vê-lo daquela forma era... Era...

Um tipo de consolo pelo que aconteceu na noite.

Terminei de puxar a camiseta dele e a enrolei com cuidado. O encostei na parede e desafivelei seu cinto. Ele apoiou os braços em mim. Engoli em seco.

-Vou tirar sua calça. Pode tirar os tênis? Consegue fazer isso?

Me olhando sem me enxergar e com alguma dificuldade ele descalçou os tênis. Abaixei a sua calça jeans e pela primeira vez desde que éramos adolescentes pude vê-lo seminu.

E que visão dos céus era aquela.

O corpo moreno e liso estava todo definido. Ele era um falso magro por debaixo das roupas largas e iguais de sempre.

O peitoral dele estava marcado como eu nunca vira, assim como os ombros estavam altos. A cintura estava mais fina que o peito, mas a barriga era puro músculo.

E as pernas pareciam toras. As coxas dele...

Eu juro que poderia passar o resto da vida com a cara enfiada no meio das coxas dele.

Ele estava usando uma cueca simples, preta. Mas mesmo bêbado eu podia ver o contorno delineado do membro dele.

E minha boca ficou cheia de água.

Juro, na hora fiquei duro. Tudo que eu queria era senti-lo... Por inteiro.

Mas eu não podia.

Temendo que Shun ou alguém chegasse e me visse com ele daquele jeito, olhei o máximo que pude para guardar aquela visão comigo.

Ele tinha um calor tão gostoso... As mãos dele na minha cintura pareciam brasa.

Coloquei a calça preta que Shun trouxera nele, e com alguma dificuldade a camiseta branca que se ajustou perfeitamente ao corpo dele. Calcei os tênis e o coloquei sentado num vaso.

-Espera só um pouco, tá bom?

Ele apenas resmungou em concordância e encostou a cabeça na parede do Box. Troquei de roupa rápido e enrolei tudo. Fiz uma trouxa com a minha roupa e a dele.

Mal respirei fundo, Shun voltou.

-Aqui. Consegui dois comprimidos e uma vitamina.

-Ele tá ali...

-Deixa que eu ajudo... Aqui, trouxe uma sacola pra você guardar a roupa suja.

-Você não existe Shun.

Com toda a paciência do universo, o Shun foi dar os remédios e a vitamina pro Seiya. Guardei as roupas na sacola e aproveitei a folga para lavar o rosto. Me encarei no espelho, angustiado, triste e desejoso de algo que estava tão perto e infinitamente distante ao mesmo tempo.

Devo ter me desligado por um momento, pois Shun estava me encarando de um jeito preocupado quando eu o ouvi.

-IKKI!

-Hã? Desculpa, o que é?

-Você ficou estranho, não me respondeu mesmo eu chamando um monte de vezes.

-Deve... Deve ser o cansaço. Ou eu bebi demais, enfim... Não se preocupa. Tá tudo bem.

Shun ficou me olhando de um jeito inquisidor, mas logo sacudiu a cabeça.

-Tá bom então... Olha, eu vou achar a Saori e as outras e tranquilizar elas. O Seiya deve melhorar logo. Você pode esperar mais um pouco aqui?

-Sim, tudo bem... Depois vou embora.

-Eu posso te acompanhar.

-Não, não precisa. A June deve estar irritada por você ficar me dando atenção aqui. Vai aproveitar sua namorada, deixa de ser bobo.

Shun corou um pouco e sorriu de maneira tímida. Apenas concordou com a cabeça e saiu.

Me virei e encostei na pia. Fiquei olhando o Seiya, que estava de cabeça baixa com o copo vazio na mão. Ficamos nisso quase dez minutos, até que ele soltou um arroto.

-Ei, tá melhor?

-Vou... Vou ficar bem. Preciso sair daqui, eu...

Ele se levantou meio trôpego, mas logo se firmou em pé.

-Ei, espera mais um pouco, o remédio...

-Não quero ficar aqui, por favor... Me leva... Me leva pra fora.

Suspirei. Aquilo estava exigindo muito mais de mim do que eu podia dar. Mas o que mais eu faria?

Eu sei que nunca conseguiria dizer não a ele.

Peguei a sacola, enrolei em uma mão e a outra passei pelas costas dele. Quando ele jogou o corpo em cima de mim, eu o ergui.

-Ei... Consegue caminhar?

-Hum hum... Só... Vamos...

Fomos saindo devagar. A festa só parecia ter ficado mais frenética para os outros. E parece que tinha brotado gente das profundezas, estava impossível circular por ali. Eu nunca que ia achar o lugar onde estávamos sentados. Mas eu tinha que achar os outros.

Levantei os olhos e vi um corredor escuro. Parecia estar vazio. Fomos andando aos tropeços e conseguimos entrar lá.

No final do corredor que nem era muito comprido tinha uma escada. Bem de frente a ela, uma grande varanda estava vazia, apesar de ter um pouco de iluminação. Fomos até lá, mas achei melhor deixar o Seiya sentado na escada. Não ia passar ninguém ali, e se ele vomitasse não ia ter lá muito problema.

O encostei na parede um pouco afastado da escada, mais para frente. Ele sentou-se ali e ficou quase dormindo.

-Seiya... Seiya...

-Hum?

-Eu vou achar o Shun. Vamos embora, me espera aqui tá bem?

-O Shiryu? Ele tá bem?

Aquela pergunta me doeu.

-O Shun. Vou atrás do Shun. Eu já volto, você precisa me prometer que vai ficar aqui.

-O Shun... Tá bom... Mas cadê o Shiryu?

-Por que raios quer saber do Shiryu?

-Ué... Por que eu gosto do Shiryu... Ele cuida de mim...

Seiya estava definitivamente naquele estado em que soltaria qualquer verdade que eu quisesse saber.

E eu precisava saber de tudo que ele sentia. Nunca teria outra chance.

-E por que ele cuida de você?

-Por que... Eu também cuido dele.

-E por que você cuida dele?

-Por que... Eu gosto dele ué...

-E ele também gosta de você?

-Simmmmm... Eu amo ele sabia?

Eu senti como se tivesse uma pedra caindo na minha barriga. Até esqueci de respirar.

-Mas não conta isso pra ele.

-Por... Por quê?

-O Shiryu não gosta de falar que me ama... Ele tem vergonha...

Minha vista estava embaçada.

-E você queria que ele falasse que te ama?

-Eu sempre quero...

Senti as lágrimas correndo. Mas não tinha como segurá-las.

-Mas ele nunca diz. Mas eu amo ele mesmo assim. Assim como...

-Eu já volto Seiya. Fica quieto aqui, eu vou... Trazer o Shiryu.

Ele deu um sorriso tão sincero que me doeu.

-Sim... Chama o Shiryu pra mim, eu... Gosto dele...

Não respondi e saí dali, enxugando o rosto. Então eu não estava errado. Meu medo não era sem fundamento.

Seiya e Shiryu tinham alguma coisa.

Fiquei atordoado. Mesmo. Nem sabia para onde estava indo, só lembrava de sentir o peso da sacola com a roupa suja na mão.

Estava então eu, ali, parado no meio de uma pista de dança tentando decidir o que sentir e o que fazer quando senti um puxão no braço.

-Ikki? IKKI!

-Hã?

Saori me arrastou até uma parte mais livre, perto de algumas mesas.

-Onde está o Seiya?

-Seiya...

Ela parecia aflita e preocupada. Mais nervosa que o normal.

-Eu o deixei num corredor... Praquele lado. Ele não está bem, bebeu demais. Precisamos... Ir embora.

Ela suspirou aliviada. Me encarou agora com a preocupação voltada para mim.

-E você? Como está?

-Eu... Quero ir embora.

-Não quer me falar...

-Depois, agora eu só... Só preciso sumir... Por favor.

Ela leu a dor no meu olhar. Acenado positivamente com a cabeça, ela apertou minha mão.

-Tudo bem. Vai pegar o Seiya. Eu e os outros te encontramos. Shun deve estar louco por não ter te achado.

Cansado, apenas acenei com a cabeça. Voltei a caminhar, zonzo e profundamente triste, afinal... Aceitei a verdade dos fatos.

Seiya nunca me olharia como eu o olhava.

Respirei fundo antes de entrar no corredor. Ouvi alguém resmungando algo, mas achei que deveria ser da pista.

A medida que me aproximava, pude ver Seiya de pé, se enroscando em alguém.

Aliás, sendo enroscado por alguém. Ele empurrava a pessoa, que logo voltava a abraça-lo com força.

Fiquei meio em choque. Eles sequer me notaram, estavam de frente para a escada. Seiya reclamava, cansado.

-Me solta, já disse...

-Você me quer também, não negue.

-Não quero agora... Já disse, eu...

O vestido roxo escuro e justo de Shina estava no chão. Apenas de calcinha e sutiã, ela se esfregava em Seiya, e levava a mão dele ao meio de suas coxas.

-Não me quer agora por quê? Por que ficou com aquela sem sal da Mino o dia todo?

-A Mino? Eu fiquei com ela hoje sim, mas com ela é só sexo...

-Então fica fazendo sexo com ela, e na minha vez não quer é? Não pense que vai me recusar Seiya, tem dias que você está me prometendo isso... Hoje vai cumprir...

Ela gemeu com o toque dele, mas ele a repeliu com força. Deu um empurrão abrupto.

-Sai Shina, já disse que hoje eu não quero.

Ele parou surpresa com o ato. Indignada, ajeitou o cabelo, falando nervosa.

-Não me quer? Claro... Além de ficar com aquela sem nada... Ainda ficou se engraçando com outro homem não é?

O Seiya não estava em seu estado normal. E obviamente ela também não.

-O que?

-Eu fiquei de olho em você, dançando com aquele ogro do Ikki. Quase se beijaram. Agora você sai com homens também é? E foi começar logo com aquele estranho...

-Cala a boca Shina...

-Não me manda calar a boca.

Ela o empurrou, e ele a empurrou de volta. Shina começou a desferir vários tapas no Seiya, que se defendia mal e porcamente.

-Me deixa sua maluca. Sai daqui, vai...

Foi tarde quando eu gritei. Os dois estavam se estapeando quando Seiya virou o pé e se desequilibrou.

Antes de cair ele puxou a Shina pelo braço. Com um grito, os dois caíram.

O tempo parou pra mim naquele momento. Gritei alto e saí como louco até eles.

Quando cheguei na escada, com pesar reparei que o final dela era mais longe do que eu pensava. Seiya estava estatelado no chão no final, imóvel. Shina estava se mexendo no meio da escada, com uma mão segura no corrimão.

-SEIYA!

Desci correndo e apesar do escuro pude ver algo que me deixou desesperado.

A perna de Seiya estava em um ângulo estranho. Ele estava com a cabeça virada pra baixo.

E tinha sangue.

Eu não podia mexer nele, e fiquei aflito.

Não.

Não podia acabar daquele jeito. Ele não podia morrer daquele jeito idiota. Não podia.

-SEIYA!

-Para de gritar seu idiota. Me ajuda aqui.

Shina tentava se levantar. Algumas luzes piscaram no corredor acima da gente.

-Você matou o Seiya!

Ela nem parecia se importar.

-Deixa de drama, a gente só caiu da escada. Já já esse sem vergonha levanta.

-ELE ESTÁ SANGRANDO SUA PUTA! VOCÊ MATOU O SEIYA.

Ela me encarou, tentando entender com muita dificuldade o que estava acontecendo. Com certeza devia estar bêbada também.

-Mas que besteira, deixa de frescura seu...

Ela não conseguiu terminar de falar.

E eu apaguei de repente.

-- -- --- -- --

No hospital, Saori andava de um lado a outro no corredor. Saga, sentado perto dela apenas olhava ao redor.

-Isso pode dar problemas...

-Já pedi que se acalme Saori. Temos tudo ao nosso lado para evitar problemas judiciais.

-Mas e Seiya e Shina?

-Estão sendo examinados. Precisamos discutir sobre Ikki. A polícia logo menos estará aqui.

-Eu chamei um advogado. Mas Saga, e as testemunhas?

Saga suspirou, cansado.

-Se seu advogado for bom, vai saber se aproveitar do fato de estarem todos grandemente alcoolizados em uma festa. Nenhum testemunho é confiável, além dos nossos e dos outros rapazes. Acalme-se, tudo ficará bem.

Saori mostrava-se impaciente pela primeira vez em tempos.

-Não entendo por que Ikki bateu na Shina daquele jeito... Ele estava bem quando falei com ele, triste mas...

-Só podemos aguardar que os três acordem Aí saberemos mais ou menos o que aconteceu.

Saori coçou a cabeça, nervosa.

-Isso se eles acordarem Saga.

-- -- --- -- --

Eu acordei em um lugar estranho. A luz era forte acima da minha cabeça. Tudo era branco ao redor. Demorei alguns segundos para me situar.

Soltei um gemido ao tentar me mexer e perceber que estava amarrado. Meus pés e punhos estavam presos por fivelas, assim como minha cintura. Nessa hora, ouvi uma voz familiar.

-Ikki. Que alívio, acordou finalmente.

-Shun? Por que eu...

-Ikki, me escute. Não pode ficar agitado ou... Ou podemos ter problemas. Me ouve.

Os olhos dele estavam arregalados, e por isso percebi que algo não ia bem. Parei de me mexer e aguardei.

-Ótimo. Ikki, você está no hospital. Lembra o que aconteceu antes de... Desmaiar?

Tive que forçar a memória. Shun me olhava de maneira preocupada.

-Eu... Não... Espera...

Alguns flashes iam e vinham na minha cabeça, que estava dolorida.

-Seiya... Seiya caiu de uma escada. Shun, pelo amor dos deuses, me diga que o Seiya não morreu.

-Não, ninguém morreu. Ele e a Shina estão passando por exames nesse momento.

Suspirei aliviado, tão aliviado que senti lágrimas escorrerem dos meus olhos.

-A Shina também? Por que ela está fazendo exames com ele?

Shun arregalou os olhos.

-Você não se lembra?

-Lembrar do que?

Shun suspirou, algo entre alívio e preocupação se misturando diante de mim.

-Espere um pouco.

Ele saiu, me deixando sozinho e confuso por algum tempo. Eu já estava ficando impaciente quando a sala se abriu, e pude ver Shun entrar com Saori, Saga e mais dois homens.

Um deles eu lembrava vagamente. Era o policial que me resgatara quando apanhei de Durval, Frei. Tinha uma expressão séria. O outro era um homem loiro, alto, com uma postura arrogante que me incomodou logo de cara. O cabelo dele era muito comprido, e ele tinha uma franja estranha, reta.

-Saori... Saga...

-Olá Ikki. Como se sente?

Todos estavam com a atenção fixa em mim. A tensão no ar era maior do que qualquer um esperava.

-Estou... Com a cabeça dolorida. Por que... Por que estou aqui?

Saga sorriu discretamente e se aproximou.

-Não se lembra mesmo?

-Honestamente não... Só me lembro que vi o Seiya machucado, e de repente tudo ficou escuro. Nós estávamos na festa...

Frei pareceu satisfeito com algo. O outro homem, porém, me encarava de forma estranha.

-Poderia nos contar tudo o que se lembra?

Saga pediu de maneira gentil. Com algum esforço, contei o que realmente lembrava: eu estava acompanhando Seiya, que estava bêbado, e quando voltei para buscá-lo, ele caiu de uma escada. Eu ia atrás de ajuda, mas tudo apagou de repente.

Todos se encaravam, mas Saori, Saga, Shun e Frei pareciam satisfeitos. O loiro porém, permanecia quieto e distante, me encarando com olhos azuis acusatórios.

-Isso basta para a polícia, bate com todos os testemunhos válidos. Irei retirar as acusações nesse momento.

-Ficamos imensamente agradecidos, e a disposição para qualquer coisa que precise. Gostaria que Shaka o acompanhasse?

-Seria útil... Com a palavra do advogado e a minha, tudo se resolve mais rápido.

-Shaka, poderia...

-Sim Srta. Irei com o policial. Com sua licença...

-Se não for incômodo, eu gostaria de falar com o Sr antes...

Shun saiu logo atrás do policial e do advogado que agora tinha um nome. Shaka. Fiquei sozinho com Saga e Saori.

-Podemos soltá-lo?

-Sim, ele está calmo. Não se lembra do que aconteceu, então... Não vejo problemas.

Saori mesmo começou a desafivelar os cintos, e logo menos eu pude respirar livre. Massageei os pulsos. E perguntei curioso.

-O que... O que aconteceu aqui?

Saga e Saori se encararam.  

-Você... Realmente não se lembra?

-Já disse o que lembro.

Saga suspirou e sentou-se. Fez sinal para que Saori imitasse seu gesto.

-Ikki, ouça-me com atenção. Muita atenção.

Olhei para Saga, a cabeça latejando.

-Segundo Shun, que foi quem chegou primeiro ao lugar... Seiya estava caído no final da escada e você estava...

Ele coçou a cabeça, incomodado.

-Estava agredindo a Shina, berrando que ela tinha matado o Seiya. Algumas pessoas que ouviram seus berros disseram que você bateu a cabeça dela nos degraus, depois começou a desferir socos sem parar.

Eu realmente não me lembrava disso.

-Shun teve que desferir um soco na sua cabeça com as duas mãos para desmaiá-lo, mas no calor do momento você caiu e também bateu a cabeça nos degraus. Shina podia ter morrido ali mesmo se Shun não tivesse chegado a tempo. Ela...

Saori tomou a palavra, incomodada.

-Você quebrou o nariz dela. E o sangue quase a fez sufocar. Shun virou a cabeça dela para baixo a tempo, por segundos... Ela iria morrer sufocada no próprio sangue.

Eu estava incrédulo com aquilo. Eu jamais iria atacar a Shina, eu nunca bateria em uma mulher.

-Eu não... Impossível, eu jamais...

-Não há como negar Ikki. Eu e Saori podemos tentar contornar a situação para que por hora, você fique em liberdade. Mas no mínimo um processo por agressão você irá responder quando Shina acordar. Se ela se lembrar de tudo, com certeza irá querer justiça. E ninguém a condenaria por isso. Agora, o que quero saber é porque motivo você agrediu Shina como fez. E por que Seiya estava caído naquela escada.

Demorei algum tempo até que as coisas ficassem mais claras na minha cabeça.

-Eu... Quando eu encontrei a Saori e fui buscar o Seiya... Ele estava brigando com a Shina, ela estava batendo nele, eles se empurraram e caíram da escada.

-Os dois estavam brigando?

-Sim, acho que ela queria... Queria alguma coisa dele, e ele não concordou, por isso brigaram.

-Ikki, ela estava apenas de lingerie. Você não tentou... Sabe...

Saori me olhava com ansiedade, mas Saga tomou a palavra.

-Já sabemos que isso é impossível Saori, os exames ainda não ficaram prontos, mas a principio não há indícios de molestamento ou coisa do tipo. Ikki não teria motivos para tentar estuprar a Shina. Teria?

-Hã? Que ideia é essa?

Saga pareceu satisfeito.

-Ikki, Saori me disse que você passou um bom tempo com Seiya nessa noite. Isso é verdade?

-Sim... Passei.

-E como foi?

Meus olhos ficaram úmidos.

-O paraíso e o inferno ao mesmo tempo.

Não consegui falar mais nada. Não demorou muito após isso para que Shun voltasse ao quarto.

-Assim que todos melhorarem, Shaka quer falar em particular com cada um. E Frei irá voltar em breve.

-Como ficou tudo, Shun?

-As pessoas na festa que testemunharam a agressão não serão levadas em conta, uma vez que ninguém chegou a ver o que houve antes de encontrarem todos no pé da escada. Sem contar que não havia ninguém sóbrio no momento. Agora todos estão esperando mesmo é que Shina e Seiya fiquem bem para poder ver se lembram do que houve.

-O que será difícil... Seiya estava muito bêbado, Shina também...

-Mas Saori, o Ikki não estava tão bêbado assim...

Saga inclinou a cabeça.

-Ikki, você bebeu na festa?

-Bebi.

-Quanto?

-Não sei dizer...Mas não foi muito, algo em torno de três doses de algum destilado, eu acho.

-Você bebeu essa semana?

-Hum... Algumas vezes, quando saí com Pandora eu devo ter tomado uma taça de vinho ou duas.

Saga revirou os olhos.

-Sentiu-se triste hoje?

-Triste?

-Triste... Sabe, com...

Saori arregalou os olhos, sinalizando a presença de Shun com um aceno discreto de mão.

-Com os acontecimentos do dia.

-Bom...

-Desculpe me intrometer. Eu vi que Ikki ficou meio desligado, teve um momento em que ele... Não sei, apagou.

-Entendo.

Achei estranho que Saga e Shun estivessem conversando tão tranquilamente.

-Vocês já se conhecem?

-Sim. Saga chegou logo depois de Saori no momento em que as ambulâncias retiravam você e os outros da festa. Ele me disse que é seu psiquiatra. Coisa que você podia ter me dito, aliás.

Shun exibiu uma expressão magoada. Saga partiu em minha defesa, e eu fiquei muito grato por aquele gesto.

-Ele queria fazê-lo, mas eu pedi sigilo inclusive da família. Para poder buscar um diagnóstico melhor, sem nenhum tipo de influência externa, negativa ou positiva.

Shun ainda pareceu chateado, mas abrandou a expressão. Saori percebeu que eu precisava de algum tempo sozinho e logo arrumou isso.

-Shun, pode me acompanhar? Quero saber como estão Seiya e Shina.

-Claro, depois eu volto. Vou ficar com Ikki.

Os dois saíram, e eu me encontrei sozinho com Saga. Ele se levantou e se aproximou da minha maca.

-Ikki, eu deveria ter te alertado. Misturar o remédio com álcool poderia deixá-lo sonâmbulo, aéreo... Inclusive piorar um possível quadro depressivo. Como está no começo do tratamento e seu corpo está se ajustando ainda, você ficou triste e “desligou” em algum momento, como seu irmão disse. Mas depois reagiu com extrema agressividade diante de um quadro de estresse. Eu tenho algumas dúvidas.

-Diga.

-Você disse que hoje viveu o inferno e o paraíso. Como foi isso?

Eu estava chorando mais do que o planejado para uma vida em apenas um dia. Mais uma vez minha vista ficou turva. Fechei os olhos e contei a Saga tudo que senti.

-Eu cheguei a festa e comecei a conversar com todo mundo. Seiya já estava bêbado e incomodando os outros. Eu o chamei para dançar... Quase nos beijamos e...

Tive que parar para conter um soluço.

-E então ele vomitou em mim. O levei a um banheiro, Shun nos achou e trouxe roupas limpas. Eu o troquei...

Saga arregalou os olhos.

-Mas não o toquei. Não fiz nada com ele, apesar da vontade ser enorme. Ele nem iria lembrar... Não lembrou nada do que me dissera antes... Eu tive certeza das minhas esperanças por um momento.

Saga apenas escutava.

-Mas ele pediu para sair, ainda não muito bem. Achei um corredor escuro, o deixei lá até achar alguém para nos levar embora. Antes que eu saísse, ele ainda disse que queria o Shiryu... Que o amava e coisas do tipo.

Saga exibiu uma expressão branda.

-Sinto muito por isso.

-E eu saí e achei Saori... Ou ela me achou. Então quando voltei, ainda me lembro pouco dos detalhes... Vi Seiya e Shina brigando e eles caíram. Depois disso tudo é vago. Lembro de sentir raiva, um ódio absurdo e tudo apagou. Acordei aqui.

Saga pareceu considerar algumas coisas. Enquanto eu tentava secar os olhos e respirar devagar, ele se afastou um pouco e foi até a janela.

-Ikki, há algo que você precisa saber. Quando Shun chegou até a escada, você...

Mas nesse instante a porta se abriu e fomos interrompidos. Uma mulher entrou, exibindo uma expressão que misturava preocupação e raiva.

Eu fiquei surpreso.

-Pandora?

-Então era verdade? Você estava mesmo aqui?

-Como... Quem te disse que eu estava aqui?

-Já deveria saber que eu sempre sei do que se passa com as pessoas ao meu redor. O que aconteceu com você Ikki?

A última frase foi dita em um tom mais brando. Quase acreditei que ela se preocupava de verdade e sorri.

Mas Saga tossiu de forma totalmente forçada, e quando ele se virou e o encarou ali, encostado a janela atrás da porta pela qual ela entrara, sua expressão passou da preocupação para a raiva.

Surpreso, ouvi ela soltar um berro.

-VOCÊ! SEU MALDITO DESGRAÇADO!

O que aconteceu a seguir eu jamais imaginei presenciar em toda a minha vida.

Pandora avançou em direção a Saga. Muito rápido.

E desferiu um chute em sua cabeça.


Notas Finais


É...Polícia, advogados, agressão, quase mortes...
A coisa não tá melhorando não...
Terça ou quarta tem mais.
Beijão e abração ^^

Ps: A imagem da capa foi retirada da pesquisa do Google imagens usando "Ikki x Shina". Não tem um autor específico, mas achei por bem avisar ^^


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