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História Eu tentei - Preso em uma teia


Escrita por: Eric_Elgae

Notas do Autor


Ola pessoas!

Como sempre,perdão pela demora. Estamos indo...

Bem, cá está o capítulo de hoje. Espero que algumas coisas sejam esclarecidas. Esse está light, mas o próximo... Argh

Boa leitura, nos vemos lá embaixo.

Capítulo 20 - Preso em uma teia


Fanfic / Fanfiction Eu tentei - Preso em uma teia

 

Enquanto todos falavam pelos cotovelos, eu vi um filme passar pela minha cabeça. E acreditem, era um filme de terror que nunca poderia expressar de forma televisiva o que eu sentia.

Pensando racionalmente depois que fiquei mais calmo, pude entender que obviamente Saga falara a verdade: Pandora armou toda uma situação e Kanon estava aliado a ela. Ele com certeza aproveitou uma oportunidade e só estava esperando o momento certo para agir. Assim limparia a barra com Pandora e de quebra a deixaria com uma dívida com ele.

Mas nublado pela desesperança eu acreditei que Saga realmente fizera aquilo por que discordava do meu modo de agir e do ponto de vista de Saori. Assim sendo, tudo que fiz foi limitar-me a pedir que trouxessem uma roupa qualquer e pronto.

Frei aguardou afastado, enquanto Saori saia do quarto na companhia de Shaka. Saga se aproximou, visivelmente desestabilizado.

-Ikki, isso foi uma grande armação, você precisa acreditar em mim. Você sabe que eu jamais faria algo desse tipo com você, certo?

O mirei com mágoa no olhar. Saga segurava com força no colchão.

-Ikki, por favor. Não pense que…

-A única coisa que me deixa realmente sem esperança é o fato de ter resolvido acreditar em alguém novamente.

O tom que eu usei para dizer isso causou um efeito que eu realmente nunca imaginei ver em Saga. Ele ficou boquiaberto e sem palavras.

-Mas… Ikki…

-Sabe Saga… Enquanto eu estava sofrendo machucados no corpo… Eu podia lidar. Podia mesmo. Mas o que você fez foi pior do que qualquer coisa que pudesse machucar minha carne. Você conseguiu machucar o meu coração. Eu não quis te procurar, fui forçado a isso. Mas quando aceitei o tratamento foi por que, apesar do seu jeito estúpido por vezes, você me deu esperança. Uma esperança que eu não queria aceitar, mas sabia que me motivaria se eu o fizesse. E agora nós estamos vendo aonde isso está me levando.

-Ikki...

-Preso por um crime que não lembro de ter cometido. Perseguido por uma mulher obsessiva. Responsável pela morte de uma amiga. E com meu maior segredo revelado ao mundo todo de uma forma que eu jamais imaginei que aconteceria. Sem chance nenhuma de sequer permanecer por perto da pessoa que eu amo. E isso por que? Por que eu decidi acreditar em uma esperança vazia. Que você alimentou

-Você não está pensando racionalmente…

-Talvez eu nunca tivesse pensado assim. Vai saber? De qualquer forma, vou ter tempo de fazer isso na cadeia, não é?

Saori entrou carregando uma sacola. Estava visivelmente alterada.

-Frei, eu sei que está aqui para fazer seu trabalho e de forma alguma desejo ser um empecilho a isso. Porém, eu agradeceria se trocasse duas palavras com o Dr. Shaka lá fora. Eu gostaria de me… Despedir do Ikki.

Frei mirou Saori com certa intensidade; com um meneio de cabeça ele saiu, deixando nós três a sós. Saori se aproximou da cama.

-Sua roupa. Agora Ikki, preciso que me ouça.

Não respondi. Sentei-me e olhei a sacola com falso interesse enquanto Saori falava baixo mas de maneira apressada.

-Shaka já vai recolher as provas que irão inocentá-lo. As câmeras de segurança do hospital irão mostrar que Saga estava trabalhando, bem como fichas preenchidas por ele naquele horário. Só precisaremos que você diga que nunca falou nada do tipo para Saga.

-Nada do tipo? Do que está falando?

-Da declaração. Sabemos que você pode realmente ter dito aquilo para Kanon quando o confundiu com Saga, mas ninguém mais precisa saber. Isso pode livrá-lo dessa situação toda e impedi-lo de ser condenado no caso dos manequins. Shaka redirecionará as acusações aos verdadeiros culpados. É questão de horas até provarmos a culpa de Pandora e dos Heinstein e deixá-lo livre de toda essa situação. Aí você poderá retomar sua vida normalmente.

Levantei-me, tonto ainda, mas me mantive firme. Ignorando a presença dos dois, tirei o roupão do hospital e vesti a calça, depois a camiseta que estavam na sacola.

-Ikki, você me entendeu?

Mirei Saori com raiva, mas me senti tonto. Acabei bambeando e me sentei abruptamente.

-Ikki…

-Estou bem.

-Então, estamos combinados? Você vai dizer…

Tentava calçar os tênis de corrida que ela trouxe, muito macios no pé por sinal. Fiquei de cabeça baixa enquanto respondi.

-Vou dizer tudo que está me pedindo. E aí vou ficar livre, certo?

Ela suspirou aliviada.

-Isso. E então nós podemos…

-Mas enquanto isso não acontece, eu vou ter que passar um tempo… Uma noite ou um pouco mais na cadeia, correto?

Saori exibiu uma expressão triste.

-Sim, mas isso não é nada, de manhã eu irei visitá-lo e…

-Eu vou passar por isso sozinho. Eu vou ser preso. Eu vou ficar em uma cela com estranhos, eu vou estar sozinho. Algum de vocês vai estar lá?

Saori e Saga ficaram mais desconfortáveis ainda.

-Não, certo? Afinal, a realidade da vida é que quando a coisa fica feia nós temos que enfrentá-la sozinhos. Mas o que é uma noite na cadeia, se eu conto com a magnífica ajuda, influência e apoio de vocês, certo? Eu nem vou ver o tempo passar atrás das grades, sabe-se lá onde. Amanhã mesmo eu estarei livre para uma vida normal… Que maravilha.

Estava cansado quando terminei de me calçar. Saga e Saori estavam realmente desconcertados.

-Acho que eu deveria agradecê-los por tanto empenho… Se não fosse o enorme apoio e incentivo de vocês eu poderia já estar morto não é verdade?

-Ikki…

-Ou talvez fosse melhor que eu tivesse morrido lá atrás. Assim Shina estaria viva e Seiya não se lembraria de mim como uma bicha doente.

Silêncio no quarto.

-Onde está Shun?

-Eu o deixei em casa ontem para que descansasse, ele ficou em vigília constante aqui e…

-Se realmente se preocupam tanto comigo, prometam que irão mantê-lo longe da cadeia. Não quero meu irmão perto de um lugar desses.

-Mas…

-Sem mais Saori. Eu exijo que me prometam isso. Os dois.

A contragosto eles concordaram.

-Muito bem. Vejo vocês então quando forem me buscar na boca do inferno.

– – --- – –

Frei cumpriu sua promessa e não me algemou. Na verdade, ele foi muito gentil, permitiu que até a viatura eu fosse levado em uma cadeira de rodas e não me forçou a entrar como qualquer um faria nesse caso. Aliás, ele mesmo conduziu a viatura, apesar de ter mais duas nos escoltando. Fomos apenas nós, e ele puxou conversa enquanto dirigia.

-Sinto muito que esteja nessa situação. De verdade.

-Hum…

-Saori e o Dr. Saga estão realmente perturbados. Eles se importam muito com você.

-É. Se importam.

Frei me olhava pelo espelho retrovisor.

-Olha eu… Não sei se chegaram a te dizer, mas eu conheço a Srta. Saori há algum tempo. Pouca coisa antes do episódio em que você e Durval… Enfim, aquela confusão. Eu sou… Tenho uma enorme admiração por ela. E sei que ela realmente se importa muito com você e os seus amigos. Sempre me fala de vocês com muito carinho, um certo orgulho até.

-Ela fala, é?

-Sempre que a vejo. Sabe, ela me ofereceu uma chance… E eu vou realizar um sonho que ela vai financiar. Ela é uma verdadeira…

-Deusa?

-Como sabia que eu ia…

-Todos a vemos assim. Natural que você também visse. Ela é boa demais conosco.

-Ikki… Eu sei que tudo que está acontecendo é uma enorme confusão mas eu não entendi nada até agora. Você pode me explicar?

Mirei Frei com certo cansaço no olhar.

-A que se refere?

-A tudo. Você está sendo detido por que o irmão gêmeo do seu psiquiatra se passou por ele e pediu sua detenção, alegando que você é perigoso e exibindo uma confissão. Mas o seu advogado disse que foi uma armação por que o tal Kanon está envolvido com uma mulher que é obcecada em você e resolveu destruir sua vida. Por estarem mancomunados ele aceitou correr esse risco, mesmo sabendo que eventualmente seria descoberto. Eu achei uma história muito fantástica, mas dado o episódio daquela moça recentemente e seu comportamento no momento do flagrante…

-Você estava lá?

-Acho que fomos chamados propositalmente pela tal Pandora. Chegamos ao quarto junto com os seguranças e o rapaz, seu amigo.

-Seiya.

-Isso. Obviamente aquela cena constituía um flagrante inquestionável. Para piorar eu e meus colegas éramos testemunhas de que você estava mastigando um pedaço da moça morta antes de desmaiar.

Levei as mãos aos olhos, chocado ao ouvir aquilo.

-Céus… Pobre Shina.

-Realmente não se lembra de nada?

-Por todos os deuses, não. Depois do momento em que dormi olhando o relógio até o momento em que despertei com você e os outros no quarto, tudo veio em borrões confusos… Flashes doloridos. Frei, como…

Engoli em seco antes de perguntar.

-Ela… Você fizeram uma perícia, certo?

Demorou um pouco até que Frei respondesse.

-Sim. Apesar de não ser preciso, pois o modo como ela morreu estava na internet.

-Ela…

Lágrimas grossas cortaram meu rosto. Gemi de forma estranha e Frei me olhava de forma piedosa.

-Ela sofreu muito? Eu a machuquei demais antes de…

-Você estava drogado. Jamais faria aquilo com alguém em sã consciência, eu acredito em você. Mas ela não sofreu. Dormia e deve ter acordado com a falta de ar. A luta pela vida foi breve, ela faleceu por enforcamento.

Deixei as lágrimas rolarem. A voz de Frei me chamou a atenção outra vez.

-Ela não sofreu nada antes da morte, se isso lhe atormenta. Portanto, não quero que se culpe por algo que sequer se lembra de ter feito. Não foi culpa sua.

-Eu a matei com minhas mãos!

-Mas não por sua vontade. Nem consciente estava. Portanto, a justiça irá retirar o peso desse sangue das suas mãos. Faça o mesmo e retire ele da sua cabeça. Ela foi uma vítima, assim como você.

A voz de Frei era firme mas gentil. Ainda chorei silenciosamente até que passamos reto por uma delegacia.

-Ei. Não tínhamos que ficar aqui?

-Normalmente sim. Mas o que acontece é que em casos de detenção para quem tem nível superior, há o direito de ficar em uma cela separada até que a decisão da justiça diga se o acusado será levado cativo em definitivo ou aguardará o julgamento em liberdade. Infelizmente, na minha delegacia há uma superlotação e as celas reservadas a presos com nível superior ocupam de cinco a seis pessoas. Estamos indo para uma delegacia próxima em que as condições são exatamente iguais, mas com o benefício de não terem acesso a nenhum tipo de informação externa. O que significa…

-Que ninguém lá desconfiará do motivo de eu estar ali.

-Isso. Na minha delegacia os policiais com certeza já comentaram o ocorrido em algum turno, ou qualquer outra situação que seja. Os detentos sabem do que houve, mas claro que não acreditarão em você e podem querer… Sabe, arrumar problemas.

-E nessa outra delegacia…

Frei soltou um suspiro cansado.

-Ela é considerada de segurança máxima por que ali só vão casos realmente perturbadores. Não lembro de ouvir até hoje que alguém dali não fosse direto para prisão, mas creio que você será o primeiro em um longo tempo.

-Que notícia empolgante.

-Ikki… Nada que eu diga vai aliviar o que está passando, mas desejo imensamente que fique provado que isso foi apenas um grande episódio de azar. Falei com meu superior e ele me autorizou ficar nessa delegacia até que você seja liberado.

-Ou preso.

-Liberado. E farei questão de buscá-lo pessoalmente com boas notícias. As celas estão cheias mas são maiores, possuem beliches e com certeza você não ficará no chão nessa noite. Contanto que evite confusão, e sei que o fará naturalmente, as horas passarão rápido. Pela manhã…

-Chegamos?

Frei mirou a placa da delegacia e suspirou.

-Sim. Aguarde uns instantes aqui, por favor.

-Não pensei em ir a nenhum lugar.

Ele me deu um sorriso sem graça e saiu do carro. Fiquei ali pensando sobre tudo e principalmente em Seiya.

Agora que ele sabia… Não era burro, deve ter percebido as situações todas em que nos envolvíamos. Conhecendo-o eu sabia que ele sumiria. Nunca mais eu o veria. Nunca mais eu poderia olhá-lo através do véu fraterno que eu julgava seguro para amá-lo em silêncio.

Ele podia ver meu estado, mas iria sempre saber que eu matei Shina, e no fundo me culparia por isso. Se eu mesmo me culpava… E então ele sumiria… Sumiria e me deixaria sem notícias, sem contato… Apenas vazio, culpado e quebrado.

Que vida promissora.

Frei veio caminhando de volta a viatura coçando a cabeça. Abriu a porta e me ajudou a sair. Passou um braço pelas minhas costas para me ajudar a andar.

-Ikki, o delegado de plantão saiu mas já havia preparado tudo para sua chegada. Eu irei colher seu depoimento com algumas questões que ele preparou e depois te levarei até a cela. Realmente todas estão lotadas, mas há uma cela afastada dos outros que pode comportar mais uma pessoa. Eu só peço que tome cuidado lá e evite conversar o máximo que puder.

-Por que?

-Os detidos ali são recentes. Nenhum tem mais de dez dias preso, aguardando uma sentença. Pelo que entendi todos tem nível superior, mas são de extremo nível de periculosidade. Estão se dando bem talvez por se identificarem em alguns aspectos, mas você, com certeza, vai destoar deles. Portanto, por favor, tome cuidado.

-Não gosto desse tom preocupado Frei. Eu não deveria estar mais seguro aqui?

-Aparentemente você está. Mas quando eu soube quem são os que dividirão a cela com você, achei por bem avisá-lo para redobrar sua atenção. Evite conversar, soube que um deles é um psicólogo e um terrível manipulador. Se eles arrancarem algo de você, não sei como reagirão. Vai entender quando chegarmos lá.

A caminhada pareceu demorar uma eternidade. Mas cruzamos a recepção, sempre acompanhados pelos outros policiais, e adentramos um corredor de paredes esverdeadas e piso cinza. No final dele, uma grade já indicava os locais da detenção. Fizemos um desvio a direita e fui para o interrogatório. Frei se mostrava, sem se preocupar em disfarçar, satisfeito com as respostas prontas que eu prometera dar. Não demorou muito até voltarmos ao corredor estranho.

Após passarmos a grade, vi que a direita havia algumas celas e alguns braços para fora. A esquerda não havia barulho, pelo contrário: um silêncio lúgubre era quebrado apenas pelos passos do pequeno grupo que me carregava até a pior noite da minha vida.

As últimas três grades do lado direito estavam como que vazias, mas seus ocupantes deveriam estar dormindo. Assim como as duas últimas do lado esquerdo. Mas na terceira, as coisas ficaram diferentes.

-Chegamos. Podem abrir.

Antes de entrar, Frei sussurrou próximo ao meu ouvido.

-Aguente firme. É apenas uma noite. Deite e durma, eles não irão te incomodar. E acima de tudo, não converse. Eles podem ser realmente bons em ludibriá-lo.

Quando olhei em volta, a primeira coisa que notei foi que realmente eu não fora enfiado em uma cela qualquer. O cheiro de perfume doce foi a primeira coisa que me invadiu as narinas. Era um cheiro nauseabundo de flor com algo que me lembrava desinfetante.

A grade se fechou e Frei aguardou.

-Companhia para vocês. Ele acabou de sair do hospital, está fraco e precisa descansar. Não quero conversa. Estarei de vigília aqui.

E outra vez em um sussurro:

-Boa noite, Ikki!

A luz era fraca, mas pude ver que havia ali cinco pessoas aparentemente tranquilas.

Um jovem loiro com cabelos ondulados até abaixo dos joelhos e uma franja espessa se penteava em pé, de costas para a saída, contemplando um espelho. Seus lábios eram muito delineados, grossos e pintados em uma cor rosa pálido. Usava uma camisa social branca e uma calça rosa. Na parte baixa do primeiro beliche, um rapaz com cabelos castanho claros, pouco abaixo dos ombros e olhos amendoados quase cor de âmbar dedilhava algo no ar, absorto em fosse lá o que estivesse fazendo. Usava um jeans claro e uma camiseta branca de mangas compridas. Na cama acima dele, um rapaz com cabelos compridos e numa cor que eu não sabia se era cinza ou branco, muito lisos e com olhos tristes de um azul escuro quase preto, me encarou erguendo uma sobrancelha. Passei por eles e no beliche em frente a dessas duas figuras estavam meus outros companheiros: Na parte de cima, uma mulher, pois nada no mundo me convenceria que aquilo era um homem, estava deitada com as mãos cruzadas atrás da cabeça e com um joelho cruzado em cima do outro. Tinha a pele branca em excesso, mas os braços que vi eram fortes. O cabelo era preto, partido ao meio e tinha um olho coberto por parte dele.

O susto veio ao olhar para baixo. Um rapaz quase cadavérico de tão magro usava uma máscara cinza com faixas finas e escuras, com lugar apenas para os furos oculares. Seu olho era meio esverdeado, mas havia certa animalidade em seu olhar. Os cabelos loiros e espetados para cima, raspados nas laterais o deixavam com um figurino peculiar. Parecia vestir uma fantasia bizarra e suas unhas eram compridas. Ao cruzar meu olhar com o dele recuei um passo.

-Não se preocupe. Ele não vai incomodá-lo, é quieto apesar de realmente intimidar com essa fantasia de demônio. Aquela última cama próxima a parede está vazia.

De fato, havia um beliche com a parte de baixo limpa e desocupada.

-Obrigado pelo aviso.

-Por nada. Me chame de Moa se for nos acompanhar durante algum tempo.

Quem se dirigia a mim era a mulher. Que nada tinha de mulher. Ao se sentar, notei que seus cabelos espessos estavam amarrados em um rabo de cavalo baixo. Seus traços eram finos e delgados, mas seu corpo era forte; os braços arredondados e as coxas grossas mostraram um completude física intrigante.

-Sou Ikki.

Deitei-me, percebendo que todos se viraram para mim com olhares esquisitos. Moa saltou da beliche, ficando em pé e revelando vestir uma roupa parecida com a do rapaz no espelho, apesar de sua camisa possuir uma renda rosa clara por todo comprimento.

-Se eu não forçá-los, não se apresentarão como se deve. Alguém quer começar?

Ninguém disse uma palavra, o que fez Moa suspirar e revirar os olhos. Ele me dirigiu um sorriso tranquilo.

-Desculpe, deve ser o tédio e o horário que alteraram os humores por aqui. Normalmente nós nos apresentamos e contamos nossa história, mas pelo jeito…

-Moa, cale a boca. Não percebe que ele não é um de nós?

Quem dissera isso fora o rapaz que se penteava. Ele sequer se deu ao trabalho de se virar.

Moa retrucou, de maneira imperturbável:

-Porque diz isso?

-Olhe para ele. Olhe para nós. Ele é um ogro, rústico. Não tem a beleza refinada que geralmente enche esse lugar.

Moa revirou os olhos.

-Não ligue para o Misty. Quem o ouve pensa que ele mora aqui por toda a vida. Essa reação deve ser apenas uma forma de tentar se proteger.

Misty parou de se pentear e virou-se para Moa.

-Me proteger do que? Não vai começar com suas análises malucas, vai Dr. Morte?

Franzi o cenho.

-Dr. Morte?

-É o apelido que me deram quando me colocaram aqui. Não que faça jus a minha pessoa, porém… Não falemos de mim.

-Claro que não. O Dr. Prefere que falemos de nós, assim talvez se sinta menos monstruoso do que realmente é.

-Então me acha monstruoso, Misty?

-Não venha com jogos de palavras para tentar me ludibriar. Todos aqui somos monstros, se não por natureza, forçados a agir como tais. Se fossemos belos como nossas aparências, estaríamos em capas de revistas. Não em uma cela esquecida numa delegacia afastada.

Misty finalmente me encarou. Me olhou de cima abaixo.

-Agora esse aí deve ter feito algo muito sério, do contrário não acabaria aqui. Não nego que essa aparência bruta deve refletir algo asqueroso, e isso me deixou curioso.

Resolvi ficar quieto a princípio. Ouvi uma voz melodiosa.

-Não se exaltem, lembrem que o policial que o trouxe disse que faria vigília. E eu quero uma noite sossegada.

Moa se virou para o rapaz que estava dedilhando no ar.

-Todos queremos o mesmo, Mime.

-Então fechem a boca. Já compartilhei com vocês meu segredo, agora fiquem quietos.

Misty riu de forma debochada.

-Como se ficar pensando em música pudesse resolver alguma coisa.

-Me ajuda a esquecer.

-Você nunca vai esquecer o que houve. Apenas lide com isso e aceite o monstro que você é.

Mime parou de dedilhar o vazio e se sentou. Jogando a cabeça para trás ele pareceu se contorcer por um pouco e então se levantou, indo até Misty.

-Não me tome por um igual apenas por dividirmos o mesmo espaço. Eu não sou vazio como você é. Lagarto!

Misty pousou a escova em seu colchão e cerrou os punhos.

-Não ouse repetir isso. Me chame de lagarto mais uma vez…

Os dois se encaravam com fúria incontida. Moa se levantou rápido, colocando-se entre eles.

-Parem com isso agora. Ainda estamos sendo vigiados.

A contragosto eles se deram as costas. Mime deitou-se e Misty se sentou, trêmulo de raiva. Moa se dirigiu a ele de maneira gentil.

-Ainda tem raiva por confundirem o nome que adotou?

-Bando de ignorantes! Eles…

-Acalme-se Misty. Olha, por que não conta ao nosso novo companheiro um resumo da sua história? Falar sobre pode ajudar a aliviar, não acha?

Misty pareceu desconfiado a princípio, mas relaxou os ombros e resolveu falar.

-Eu era modelo. Desfilei para várias grifes internacionais, e por ter essa beleza andrógina, podia fazer todo tipo de trabalho. Comecei a me destacar muito cedo, era apenas um adolescente imaturo. Foi aí que os problemas começaram.

-Que tipo de problemas?

-A inveja das pessoas. A língua ferina que não se preocupava em machucar ou elogiar. Eu tinha vários concorrentes que queriam me ver pelas costas. E por causa de alguns que eu acabei aqui.

-Como foi isso?

-Eu fiz algumas amizades que considerava verdadeiras. Mas era algo apenas da minha parte. Uma vez fomos a uma festa e ali, depois de beber e usar todo tipo de drogas eu… Eu…

-Se não quiser falar…

-Não, tudo bem. Eles tentaram… Macular minha beleza. Cortaram minha pele, feriram meus… Meus genitais.

Arregalei os olhos e entrei na conversa sem querer.

-Castraram você?

-Quase. E quebraram uma garrafa de cerveja e a introduziram… Você deve imaginar onde. Enfim, fiquei hospitalizado por meses. Tive que fazer muitas cirurgias. Só consegui me reerguer motivado pelo desejo de vingança. E jurei que faria com que todos os que me machucaram pagassem.

-E foi por isso que veio parar aqui, certo?

-Sim! Eu lembro de me chamarem de Camaleão por que eu não me mostrava mais em ensaios seminu ou nu, faziam troça… E isso atrapalhou muito da minha carreira. Pois bem, após descobrir todos os envolvidos no momento em que fui ferido… Há.. Haha…

Misty teve uma crise de riso, enquanto Moa o observava com um sorriso mórbido no rosto.

-Ele matou os rivais e arrancou a pele deles. Um por um, mas só foi descoberto mesmo no último assassinato por que cometeu o erro de deixar um pertence pessoal na cena do crime. Pelo que soube, a cena era chocante de chegar e ver as peles moles ao lado dos corpos descobertos com músculos e sangue expostos.

-Ué? Eu não era um Camaleão? Não me fundia ao cenário para sobreviver? Pois bem, eu me fundi ao cenário que eles me deram. Me tornei um ser com sede de vingança. E me vinguei. Eu vou sair daqui. Continuar belo, livre e eles… Eles estarão no inferno sentando em garrafas quebradas de vidro quente por toda a eternidade. O Camaleão se alimentou dos pobres lagartinhos… Quase canibal isso, não? Hahahaha.

Misty deitou-se, dando as costas e rindo baixo esporadicamente. Moa me encarou após olhar para Misty com um olhar inquietante.

-Nem sempre conseguimos lidar bem com nossos traumas. A não ser que você seja como Erigor, aí já é outra história.

O rapaz esquelético se sentou ao ouvir seu nome.

-O que está falando de mim, Moa?

A voz dele era tão estranha quanto sua própria figura. Era fina e lembrava maldade de uma maneira integral. Um arrepio correu pelas minhas costas, mas Moa parecia tranquilo.

-Por que não conta para o novato o motivo de ter vindo parar aqui? É uma boa maneira de passar o tempo.

-Não quero!

-Então me permite fazê-lo?

Erigor me mirou com aqueles estranhos olhos esverdeados.

-Já que insiste em não deixar o pobre dormir… Não o poupe dos detalhes.

Moa deu um sorriso quase inocente e se virou para me encarar.

-Erigor adorava se fantasiar de personagens de filme e desenhos. Era um cosplayer feliz, mas um episódio trágico o deixou traumatizado. Ao entrar na universidade, no trote, ele se fantasiou de um animal. Seus colegas não acharam aquilo legal e… Bom, destruíram sua fantasia.

-E por que ele veio parar aqui?

-Descobriram que uma série de mortes dos alunos da universidade que ele frequentava tinha um padrão. E com algum esforço, acabaram chegando a ele. Devo dizer que ele foi muito perspicaz em matar tanta gente da forma que fez e ainda assim levar tanto tempo para ser pego.

Moa mirou Erigor por alguns segundos.

-Ele matou todos os que destruíram sua querida fantasia. A princípio você poderia imaginar que a morte deles fora causada por acidente ou suicídio, mas alguém com o olho mais preciso reparou que todos possuíam cortes similares no corpo, independente do “acidente” em que se envolveram. Uma simples lâmina no ponto certo e eles sangraram até a morte, apesar das inúmeras cenas bem reproduzidas. Claro que apenas quando comecei a conviver com Erigor que pude me aprofundar em sua personalidade e e descobrir que quando pequeno ele sofria muito por ser… Fora dos padrões. As fantasias o ajudaram a se tornar mais engraçado, divertido, aceitável. Mas quando destruíram o seu acesso ao que ele considerava o mundo normal… Tanto ele quanto os outros viram que o ser por trás da máscara era um demônio.

Moa se aproximou de mim com a voz baixa.

-Ele foi mutilado ainda bebê por uma família perturbada e agressiva. É um homem retalhado, acostumado a pouca alimentação e muito exercício, por isso essa compleição magra mas forte. As cicatrizes assustam qualquer um, ele não possui os lábios inteiros nem o nariz. Por isso permitem que use a máscara. Não é uma visão nada agradável.

-Ei, o que estão falando de mim que eu não posso ouvir?

-Acalme-se Erigor. Estou dizendo que você é um exímio criador de cenários, mas não devo elogiá-lo por atos criminosos, certo?

-Não acho que o que fiz seja um crime.

-Claro que não acha. Nenhum de nós acha. Mas em especial o rapaz aí de cima…

Ouvi um fungado e uma voz firme em um tom assassino alertou:

-Não me meta nisso, Moa.

-Eu só queria atrair sua atenção, Albafica.

-Não vou fazer parte dos seus joguinhos.

-Não estou pedindo nada além de um relato. Acho que se todos expormos as razões que nos levaram a estar aqui o novato se sentirá a vontade para saciar a curiosidade que, eu bem sei, todos aqui temos.

O rapaz do cabelo claro suspirou.

-Você é um doente. Não quer contar a sua história primeiro, Dr. Morte?

Moa arregalou os olhos por um milésimo de segundo, tempo suficiente para que eu enxergasse uma expressão cruel e irritada. Mas quase como se fosse mágica ele resolveu me encarar como uma donzela em baile de debutante.

-Eu sou um ótimo psicólogo. Amo minha profissão. Infelizmente alguns dos meus pacientes acabaram não seguindo minhas recomendações e vieram a óbito. Agora a justiça tenta me acusar pela perda dessas pessoas. Obviamente isso não será possível, logo menos serei inocentado.

Aquilo me deixou ligeiramente curioso.

-Por que culpariam você?

-Eu…

-Isso eu posso responder. Moa não gosta de ser contrariado. Quando alguém não fazia o que ele dizia, bom… Ele meio que levava a pessoa a um estado em que ou ela se matava ou ele faria isso por ela.

Moa franziu o cenho, assumindo uma expressão sombria.

-Isso é o que a mídia veiculou Albafica, eu…

-Eu já disse, eu conheci uma de suas vítimas. Eu fui o último contato dela antes… Do final que você a conduziu.

Moa pareceu ligeiramente nervoso.

-Eu… Eu cuidei daquela mulher com todo esmero. Seu caluniador. Você sim é um assassino consciente, está tentando desviar a atenção do seu caso me fazendo uma acusação infundada.

-Eu nunca matei ninguém que eu me lembre.

-Não… Não com pressa, não é verdade? Como que você é conhecido mesmo no meio que “trabalha”?

Albafica pulou do beliche e pegou Moa pela gola da camisa.

-Se abrir a boca uma vez mais…

-Vai me contaminar como fez com os outros? Não tenho as inclinações sexuais que você tem, jardineiro envenenado.

Com um grunhido Albafica empurrou Moa.

-Eu já disse mil vezes que eu sempre deixei minha condição clara. Todos os que aceitaram se relacionar comigo sabiam o que estavam fazendo.

-Isso não importa. Você é o soropositivo. Você sabia disso e ainda assim trabalhava como garoto de programa de luxo. Como é possível que você, consciente de tal circunstância, ainda expusesse pessoas a doença se reacionando com elas de forma desprotegida?

Albafica estava lívido.

-Eu sempre, SEMPRE deixei claro minha condição. Eu exigia que se afastassem. Mas não. Eles queriam o risco. A emoção. A sensação de se sentirem invulneráveis, mais fortes que o vírus, por um momento de prazer pele a pele. Mas insistiam. Me ameaçavam. Se eles queriam e iriam me pagar por isso… Pois bem. Eu aceitei. Mesmo condenado, com o que ganhava eu podia ajudar outras pessoas.

-Sei… Ajudar dez enquanto contaminava cem, mil… Grande ajudador você. Deveríamos canonizá-lo. Santo Albafica, padroeiro dos doentes infecciosos.

-Seu…

Moa afastou-se com um empurrão abrupto. Mirava Albafica com olhos ameaçadores.

-Não tenho interesse em pegar AIDS, então mantenha suas mãos sujas afastadas de mim, por favor. Quero me manter limpo para quando sair daqui tocar minha vida normalmente.

Albafica deu um sorriso escarnecedor.

-Limpo? Você pode não ter HIV mas isso não quer dizer que você seja limpo, Moa. Você pode ser o mais perigoso de todos aqui. O mais podre. O verdadeiro sujo. Não pense que sua carinha bonita me engana, ou que sua falam mansa e cordata me fazem acreditar na sua bondade. Você é pura ilusão, Dr. Morte. Não passa de um demônio de fantasia.

Alguma daquelas palavras realmente enfureceu Moa, que perdeu a expressão bondosa e de repente realmente pareceu…

-Um demônio! Não ouse falar de mim assim, seu…

-Calem a boca, vocês. Que discussão irritante.

Moa e Albafica ainda se encaravam com olhos coléricos, mas ao ser chamado a atenção, Moa se virou para a direção de Mime.

-Como é?

-Já ouvi tanto essa discussão… Agora você vai querer questionar Albafica por ser um jardineiro de dia e cultivar rosas, o fato de usar o broche com a rosa vermelha dentro do laço cruzado que o indica como portador de HIV e todo o resto. Poupem-me disso, já está ficando repetitivo.

Mime se sentou. Ele encarou os outros com uma expressão de desprezo.

-Vocês ficam aí nessa disputa de ego para ver quem é o mais doente, o mais perigoso, e depois se fazem de vítimas, de coitados que “agiram pela circunstância”. Não fazem ideia do que realmente é ter que agir por uma circunstância.

Percebi um sorriso discreto em Moa.

-Claro que não… Perto de você nós não sabemos nada, não é sábio harpista?

Moa se virou para mim.

-Ikki… Sabia que Mime é um músico excepcional? Deve ter ouvido falar nele se gosta de música, por um pouco que seja. É uma dos maiores harpistas existentes. Já tocou em mais da metade do mundo, nos maiores teatros e com as melhores orquestras.

Franzi os olhos, surpreso.

-Mime? O Mime? O…

-Estrela vermelha. Exato. Detido por causa de dois assassinatos. Que aconteceram, obviamente por que ele foi uma pobre vítima das circun…

-CALADO!

Em uma velocidade absurda, Mime estava segurando Moa pela gola da camisa. Todos se levantaram e aguardavam, tensos de certa forma.

-Calado ou eu…

Moa parecia tão calmo que dava nos nervos.

-Ou o que? Vai querer arrancar minhas tripas como fez com seus pais? Eu não sou um velho vulnerável para sucumbir diante de um ataque covarde.

-Tire as mãos dele, músico.

Mime se virou para Erigor, que se tremia todo e o mirava de maneira estranha.

-Ou o que? Vai querer me fatiar como se eu fosse salame na padaria?

Erigor ia avançar para cima de Mime, mas Albafica se colocou entre eles.

-Parem com isso, o policial pode ouvir e isso…

-Tem medo de alguma coisa, aidético? Pra quem contamina os outros tomar uma chamada de atenção de um pm não devia ser muita coisa.

Albafica rangeu os dentes, e dessa vez Misty se interpôs entre ele e Erigor.

-Todos vocês, parem. Ouçam, tem gente chegando.

De fato, não demorou até que uma luz brilhasse forte e um cassetete batesse entre as grades.

-Ei vocês! O que está havendo?

Com o rosto vermelho de raiva, Mime soltou Moa com um empurrão e se deitou. Os outros imitaram seu gesto e cada um rapidamente ocupou sua cama. Pude ver Frei me procurar, ansiedade estampada no rosto.

-Ikki?

-Aqui.

-Pode se aproximar?

Me levantei e fui até a grade. Frei me entregou um embrulho pequeno.

-Uma refeição. Saga disse que você não comeu nada e pode se sentir fraco por isso e por conta dos remédios em excesso. Por favor, tente alimentar.

Sem emoção, peguei o embrulho. Agradeci sem ânimo.

-Está tudo bem aí?

-Parece. Eles brigaram a pouco, mas estavam contando como vieram parar aqui.

Frei parecia preocupado.

-Lembre-se do que te pedi: evite falar, evite conversa, permaneça quieto. Coma e tente dormir, creio que em breve virei retirá-lo daqui.

Acenei com a cabeça em concordância.

-Estarei no fim do corredor, ouvidos atentos. Qualquer problema me chame, se eu sair é apenas para banheiro ou coisa do tipo. Fique tranquilo, logo menos as horas passarão e o dia vai amanhecer.

-Obrigado Frei.

Ele sorriu sem graça e saiu olhando para a cela. Voltei para a cama e me deitei.

-O guarda pareceu bem íntimo de você. Já se conhecem fora daqui?

Não respondi Moa. Desembrulhei o pacote e vi alguns sanduíches naturais. Pelo modo como tinham sido feitos, com certeza era coisa do Shun.

Me deu um aperto no peito lembrar do meu irmão. O coitado deveria estar passando o inferno com aquela situação, e por minha culpa. Quanto trabalho mais eu daria a ele dessa forma?

E os outros? Quanta gente se preocupando comigo? Saori, Saga… Os outros…

Sim, eu ainda estava com raiva do Saga e da Saori de certa forma. Mas isso iria passar depois.

-Ikki?

-Não o conheço como você está sugerindo. Aqui, pegue um.

Estendi o embrulho a Moa, que me olhou assustado.

-O que é isso?

-Um sanduíche. Vai querer ou não?

Desconfiado, Moa levou a mão e pegou um sanduíche. O encarou desconfiado.

-Mas…

-Ei, vocês. Eu não vou comer, estou me sentindo mal. Querem?

Os outros me olharam de maneira tão desconfiada quanto Moa.

-Podem pegar. Me mandaram sanduíches, mas honestamente não consigo comer nada agora. Se quiserem, peguem.

Mime e Erigor se aproximaram desconfiados. Misty não tirou os olhos de mim enquanto pegava. Albafica apenas olhava.

-Ei. Tem um aqui para você.

Coloquei a vasilha na cama dele que pareceu ficar emocionado por um instante até comer também. Voltei a me deitar.

-Ikki. Por que está partilhando sua comida conosco?

-Eu não consigo comer. Tem praticamente um pra cada. Qual o problema em dividir?

-Ninguém faz nada de graça nessa vida.

A voz de Moa soou ligeiramente amarga.

-Como profissional da saúde, e culto pelo que vi, deveria conhecer a famosa citação: “De graça recebei, de graça dai.”

Moa me encarou, sério enquanto mastigava.

Um silêncio estranho quebrado apenas pelas bocas mastigando terminou quando Moa limpou a boca com as costas da mão e me dirigiu a palavra.

-Você é diferente.

-Como?

-De nós. Você é diferente.

-Eu disse isso mais cedo! -A voz de Misty soou debochada.

-Por que está aqui?

Suspirei cansado.

-Podemos falar disso amanhã.

-Ikki, por favor, me responda apenas isso. Por que está aqui?

-Fui acusado de matar uma amiga e sequer me lembro disso. Fui drogado e transmitiram tudo pela internet. Esse é meu crime.

Todos pareciam me encarar com surpresa no rosto.

-Então seu caso foi… Em tempo real?

-Mais ou menos. A população pediu minha prisão, mas o pedido formal veio… Ao que parece, do irmão gêmeo do meu psiquiatra.

Moa piscou, abobado.

-Que… Caramba! Isso eu chamo de azar.

-É… Azar…

E a avalanche veio. Acabei soltando tudo de uma vez.

-Azar ter cruzado com aquela louca. Me apaixonado. Confiar nas pessoas. Tudo isso me trouxe para o fundo de uma cela cercado de assassinos. Que bela história para contar para os netos, se um dia eu tiver algum…


Notas Finais


É...
Que situação...
Preparem o lenço para o próximo. Vai ser punk.
Um beijo e um abraço. E até mais ^^


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