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História Eu tentei - Baby boy


Escrita por: Eric_Elgae

Notas do Autor


Olá pessoas lindas ^^
Mais um capítulo da nossa história no ar. Quero agradecer imensamente os comentários e as mensagens do face, a companhia de vocês me alegra demais.

O capítulo de hoje não exige nenhuma nota específica. Podem ler tranquilamente.

Boa leitura, nos vemos lá embaixo.

Capítulo 7 - Baby boy


Fanfic / Fanfiction Eu tentei - Baby boy

-Sífilis.

Saga me encarava, a expressão um tanto incrédula.

-Sífilis?

-Depois de um mês e meio da cirurgia, comecei a sentir dores musculares que pareciam andar pelo corpo, muita febre, dor de garganta que não passava e dificuldade para engolir e mastigar. Pediram um milhão de exames e aí diagnosticaram. Por sorte foi bem no começo e não tive mais problemas além disso. Como isso aconteceu depois do episódio com Aracne, resolvi avisá-lo. E o médico disse que a Sífilis pode ser transmitida pela prática da zoofilia.

-Céus...

-Ele disse que sabia da chance de ter pegado isso do cachorro, por isso tinha mandado sacrifica-lo havia pouco tempo. Fiquei meio assustado, ele parecia amar o bicho, mas vi que não. Era só mais um louco. Percebi pela mudança de humor na hora do... Naquela hora. Nunca mais vi, nem quis saber dele.

Saga ficou em silêncio por algum tempo.

-Entendi. Bem, isso ajuda a esclarecer muita coisa. Por hoje acho que merecemos um descanso.

-Então...

-Pode ir. Passarei os exercícios a Saori, como de praxe. E parabéns, vejo que os exercícios estão sendo bem feitos.

-Co... Como é?

-A forma que usou para falar dos outros foi muito boa, senti como se eu mesmo os conhecesse. Parabéns por isso. Tenha uma boa semana.

Confuso com a atitude cordata de Saga, me despedi e aguardei por Saori.

-- --

Uma semana depois, estava eu lá outra vez.

Confesso que a atitude de Saga na última consulta, apesar de tudo que eu contei ainda me deixara meio desconfiado. Parecia por vezes que em uma consulta era uma pessoa, e na seguinte outra totalmente diferente.

Saori me deu uma carona naquele dia, e chegamos juntos ao consultório. Na última sessão ela apenas quis saber se eu tinha em mente o que contaria dali em diante para Saga. Fui sincero, alguma coisa eu tinha ideia, mas tudo ia depender de como ele se portasse comigo. Saga nos recebeu com um sorriso quando adentramos sua sala.

-Boa tarde. Espero que estejam bem.

-Sim. Obrigado.

-E aconteceu algo nessa semana Ikki? Que queira me contar?

Sentei-me e esperei para ver como ele estaria naquele dia.

-Nada. Não me envolvi com ninguém estranho, fiquei tranquilo... Correu tudo bem.

-Que bom pra você.

-Eu estava até desfazendo alguns contatos antigos e achei um de uma história que pode interessar, não sei.

-Mesmo?

-Sim.

-Antes disso, eu preciso te falar algumas coisas. Que podem não ser agradáveis.

Eu meio que esperava por aquilo. Eventualmente Saga iria me falar algo sobre meu comportamento.

-Diga.

-Ikki, geralmente pessoas com problemas de imagem expõem uma preocupação irrealista, com temor de ser abandonado à própria sorte. Já sentiu algo assim, certo?

-Sim...

-Bom que está admitindo. Essas crises de ansiedade que deflagram essa busca por atenção e carinho também se encaixam no perfil de alguém que precisa de tratamento. Consegue me entender?

-Sim, sim...

-Há quanto tempo estamos nos vendo?

-Um mês e pouco...

-Exato. Não passei nenhum remédio ainda por que preciso saber mais de você. Mas antes que se confunda, preciso deixar claro que se eu te der atenção, é por razões profissionais e apenas isso. Eu poderia te manipular e fingir que você é extremamente interessante, assim arrancaria tudo que quisesse de uma vez só. Mas não gosto desse tipo de coisa com alguém tão doente como você está. Me entende?

O tom dele era tranquilo, mas eu me senti cheio de raiva. Ele falava como se eu pudesse me envolver com ele ou coisa do tipo.

Se Saga não tivesse sido tão gentil na consulta anterior e como havia começado nessa, eu normalmente partiria pra cima dele. Na verdade, até andei treinando com alguns rapazes do mesmo porte na academia para o caso de ter que arrebentar aquela cara arrogante a qualquer hora.

-Eu não acho que isso poderia acontecer.

-Poderia sim. Eu sou ótimo com as pessoas, poderia fingir que havia algo além da relação médico-paciente e pronto. Teria acesso ao seu coração e cabeça muito facilmente, por que você é um carente exacerbado. E convenhamos, eu sou fantástico, em todos os sentidos da palavra.

Foi a única vez que ouvi Saori dar uma risada. Sutil, mas ainda assim estava lá.

-Meu medo é que você acabe se envolvendo em coisa pior só pra manter uma fantasia criada pelo que possa vir a entender da nossa relação. Então, desde já saiba que eu não tenho interesse nenhum em você. Primeiro por não ser gay, e segundo por que se fosse pra ficar com algum homem, o último na terra seria você. Fui claro?

Engoli em seco.

-Eu nunca sequer pensei nisso. E eu não sou gay, já te disse.

Saga deu um sorriso muito debochado pro meu gosto.

-Tanto melhor, isso alivia muita coisa. Agora veja, eu já tenho uma ideia do que te acomete. Mas preciso saber se há algo pior do que o que você já me contou antes de dar um diagnóstico definitivo.

De fato, eu não pensei em Saga como um possível companheiro de... De nada. Eu nem dele gostava, apenas estava confuso com o comportamento dele. E por não saber lidar, queria saber aonde aquilo ia dar.

-Sim.

-Então vamos em frente.

-Certo.

-E nesse caso que vai me contar, teve algum ferimento ou coisa do tipo?

-Não, na verdade não. Foi apenas muito esquisito.

-Tempo nós temos. Pode começar a falar.

Por que ele agia daquele jeito irritante e meigo ao mesmo tempo?

-- --

Nós fazíamos visitas regulares ao orfanato. Como forma de trabalho social, para rever nossas origens, cumprimentar os funcionários que ainda estivessem por lá.

E para nos vermos também, estimularmos as crianças novas a seguirem em frente, esse tipo de coisa.

De certa forma nos fazia bem.

Numa dessas visitas, conversando com o pessoal do lugar, Shun e os outros se dividiram. Eu geralmente ficava mais perto dos meninos mais mal encarados ou dos que tinham problemas de comportamento.

Me identificava. Conversava. Era muito bom nisso. Geralmente quando eu voltava, ouvia boas notícias sobre aqueles garotos.

Naquela vez eu terminei minhas visitas antes dos outros. Seiya e Hyoga estavam farreando com os maiores, jogando bola. Shun arrancava suspiros das garotinhas que o rodeavam, jurando que ele era um príncipe. Shiryu conversava com os garotos que ficavam de canto lendo ou jogando alguma coisa. Fui até a cozinha procurar algo para beliscar enquanto eles estavam ocupados, e no meio do caminho passei próximo ao berçário.

Uma das garotas que cresceu conosco se chamava Mino. Ela estava encostada a porta dos pequenos, com uma expressão cansada.

Pude sentir de longe que ela estava inquieta. Ela cresceu, e se tornou assistente social, trabalhando por ali mesmo. Era muito meiga, uma das pessoas mais gentis que conheci.

E era a melhor amiga da Esmeralda.

Apesar de não ser mais uma menina, ela ainda usada duas marias-chiquinhas no cabelo escuro. Sempre estava de vestidos, e falava baixo geralmente.

Eu não tinha muito assunto com ela por que me doía, essa era a verdade. Inevitavelmente esbarrávamos em alguma lembrança de Esmeralda, e isso me machucava muito. Mas vê-la tão absorta, com o olhar atento para a sala dos bebês me deixou curioso. Toquei em seu ombro, e ela se assustou.

-Hei, calma. Sou eu.

-Ikki.

Ela suspirou aliviada. Me deu um sorriso nervoso.

-Me assustou. Quanto tempo...

-Desculpa. Tanto pelo susto quanto pela ausência.

-Muito ocupado?

-Aquela academia consome minha alma. E você, como está?

Conversamos algumas amenidades. A todo instante ela espiava o berçário. Tive que perguntar.

-O que acontece?

-Oi?

-Você está inquieta, toda olha olhando para dentro. Qual o problema?

Ela deu um sorriso sem graça.

-Não é um problema na verdade.

-Não?

-Não. É esse rapaz, sabe? Ele sempre vem aqui fazer visitas aos pequenos. E... Há Ikki, deve ser coisa da minha cabeça.

Ela conhecia muito das pessoas para ter desconfianças assim. Olhei para dentro da sala e vi um rapaz extremamente branco, com um sorriso estranho e grande, debruçado sobre um dos berços. Brincava com um chocalho, e o bebê ria gostosamente. Talvez também pelo fato dele chacoalhar a franja que cobria parte do seu rosto junto com o chocalho.

-Quem é ele?

-Chama-se Kassa. Ele cresceu aqui também sabia?

-Sério? Não me lembro dele.

-Nem eu. Mas está nos registros, por isso ele pode visitar o lugar. O que me deixa desconfiada, desconfortável, é que ele só fica aqui no berçário. Não fica com crianças mais velhas, sabe? Só com os bebês menores.

-E qual o problema disso?

-Não é um problema, como eu disse. Mas eu não sei, acho ele muito esquisito. E não é só pelo nariz enorme e o cabelo metade arrepiado, metade com essa franja estranha. Não sei, ele tem alguma coisa meio animal, meio... Sabe, tipo um réptil.

Eu prestei atenção um pouco mais. Ele era magro, vestia-se com uma camisa azul clara e calças sociais pretas, combinando com o sapato. Parecia um cara normal.

-Não é dos mais bonitos, mas me parece inofensivo.

-Não sei explicar, mas sinto como se isso fosse... Uma máscara, um disfarce.

-Os bebês não gostam dele?

-Adoram. Geralmente lembram dele. Mas por exemplo, já deve ter uns cinco anos que ele vem aqui. Os que eram bebes e estão maiorzinhos que ainda estão aqui são completamente ignorados por ele. Muitos ficam tristes, por que amavam o “tio” Kassa e ele os ignora.

Aquilo era uma atitude estranha. Fiquei automaticamente intrigado com aquilo.

-E ele fica extremamente hostil quando alguém se aproxima dos bebês quando ele está por perto. Nunca vimos nenhum tipo de mau trato, mas eu não sei... Mantenho um olho aberto quando ele está aqui.

Ficamos alguns segundos observando.

-Ikki, pode me fazer um favor?

-Diga o que é.

-Poderia... Sondar esse cara? Tentar descobrir o porquê dele só visitar os bebês?

-Eu? Não tenho o menor jeito pra isso Mino.

-Por isso mesmo. Ele deve te conhecer de vista, você não faz o perfil de que tem jeito com crianças. Sei lá, inventa uma história e vê o que consegue. Qualquer coisa vale. Por favor?

Não tinha como recusar um pedido de uma velha amiga.

-Vou fazer o que posso, mas já disse, sou péssimo nisso.

Ela me agradeceu de forma sincera. Segurava minha mão com força.

-Obrigada. Vai tirar um peso de mim saber qualquer coisa sobre ele.

Suspirei fundo. Tive que pensar rápido.

Kassa já estava brincando com uma menina gorduchinha, erguendo ela acima dos ombros enquanto ela ria a medida que subia e descia nos braços dele. Bati na porta.

-Com licença.

Kassa me lançou um olhar meio que surpreso, e após me analisar de cima abaixo colocou a garotinha no berço.

-Toda. O que deseja?

Seu olhar era desconfiado.

-Não sei bem... Eu... Estou meio perdido.

-Perdido?

-É uma situação... Complicada.

Fui até um dos berços mais afastados. Um menino de aproximadamente oito meses vestido em um macacão verde dormia tranquilamente. Me debrucei no berço e fiquei ali, pensando em como ele se parecia com Shun quando era pequeno.

-Eu... Não tenho contato com crianças a muito tempo. E agora que as coisas mudaram,

eu não sei... Se eu pudesse treinar um pouco, talvez.

-Treinar?

-Acho que vou virar pai em breve, mas tenho medo de lidar com bebês. E se eu machucar algum deles? E se eu não for um bom pai?

Admito que não era algo que fazia meu estilo, mas...

-Você deve estar mesmo preocupado com isso.

-Desculpa, eu nem te conheço e já estou despejando meus problemas em cima de você.

Kassa pareceu mais relaxado.

-Não há problemas. É normal se sentir inseguro. Os bebês são fascinantes, mas podem ser intimidantes pra alguns. Veja só essas coisinhas aqui...

Kassa segurou uma garotinha tímida que logo encaixou o rostinho na curva do pescoço dele.

-Há pessoas que as deixariam sem sentir uma gota de remorso. Nós sabemos que não é assim com as que aqui estão, mas pense nos malditos que abandonam esses pequenos...

Havia raiva na voz do rapaz.

-Não consigo aceitar que alguém tenha o dom de por no mundo uma criaturinha dessas e depois a abandone... Seja por medo, incapacidade ou coisa do tipo. Se fosse eu a ter uma criança, jamais a deixaria ao cuidado do mundo.

-Você parece ter jeito com eles...

-Eu me identifico. Na verdade, tento suprir nessa primeira fase da vida deles a figura de um pai, pelo menos até que eles fiquem maiorzinhos. Eu sei a falta que um me fez.

Kassa balançou a pequena por um tempo e ela logo dormiu. Ele a colocou no berço.

-Também perdeu seus pais?

-Até onde sei minha mãe morreu no parto, e meu pai cuidou de mim até os seis anos. Depois ele... Desapareceu e eu vim para cá. Tive sorte, admito. Mas sempre me perguntei o por que. Eu só...

Eu sabia bem o que ele ia dizer.

-Queria alguém que cuidasse de você.

Kassa me encarou com um sorriso.

-Exato.

Ficamos em silêncio por alguns segundos. Kassa pegou suas coisas e já ia saindo, quando eu o ouvi me chamando.

-Eu tenho algum tempo livre agora. Se quiser algumas dicas sobre bebês, nós podemos tomar um café ou coisa do tipo.

Já que eu tinha conseguido esse gancho, decidi aproveitar.

-Me chamo Ikki. Prazer.

Nos demos as mãos e ele me deu uma boa olhada de cima abaixo.

-Kassa. O prazer é meu.

-- --

Saga coçou a nuca. Me encarou com um olhar frio.

-Antes que continue, nessa situação você não se machucou, correto?

-Correto.

-Esse episódio que está me contando você definiu como...?

-Esquisito.

-Por que acha isso?

-Bom, eu... Senti pena do cara, mas depois que toda a situação passou.

-Foi mais um episódio pontual, coisa de um dia ou foi mais duradouro?

-Eu o encontrei durante alguns meses. No café que tomamos, ele falou sobre crianças e tudo o mais. Ele realmente sabia do que falava. Eu o indaguei a fundo, o porquê saber tanto sobre algo se não tinha a intenção prática de ser pai um dia.

-Você desconfiou dele?

-Segundo as suspeitas de Mino e as minhas mesmo, a princípio achei que ele poderia ser um pedófilo. Mas me enganei muito, ele jamais faria algo do tipo.

-Quando chegou a essa conclusão?

-Após algumas semanas saindo juntos, eu sustentei a história de possivelmente virar pai. Ele me deu dicas realmente importantes, se eu estivesse de fato interessado nisso... Mas aí chegou o dia em que ele comentou algo sobre colocar em prática.

-Colocar em prática? Como?

Suspirei. Aquilo era estranho para mim ainda, mesmo depois de algum tempo.

-- --

Devia ter um mês e meio que eu encontrava Kassa para falar sobre bebês. Eu mantive essa frequência pra tirar todo resquício de dúvida sobre as intenções dele com as crianças do orfanato.

Depois desse tempo, ele passou a me interpelar sobre meu desejo de ser pai, como eu cuidaria dos meus filhos, como eu me sentia e tudo o mais. Após alguma conversa, ele sugeriu que eu poderia testar minhas aptidões paternas ou até mesmo aperfeiçoa-las junto com ele.

Quando perguntei como, ele começou a me falar sobre infantilismo. Era uma prática não tão incomum, em que um adulto se comportava como criança enquanto o outro cuidava dele como se fosse seu bebê.

Eram então formados os pares de “daddy” e “baby”.

E pronto. Um ficava sendo feliz sendo cuidado, e o outro ficava feliz cuidando.

A princípio fiquei meio chocado com isso. Kassa me apresentou um estilo de vida. Era uma rotina pré-estabelecida que ele seguia a risca. E caso houvesse rebeldia por parte do baby, o daddy poderia castigá-lo.

Ele faria o papel de meu filho.

-- --

Saga piscava algumas vezes, meio incrédulo com o que eu acabara de revelar.

-Você manteve um relacionamento desses com esse rapaz?

Fiquei levemente corado, talvez pela forma com que Saga colocou a situação.

-Bem... Ele disse que me notou durante nossas conversas, que me achava incrível e tudo o mais. Disse que o meu jeito transmitia segurança a ele, e se eu quisesse tentar bancar o pai por algum tempo... Ele ficaria mais do que feliz em interpretar o filho.

-Oras. Mas isso é uma surpresa. Você que evitava se relacionar por conta do que aconteceu no passado aceitou se envolver com um infantilista. E logo um homem.

-Pois é.

-Então você ficou com ele por algum tempo... Antes que prossiga, me diga: por que romperam?

Cocei a cabeça. Eu tinha um certo receio de me lembrar daquilo.

-Por que eu fui cruel com ele.

Saga se ajeitou na mesa, se inclinando em minha direção?

-Cruel?

-Sim.

-Não entendo.

-- --

Eu comecei a sair da academia no fim da tarde. No primeiro dia, passei em uma farmácia e comprei um kit criança.

Uma mamadeira azul. Chupeta verde. Chocalho. Talco.

Fraldas extragrandes que obviamente não couberam no primeiro dia.

Depois fui ao mercado. Leite em pó. Papinhas. Frutas.

E enfim, uma loja de fantasias. E lá comprei pijamas de cobrinhas, cachorrinho, gatinhos, e mais todos os bichos fofos que puderem imaginar.

E com essa parafernália no carro, me dirigi até o apartamento onde meu futuro baby me esperava.

Ao subir no edifício de Kassa- que por sinal era de alto nível- toquei a campainha e fui recepcionado por uma homem pelado, sentado no chão e chorando feito criança.

-- --

-Não quero acreditar que você fez isso.

-Oras, fiz... Nesse primeiro dia, ele disse que eu estava atrasado e ele sentia medo de ter sido deixado sozinho. Chorava alto, e eu tive que me ajoelhar e colocá-lo no colo.

-No colo?

-E dei a chupeta. Saga, ele estava chorando de verdade, se agarrava a mim como um dos bebês do orfanato.

-E você...

-O embalei. O acalmei dando um iogurte, depois... Céus...

-Ikki?

-Eu o levei até a banheira e dei banho nele. Com esponjinha, sabonete infantil e tudo o mais. Até patinho de borracha mais pra frente eu arrumei para ele.

-E... O que mais?

-Como eu disse, não havia nenhuma conotação sexual. Ele só queria mesmo ser cuidado. E o olhar dele foi o que me prendeu. Ainda que eu visse ali a sombra de uma máscara, como Mino tinha falado, ele me olhava com admiração, felicidade genuína. Kassa estava feliz que eu fosse... Sabe... Sua figura paterna.

Saga revirou os olhos.

-Não achou mesmo que seria um tanto quanto inadequado tentar reproduzir uma figura paterna sendo que você nunca teve uma?

-Não pensei nisso. Além do que ele gostou, tá legal? Depois que peguei o jeito de banhá-lo, e claro, tive que depilá-lo para deixar a coisa mais... Inocente. Aprendi a passar talco, colocar fralda, pijama...

-Só falta me dizer que você lia historinhas pra ele dormir.

-Lia. Pendurei móbiles no quarto dele, adaptei a cama para que virasse um berço gigante, deixei o quarto colorido... Lia livros e o carregava no colo.

Saga se levantou e caminhou até a janela.

-Ok. Você cuidou de um bebê gigante, deu mamadeira na boquinha e toda essa cena ridícula. Então por que raios você abandonou seu bebê?

-Ele ficou muito malcriado. Fazia birra. Não queria comer ou tomar banho com frequência, estava rasgando os livros, quebrando os brinquedos, reclamando do jeito que eu tratava ele. Fui obrigado a puni-lo.

-Mas isso não era fase? Digo, levando em conta que você estava tratando de um bebê...

-Não. Ele queria ser castigado. Precisava ser castigado pelo mau comportamento.

-E óbvio que você como “pai” era responsável por isso.

-Sim.

-O que aconteceu para que tivesse que ser mais... Severo com ele?

Engoli em seco.

-Ele me ameaçou.

Saga arqueou uma sobrancelha.

-Ameaçou? Como?

-- --

Eu tive uma semana difícil. Pagamentos, banco, fornecedores, alunos novos... Não dera atenção para Kassa naqueles dias. Na sexta feira, avisei que iria vê-lo. Mandei uma mensagem, e ele me respondeu apenas com um OK.

Para compensar minha ausência, comprei uma lagarta de pelúcia vermelha pra ele, algumas besteirinhas doces e um brinquedo de montar que ele queria há anos. Quando cheguei lá, Kassa estava em meio a um caos total.

O quarto de bebê estava todo rabiscado. Os bichinhos de pelúcia rasgados. Espuma e penas por todo lado. Fraldas usadas pelo chão.

Uma verdadeira zona.

-O que aconteceu aqui?

Ele usava uma voz anasalada e birrenta que a partir daquele dia me tirava do sério.

-Eu fiquei sozinho. Com raiva. E matei todos eles.

Começou a discussão. Ele reclamou da ausência, fez birra, cruzou os braços, mostrou a língua. Eu disse que ele já estava grandinho, precisava entender que o papai tinha obrigações e ele não podia fazer aquilo.

Aí ele deu a resposta problema.

-Se o papai não ficasse atrás de quem não te quer, isso não teria acontecido. Eu sou seu bebê, você tem que me amar.

Estranhei grandemente o que ele dissera.

-Como é?

Assumindo uma postura nada infantil, Kassa se levantou e pegou seu celular. Na sala, o homem frio e calculista que ele era se revelou diante de mim.

-- --

-O que ele fez?

-Ele...

Busquei os olhos de Saori, que acenou com a cabeça como se me encorajasse a continuar. Suspirei.

-Ele tinha no celular fotos. Vídeos. Ele fez um caderno de anotações com os meus horários, onde eu ia, com quem eu ia... Estava me seguindo. Sabia todos os meus movimentos.

-Hum...

-E ele... Descobriu que eu estava interessado... Nele...

-Ele descobriu de quem você gostava?

-Gosto. Sim. Mas não foi só isso.

-O que mais ele fez?

-Ameaçou contar tudo que eu sentia se eu não me comportasse como um bom daddy.

Saga pareceu meio surpreso.

-E pior. Disse que poderia tirar do caminho qualquer um que se pusesse entre eu e ele.

-Então ele...

-Ele ameaçou me tirar a pessoa que eu amo. Jamais permitiria isso.

-Ikki... O que você fez com Kassa por conta disso?


Notas Finais


E é isso. Nos vemos semana que vem, se Deus quiser.
Beijos e abraços e se puderem falar o que estão achando, fazem um autor felizão :)
Ótima semana e até mais ^^


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