História Eu, você e a escuridão - Capítulo único

Busco algo ao meu redor e não há nada mais que escuridão, dúvida e lástima.

Era frio. Muito frio. As lágrimas mornas desciam como se apostassem corrida, fazendo uma trilha sinuosa até meu queixo e de lá pingavam no que eu acreditava ser o chão.

Os únicos sons eram os meus grunhidos e suspiros pesados devido ao choro, misturados aos seus, que juntos formavam uma sinfonia dolorida de mágoas.

Eu olho em sua direção, procurando por seus olhos, mas nem ao menos isso eu conseguia distinguir em meio às sombras que dançavam alegremente em meus olhos, porém eu sabia que você continuava ali, ainda sentia sua presença.

Você não tinha ido embora. Você ainda estava ali!

Um tipo de alívio se instala no meu peito.

Nós prometemos. Vamos cumprir até que nossas forças se esgotem... Certo?

Prendo o choro e os soluços, tentando quase que inútilmente ser forte, apenas mais um pouco.

Tateio ao meu lado e encontro sua mão quente. Imediatamente a seguro de maneira firme, como se minha vida dependesse disso.

— Por favor, não me solta — Sussurro, com a voz rouca e chorosa.

— Eu não vou — Você responde, as palavras saindo um tanto tremidas, provavelmente tentando controlar as lágrimas também, e logo depois aperta mais minha mão, como se para confirmar suas palavras.

Mais uma promessa.

— Temos que... Continuar...? — Eu pronuncio em dúvida. 

Eu não sabia como sair, mas a cada minuto que passava, sentia mais como se o espaço estivesse se fechando ao nosso redor, e o peso da responsabilidade do mundo estivesse esmagando minha vontade de lutar. Você devia sentir o mesmo porque logo concorda:

— Temos sim. Mas eu estou... Cansada. — Ouço você fungar, fazendo força para não recomeçar o choro.

— Eu também estou... — Tento, mas não consigo dizer mais nada. Eu estava entrando em pânico novamente.

Sinto você se movimentar e me puxar junto contigo.

Nunca vou conseguir te agradecer o suficiente por isso, e pelas outras tantas vezes que você me puxou, mesmo estando tão exausta quanto eu.

Começamos novamente nossa caminhada a esmo dentro dos nossos maiores medos e aflições.

Já havíamos caminhado por muito tempo antes dessa nossa conversa. Já havíamos soltado nossas mãos, gritado um com o outro, agregado peso nas costas de ambos e ameaçado ficar distante, mas no final sempre voltávamos a nos juntar e seguir adiante. Mesmo não enxergando muita coisa ou absolutamente nada na maior parte do tempo, nós seguíamos.

Claro que já tínhamos pensado em parar, tanto eu quanto você, mas a gente sempre puxou um ao outro, nem que fosse usando a força que nos restava.

Quase caímos de diversos precipícios, sem falar que nos conhecemos em um, creio que o pior deles, saímos de lá com ferimentos profundos e lembranças horríveis, mas saímos.

Temos nossas histórias separadas, ainda carregamos cicatrizes e machucados abertos conosco, mas estando juntos, mesmo que não pareça às vezes, somos mais fortes, um apoia o outro quando um não tem forças para continuar.

Eu peço á todas as forças maiores nesse mundo que me permitam ficar ao seu lado pelo resto dessa vida, e também nas outras, mesmo que não consigamos sair ilesos dessa escuridão, mesmo que um de nós vacile primeiro, mesmo que dê tudo errado, mesmo que gritemos, mesmo que nos firamos, mesmo que o mundo realmente nos esmague, eu quero estar o máximo desse tempo ao seu lado.

E essa, é mais uma promessa.

— Ao infinito... — Murmuro.

— E além — Você sussurra.