História Eu, você e a Lua - Capítulo II

Se já havia sentido tamanha felicidade ao ver algo que desejava em sua frente, ela não se lembrava. Correu até a beirada do riacho de águas cristalinas e pegou um punhado de água com as mãos, jogou sobre o rosto deliciando-se com o frescor. O sol estava se pondo quando Sasuke decidira que deveriam parar, ainda estavam nos limites do País do Fogo, mas consideravelmente longe de Konoha. Naruto e Sasuke começaram a montar a barraca onde os três dormiriam e Hinata foi até o riacho encher as garrafas de água que eles tinham trazido. O caminho que percorreram foi relativamente calmo, o silêncio não os incomodou, estavam concentrados demais em seguir o ritmo apressado do Uchiha para ficarem desconfortáveis.

Estava tão quente que a Hyuuga não queria sair mais de perto do arroio, ali era refrescante, mas sabia que deveria voltar, seu estômago começava a reclamar de fome. Guardou as garrafas devidamente cheias na mochila que levara até ali e foi de encontro aos seus companheiros. Sasuke e Naruto já haviam terminado de montar a barraca. O Uchiha estava sentado em cima de uma árvore com sua típica cara de nada e o Uzumaki estava tentando acender uma fogueira para que pudessem esquentar a água para o Lámen instantâneo que tinham levado para o jantar. Hinata juntou-se a Naruto colocando a água que levara para esquentar. Quando o jantar finalmente estava pronto, Sasuke desceu da árvore e juntou-se a eles.

- Então... – Começou Naruto quebrando o silêncio, atraindo os olharem de Hinata e Sasuke para ele. – Qual é o plano?

- Partiremos para o País da Água logo ao amanhecer, espero que possamos pegar a balsa amanhã mesmo. Acredito que demora cerca de um dia para chegarmos. Há um esconderijo do Orochimaru na Vila Oculta da Névoa. Quero checar lá.

- O que? – O Uzumaki gritou, assustando a menina que prestava atenção no que o líder da missão dizia. – O que há para checar no esconderijo do Orochimaru?

- Idiota, está querendo me deixar surdo? – Sasuke resmungou dando um cascudo na cabeça de um Naruto incomodado. – Orochimaru tinha pergaminhos com informações de todos os tipos de ervas e plantas medicinais que se podia encontrar, acredito que podemos recolher informações válidas se checarmos lá. Seguiremos para o País do Ferro logo depois.

- Mas, já sabemos que alguém está cultivando a flor não seria mais fácil irmos até lá e pedir algumas?

- E você acha que eles nos dariam assim tão facilmente? – O Uzumaki pareceu ponderar por um momento e Sasuke bufou. – Não questione minhas decisões, eu sou o líder da missão.

- Mandão. – Naruto resmungou baixinho enfezado.

O resto do jantar passou-se  com o costumeiro silêncio, o único que tagarelava demais era Naruto, falava sobre coisas banais com as quais os outros dois apenas teciam comentários quando a palavra lhes era dirigida.

⁃ E-eu vou até o riacho, um pouco... - Hinata disse depois que terminara de comer, os homens que no momento estavam em silêncio a encararam sem entender porque iria até lá no meio da noite. Um arrepio atravessou a espinha da Hyuuga, ter os olhos dos dois sobre si era desconcertante.

⁃ Para quê? - O Uchiha perguntou, desde que era o líder da missão deveria saber o que os companheiros faziam.

⁃ Quero m-me refrescar. - Amaldiçoou-se por estar gaguejando, a muito tempo não o fazia, mas aquilo a deixava nervosa, não sabia dizer o que era pior: Os safiras curiosos de Naruto, ou os ônix intimadores de Sasuke.

O Uchiha respondeu apenas um "hn", achava que a gagueira dela já tinha passado, aquilo o incomodava. Concentrou-se em terminar de comer e viu Hinata pegar uma pequena bolsa na cabana e correr em direção ao riacho. Com olhos azuis cintilantes cravados em suas costas.

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Deixou a mochila perto de algumas pedras e começou a despir-se. Jogou-se na água gélida tão logo estava livre das roupas. Seu corpo arrepiou-se com o contato quente de sua pele na água fria. Permaneceu na parte rasa do riacho com medo do que pudesse ter perto do meio, a correnteza poderia ser forte. Ativou sua linhagem para certificasse de que não havia nada nem ninguém por perto, estava vazio, só conseguir observar alguns insetos e pequenos animais ali perto. Virou-se para cima observando a lua, era dia de lua cheia e aquela noite parecia ainda mais bonita aos olhos de Hinata. Fechou os olhos por um momento relaxando e deixando o frescor das águas cristalinas levarem na correnteza todos os seus problemas.

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Avistou sua casa e apertou o passo ainda mais. Subiu os degraus da varanda apressado e alcançou a porta, abriu a mesma desajeitado, procurando a sua mãe com os olhos. Avistou a mais velha na cozinha preparando o jantar, correu até lá agarrando sua perna e deixando as lágrimas finalmente rolarem.

⁃ Huh? Sasuke? O que foi, querido? - Mikoto abaixou-se para ficar de frente para o filho, passou a mão nos cabelos espetados do garoto que coçava os olhinhos lacrimosos.

⁃ O-oni-chan... Não me d-deixou treinar com ele... - Fungou. - Ele disse q-que não tem tempo de brincar c-comigo.

⁃ Acalme-se, Sasuke. Tenho certeza de que ele arrumará um tempo para ficar com você, tudo bem? - A mãe começou com voz amena, estava aliviada que não era um problema maior, por um momento pensou que algo grave pudesse ter acontecido. - Enquanto isso por que você não me ajuda colocando a mesa para o jantar? Prometo que falarei com seu irmão mais tarde, por isso, não chore, certo? - Limpou as lágrimas das bochechas rosadas do filho, que abriu um sorriso enorme concordado logo depois. Sasuke tinha apenas quatro anos e estava sempre querendo fazer as mesmas coisas que o irmão, que não o deixava treinar junto dele por medo de que o pequenino se machucasse.

Pegou as tigelas que a mãe lhe oferecera e ocupou-se em arrumar as mesas. O pequeno Uchiha ajeitava as tigelas na mesa, ouvindo a mãe cantarolar e sentia o cheiro de sopa tomar conta do local, sentia-se protegido. A porta foi aberta e Sasuke viu o pai entrar no local, deixou as colheres de qualquer jeito na mesa e correu até o mais velho, jogando-se sobre ele.

⁃ Estou em casa! - Fugaku anunciou pegando o filho no colo e colocando-o por cima de seus ombros, arrancando gargalhadas altas de Sasuke.

⁃ Bem-vindo de volta. - Mikoto limpou as mãos em um pano e aproximou-se do marido e do filho. - O jantar estará pronto em um minuto.

⁃ Certo. Sasuke? - O pai colocou-o no chão, bagunçando seus cabelos. – Tenho uma missão para você: Traga seu irmão para o jantar. O Hokage disse que essa é uma missão importantíssima e somente um ninja forte como você seria capaz de executá-la!

⁃ Hai! - O miúdo respondeu animado correndo em direção à porta. Saiu de lá como um furacão em direção ao campo de treinamento dos Uchihas. Passou pelo jardim que sua mãe cultivava na lateral da mansão tomando cuidado para não pisar em nenhuma de suas flores, especialmente nos girassóis tão amados pela mãe. Aproximava-se dos fundos da casa quando sentiu um cheiro enferrujado preencher suas narinas, desacelerou os passos e quando pisou no gramado do campo de treinamento, não era mais o pequeno e inocente Sasuke que estava ali. O ninja crescido e sanguinário que havia se tornado era quem estava, com o rinnegan reluzindo em seu olho esquerdo.

Deu mais alguns passos e observou as silhuetas de seus pais e seu irmão caídos no chão, o sangue fresco dos cadáveres escorria pelo chão o tingindo de vermelho. O Uchiha caiu de joelhos. O que estava acontecendo? Uma voz vinda do mais profundo de sua consciência lhe sussurrava: "Você é um fracasso. Sempre será. Nunca pôde proteger aqueles que ama. Você sempre estará sozinho. Este é o seu destino."

Acordou atordoado com suor escorrendo por seu corpo. Demorou apenas um instante para que se situasse de onde estava. Passou a mão pelos cabelos úmidos pelo suor e suspirou. Não gostava daquele tipo de sonho, lembrar dos tempos em que tinha sua família, que era realmente feliz. Olhou em volta procurando por Naruto e Hinata, encontrou apenas os sacos de dormir vazios ao seu lado, sem sinal de que algum deles tivesse passado por ali. Levantou-se de que tinha deixado Naruto de vigia como punição, mas e a Hyuuga? Ainda não havia voltado? Que diabos!

Colocou-se para fora da barraca encontrando um Naruto dormindo encostado em uma árvore, bufou. É claro que aquele idiota estaria dormindo. Buscou Hinata com os olhos, mas não obteve sucesso. Decidiu então que seria melhor voltar a dormir, ela não era problema dele. Porém, algo em seu consciente gritou, avisando que ela poderia estar em perigo e por ele ser o líder da missão, era problema dele sim. Girou os calcanhares enfezado, aquela missão seria um aborrecimento. Seguiu seu caminho até o lago com calma, não tinha muita pressa, afinal. Aproveitaria para lavar o rosto e espairecer por conta do sonho que tivera. Quando pôde ouvir o barulho da correnteza do riacho, escutou também um barulho característico de batalhas unificado com a voz de Hinata. Apertou o passo parando somente quando viu a silhueta da Hyuuga. Escondeu-se atrás de uma árvore para que não fosse visto, nunca saberia dizer porque fizera aquilo.

Quando estava indo até lá nunca imaginou que veria a cena a seguir. Hinata estava na beirado do riacho, nua, sua linhagem estava ativada e os punhos estavam envolvidos por uma chama azul em formato de leões. Uma camada fina de água revolvia seu corpo como uma barreira e ela acertava múltiplos golpes em alguns bonecos feitos de madeira e folhagem. Por mais que soubesse que era errado, o Uchiha não conseguia desviar os olhos da cena. Observava cada movimento executado com precisão pela Hyuuga, eram movimentos leves e coreografados, quase como uma dança envolvente. Não percebeu quando, mas quando deu por si, sua linhagem também estava ativada no olho direito. Gravando em sua mente cada pequeno detalhe daquela visão. Hinata estava tão concentrada no que fazia, que não percebeu a presença de mais alguém ali. Estava focada em seu treinamento e sentia seus músculos queimarem como brasas, clamando por um descanso, estava treinando a mais de duas horas, sem parar. Pensou ter ouvido um barulho vindo de longe, mas não se preocupou, provavelmente era projeção de sua mente cansada demais. Mas não podia parar, tinha que continuar treinando, até que não sobrassem mais energias, era o que fazia todas as noites quando todos da mansão Hyuuga dormiam. Porque só quando estava daquele jeito, sentia-se poderosa. Sentia-se a Kunoichi mais forte que já houvera andando pelo País do Fogo, esquecia-se de todos os dramas de sua vida. Era apenas ela. Ela e sua força. Que batalhara tanto para conseguir.

Sasuke pulou no galho mais baixo de uma árvore e sentou-se sobre o mesmo. Se ela não soubesse, não teria problema, certo? Desativou o Sharingan e ficou a observar a Hyuuga, desatenta demais para vê-lo ali, tão perto. Não saberia dizer porque simplesmente não virou as costas e foi embora. Talvez pela curiosidade de ver até onde ela iria com aquilo. Talvez porque nunca tivesse imaginado vê-la daquele jeito, tão intensa, ou que suas curvas eram tão graciosas, e poucas coisas na vida surpreendiam Uchiha Sasuke. Naquele momento, ele poderia dizer, que Hyuuga Hinata era uma delas. Não soube dizer quanto tempo passou, mas a Hyuuga continuava lá, sobre seus pés, atingindo os bonecos de treino improvisados. Seus movimentos já eram mais lentos e a mesma ofegava, Sasuke quase desceu para ajudá-la quando a mesma tropeçou nos próprios pés e caiu no chão, sendo submersa pela água, quase. Sentiu-se um bobo quando viu a mesma levantar-se e acertar um último golpe nos bonecos improvisados, moldando o chakra em formas tão finas que eram afiadas como lâminas, a Hyuuga acertou o seu golpe de oito trigramas e sessenta e quatro palmas nos bonecos que espatifaram-se no chão, voltando a ser apenas pedaços de tronco e folhagem seca sem forma. Ofegante, a Hyuuga jogou-se na água nadando até o meio sem se importar com a correnteza. Sentindo o frescor relaxar os músculos tensos pelo treino árduo. O Uchiha levantou-se pretendendo sair dali o mais rápido possível e esquecer-se daquele episódio, mas sua atenção foi chamada para um pouco além dali. Um loiro de olhos claros andava até o riacho, coçando os olhos. Não estava nem mesmo acordado o suficiente para distinguir onde estava pisando. Sasuke alarmou-se, não saberia dizer o porque.

Em um ato impensado, o moreno usou um jutsu de substituição e apareceu na beirada do riacho ao mesmo tempo que a Hyuuga voltava de um mergulho. O coração de Hinata foi parar na boca do estômago ao ver o Uchiha a sua frente, mas o que? Seu coração batia tão rápido que chegava a doer. Tinha sido pega no flagra. Imaginava que Sasuke já estivesse dormindo, nem sequer cogitou que ele ou Naruto, ou qualquer pessoa pudessem ir até o arroio no meio da noite. Quando percebeu a situação em que se encontrava. O rosto alvo de Hinata tomou um tom rubro como um tomate, agarrou-se por reflexo, tampando o que conseguia dos seios expostos. O ato só chamou a atenção dos ônix para aquele local. Os olhos perolados fecharam-se e os lábios abriram-se na intenção de gritar, quando sentiu a boca ser tapada por uma mão grande. Sasuke apareceu atrás dela tapando sua boca a impedindo de gritar, a outra mão do moreno encontrava-se em seu ombro. As pernas de Hinata estavam muito bambas para que pudesse se mover. Desejou com todas as forças ser invisível. O Uchiha tirou a camisa que usava com agilidade e passou ao redor da Hyuuga, que abriu os olhos assustada, ela agarrou as pontas da camisa deixando seu corpo fora da visão de Sasuke.

⁃ Naruto está vindo para cá. É melhor andar rápido se não quiser ser vista. – Anunciou ao pé de ouvido, arrepiando os pêlos de Hinata por estar tão perto. Os olhos perolados arregalaram-se. Ele estava tentando ajudá-la? Talvez ele não tivesse visto nada demais, aquilo acalmou a Hyuuga. Mesmo que ligeiramente.

⁃ H-hai! - Ela respondeu virando-se somente a tempo de ver Sasuke desaparecer em uma fumaça branca. Alarmada ela passou os braços por dentro da camiseta fechando o zíper que continha na frente. Pegou suas coisas e correu para longe dali, por cima das árvores que rondavam aquela floresta.

Naruto jurou ter sentido chakras conhecidos enquanto seguia em direção ao riacho para lavar o rosto e urinar. Ao chegar lá não havia ninguém. Pensou então que teria se enganado, por estar sonolento. Mas se não havia ninguém, por que a blusa de Hinata encontrava-se ali?