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História Akai Ito: Evanesce - Sobre recomeços, planos infalíveis e trabalhos escolares


Escrita por: AyameBlueWorld

Notas do Autor


Hello, people.
Mais um capítulo de Evanesce aqui para vocês, nesse domingo. Não está revisado, então relevem.
Quero agradecer aos favoritos que ando recebendo, porque puxa! Muito obrigada. Espero que gostem, e sejam bem vindos!

Capítulo 3 - Sobre recomeços, planos infalíveis e trabalhos escolares


– Hey, Hyukjae!

A primeira reação que teve ao ouvir o seu nome ser chamado perto de si, foi o que poderíamos chamar de reação involuntária: Seus olhos, anteriormente focados na tela do celular em suas mãos, desviaram-se a procura da pessoa que o chamara. Todavia, assim que a encontrou, o seu rosto, que anteriormente esboçava uma expressão despreocupada, franziu-se. Esta foi a sua segunda reação. Ainda mais depois de perceber o sorriso radiante, e completamente desprovido de propósito, nos lábios de seu interlocutor.

A sua terceira reação foi a de estalar a língua, em um som claro de desdém, ao reconhecer o garoto da detenção do dia anterior, e a quarta, levantar-se e dar as costas para o rapaz que continuava a encará-lo sorrindo, a espera de uma resposta mais efusiva, e de preferência provida de palavras. O que ele claramente não iria receber. Não de Hyukjae, ao menos.

– Hey Hyukjae! – ele ouviu novamente o seu nome ser chamado, e mais uma vez estalou a língua, ao perceber que o rapaz não desistira de falar consigo, mesmo após esboçar aquela reação que sempre funcionara para rechaçar companhias não desejadas – Hyukjae, me espera! – e aquilo foi o suficiente para que ele virasse irritado para trás, com uma expressão desprovida de qualquer emoção, o que as pessoas comumente se referiam como “cara de poucos amigos”. Não que as pessoas realmente falassem para ele o que achavam dele. Para falar a verdade, as pessoas sequer falavam com ele, se não fossem obrigadas. No entanto, isso não o impedia de saber abertamente o que pensavam, ou mesmo sobre os murmurares que percorriam a escola, ao assistir os rostos e os burburinhos que o acompanhavam quando andava no corredor. Não era, também, como se ele se importasse.

– O que você quer? – as palavras que saíram de sua boca soaram ainda mais irritadas do que o normal, ao se deparar com os olhos castanhos que acompanhavam o sorriso estampado no rosto do outro.

Aqueles mesmos olhos que ele sentira sobre si, no dia anterior, quando estivera resolvendo alguns problemas que vinham o atormentando nos últimos dias. Olhos que tentaram, sem muito êxito, passar despercebidos, enquanto esgueiravam-se pela janela e pelos corredores, observando-o. Olhos que, diferente do usual, não vacilaram mesmo por um segundo ao encará-lo de volta.

Hyukjae possuía o que chamavam de olhos extremamente expressivos. Mesmo que não fosse essa sua vontade, seus olhos diziam muito mais do que as suas palavras, e deixavam uma impressão incrivelmente forte naqueles que eram suas vítimas. Impressão esta, que oscilava entre o medo e o estranhamento, mesmo que não passasse de um olhar desprovido de sentidos negativos. O que ajudava, indiretamente, muito da sua má fama.

– Falar com você – o garoto respondeu, sorrindo ainda mais abertamente – Posso?

– Você já está falando – Hyukjae não hesitou em dizer. Aquele tipo de pergunta, para ele, sempre parecera, no mínimo, desnecessária, juntamente com a clássica “posso fazer uma pergunta?”, que por si só já era justamente uma pergunta.

– Bem, eu queria dizer que a sua redação era muito boa. Eu fiquei realmente impressionado.

– Era só isso? – ele não resistiu em perguntar, levantando uma de suas sobrancelhas. Aquela era, sem dúvida, a aproximação mais estranha que ele já havia tido, durante todos os anos em que estudara naquela escola.

– Ah, não, claro que não... – um sorriso sem graça apareceu em seus lábios por alguns pequenos instantes, antes de ser substituído por um pequeno beicinho involuntário, de quem mordia o interior de suas bochechas nervosamente.

– Então diga logo. O sinal do começo da aula já está para tocar. Onde está o seu amigo do conselho? – Hyukjae não resistiu em perguntar.

No dia anterior, havia ficado mais do que claro a forma como os dois eram próximos, andando juntos a todo instante, e não era novidade alguma que o outro garoto não gostava de si, como o resto do conselho. Exceto talvez o presidente, mas mesmo que este não nutrisse uma antipatia injustificada por Hyukjae, os dois não eram os melhores amigos do mundo.

Para Hyukjae, estava mais do que claro que, se estivesse com o seu amigo, Donghae não estaria se referindo a ele daquela forma. Estaria passando muito longe, evitando-o como todos os outros. Porque sim, Hyukjae lembrava perfeitamente do nome do garoto moreno que lhe sorria estranhamente naquele momento. Não havia como esquecer, em parte devido a sua memória agraciadamente boa. Assim como sabia e lembrava-se perfeitamente do nome do garoto do conselho, Kyuhyun.

– Kyuhyun? – o garoto moreno perguntou, como se por acaso pudesse ter duas possibilidades de resposta – Ele teve de ir até o conselho entregar alguns papéis que pediram a ele ontem. Aproveitei para falar com você, então – “mas é claro que sim, caso contrário, ele não o haveria deixado se dirigir a mim” Hyukjae comentou em sua mente, mas preferiu limitar-se a um breve erguer de sobrancelhas – Eu queria lhe pedir desculpas pelo meu comportamento de ontem, eu não faço ideia do que deu em mim... – deu uma pequena pausa e mordeu os lábios, ao ler em meu rosto claros sinais de que eu não acreditava nem um pouco naquela conversa de “não sei o que me deu” – Na verdade, eu sei sim – ele não hesitou em se contradizer, e a assumir uma postura completamente diferente da anterior, completamente confiante – Eu não consigo segurar o meu impulso de ajudar quando vejo alguém em clara desvantagem. Geralmente eu não erro em meu julgamento, mas no seu caso, eu confesso que agi de forma precipitada, e acabei te interpretando mal. E por isso eu te peço desculpas...

O fato de que Donghae não tentara nem ao menos esconder a ocorrência de ter o seguido e o espionado não passou despercebido por Hyukjae, e também não o surpreendeu. Estava mais do que escrito em seu semblante que mentir sobre isso não seria algo de seu feitio.

Hyukjae não o respondeu. Milhares de frases ácidas com uma lição de moral sobre como não se dever julgar outras pessoas, agir antes de pensar e qualquer outra coisa que envolvesse a ideia de conclusão precipitada passou pela mente dele naquela hora, mas no final, ele preferiu manter-se em silêncio. Aquele tipo de coisa havia acontecido durante a maior parte da sua vida, de qualquer forma. Não era agora que iria incomodá-lo. Ao perceber que Hyukjae nada falaria em resposta àquela sua constatação, Donghae sorriu, antes de continuar:

– Poderíamos começar novamente, não acha? Meu nome é Lee Donghae, prazer em conhecê-lo – disse, curvando-se de leve.

– Hyukjae – o outro respondeu simplesmente, dando de ombros, tendo sua voz, já naturalmente baixa, quase sendo abafada pelo sinal alto que soou não muito longe dali, anunciando o começo das aulas. Para o alívio de Hyukjae – Temos de ir.

– Então... Até mais? – a sua voz saia incerta, e a mão em sua nuca bagunçando o pé de seus cabelos castanhos evidenciava ainda mais o quanto ele estava desconcertado por estar conversando com Hyukjae, o mesmo cara na qual ele havia batido no dia anterior.

Hyukjae não o respondeu verbalmente, limitando-se a um breve anuir. Pouco antes de dar as costas para Donghae e deixá-lo para trás, rumo a sua sala onde aconteceria a sua primeira aula.

 

As primeiras aulas do dia desenrolaram-se como de costume.

Após longas horas atribuladas de exercícios e anotações contínuas, na qual Hyukjae escutou atentamente todas as explicações dadas pelos professores minuto após minuto, o sinal finalmente soou, anunciando o horário do intervalo. Sem demoras, ele levantou-se de seu lugar ao final da sala, não sem antes pegar um pequeno pacote contendo seu almoço de dentro da sua bolsa, e saiu porta afora, rumo ao lugar em que sempre ia, quando possuía um tempo apenas para si entre as aulas. O lugar onde ele poderia ficar tranquilamente sozinho, tendo como companhia apenas com os seus pensamentos, e onde poderia observar os demais alunos que optassem por transitar nos lugares abertos da escola, ao invés de se manter nas salas de aulas, refeitório e corredores.

Afinal, eram nos lugares abertos, consideravelmente longes das vistas dos professores e dos inspetores, que as maiores incidências de problemas e brigas aconteciam.

 

Uma brisa leve balançou os seus cabelos negros assim que ele deu uma primeira mordida no sanduiche em sua mão, para logo após se inclinar no parapeito do terraço, de onde poderia olhar para as pessoas a sua frente.

Aquele local, em sua opinião, era o melhor lugar de todo o colégio. Ali, ele não se sentia pressionado a manter uma postura defensiva, como costumava fazer quando perto de outras pessoas, e nem precisava suportar os vários olhares tortos dirigidos a ele de tempos em tempos. As pessoas evitavam aquele lugar a todo custo, e ele não poderia ser mais grato por isso. Abaixo de si, ele podia observar os diferentes rostos dos alunos transitarem por meio às árvores e por entre as mesas espalhadas pelo pátio, aproveitando o pouco de sol que havia finalmente dado o ar de sua graça naquele dia. Todos eles conhecidos. Não pessoalmente, claro, já que as pessoas não costumavam aproximar-se muito dele, e nem ele fazia muita questão daquilo. Mas de vista, ao menos. Não havia uma pessoa sequer em toda aquela escola, que ele não tenha colocado os olhos ao menos uma vez, desde que possuía apenas dez anos de idade. Idade com a qual sua família se mudara para Mokpo, vindos de Goyang. 

Respirando fundo, aproveitando o ar puro que soprava em seu rosto, ele deu mais uma mordida em seu sanduiche, carinhosamente apelidado de almoço do dia. Era ele quem sempre preparava a sua própria refeição, e como de costume, nada melhor ou mais incrementado que um sanduíche derivara-se de seus dotes culinários quase inexistentes. Na cozinha, ele era um verdadeiro horror. Não era por acaso que se acostumara a viver a base de lámen e sanduíches, e raramente aventurava-se em algo um pouco mais elaborado. Hyukjae sabia que aquilo era nem um pouco saudável para sua saúde, ainda mais em uma faixa etária tão delicada quanto a adolescência, porém, ele não muito poderia fazer quanto a esse caso. Ou era isso, ou ele teria de gastar um dinheiro que ele já não possuía para comprar o seu almoço diário, para começar.

Até o tempo em que seu sanduíche terminou, nada de anormal havia acontecido no pátio que dizia respeito ao ensino médio. O que era ótimo. Dando uma última olhada apenas para ter certeza, ele se afastou do parapeito e cruzou o terraço, juntando-se ao parapeito do outro lado.

O colégio em que estudava era o que se poderia chamar de duas escolas fundidas em apenas uma. Normalmente, as escolas em Mokpo atendiam apenas a uma faixa etária de idade por vez, sendo elas divididas entre jardim de infância, escola elementar e escola secundária. No entanto, a que estudava atendia, ao invés de apenas uma, duas faixas etárias, compreendendo as duas últimas, fazendo com que a escola fosse dividida geograficamente em duas alas por intermédio de um prédio. Prédio este em que ele estava no terraço, naquele exato momento. Para manter esta separação, até mesmo as entradas para as duas alas escolares encontravam-se em lados opostos. Isso ocorria para que pudesse ser evitado ao máximo que as duas faixas etárias misturassem-se, com o objetivo de que os alunos mais velhos não se aproveitassem dos mais novos, ao fazerem uso da sua provável complexão superior para seu próprio proveito, fruto da diferença de idade.

O que, nem sempre, surtia resultados.

O terreno era bem extenso, e a vigilância dos inspetores, com toda certeza, não era onipresente. Graças a isso, nem sempre as infrações cometidas eram descobertas, passando muitas vezes impunemente. Hyukjae mesmo já havia saído impune de muitas brigas que arrumara no passado, brigas que, com toda certeza, renderiam um grande castigo para ele, caso tivesse sido pego. Desta forma, não era tão incomum encontrar algum aluno da ala secundária se esgueirando até a ala elementar, com objetivos quase sempre não muito bons. E era exatamente isso o que Hyukjae estava à procura naquele exato momento, ao manter vigilância do outro lado do prédio, para o pátio concernente ao pátio do ensino elementar.

E como dizem por aí, quem procura, acha.

Em um canto um tanto afastado de onde estava, quase escondidos de seus olhos graças a algumas árvores que obstruíam a sua visão, dois garotos claramente não pertencentes ao ensino elementar pareciam encurralar um terceiro garoto, visivelmente mais novo. Buscando uma melhor posição para observar o que acontecia, Hyukjae andou para o lado, e não demorou a encontrar o ângulo perfeito; a tempo suficiente de ver o menino mais novo tirar algo de dentro de seu bolso e entregar aos mais velhos. Hyukjae não precisou de mais um minuto sequer observando a cena para entender o que acontecia. Aquela era, afinal, uma das coerções mais comuns. Dinheiro. O menino mais novo estava sendo obrigado a entregar o dinheiro que provavelmente seria de seu lanche para os alunos mais velhos, em troca de ser deixado em paz. 

Hyukjae não demorou um segundo sequer parar se afastar da amurada e tomar o caminho para fora do terraço, já traçando perfeitamente o que deveria fazer em sua mente. Ao tempo em que chegara ao corredor principal da escola, um plano perfeito já havia sido completamente traçada por sua mente rápida, e deveras acostumada com aquele tipo de coisa, restando-lhe apenas duas coisas a se fazer: esperar e agir.

 

– Eu vou ter de pedir novamente, ou você prefere que seu amigo fique com um olho roxo, para combinar com este que eu lhe deixei? – a voz de Hyukjae soava ríspida, sem que fosse necessário fazer esforço algum para isso, enquanto segurava o sujeito de sua ameaça pelo colarinho, e este tentava soltar-se de todas as formas de seu aperto. Era exatamente naqueles momentos que Hyukjae agradecia todo o treinamento físico que se submetera, para conseguir manter o aperto sem que isso lhe custasse muito esforço.

A sua frente, o outro menino que estava a ser ameaçado se escorava na parede, atordoado com a mão sobre o olho inchado, após o soco desferido por Hyukjae. Descaradamente, assim que retomou o seu balanço, ao invés de respondê-lo, o garoto olhou para os dois lados a procura de uma possível fuga. A expressão em seu rosto e o olhar desesperado não deixava qualquer dúvida para Hyukjae: ele estava avaliando silenciosamente quais seriam as suas chances de conseguir fugir dali, sem que Hyukjae o pegasse, mesmo que isso significasse ter de deixar o seu amigo para trás, ao jugo de seu opositor.

Tal atitude não surpreendeu Hyukjae por um segundo sequer.

Pessoas daquele tipo, como ele, não se importava com nada e com ninguém, mesmo com seu melhor amigo.

– Quer saber? – ele finalmente disse, assim que teve certeza que o menino não iria mover um dedo para ajudar o amigo, se pudesse evitar – Você pode ir embora – ele soltou o menino que segurava pelo colarinho, e este cambaleou livre para trás, até se tocar do que havia acontecido. Finalmente, ao se ver livre, o garoto não demorou para sair correndo, quase tropeçando em seus próprios pés, em uma fuga desesperada sem nem mesmo olhar para trás.

Pelo visto, a falta de lealdade não era unilateral.

Hyukjae não dispensou mais do que um segundo, para olhá-lo enquanto fugia, antes de voltar a sua atenção novamente para o garoto com a mão no rosto à sua frente. Era ele quem o interessava, afinal. Era ele quem possuía o dinheiro do menino do elementar, e de quem ele deveria arrancar o que queria, se fosse possível.

– Agora somos só eu e você, e com isso eu lhe dou duas alternativas – Hyukjae inclinou-se na direção do garoto, encurralando-o, e em resposta o garoto encolheu-se, com o objetivo de se afastar dele – Ou você me dá o que pedi, ou...

– Eu vou dar – o garoto murmurou, desviando imediatamente o seu olhar dos olhos profundos de Hyukjae, que estavam completamente postos sobre si. Olhos que a maioria não conseguia sustentar, por mais que assim o desejasse.

– Então se apresse, que eu não tenho o dia inteiro – Hyukjae rebateu, ao perceber que o outro não fazia menção alguma de que iria agir e de fato entregar-lhe o que pedia – Pelo contrário, o intervalo já está na metade, e eu ainda nada comi – mentiu. A desculpa que estava dando para pegar aquele dinheiro, afinal, era de que seria para seu bem particular.

Ele não ficaria confortável se alguém descobrisse o seu verdadeiro intuito, afinal.

– Aqui – o garoto finalmente moveu-se, retirando o dinheiro de forma brusca de dentro do bolso de sua calça, e o estendendo na direção de Hyukjae, que não hesitou em pegar – É tudo o que eu tenho.

– Ótimo – Hyukjae respondeu em um tom que, se fosse qualquer outra pessoa, poderia ser considerado amigável. Porém, sendo ele, ainda mais em meio a uma situação como aquela, só poderia ser descrita como alarmante – Agora cai fora daqui antes que eu mude de ideia e decida acabar com você da mesma forma.

Não foi preciso dizer duas vezes. Assim que ouviu as suas palavras, o garoto colocou-se a correr, tropeçando pelo corredor tamanho desespero, e logo ele desapareceu de suas vistas em um piscar de olhos.

Respirando fundo, com metade de seu plano completo, Hyukjae dobrou o dinheiro em dois e guardou-o dentro do bolso. Era naquele momento que a segunda parte da ação começava. Ou assim ele esperava. A companhia, que ele não havia pedido para ter, poderia retardá-lo, no final das contas.

– Quando você resolverá sair? – Hyukjae falou alto, sem mover-se um centímetro sequer de onde estava. Não precisava ser um gênio, e nem mesmo possuir sentidos apurados, para saber que ele estava sendo seguido desde que deixara o terraço.

– Como você sabia? – a voz de Donghae não demorou a chegar aos seus ouvidos, poucos instantes antes de seu dono aparecer realmente a sua frente, ao sair do lugar onde ele estivera se escondendo até então.

– Suas habilidades como espião não são as melhores do mundo – Hyukjae deu de ombros, enquanto observava o moreno se aproximar dele a passos lentos e com a cabeça baixa, como se fosse uma criança que havia acabado de ser pega pelos seus pais fazendo aquilo que não devia – Aposto que sempre era o primeiro a ser encontrado no esconde-esconde.

– Infelizmente eu não posso discordar... – ele sorriu sem graça, passando a mão pela sua nuca (a segunda vez que o fazia naquele único dia, o que fez Hyukjae se perguntar se era algum tipo de mania) ao parar a frente de Hyukjae – Isso quer dizer que...

– Sim, eu sabia que você estava atrás de mim ontem, assim como sei que você estava agora. Você realmente não é muito bom em se fazer despercebido.

– Acho que eu deveria ter imaginado – ele voltou a sorrir, mordendo o lábio logo em seguida, claramente nervoso. Hyukjae, por sua vez, nada disse.

Dando a conversa por terminada, ele deu as costas para Donghae e começou a andar pelo corredor na direção que almejava ir antes de surpreender o outro garoto, que não hesitou em acelerar os passos atrás dele.

 – Por que você faz isso? – Donghae continuou, ao alcançá-lo, após perceber que Hyukjae nada mais diria, caso ele mesmo não iniciasse uma conversa.

Não havia sido muito difícil para que Donghae percebesse que Hyukjae, na verdade, não era uma pessoa de muitas palavras. Ele era, resumidamente, o que se chamava de uma pessoa reservada, coisa que muitos não entendiam e confundiam com arrogância. O que deixava claro que, se ele quisesse se tornar mais próximo do garoto, ou mesmo quisesse estabelecer algum tipo de vínculo de amizade, era dele que deveria partir a iniciativa.

– Faço o quê? – perguntou, sem desviar os seus olhos do caminho a sua frente, continuando a andar. Donghae, por outro lado, caminhava olhando para o seu rosto, completamente alheio ao caminho que tomava junto dele.

– Ajuda as pessoas em anonimato – comentou, esperando uma reação que não veio, o que o fez continuar com o discurso que havia cuidadosamente montado dentro de sua cabeça, ao menos uma milhão de vezes, durante as aulas, após o encontro anterior com Hyukjae – Não adianta você negar que o faz, porque eu entendi perfeitamente bem da primeira vez que vi. Você tem um bom coração, Hyukjae, e por não demonstrar isso abertamente, acaba sendo enquadrado em um estereótipo a qual não pertence. Você sabe o que as pessoas pensam sobre você, não é?

– Eu não me importo – Hyukjae respondeu, sem hesitar, dando de ombros. A sinceridade em suas palavras era tão evidente, que Donghae não encontrou uma resposta sequer para lhe dar, e limitou-se a ficar em silêncio – O que eles acham não diz respeito a mim – finalizou, acelerando os passos corredor adentro.

A resposta que Hyukjae dera a ele não precisara de mais nada, porque por si só já era completamente autoexplicativa, evocando uma variada gama de pensamentos diferentes à mente de Donghae. Pensamentos que o fizeram se perder dentro de consciência, em um debate interno mudo, que como não poderia deixar de ser, chegou a apenas uma conclusão após muito refletir: Hyukjae não se importava com o que pensavam dele ou o que não pensavam, e aqueles que o julgavam pelo seu comportamento e aparência não o importava nem um pouco, assim como suas palavras. Hyukjae se colocava acima de deliberações alheias e se mantinha fiel ao que achava certo. Mesmo que as suas ações corretas, feitas distantemente dos olhos de terceiros, refletissem de forma errônea em sua imagem. Para ele, nada daquilo importava, contanto que ele pudesse manter-se fiel a ele mesmo.

Enquanto Donghae tentava entender Hyukjae dentro de sua cabeça, e para isso formulava milhões de respostas e suposições, Hyukjae possuía apenas uma coisa em sua mente: completar o seu objetivo. Lado a lado, os dois percorreram os corredores em completo silêncio por longos minutos, sendo liderados inconscientemente por Hyukjae. Nem ele parecia se importar de estar sendo seguido de perto, ou melhor, acompanhado, por Donghae, e nem mesmo Donghae parecia perceber o que estava fazendo. Ele apenas continuou atrás de Hyukjae, e quando viu, os dois já estavam em frente à janela que dava para o pátio posterior, onde os alunos do elementar aproveitavam o seu intervalo, alheios às suas presenças.

– Você vem? – foi a primeira coisa que saiu da boca de Hyukjae, ao ver a expressão ligeiramente confusa no rosto de Donghae, quando este percebeu onde estavam.  

Sem esperar pela sua resposta, que realmente não parecia que chegaria tão cedo, Hyukjae não pensou duas vezes antes de subir no parapeito da janela e pular para o outro lado dela, aterrissando de pé no chão como se estivesse mais do que acostumado a fazer aquilo.

O que de fato estava.

Donghae, por outro lado, pareceu hesitar. No entanto, a resolução chegou a ele tão logo percebeu que Hyukjae já estava se afastando em direção ao pátio, deixando-o para trás. De forma não tão graciosa quanto Hyukjae fizera, Donghae então pulou a janela, aterrissando de forma um pouco atrapalhada, mas nada que o impedisse de se levantar novamente.

Limpando as partes sujas de suas roupas com as mãos, Donghae logo se apressou atrás de Hyukjae, precisando mesmo correr para chegar ao seu lado. Hyukjae, por sua vez, não precisou sequer olhar para o lado, para perceber que Donghae havia de fato o seguido. A respiração pesada e os passos altos que chegaram aos seus ouvidos, seguidos pela aparição de cabelos castanhos em sua visão periférica, já foi o suficiente para que ele tivesse certeza de que Donghae o havia alcançado.

Camuflados pelas suas estaturas não muito agraciadas por altura, os dois facilmente cruzaram o pátio misturando-se com os alunos do elementar, e logo adentraram o prédio contrário de onde haviam vindo.

Hyukjae sabia perfeitamente para onde deveria ir. Uma conversa aqui e outra ali, um tom de ameaçado usado a mais ou a menos, e não havia sido difícil para que lhe entregassem a localização do armário do menino dono do dinheiro previamente, em troca de serem deixados em paz. No fundo, aquela fama que montaram para ele de forma injustificada o ajudava mais do que atrapalhava.

 – Avise-me se alguém vier – Hyukjae murmurou para o garoto ao seu lado, assim que parou a frente de uma extensa fileira de armários, colocados lado a lado em um dos primeiros corredores do prédio central da escola elementar.

Mais uma vez, sem esperar qualquer tipo de resposta que Donghae viesse a lhe dar, Hyukjae não entrou em ação. Tirando uma pequena ferramenta do bolso, própria para abrir sorrateiramente aquele tipo de fechadura simples, Hyukjae aproximou-se do armário com a numeração correta, que suas fontes haviam lhe dito pertencer ao garoto de mais cedo, e logo começou a trabalhar para que a fechadura cedesse a sua vontade.

Donghae, diferentemente de Hyukjae, que portava uma postura mais do que relaxada para um momento como aquele, possuía cada centímetro de seu corpo visivelmente tenso, como se estivesse apavorado de que fosse pego no flagra. Ele estava acostumado a ser levado para a diretoria, sim, mas por ter puxado brigas com quem merecia. Não por transgressão de regras feitas para evitar justamente o que tanto ele condenava. Construir uma imagem de possível valentão não era o que ele pretendia, e era exatamente o que aconteceria, caso se espalhasse pela escola que ele fora pego pelos corredores do lado elementar. Afinal, era muito mais fácil chegarem à conclusão de que ele estava ali para intimidar os alunos mais novos, do que para ajuda-los.

Naquele momento, ele entendeu perfeitamente como a imagem errada de Hyukjae começara a ser construída.

E como Hyukjae provavelmente não fizera esforço algum para desfazer aquela conclusão, muito pelo contrário, sempre dando mais motivos para que a falação continuasse conforme ajudasse os demais de suas formas escusas, ele acabou com aquela imagem que Kyuhyun tão bem lhe apresentara no dia anterior.

Donghae foi desperto de seus pensamentos ao ouvir o barulho da porta do armário se abrindo, anunciando que Hyukjae havia conseguido romper a fechadura. De canto de olho, Donghae pôde ver Hyukjae tirar algumas notas de dentro de seu próprio bolso e rapidamente o observou colocá-las dentro do armário, pouco antes de fechá-lo atrás de si.

Naquele mesmo instante, como se estivesse apenas esperando que Hyukjae completasse o que havia ido fazer ali, uma terceira pessoa se juntou a eles, e antes que eles pudessem ter qualquer reação que os levasse para fora dali, eles foram pegos. Pegos mais uma vez por um dos inspetores da escola.

 – Hyukjae, o que faz aqui? – o inspetor falou, de forma autoritária, assim que seus olhos caíram sobre os dois garotos que o olhavam, parados em meio ao corredor. Hyukjae não o respondeu, apenas deu de ombros antes de desviar o seu olhar para o outro lado, deixando claro que não se importava – E você, qual o seu nome?

– Lee Dong...

– Eu o obriguei a vir – Hyukjae o interrompeu, antes mesmo que Donghae terminasse de dizer o seu nome. O outro garoto, sem saber o que fazer, direcionou o seu olhar para Hyukjae, a procura de respostas, mas nada dele obteve, nem mesmo um olhar em retorno.

– Quantas vezes eu lhe disse que o acesso a este lado da escola é completamente proibido para aqueles que cursam o secundário? Se bem que eu não precisava nem mesmo te avisar, já que isso é explícito. Soube que você teve de cumprir detenção ontem, e sinceramente achei que ficaria uma semana, ao menos, sem que fosse necessário aplicar mais uma punição, mas pelo visto, estava errado. Você realmente sempre me surpreendend...

– Donghae! Hyukjae! – uma quarta voz se juntou a eles, chamando-os, roubando assim a atenção de todos.

Do lado oposto ao corredor de onde o inspetor havia aparecido, dois garotos andavam lado a lado em suas direções. Aos olhos de Donghae, apenas uma daquelas figuras era familiar, enquanto para Hyukjae, ambos lhe eram facilmente reconhecíveis.

O presidente e o vice-presidente do conselho estudantil: Park Jungsoo e Kyuhyun.

– Ainda bem que nós os encontramos! – o garoto mais baixo, e certamente mais velho, se adiantou, com um sorriso nos lábios que acentuavam a covinha adorável que adornava uma de suas bochechas – Procuramos vocês por toda parte, achei que haviam se perdido pelo meio do caminho...

Hyukjae respirou fundo, ao perceber o que acontecia, enquanto Donghae olhava para Kyuhyun e para o garoto que não conhecia sem nada entender, a procura de respostas. Respostas que, claramente, não vieram. Ao menos não por parte de Kyuhyun, que se limitou a balançar a cabeça negativamente enquanto olhava para o chão.   

– Jungsoo, foi você quem os trouxe aqui? – o inspetor finalmente direcionou a palavra ao menino mais velho, que não hesitou em afirmar que sim com a cabeça, envolvendo amigavelmente os ombros de Hyukjae com um de seus braços, em uma demonstração de companheirismo. 

– Kyuhyun e eu estamos reorganizando algumas coisinhas na sala do conselho estudantil, que estava precisando de uma reforma, e pedimos ajudas dos dois para carregar o que formos usar de dentro do depósito do elementar para o prédio do secundário – as sobrancelhas do inspetor se juntaram de leve, ao franzir o cenho, em uma demonstração simples de que ele não estava comprando a desculpa que o garoto chamado Jungsoo lhe dera – Na verdade, é quase como uma detenção extra, já que eles estão perdendo o almoço deles para isso... – ele logo tratou de completar, e com aquela simples frase, a expressão no rosto do inspetor desanuviou, demonstrando que ele estava enfim satisfeito com aquela colocação do presidente do conselho estudantil.

Era incrível como a palavra “detenção” rapidamente explicava tudo, e acabava com todas as dúvidas e suspeitas de qualquer inspetor impositor de regras.

– Então se você nos dá licença, inspetor Kim, eu gostaria de retomar os meus ajudantes antes que as aulas retornem e eu não consiga terminar a transferência dos objetos...

– Ah, é claro – o inspetor respondeu, pela primeira vez sorrindo, e ficou a observá-los enquanto Jungsoo enlaçava os braços de Hyukjae e Donghae em meio aos seus, um de cada lado, e rapidamente se afastava na direção de onde viera, praticamente arrastando-os junto consigo. Kyuhyun, de forma semelhante, se juntou a eles e logo os quatro tomaram o rumo do depósito que Jungsoo havia mencionado, parando apenas quando todos estavam seguros dentro dele, e bem longe dos olhares suspeitos de qualquer inspetor que os visse daquele lado da escola.

– Quantas vezes eu preciso dizer para você ser cauteloso, Hyukjae? – foi a primeira que Jungsoo disse a eles, ao se ver seguro dentro daquelas quatro paredes, envoltos por um mar de entulhos.

Respirando aliviado, Jungsoo soltou-se dos braços de Hyukjae e Donghae, virando-se de frente para os dois, tomando o seu lugar novamente ao lado de Kyuhyun. A primeira coisa que Donghae percebeu, ao olhar novamente para o rosto de seu salvador, foi que o sorriso diplomático de covinhas havia sumido completamente de seu rosto, sendo substituído pelo que ele poderia descrever apenas como a expressão que uma mão possuiria, ao reprimir um filho que teimava em fazer a mesma coisa que ela havia dito milhões de vezes para não fazer.

– Quantas vezes eu preciso dizer para não se meter nas minhas coisas, Leeteuk? – Hyukjae retorquiu, para o espanto de Donghae.

– Não me chame dessa forma, Eunhyuk... Eu já lhe disse para deixar nossos codinomes para trás. Eu não atendo mais por esse nome, e sequer o reconheço quando ouço.

– Se é para deixar para trás, por que me chamou pelo meu codinome, então?

– Isso não vem ao caso, você entendeu o que eu quis dizer.

– É, eu entendi, você fez questão de deixar isso bem claro uns anos atrás...

– O que é isso de codinomes? – Donghae perguntou, intrigado, interrompendo a pequena discussão que começava a brotar entre Hyukjae e Jungsoo, ou Eunhyuk e Leeteuk, como eles haviam se chamado.

Donghae sabia que não era uma boa hora para expressar a sua crescente curiosidade acerta de tudo o que envolvia Hyukjae, porém, ele também sabia que algo deveria ser feito para que aquela discussão entre os dois, que começava a se armar, fosse interrompida, antes que evoluísse ainda mais e chegasse a um debate acalorado e interminável. Jungsoo, em resposta, respirou fundo. Como se estivesse cansado.

– Quando éramos menores – Jungsoo finalmente começou, após alguns segundos em silêncio – nós éramos muito amigos. E fazíamos isso juntos. Essa coisa, que Kyuhyun chama de síndrome de herói. Nós dois ajudávamos as pessoas, em uma espécie de dupla. E usávamos codinomes para nos comunicar um com o outro, já que éramos de salas diferentes, e nossas trocas de informação aconteciam por meio de cartas. Os codinomes permitiam que não fôssemos pegos, caso uma das cartas fosse interceptada por quem não deveria. Era uma espécie de jogo diário entre nós dois, coisa de criança.

– Então é por isso que você não se demonstrou surpreso quando lhe contei o que Donghae descobrira sobre Hyukjae... – Kyuhyun murmurou, na direção de Jungsoo, e este acenou afirmativamente com a cabeça, concordando.

– Eu sempre soube o que Hyukjae fazia, na verdade, e que ele não é o cara que falam pelos corredores. Por isso eu sempre tentei aliviar para o lado dele, quando possível. Mas tem vezes que a autoridade dos inspetores não consegue ser sobrepujada, nem mesmo pelo presidente do conselho estudantil.

– E você não faz mais isso? – Donghae perguntou, forçando Jungsoo a franzir o cenho, sem entender direito o sentido de suas palavras.

– O que? Aliviar para Hyukjae?

– Não... – Donghae balançou a cabeça negativamente – Ajudar as pessoas.

– É claro que sim – Jungsoo respondeu-o, sorrindo em sua direção – Não me tornei o presidente do conselho estudantil por nada. É com esse objetivo que estou na posição em que estou, hoje. Para ajudar as pessoas. Eu apenas mudei o meu método, assumindo um meio mais formal, por assim dizer.

– Um meio que não venha a descer no nível deles, é o que sempre digo para Donghae – Kyuhyun completou a sua fala, olhando de canto na direção de Hyukjae, que não pareceu perceber a indireta. E se percebeu, não pareceu se importar.

– Exatamente. Eu uso de meios simpáticos à direção para punir àqueles que transgredem as regras da escola, e aplico detenções devido ao meu poder de presidente.

– Tanto faz – Hyukjae retrucou, dando de ombros – Eu não me importo com nada disso.

Mais uma vez, Jungsoo respirou fundo. Olhando para o seu rosto, Donghae conseguia perceber que realmente havia algo que o perturbava, deixando-o com aquele aspecto e atitude cansada.

– Precisamos conversar – foi a única coisa que ele disse, antes de pegar Hyukjae pelo braço e puxá-lo junto consigo para fora do depósito.

O que quer que os dois fossem conversar, Donghae poderia dizer, pela expressão presente no rosto de ambos, com toda certeza era importante. Para os dois.

 

– Diga logo, Leeteuk, não tenho todo o tempo do mundo – Hyukjae murmurou, assim que ambos adentraram o terraço do prédio elementar. O lugar onde os dois costumavam se encontrar quando ainda eram amigos.

– Como você está? – foi a resposta que recebeu, e aquilo o fez suspirar. Definitivamente, não era aquela pergunta que ele esperava ouvir.

– Bem, não pode ver? – perguntou, ironicamente, e Jungsoo balançou a cabeça negativamente em resposta. Não era aquilo o que ele perguntava.

– O que eu quero saber, Hyukjae, é como você realmente está. Você sabe muito bem do que estou falando.

– Sei – ele deu de ombros – E mais uma vez digo que bem.

– Dê-me o seu braço – Jungsoo ordenou, estendendo-lhe a mão, e Hyukjae permaneceu impassível, sem movimentar um músculo sequer para fazer o que ele dizia – Vamos, o seu braço, Hyukjae, eu quero ver o seu braço.

Suspirando, e percebendo que de nada adiantava teimar com Jungsoo, Hyukjae estendeu-lhe o braço, de forma irritada. Imediatamente, o outro garoto o agarrou pelo pulso e puxou as mangas de seu uniforme para cima, a procura de hematomas.

– O que foi isso? – ele perguntou, apertando de leve uma pequena mancha roxa em seu braço, e por mais que aquela ação doesse em Hyukjae, ele não se deu por vencido, e fez questão de não expressar qualquer semblante de dor.

– Donghae, ontem – ele finalmente respondeu ao perceber que Jungsoo não pararia de apertar a mancha roxa enquanto ele não respondesse a sua pergunta – Ele acabou me dando um ou dois socos no corredor, quando eu estava tentando pegar umas coisas de uns alunos do segundo ano. Feliz?

– Muito mais – Jungsoo balançou a cabeça, afirmativamente, e Hyukjae puxou o seu braço para longe do outro garoto, rapidamente abaixando a sua manga de volta para o lugar – Onde está o seu pai?

– Eu não sei. Por aí, como você pode ver – deu mais uma vez de ombros – Você sabe perfeitamente como as coisas são. Mais do que ninguém.

– Você sabe que pode contar comigo para o que precisar, não sabe, Hyukjae? Ainda mais agora que sou o presidente do conselho estudantil, você não precisa mais agir da forma que age, você pode ser você mesmo... Simplesmente você mesmo.

– Corta essa, não perde o seu tempo, Jungsoo – Hyukjae redarguiu, com uma expressão de enfado no rosto – Eu não vou nem mesmo lhe responder, porque isso seria despropositado. Volte para o conselho que é o seu lugar. Você nunca foi como eu, nós dois sabemos disso. Não ocupe sua mente com coisas desnecessárias.

– Hyukjae, você sabe...

– Apenas esqueça – Hyukjae interrompeu-o, não o deixando continuar – e deixe como está. Será melhor para nós dois.

– Eu queria poder te ajudar...

– Não há como me ajudar, você sabe disso. Mas não se preocupe, eu logo estarei longe dessa escola. Temos menos de um ano até a formatura, afinal. Ver-me longe desse lugar já fará muita coisa melhorar.

– Eu achei que as coisas estariam melhores agora, depois do que Kyuhyun me contou. Você sabe, depois que...

– Continua o mesmo – Hyukjae mais uma vez o interrompeu, não o deixando continuar. Ele já sabia tudo o que Jungsoo iria lhe falar, não havia uma coisa sequer naquela conversa que lhe fosse inédito. Nem inédito, e muito menos inesperado – Há memórias que são apenas nossas, Jungsoo, mesmo que outras pessoas façam parte dela. Há memórias que são importantes para um, e efêmeras para outros. Eu já sabia disso, muito antes, tanto que já havia lhe dito. E como eu disse, é melhor você apenas esquecer e deixar como está. Porque é o que farei.

– Você tem certeza que não fará nada sobre isso? Que apenas... Deixará assim?

– É o certo a se fazer. E agora vamos parar com essa conversa por aqui, por favor, porque ela já se mostrou despropositada – Hyukjae balançou a cabeça, dando alguns passos para trás, já fazendo menção de que tencionava se distanciar – O sinal do começo do próximo tempo já está para tocar, e ainda tenho de pegar uns materiais antes de ir para a sala. Nos vemos uma outra hora.

Sem esperar qualquer resposta, Hyukjae deu as costas para Jungsoo e o deixou sozinho no terraço, descendo as escadas de dois em dois degraus para chegar mais rápido ao piso anterior. Tudo o que ele queria, naquele momento, era distanciar-se daquele prédio.

Aquele prédio que evocava tantas lembranças que Jungsoo fizera questão de reavivar, com suas perguntas e preocupações irrefletidas.

 

As aulas da segunda parte do dia passaram de forma normal. Assim como as aulas do primeiro turno, as do segundo turno deixaram a sua cabeça ocupada o suficiente para que colocasse aqueles pensamentos que o atormentara no terraço de lado, e o fizesse concentrar-se completamente nas matérias escolares. Hyukjae apreciava a quietude que o envolvia naqueles momentos de estudo. A quietude e a tranquilidade de saber que ali ninguém iria tentar mexer com os seus pensamentos, e muito menos tentaria ultrapassar a barreira que construíra tão minuciosamente ao passar do tempo. Porque sim, ele não apenas era vítima de uma dúzia de boatos infundados, mas também era completo responsável pela sua origem, que buscava como objetivo manter as pessoas longes de si o máximo possível.

Ou ao menos, quase todas as pessoas. Havia uma, em especial, que não parecia nem um pouco disposta a deixá-lo só.

Hyukjae não frequentava as mesmas aulas regulares que Donghae, pertencendo, para seu alívio, a turmas completamente diferentes em todos os turnos. A não ser, é claro, em uma única turma em particular, que não fazia parte do hall de disciplinas regulares. Porque Donghae havia, no final das contas, que ter escolhido a mesma disciplina eletiva que Hyukjae.

Quando este adentrou a sala, naquela tarde, Hyukjae pensara que só poderia ser brincadeira que algo daquilo estava acontecendo com ele. O garoto, acompanhado por uma menina que ele reconhecia de vista, e sabia se chamar Yoona, uma das poucas pessoas na escola, aliás, que não o julgava devido aos rumores, sorriu em sua direção assim que adentrou a sala daquela disciplina eletiva, se demonstrando completamente surpreso por encontra-lo ali também.

Depois daquilo, claro, Hyukjae não mais conseguiu focar a sua atenção completamente na aula, sempre a tendo desviado para o garoto moreno que se sentara não muito longe de si, e que ele sabia, faria de tudo para tirá-lo de sua paciência e de sua zona de conforto quando lhe fosse possível.

E aquilo, infelizmente, não demorou a acontecer.

No final daquela aula, a professora anunciou que um trabalho em dupla deveria ser realizado, um projeto que deveria prolongar-se pelo ano inteiro, e que eles seriam livres para escolher a outra pessoa com quem iriam fazer dupla. No mesmo instante em que ouvira aquelas palavras, Donghae virou-se em sua direção e sorriu, não hesitando um segundo sequer antes de levantar-se e caminhar até a sua direção, visando a cadeira vaga ao seu lado, quando a professora lhes disse que poderiam se juntar a sua dupla para pudessem começar a discutir o que fariam em seus projetos.

– Nós faremos um ótimo trabalho juntos, Hyukjae – foi o que Donghae lhe disse, sorrindo, antes de sentar-se ao seu lado – Seremos a melhor dupla.

Hyukjae não encontrou palavras dentro de si para dizer-lhe que não, resumindo a sua resposta em um suspirar profundo, de quem sabia que não adiantava argumentar ou se opor. Aquilo iria, uma hora ou outra, tirá-lo do sério. E os pares de olhos e expressões boquiabertas lançados em sua direção apenas reforçavam esse fato, não muito agradável para si. Aquele seria, afinal, o começo de um longo trabalho que estava por vir.


Notas Finais


Alguém entendeu a conversa entre o Hyukjae e o Jungsoo? Sei que ela ficou confusa, mas aos poucos ela fará sentido, vocês podem ter certeza. Sobre a coisa da escola, eu realmente me baseei em escolas coreanas, até procurei uma matéria do sarangingayo sobre isso, para ter uma base.
Bem, espero que gostem, e até mais, na próxima att.
Bye!


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