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História Every Day - 00:04


Escrita por: stopbitchin

Capítulo 5 - 00:04


* Adam P.O.V *

A enfermeira aproximou-se dela e deu-nos um olhar breve como se pedisse por autorização. Encarei-a sem emoção. A minha cabeça estava a mil mas não aqui, não neste quarto.

Tinha noção de tudo o que estava a acontecer à minha volta mas não estava concentrado. Ambas as minhas mãos estavam a apertar a pega da cama do hospital. O metal, agora aquecido pelas minhas mãos, dava uma certa sensação de conforto. Eu estava com as mãos nele quando me disseram que a cirurgia podia ter resolvido tudo. 3 anos depois aqui estou eu. Uma sensação de raiva apoderou-se de mim e larguei a beira da cama: a sensação de conforto já não estava lá.

Melody notou o meu movimento e aproximou-se, voltando para o meu lado, sítio que ela abandonou por pouco tempo apenas para dizer algo que não me interessei em ouvir ao Luís. Senti o seu braço esquerdo se encostar no meu braço direito e a mão dela tocou na minha à espera que eu a segurasse. Não movi um músculo. Não iria agarrar na mão dela dentro deste quarto. Não em frente a ela.

A enfermeira começou a explicar o que iria fazer. Já todos sabemos o que vai acontecer. Vai matá-la. Simples assim.

- Vou começar por de... - a enfermeira, que até agora não tinha encarado nenhum dos ecrãs, parou de falar imediatamente. O meu corpo ficou alerta. - Eu peço desculpa por interromper o procedimento mas eu preciso de verificar algo antes. - Ela disse e correu para fora do quarto.

O meu sangue ficou frio. O que mais poderia ter acontecido para a morte dela ter de ser adiada?

Melody remexeu-se do meu lado enquanto olhava atenta para um dos ecrãs. Ela era a única de nós que tomava algum tipo de atenção àqueles ecrãs mesmo não sabendo ler nenhum deles. Olhei diretamente para ela em busca de alguma informação. Os olhos dela estavam arregalados e a respiração dela acelerou.

- Melody? - perguntei.

- A-Adam - ela começou mas parou logo de seguida.

- Melody, o que foi? - abanei-a para que se focasse em mim e não no ecrã. Nada funcionou. Eu olhei atentamente para os dois ecrãs que estavam na direção que ela encarava. Dois ecrãs que nos indicaram ser, da esquerda para a direita, o ecrã da atividade cerebral e o ecrã dos batimentos cardíacos e as coisas relacionadas ao mesmo. - Melody? - repeti.

- A-aquela subida não é c-comum. - ela disse ao apontar para uma subida quase impercetível no ecrã da atividade cerebral.

- Melody, como assim não é comum? O que queres dizer com isso? - perguntei assustado.

- A linha sempre foi constante. Uma linha constantemente no 0. Nada de variações. - ela disse agora mais calma - Agora consegue ver-se uma subida. - ela disse e engoliu a seco.

Uma subida.

No ecrã da atividade cerebral.

- O que isso significa? - perguntei.

- Eu não tenho certeza... - ela suspirou e olhou para os pais e o irmão da Char. Não estavamos a conversar suficientemente alto para que eles nos ouvissem mas ela baixou o tom de voz ainda mais - Mas aquilo é atividade cerebral.

A minha respiração ficou presa na minha garganta.

'Se o paciente não mostra sinais de atividade cerebral durante 3 anos então provavelmente não mostrará nunca mais.'  Esta frase iluminou-se no meu pensamento. Ela estava a demonstrar atividade cerebral! Ela pode provavelmen...

- Adam - Melody chamou-me e aproximou-se de mim - Não acredito que seja possível. - ela disse.

Antes que tivesse tempo de lhe responder, um grupo constituído pela enfermeira que esteve aqui antes, o doutor Curtis (que acompanhou o estado da Char durante estes 3 anos) e outras 3 pessoas que eu desconhecia mas deduzi serem médicos pela bata igual à do doutor Curtis entrou no quarto.

Todos eles olharam atentamente para o ecrã que antes eu e a Melody estávamos a observar. Nenhum deles mudou a expressão facial, o que me assustou levando a minha esperança com eles. 

- Temo que há uma mudança de planos - o doutor Curtis começou, escrevendo algo na prancheta característica do hospital. - Preciso que todos tomem atenção àquele ecrã por favor. - A enfermeira aproximou-se do ecrã e carregou nuns botões por trás do mesmo fazendo com que o ecrã criasse um tipo de aproximação nas ondas que agora se formavam mais frequentemente.

- O que significa isto? - Camila começou.

- Este ecrã, como já foram informados anteriormente, regista a atividade cerebral da menina Charlotte - ele disse. A minha mão segurou a da Melody, sem me preocupar com o local onde nos encontrávamos ou até com o sentimento de culpa que se formava. - E, como podem ver, existe variação do mesmo. - Ele disse e fez uma pausa.

- Isso significa que existe atividade cerebral? A minha filha está viva? - Camila perguntou já com lágrimas nos olhos. 

- Existe sim atividade cerebral e a probabilidade de vida da menina Charlotte está bem alta. - ele disse. Eu sabia que havia algo mais por detrás daquilo. - Mas após 3 anos, a probabilidade de danos cerebrais como a perda da memória tanto a curto como a longo prazo, da fala, da mobilidade, da qualidade de vida. Não sabemos qual o estado do cérebro dela e, é muito provável que a pessoa deitada nesta cama não seja mais a Charlotte que todos conhecem. - Ele disse calmamente. 

A probabilidade de vida dela está alta. Essa frase pairava na minha cabeça. Danos cerebrais.

Soltei a mão da Melody e sai do quarto. 

Perda de memória. Perda da fala. Perda da mobilidade. 

Ela está viva. Era tudo o que eu precisava de saber no momento. 

Sentei-me na cadeira que habitualmente ocupava na sala de espera. 

Tenho oportunidade de me redimir.


Notas Finais


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