* Adam P.O.V *
- Devemos contar-lhe assim que acordar? - Reconheci a voz de Melody.
- Eu acho que ele vai querer saber. Além disso, é um direito dele. - Ouvi Luís logo em seguida.
- Mas agora? - ela perguntou.
O que eles teriam para me contar?
- Sim, quando ele acordar. Preferes que seja eu a contar-lhe? - ele perguntou.
As vozes deles estavam ligeiramente diferentes. Eu já não ouvia a voz aborrecida de Luís: ouvia uma voz alegre. Coisa que não ouvia à imenso tempo.
- Não, eu posso contar-lhe.
Percebi então que não estava mais na poltrona no hospital quando me espreguicei demoradamente na cama macia por baixo do meu corpo. As luzes estavam apagadas e o pequeno estore, que não fechava até ao fim, deixava entrar uma luz fraca. Ainda era de dia.
Levantei-me rapidamente, abrindo os olhos. Estava em casa.
- Melody? - disse ao entrar na sala e ver Melody e o Luís na sala.
- Adam - ela exclamou surpresa.
- Olá Adam - Luís sorriu para mim. O quê?
- Porque é que estou em casa? Como é que me trouxeram até cá?
- Não te lembras mesmo? - Melody perguntou e Luís riu.
- É óbvio que não, ele tem andado tão cansado que não se lembra de ter acordado para o conseguirmos trazer para casa.
- Eu acordei? - perguntei confuso. Realmente não me lembrava.
- Sim - Melody disse.
Olhei para o relógio pendurado na parede.
- Como assim são 18 horas? - perguntei. - Eu perdi o resto da hora da visita! Eu dormi assim tanto? Eram apenas 16h quando fui para o hospital! - acrescentei já correndo para pegar nas minhas coisas e ir para o hospital.
- Adam, nós fomos para o hospital ontem! Dormiste o dia todo! - Melody disse a rir.
- Merda, merda, merda! - eu disse.
- Nós meio que temos algo para te contar... - Luís disse com um sorriso na cara.
- Como assim? Algo se passou? - Perguntei preocupado. O sorriso de Luís podia muito bem ser forçado e eles poderiam ter más notícias.
- Não mas... - ele disse.
- Diz logo o que se passa porra! - gritei.
- Ela acordou. - Melody disse rapidamente.
- E-El.. - tentei dizer.
Ela acordou. Depois de 3 anos, ela acordou. Ela acordou! Precisava de gritar isso aos 4 ventos!
Rapidamente peguei nas minha carteira e nas chaves, saí de casa e corri para o meu carro.
ΔΔΔΔΔ
* Charlotte P.O.V. *
Eu tinha uma dor de cabeça horrível. Ainda estava deitada na cama desconfortável e uma comichão horrível na garganta estava a atormentar-me. O que raio aconteceu?
- Menina Charlotte? - ouvi uma voz abafada. O barulho infernal estava a pairar no quarto, fazendo com que a minha dor de cabeça piorasse. Não consegui abrir os olhos mas esforcei-me para me mexer. - A menina está a ouvir-me? - A voz desconhecida fez-se ouvir novamente.
Abri a boca para falar mas só consegui tossir. O barulho infernal acelerou com a minha tosse e deduzi que fosse o som feito pelos meus batimentos cardíacos.
Consegui finalmente abrir os olhos e dei de caras com uma mulher vestida de azul marinho. Do lado esquerdo da roupa ela tinha um pequeno cartão de identificação. Percebi então que estava num hospital e que a mulher era uma enfermeira. Os meus olhos encararam a minha mão esquerda. Uma intra venosa estava nela. Ai como eu odeio agulhas!
- Menina, beba por favor! - a mulher disse ao aproximar-se com um copo de água.
Nunca algo me soube tão bem como beber aquela água.
- O-On... - pigarreei. - Onde estou? - a minha voz saiu rouca e baixa.
- A menina fala! - a enfermeira celebrou. O quê? Claro que falo! - Espere só um bocadinho, vou chamar o Doutor Curtis. - ela disse e saiu rapidamente do quarto.
Olhei em volta. O barulho infernal, que ainda lá estava, vinha do indicador dos meus batimentos cardíacos. Olhei novamente para a minha mão e vi a pequena mola cinzenta à volta do meu dedo indicador. Levantei a minha mão para tocar na minha cabeça. Olhei para o meu corpo e vi uma bata daquelas bem comuns nos hospitais. Os lençóis brancos tapavam as minhas pernas mas eu não conseguia ver o meu cabelo longo. Toquei nele apenas para perceber que me chegava até aos ombros. O que aconteceu?
Até que percebi que não conseguia mexer as pernas. O que se passou comigo? Eu estou paralisada?
- Não acredito que consegue falar! - um homem de idade entrou no quarto.
- O QUE ACONTECEU COM AS MINHAS PERNAS? EU NÃO CONSIGO MEXÊ-LAS! - gritei já em desespero.
- Menina, sou o Doutor Curtis. A menina sabe onde está? - o homem perguntou calmo mas a sorrir.
- Num hospital... - disse ao encará-lo.
- E sabe a razão de aqui estar? - ele perguntou.
Rapidamente tudo voltou à minha cabeça.
O Jordan, a estrada, o carro, o sangue, as dores.
- E-eu fui atropelada. - disse em choque. - É por isso que eu não consigo mexer as minhas pernas? - perguntei já com lágrimas a correr pela minha cara.
- A menina esteve em coma durante 3 anos. - A minha boca abriu-se ao máximo. 3 anos? Eu estive apagada durante 3 anos?
- T-três anos? - perguntei incrédula.
- Podemos passar às explicações assim que fizermos alguns testes. - ele disse e sorriu. - Mas existem pessoas que ficarão muito felizes quando souberem que está acordada.
- A minha mãe! Onde é que ela está?
- A Senhora Camila será informada sobre si em pouco tempo. O seu pai, irmão, melhor amiga e namorado estarão aqui também.
Um sentimento de culpa atingiu-me. Adam! Afastei os meus pensamentos para longe.
- Que tipo de testes? - eu perguntei.
- São testes bem simples... - ele começou.
Depois de vários testes como o 'segue a luz', as perguntas sobre mim, 'o que consegues ver nesta imagem?', uma agulha espetada na minha perna (esta foi a melhor dor que eu já senti porque provava que eu não estava paralisada) e de várias explicações, a minha mãe entrou no quarto acompanhada do meu pai.
- Filha! Não acredito! Eu esperei 3 anos! - Ela disse a meio do choro e do abraço em que eu estava enfiada.
- Mãe, estás a dar-me uma grande dor de cabeça, por favor, fala mais baixo! - eu disse enquanto também chorava. Não era habitual ver a minha mãe chorar: o que fazia com que eu chorasse sempre com ela.
- Ai desculpa amor, mas nós estamos tão felizes por estares bem! - o meu pai disse num tom mais baixo enquanto nos abraçava às duas.
- Eu também estou feliz por estar bem - disse e depois todos rimos.
A porta do quarto foi aberta com força, criando um estrondo que me fez fechar os olhos e colocar a mão na cabeça como se esta ação fosse proteger-me do barulho. Quando finalmente abri os olhos dei de caras com o Adam à porta. Com uma mão na maçaneta e outra na batente, ele encarava-me com a respiração apressada.
Senti os meus pais se afastarem de mim mas nada fiz para os impedir. O meu olhar encarava o de Adam. Percebi que os meus pais saíram do quarto, deixando o Adam parado ao pé da porta agora fechada.
Antes que eu tivesse tempo de dizer alguma coisa, Adam correu para mim e beijou-me.
Um sentimento de culpa atingiu-me com toda a força mas, a todo o custo, ignorei-o só por uns minutos: Eu precisava disto.
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