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História Everybody's Broken - To The Fire


Escrita por: lara_henio

Notas do Autor


Gentee, estou super ansiosa para soltar logo esse capítulo!!

Capítulo 18 - To The Fire


“Eu o olhei direto entre os olhos
Pois tudo que tínhamos era nossa inocência
Tudo que tínhamos eram nossos corações para tentar ganhar a luta, você me diga...
Você pode me salvar disso tudo?
Não quero cair“

- Não vai chamar seu namorado? - balbuciou a avó tomando um gole de seu café.

Emilly terminou de pôr a mesa e subiu para seu quarto, onde Jon ainda ressonava pacificamente. Sabia que ele demorara horas para pegar no sono, teria um dia ainda mais difícil hoje, mas ele disse que precisava acordar cedo para trabalhar. Pensou se os outros dois estariam dispostos para ir ao estúdio, talvez eles nem fossem e Jon não faria falta por lá, mas prometera que o acordaria.

- Jon – chacoalhou seu braço.

No primeiro toque ele já se sentara na cama, olhou-a assustado como se uma bomba tivesse explodido no quarto ao lado.

- Está tudo bem – murmurou como se acalmasse uma criancinha que acordara de um pesadelo. – Vamos tomar café.

Ele se vestiu demoradamente, mesmo depois de ter lavado o rosto ainda tinha as feições abatidas e Emilly recitou algumas palavras de motivação. Ele balançou a cabeça dizendo que nada serviria.

- Tem certeza que vai ao estúdio? Você mal consegue espetar seus ovos com o garfo, como vai cantar?

- Nós combinamos – retrucou em voz baixa.

- Eles estarão tão indispostos quanto você.

Ela estava certa, mas provavelmente eles não tocariam, ficariam enrolando até a hora de irem para o hospital.

- Eu não estou preparado...

Ela pousou o garfo no prato e segurou sua mão.

- Ninguém está preparado para isso, Jon, mas você precisa se apoiar nas coisas boas que ficaram. O Richie que você conheceu já se foi há semanas, você precisa deixar seu corpo descansar. Ele não iria querer que você se lembrasse dele dessa forma, preserve as coisas boas na memória, porque isso ninguém pode te tirar.

- Depende... – sorriu sem humor, referindo-se às memórias apagadas de antes do acidente.

- Bom, as que você ainda tem consigo, pelo menos. Você só se lembra das coisas até os seus dezoito anos, mas vocês se conheceram aos quinze.

- Foram bons anos – divagou fitando o prato.

(...)

Julia abriu os olhos com dificuldade, estavam inchados e ardiam. Era uma prova de que a noite passada não fora um pesadelo. Gritara para Henry fazer o retorno e deixá-la em seu apartamento, ele tentara acalmá-la insistindo para conversarem em sua casa, mas só conseguiu deixá-la totalmente histérica. Trancou a porta furiosamente e atirou-se na cama chorando aos gritos, estava tudo arruinado de vez.

Agora podia levantar-se, tomar um café civilizadamente e refletir sobre tudo. De repente, a saliência em sua barriga fizera sentido, entre outras coisas estranhas em seu corpo. Gelou; sua menstruação nunca parara totalmente, vivia tendo filetes de sangue em sua calcinha, achara que por conta de todo o nervoso que passara desde que Jon se fora, sua menstruação reduzira-se a resquícios discretos. Jon! Ele era o pai, ele já a trocara por outra e agora...

Poderia ter vomitado com tantos pensamentos, mas não sentia enjôos, fez as contas rapidamente. Se aquele ser fora concebido na última vez em que transara, estaria grávida de pelo menos vinte semanas. Vinte! Como era possível não ter autoconhecimento de seu corpo para não notar nada estranho durante todo aquele tempo? Se bem que notara cada uma, apenas não associara todas juntas a uma gravidez.

Ela nunca engravidara antes, nunca tivera um só falso alarme, até porque sua menstruação era totalmente descoordenada, mas já chegara a pensar que fosse estéril. Sua cabeça latejou e comeu com mais afinco, como se assassinasse os biscoitos em sua boca.  Outra contagem, já passara do tempo em que poderia abortar com segurança, nenhuma clínica a aceitaria com o tempo em que estava. Mas teria coragem de abortar a única coisa de Jon que lhe restara? Sim, aquele filho só serviria para desnorteá-los ainda mais, quando parecia que tudo entre eles já estava decidido.

Tomou um banho rápido e saiu para o trabalho, ainda pensando em todas as coisas que mudariam em sua vida. Já podia saber o sexo da criança. Teria condições para montar o enxoval? Não, nem em mil anos, ainda demoraria duas semanas para receber seu primeiro salário e tinha contas em atraso. Céus! Não calculara seu novo salário para suprir as necessidades de mais alguém além de si própria, então, talvez fosse obrigada a contar a Jon, mas sua situação também não estava boa. Richie estava prestes a partir, como ele poderia lidar com essa súbita notícia? Não, não era o momento.

Henry a esperava sentado em sua própria cadeira, agradeceu mentalmente que Sharon não tivesse chegado ainda. Só quando o viu, com um aspecto tão abalado, pensou no que aquilo significaria para eles, ela estava grávida do ex e eles estavam juntos há apenas alguns dias.

Sentou-se no lugar de Sharon e fitou-o com lágrimas nos olhos.

- Conseguiu dormir? – ele perguntou.

Respondeu com um aceno afirmativo.

- Jules...

Ele parecia prestes a pedir desculpa por alguma coisa, quando ela é que quase o estapeara na noite anterior. Sharon atravessava a porta.

- Eu quero ficar sozinha, depois nos falamos.

Ele se levantou cedendo o lugar para ela enquanto Sharon jogava suas coisas na mesa, pensou em insistir, mas um olhar raivoso da outra o fez quase correr para o elevador.

- Estou grávida – Julia falou para a colega.

Era a primeira vez que dizia em voz alta e queria saber qual era a sensação. Sharon sentou-se, pálida, olhos arregalados.

- Do meu ex – completou Julia.

Não sabia bem por que estava confidenciando aquilo para ela, mas Sharon pareceu entender e deu-lhe um leve sorriso, que parecia fazer seus músculos doerem com o movimento.

Ela passava pelos confusos corredores quando eles se encontraram. Fez menção de desviar os olhos e voltar por onde viera, mas Henry segurou-a.

- Consegui uma consulta para você em um consultório aqui perto – entregou-lhe um cartão.

Pensou em questionar como conseguira tão em cima da hora, ele pareceu ouvir seus pensamentos.

- Ontem à tarde, assim que vi os resultados procurei uma amiga minha, ela é dona do consultório, mas te atenderá pessoalmente.

Julia corou.

- É a melhor que eu conheço – acrescentou afagando seu rosto.

Ela abraçou-o, estava com medo de todas as decisões que viriam.

- A consulta é às duas horas, tire o dia de folga, você terá o atestado.

Ele soltou-a olhando em seus olhos.

- Depois a gente conversa, se você quiser.

Ela deu-lhe um rápido selinho e voltou à recepção para recolher suas coisas.

(...)

Emilly estava certa, eles não tocaram. Phill, que não tinha nada a ver com aquilo, foi solidário e deixou-os sozinhos no estúdio. Tico tinha os cabelos desgrenhados, olheiras fundas e olhos vermelhos.

- Ainda teremos coragem para continuar com a banda depois que ele...

- Phill passaria de substituto a guitarrista oficial – complementou David.

Jon pensou no que Emilly dissera.

- Quando nós decidimos continuar e chamar Phill, Richie já não estava entre nós, o fundamental dele já tinha partido. Talvez parte de nós já soubesse disso, ainda que nós nos recusássemos a aceitar. Nossa decisão já foi tomada.

Suspiraram em uníssono, David acabou dormindo no sofá, Tico ensaiou sozinho sem muito vigor, e Jon começou a trabalhar em uma nova música. Papel e lápis trabalhando furiosamente em um esboço do que poderia ser uma composição promissora. Acabaram passando do horário que haviam planejado, arrumaram-se rapidamente, mesmo que não tivessem pressa de chegar.

Jon não pode deixar de notar a ausência de Julia, foram atendidos pela outra recepcionista loira do hospital. Subiram em silêncio, encontraram os Sambora com um primo e um tio de Richie, que até então nunca tinham visto no hospital, Dr. Crispin ainda não voltara.

Tico abraçou a mãe de Richie, que soluçava alto tremendo o corpo inteiro, e Jon aproximou-se do pai pensando em interrogá-lo.

- Já desligaram os aparelhos? – sussurrou para que só ele ouvisse.

Sr. Sambora balançou a cabeça afirmativamente deixando cair algumas lágrimas, mas Dr. Crispin alcançou-os a tempo de esclarecer.

- Ele continua respirando.

David esboçou um sorriso fraco, mas esperançoso; Henry estendeu a mão pedindo silêncio para continuar a explicar.

- Eu disse aos outros que havia essa possibilidade, David, você já havia se retirado. Isso não significa que ele viverá.

Mas David não parecia acreditar nas palavras do médico, sorriu para Jon, que balançou a cabeça negativamente.

(...)

Julia voltara da consulta, sentia uma exaustão mental que há muito não tinha, mas não podia desligar-se dos pensamentos. Tirou as sapatilhas, vestiu um pijama e sentou-se na cama vasculhando a gaveta do criado mudo. Ouviu o tilintado da aliança, parecia ter passado um século desde que a colocara ali, mas ignorou e pegou a agenda telefônica que procurava. Discou os números em seu celular nervosamente, respirou fundo ouvindo a linha chamar.

- Alô? – uma voz feminina atendeu.

- Tia? – perguntou relutante, embora tivesse a certeza de que era a mesma.

Por segundos fez-se apenas silêncio, Julia ouvia a respiração do outro lado, mas não soube o que dizer.

- Julia? – perguntou com voz embargada – É você mesma?

Ela não contara com a possibilidade de sentir tanta vontade de chorar, mas não imaginara que a tia a atenderia com tanta comoção. Daniel sempre dizia que eles tinham raiva e vergonha dela, então esperava que ela batesse o telefone em sua cara se atrevesse ligar.

- Tia...

Pensou no que poderia dizer antes de soltar as bombas.

- Jules, fala com a sua mãe...

Com assombro, percebeu que a mãe encontrava-se na casa da tia, embora estivesse em outro cômodo.

- Não, não, por favor, eu não consigo! - implorou pensando em desligar antes que ela chamasse sua mãe.

- O que está acontecendo? Você não está mais com o namorado, por que não voltou?

Suspirou aliviada por ela não perguntar por Daniel.

- Nós todos estaremos te esperando de braços abertos – completou parecendo adivinhar seus pensamentos.

Sentiu vontade de perguntar se os pais ainda guardavam rancores dela, ou se, conforme Daniel insinuava, nunca mais poderiam olhar em seu rosto. Novamente a tia adivinhou seus receios.

- É claro que no começo eles ficaram furiosos, achávamos que você saíra para uma viagem com ele, mas os meses foram se arrastando e as saudades falaram mais alto. Eles são seus pais, têm sonhado com esse dia em que você ligaria.

- Tia... – choramingou – Eu tenho tanto para falar...

Ouviu um choro baixo.

- Por favor, só não desliga – implorou a tia.

Julia contou os fatos de forma extremamente resumida e incompleta; disse que Jon sofrera um acidente que os obrigou a se separarem, ela teve que buscar um trabalho melhor e um novo lugar para morar.

- Você tem falado com Daniel, não é?

Ela estremeceu.

- Eu sei que ele anda estranho, gostaria de trazê-lo de volta para cá, ele está desempregado e falido. Talvez seja o momento de forçá-lo a se tratar.

- Tia, ele está internado – anunciou com um fio de voz.

A mulher parecia buscar palavras enquanto absorvia a informação.

- E eu estou grávida.

Enquanto a tia permanecia muda, ouviu uma voz ao fundo que a fez tremer da cabeça aos pés.

- Com quem você está falando, Rose? Você está chorando?

Seu pai interrogava ao longe, mas a voz ficava cada vez mais perto do aparelho. Julia desligou.

Esperava tirar um peso de seus ombros, mas o oposto aconteceu. Agora seria atormentada com imagens dos pais chorando por sua ligação, pela notícia de que serão avós e por Daniel em uma clínica, que eles nem sabiam ser psiquiátrica, pois dera a entender que era um tratamento para alcoólatras.

Resolveu comer um sanduíche com o que havia na geladeira e voltou para a cama para dormir até que Henry chegasse. Acordou à noite com o som estridente do interfone, abriu a porta correndo para o banheiro antes que Henry entrasse e a visse tão descabelada.

Ele a esperava na cozinha com um pacote de um restaurante, cumprimentaram-se com um demorado beijo que ele fez questão.

- Trouxe comida para nós.

Ela não retrucou, pegou os pratos e começou a arrumar a mesa.

- Foi tudo bem na consulta? – perguntou ele sentando-se.

- Sim, fiz os exames e amanhã farei uma ultrassom.

Começaram a se servir.

- Daniel voltou para casa – anunciou calmamente.

Julia quase engasgou.

- O quê?

- O caso dele não é de internação, ele pode consultar-se semanalmente com um psicólogo, mensalmente com um psiquiatra e tomar remédios diariamente.

- O que ele tem? – murmurou sem querer ouvir a resposta.

Henry olhou-a gravemente pousando os talheres no prato.

- Esquizofrenia.

Julia piscou aturdida sem saber exatamente do que se tratava, embora tivesse uma vaga ideia de que correspondia ao comportamento dele.

- Ele ainda não me procurou.

- O médico que o atendeu me disse que ele não se mostrara tão violento ao sair, chegou lá descompensado, mas foi se acalmando conforme conversaram com ele. Talvez ele nem esteja bravo com você. Ele não tem seu endereço, tem?

Ela balançou a cabeça negativamente enquanto mastigava.

- Então ele só pode te procurar no hospital, terá bastante gente lá, ele não pode te fazer mal.

- Estou com mais medo dele descobrir minha gravidez do que de seu rancor pela internação.

- Qual pode ser a pior reação?

- Eu não sei, – deu de ombros – ele é imprevisível.

O celular de Henry tocou, era do hospital.

- Desculpa – murmurou para ela, levantando-se da mesa para atender a ligação.

Julia terminou de comer, esperou até que ele voltasse.

- O que foi? – perguntou ao ver que ele recolhia suas coisas para sair.

- Preciso ir para o hospital, – suspirou profundamente – Richie faleceu.

Ela chorou, muda, desejando poder fazer algo por Jon. Só podia poupá-lo de mais uma desgraça, saber que seria pai.

(...)

No meio da noite, ele simplesmente parara de respirar, a única função vital que ele ainda tinha cessara. Os pais vinham chorando por dois meses, uma morte que se estendera por semanas, até que tiveram um quase alívio por saber que agora podiam desabar de vez. Alimentar esperanças, embora fosse natural da mente humana, era também doloroso como agarrar-se a uma corda para não cair em um desfiladeiro, sustentando o peso do corpo nas mãos. Agora podiam soltar a corda, embora só houvesse a escuridão abaixo.

Seria uma longa noite, levaria horas até a liberação do corpo para a funerária, horas até que eles acertassem os detalhes do funeral e horas até que avisassem todos os parentes e amigos. Depois chegariam em casa, passariam horas insones até saírem para o funeral seguido do enterro.

A mídia fora avisada, embora nunca soubessem por quem, gravavam reportagens à porta do hospital, o último sobrevivente do desastre acabara de morrer. Completavam três mortes dos sete envolvidos, e ainda havia um último que não se recuperara de todos os danos.

No noticiário, prestaram uma singela homenagem mostrando-o tocando o solo no último show antes do acidente, o último show de sua vida. Mas naquele grand finale não havia aplausos, não havia gritos, havia apenas uma pequena platéia e o som da terra batendo ao ser jogada sobre o caixão.


Notas Finais


Realmente espero que vocês não me matem por esse desfecho!!


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