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História Everybody's Broken - Letting You Go


Escrita por: lara_henio

Notas do Autor


Oláa, gostaria de dizer apenas que estou adorando a reação de vocês a esses últimos capítulos que postei. Estava realmente ansiosa para lançar essas bombas e aguentem firme porque cada capítulo será uma diferente!

Capítulo 20 - Letting You Go


“Teria sido tudo tão fácil
Se você apenas me fizesse chorar
E você me disse como estava me deixando

(...)

É duro, tão duro - está rasgando meu coração
É duro deixar você ir
Agora uma jogadora de tarô disse ‘eu vou tirar um coração
E nós encontraremos alguém novo para você’
Mas eu fiz minha última viagem para estes lábios festivos
Quando eu apostei tudo o que eu tinha em você”

A morte de Richie iniciara uma nova etapa na vida de todos, para David e Tico era como se estivessem colidindo dentro da van esse tempo todo e só agora o acidente acabara. Jon preferia fingir para si mesmo que Richie morrera por alguma doença, ou qualquer outra coisa que não fosse relacionada àquele acidente. A causa de sua morte dificultava ainda mais a aceitação, pois ninguém que se conformava que uma vida fosse tirada daquela forma, para Jon tanto pior, pois não havia participado do velório de Phillip, não estava familiarizado com os tons fúnebres.

Por outro lado, o trabalho passou a ser prioridade máxima, primeiro para desviar as atenções para algo que não fosse Richie e Phillip; segundo porque precisavam de dinheiro e terceiro porque não se sentiam mais traindo Richie, ele os traíra, ele os deixara. As músicas tristes soavam ainda mais bucólicas, as felizes soavam apenas energéticas, o rock ainda era o rock, apenas eles não eram os mesmos. David ainda era o maior líder, decidia tudo e corria atrás das coisas.

Jon passava mais tempo na casa de Emilly do que na sua própria, ela era seu refúgio depois de longas horas de treino. Ela ainda tagarelava sobre qualquer coisa que transpassasse sua mente, nenhuma rotina era repetitiva com ela, havia sempre algo novo em sua aura, e de certa forma, ele rejuvenescia com ela.

Duas semanas se passaram e Phill conseguira a primeira oportunidade de show para eles. Tocaram em um bar cuja banda fixa fora demitida, conseguiram um show para a semana seguinte e a oferta de uma vaga para tocarem todos os sábados no lugar da antiga banda, porém, tocariam apenas covers. Embora fosse um passo para trás voltarem aos covers depois de lançarem dois CDs, aceitaram. David também os inscrevera em concursos, mas até então não obtiveram respostas.

Tudo parecia encaminhado e ao mesmo tempo tão sombrio, Jon temia entrar em depressão, não sabia até que ponto era normal sentir-se daquela forma, tão vazio.

(...)

Julia ainda não acreditava que tudo aquilo tivesse realmente acontecido consigo. Dois dias depois da primeira ligação com seu pai em três anos, eles apareceram em sua porta. O impacto do encontro era tão forte que eles guardaram o desprezo pelo apartamento para depois. Sua mãe ainda mantinha os cabelos impecavelmente tingidos de preto, um corpo esguio conquistado com diversos procedimentos clínicos, mas seu rosto não pode sustentar a cotidiana expressão de indiferença. Julia soluçava alto, apoiando a cabeça no ombro da mãe enquanto permaneciam abraçadas à porta. Seu pai estava totalmente grisalho e um tanto calvo, envelhecera bem mais do que devia, mas seu olhar era mais doce do que jamais fora.

Pelos breves instantes em que ela os abraçou, não houve qualquer resquício de mágoa, apenas a vaga lembrança de que algo acontecera para que se separassem.

A mãe a afastou avaliando dos pés à cabeça a imagem da filha, calculando se aquela era a aparência de alguém que estava se alimentando e se hidratando corretamente, até que seus olhos pousaram na minúscula barriga. Olhou para o marido, que assentiu com a cabeça e franziu o cenho com preocupação visível.

As cenas seguintes foram de completa censura, os pais censuraram a “pobre quitinete”, o estado físico de Julia, seu emprego extremamente exaustivo e de baixa renda. A pior reação foi quando Julia contou que Jon não assumiria a paternidade. Seu pai levou a mão ao quadril como se apalpasse uma arma invisível, e sua mãe estancara fazendo um “o” com a boca. Mas ao contrário do esperado, eles se mostraram solidários e compreensíveis.

- É a prova perfeita para eles te jogarem na cara para o resto da vida que sabem o que é melhor para você – explicara Henry.

Começaram a dissuadi-la a voltar com eles, largar seu emprego e sua casa para voltar às mordomias dos pais. Sabia que eles não entenderiam suas realizações pessoais, então simplesmente disse que estava com um novo namorado a quem não queria deixar. A segunda etapa do encontro seria convencê-los de que Henry era uma boa companhia, mas bastou dizer que era um neurologista. Os olhos do casal brilharam de orgulho, fizeram questão de que ela continuasse com ele, pois segundo eles, Henry daria um futuro digno à filha e à neta.

Julia não discutiu quanto ao futuro deles como casal, preferindo deixar que eles fantasiassem qualquer coisa que a permitisse continuar sua vida ali. Foram embora sem sequer passar uma noite ali, mas prometeram que a visitariam assim que os negócios da família ficassem mais estáveis. Não comentaram sobre Daniel, ninguém mais parecia tomar qualquer partido sobre ele.

Agora sua vida adquirira outro ritmo, outras prioridades. Começara a tomar suas vitaminas, forçava-se a comer em horários regulares e alimentos menos processados. Ainda assim, seus exames todos saíram alterados e tivera que refazê-los, tinha pequenos sangramentos constantes e esperava os resultados. O feto também parecia não se desenvolver conforme o tempo de gestação, mas nenhum médico sabia informar com precisão se havia qualquer indício de doença ou má formação.

Jon sumira, nenhuma ligação, nenhum recado além dos parabéns deixados a Sharon. Julia tentava não sucumbir à dor daquela rejeição, algo quase impossível, mas sabia que seu estado emocional afetava diretamente seu bebê. Então ela fingia voltar no dia do acidente e ter recebido a notícia de que Jon não sobrevivera, nenhum deles, estavam todos mortos para ela.

Daniel demorara apenas três dias desde a visita de seus pais até dar sinal de vida, ele não quis satisfações sobre ela tê-lo internado, não quis falar sobre si. O encontro aconteceu na cantina do hospital enquanto Henry não estava, Daniel estava feliz (até demais) pela gravidez, perguntava sobre as contas do hospital e prometeu que logo mais a ajudaria financeiramente. Ele parecia disposto a se reconstruir, mas ela temia ter que participar disso, como se já não tivesse tormentos suficientes com ele.

Por sorte, exceto pelo próprio pai da criança, todos a seu redor ofereciam apoio constante, inclusive Henry. Ainda mais confiante por saber que os “supostos-talvez-algum-dia sogros” o adoravam, ele já planejava o dia em que eles voltariam para conhecê-lo pessoalmente.

Naquela quarta feira, prometera a Daniel que almoçariam juntos, cruzando os dedos para que ele ficasse enrolado no novo emprego e não pudesse ir, mas ele apareceu na recepção pontualmente. Julia deixou seu posto aceitando o braço que ele lhe estendeu e caminharam até o restaurante em que ela costumava ir com Henry.

- Como vocês estão? – enfatizou o “vocês” fazendo-a rir.

- Ótimas, e você? Como vai o trabalho?

- Bem, continuo por conta própria, apenas terceirizei meu trabalho, por assim dizer. Considerando a ruína em que a minha carreira estava, agora está bem mais fácil conseguir novos clientes.

- Não pensou em sair do ramo musical?

- De jeito nenhum, Jules, a música está no nosso sangue. Talvez um dia você pare de renegar sua verdadeira paixão.

Ela assentiu com um sorriso. Ele parecia ótimo, mas ela tinha certeza de que não estava tomando os medicamentos, então até quando ele estaria bem? Não queria estragar os bons momentos com ele pensando nos ruins.

Assim que se acomodaram à mesa, ele estendeu um pacote rosa em sua direção, seu sorriso ia de orelha à orelha, seu peito inflava de orgulho.

- O que é? – perguntou já abrindo.

Era uma chupeta rosa com prendedor de coelho.

- Ahh... – sentiu vontade de chorar. Aquele era o primeiro presente que recebia e ainda nem pensara em enxoval.

- Sabe, Jules, eu não quero ser muito pretensioso, - passou as mãos pelo cabelo nervosamente – mas é claro que precisamos nos reaproximar. Eu não esperava ser pai nessa altura da minha vida...

Julia não escutou nenhuma outra palavra, pensava ter ouvido errado, ele não podia ter dito “pai”. Ele estava bem, voltara a trabalhar, estava gentil, sorridente... Por que diria algo tão desconexo?

Ele não está tomando os remédios, mas como pode chegar a esse ponto, meu Deus?”

Não conseguia disfarçar sua expressão de assombro, Daniel pareceu desesperado.

- Calma, Jules, eu realmente não quero que você se sinta pressionada, só vamos deixar as coisas acontecer naturalmente, pensando no bem da nossa filha.

“Do que raios ele está falando?”

- Dan... eu preciso ir – murmurou atordoada.

- Mas você... Tudo bem – respirou fundo mantendo a paciência que vinha trabalhando tão bem.

Correu para a cantina ao encontro de Henry, lembrou-se que não havia sequer tocado no almoço e começou a encher uma bandeja para si. Henry a esperou com semblante confuso em uma mesa isolada. Antes que ele pudesse questionar a bandeja cheia e a chupeta em sua mão, Julia disparou:

- Daniel acha que é o pai.

Henry deixou seus talheres caírem na bandeja, Julia acomodou-se esperando o choque passar, mas ele a olhou assombrado.

- Espera, você não está achando que... Henry!

Franziu o cenho sentindo súbita raiva.

- Julia, eu já te disse, não quero ficar questionando seu passado. Eu sei que você e Jon se desentenderam sobre ele.

- Não, – bateu a chupeta na mesa – não é possível que você esteja realmente achando que eu traí o Jon.

- Não, vocês estavam separados na época em que ele viajou.

Qualquer outra pessoa que soubesse seu tempo de gestação realmente poderia ter calculado a possibilidade de Daniel ser realmente o pai de seu filho, qualquer outra pessoa que não a conhecesse.

- Jules, tudo bem, eu estava pronto para lidar com a paternidade do Jon, posso enfrentar a do Daniel, embora esse seja um pouco mais difícil de aturar.

Ela recusou-se a debater, afundou o rosto na bandeja e só levantou-o quando não havia mais nada em seu prato. Henry entendeu seu silêncio como uma reflexão sobre sua relação com Daniel, mas ela retirou-se da mesa sem qualquer olhar em sua direção.

- Você está brava comigo? – perguntou magoado.

Ela entrou no elevador ignorando-o, ele a seguiu.

- Jon é o pai – resmungou ela.

- Eu sei que você não quer que seja Daniel, mas você pode...

- Eu não transei com Daniel! – gritou sentindo o rosto vermelho, sentia-se humilhada por ter que explanar isso para ele.

Henry assentiu sem ter mais o que dizer.

- Hoje vou pedir para ele vir me buscar – recuperou o tom normal de voz – vamos conversar em meu apartamento.

Henry torceu o lábio em reprovação.

- Tem certeza de que quer levá-lo até...

- Sim – cortou-o bruscamente.

O que mais a magoava era o fato dele não ter percebido o quanto era doloroso vê-lo duvidando de sua palavra, para ele era normal que tivesse dúvidas, para Julia era a continuação de todos os pesadelos que vivera com Jon.

- Mas, Jules, Daniel está realmente tão tresloucado? – questionou Amber ao ouvir o relato.

Julia grampeava os papéis com mais força do que o necessário.

- Não, esse é o problema, ele está incrível, bem humorado e recomposto. Só que convicto de que nós tivemos alguma relação que possa ter ocasionado minha gravidez.

- Ele está trabalhando?

- Sim, como empresário indicado por uma empresa, - Julia sorriu com orgulho – ele até tem falado sobre me ajudar com as despesas de médico.

- É estranho, mas foi uma loucura do bem que ele teve.

- É... – assentiu refletindo.

No dia seguinte, Henry a esperava na saída do banheiro, com expressão preocupada em evidência.

- Como foi ontem?

Julia negou-lhe o selinho que ele buscava em seus lábios.

- Nós combinamos que ele virá me buscar de segunda à quinta. Eu irei embora com você de sexta a sábado, se não houver plantão e se você quiser, claro.

- Como assim ele virá te buscar? Você vai manter contato regular com ele? Como vocês chegaram a isso ontem?

Julia suspirou com extrema preguiça de relatar a conversa que tivera com Daniel, que não passara daquilo, na verdade.

- Você não falou para ele que ele não é o pai? – seu tom era bravo.

Julia sorriu com amargura. "Agora você acredita em mim?".

- Não – murmurou em resposta.

- Como assim? Quando você vai contar? Você não pode deixá-lo achar que o filho é dele!

Ela simplesmente deixou-o sem qualquer resposta, era drama demais para sua cabeça. Agora teria o drama de ter que lidar com Daniel novamente, não aguentaria problemas com Henry também, mas Amber fez a mesma pergunta naquela tarde quando almoçaram juntas.

- Eu sei que uma hora a verdade virá à tona, – justificou Julia – mas ele está tão bem com essa falsa paternidade... Os olhos dele brilham quando ele fala do bebê, ele faz planos de trabalhar mais e se empenhar na própria carreira. Eu odiaria vê-lo se destruir novamente caso descobrisse a verdade.

- Mas, Jules, ele é esquizofrênico, pode ter um surto psicótico a qualquer momento, sabendo ou não a verdade.

Julia suspirou, queria pausar Daniel naquele momento, deixá-lo naquele estado de espírito para sempre.

Seu trabalho nunca exigira muito esforço físico, nunca precisara carregar peso, apenas requeria extrema disposição para cumprir sua carga horária. Ela se pegava piscando mais lentamente do que o normal, bocejava a cada cinco minutos e ansiava pela hora de ir embora.

Daniel recebeu-a na porta com um sorriso carinhoso, ele era o único que afagava sua barriga e se referia a ela como "vocês". Julia divertia-se com aquilo, ele a fazia sentir o lado mais doce da gestação, fora os mimos em mensagens de texto ao longo do dia, ou a forma como ele subia as escadas do prédio com sua bolsa para que ela não carregasse nenhum tipo de peso.

- Não vou ficar muito, prometo – disse ao aceitar seu convite para entrar.

Conversaram sobre seu trabalho com um coral de mulheres que só cantam pop, Julia comeu a refeição que ele levara e depois despediram-se. Ela só precisava tomar um banho e partir para o tão esperado momento de sono, sempre com um olho no relógio calculando quantas horas ainda teria para dormir até o despertador tocar na manhã seguinte.

Encostou a porta do banheiro, mesmo sem compartilhar o apartamento com ninguém, apenas por hábito, e começou a se despir. Havia um borro vermelho vivo em sua calcinha, o tipo de mancha que a fez achar por cinco meses que estava ovulando normalmente. Engoliu seco, segurou a barriga como se pudesse se proteger e prometeu ir ao médico no dia seguinte.

Deixou a água morna cair sobre seu corpo por um tempo antes de começar a se ensaboar, levou os dedos à vulva, introduziu-os na vagina apenas o suficiente para se limpar e mais resquício de sangue escorreu com a água. Seu tão esperado sono tornou-se uma noite de pesadelos e preocupações, revirou-se na cama apalpando o ventre a todo instante.

No dia seguinte, suas olheiras traziam bolsas roxas, Sharon olhou com ar desconfiado imaginando se Henry fora a causa de uma noite em claro. Adiantou suas tarefas e saiu o mais rápido que pode, deixando à Sharon o recado de que iria ao médico sem saber se conseguiria retornar depois do almoço. A gestação a ensinara que nenhum exame é tão simples quanto parece, apesar de ter fila preferencial de atendimento, os custos eram altos para uma qualidade razoavelmente baixa.

Daniel ligou no fim da tarde, o mesmo tom de voz empolgado dos outros dias.

- Que silêncio, onde você está? Estou atrapalhando?

- Não – sussurrou timidamente – Estou em casa.

- Em casa? É sua folga?

Julia não conseguiu mais controlar as lágrimas.

- Você está chorando? – perguntou eufórico.

- Dan, venha para cá, por favor.

Desligou o telefone antes que ele a enchesse com perguntas que não queria responder. Demorou meia hora até que ele chegasse, tempo suficiente para que ela controlasse os ânimos e estancasse o choro.

- O que houve? – perguntou segurando seu braço de leve.

- Eu fui ao médico hoje – contou toda a história de seus sangramentos – Ele não sabe em que isso pode acarretar na formação do bebê, mas minha gravidez está em risco. Disse que preciso de repouso absoluto até os sangramentos pararem e depois disso, repouso moderado.

- Bem...

- Eu não posso trabalhar! – esbravejou seu maior tormento.

- Mas você tem direito à licença, não?

- Sim, mas não é o suficiente, ainda tenho quatro meses de gestação e mais o período em que estarei com o bebê recém nascido. Eu preciso do meu trabalho para nos sustentar!

- Calma, você precisa se acalmar – conduziu-a até a cama fazendo com que se sentasse.

- Daniel, o que eu vou fazer? – seus olhos arregalavam-se em desespero.

- Minha situação também não está boa ainda... Só tem uma saída.

- Além disso!

- Não, Jules, eu sinto muito, é realmente a última alternativa. Mas pensa que o pior já passou, vocês já se reconciliaram, pelo menos.

- Você sabe que isso significaria me separar de você – apelou em uma tentativa desesperada de que ele desistisse daquilo.

- Só por um tempo, até eu ter condições de ir ou trazer você – ele sorriu sem humor.

Julia abriu a boca, espantada. Aquele realmente era outro Daniel, exceto pela louca fantasia de ser o pai de sua filha, aquele era um Daniel mais são do que quando eles namoraram há tantos anos atrás.

- Vamos, Jules, sua carga horária já é extrema para qualquer pessoa, mas para uma grávida! Você está pondo em risco a vida de nossa filha.

Estremeceu ao ouvi-lo dizer “nossa”, mas assentiu em concordância com o que ele dissera, continuar em seu emprego seria o fim de sua gestação, estremeceu novamente.

- Eu estou com um atestado para afastamento de dois dias.

- Mas você sabe que dois dias depois não estará pronta para retornar.

- Sim.

- Peça logo demissão.

- Não! Eu preciso...

Quase acrescentou que precisava falar com Henry sobre isso primeiro, mas lembrou-se que Daniel não sabia sobre eles. Calou-se.

- Jules, por favor.

Daniel providenciou o jantar, comida pronta de um restaurante natural, comeram e conversaram até tarde. No primeiro bocejo de Julia Daniel se propôs a ir embora e ela não retrucou, embora sua companhia estivesse agradável.

Assim que ele se foi, verificou o celular, mas não havia nenhuma chamada de Henry. Sua mãe ligou antes mesmo que ela recolocasse o aparelho no móvel em que o deixava.

- Oi, mãe – forçou um tom de voz amistoso.

- Oi, querida, como está nossa bebê?

- Bem – respondeu hesitante.

- O que houve? – a mãe assumiu um tom preocupado.

Contou sobre os sangramentos e a consulta de horas atrás.

- Não posso mais trabalhar, mãe, – sentiu a voz embargar – tenho que ficar em repouso absoluto.

A mãe a acalmou, de certa forma. Desligou o telefone com o plano de ação em mente como se fosse algo simples, como se não estivesse prestes a mudar totalmente a vida que construíra.

Foi para o hospital no mesmo horário de sempre, a única diferença era o envelope pardo em sua bolsa com a carta de demissão escrita por seu próprio punho na noite anterior. Sentou-se com Sharon para explicar toda a situação, depois pegou o elevador até o andar administrativo e procurou o RH. Por último, procurou Henry em sua sala, e lá o achou com os olhos azuis fixos nos papéis a sua frente. Bateu na porta aberta apenas para anunciar sua chegada, ele levantou os olhos e abaixou-os novamente ao reconhecê-la, estava bravo.

A verdade era que eles haviam entrado em um jogo para ver quem tinha menos razão, ela ficara brava com ele, ele ficara bravo por ela ficar brava com ele, e ela ficara brava por ele ficar bravo por ela ter ficado brava primeiramente.

- Eu pedi demissão – anunciou esperando chamar sua atenção.

Conseguiu bem mais do que queria, Henry levantou-se da cadeira em um pulo, fitava-a interrogativamente com o rosto desfigurado.

- O quê? – sussurrou com dificuldade.

- Estou deixando o hospital.

Manteve a cabeça erguida em tom imponente, mas lutava contra a comoção por admitir algo que ainda não entrara em sua cabeça. Henry segurou-a pelos ombros, firme e gentil ao mesmo tempo, ainda exibia uma expressão perplexa.

- Meu obstetra disse que preciso de repouso absoluto por algumas semanas, talvez meses... Não posso continuar nesse ritmo desenfreado daqui, Henry, minha gravidez é de risco.

Ele mexeu os lábios sem emitir qualquer som, parou de tentar falar e suspirou fundo.

- Tem mais – lutou bravamente contra quaisquer lágrimas que pudessem escapar – eu não tenho condições de me sustentar sozinha, não sem esse emprego.

Ele assentiu lentamente.

- Estou indo morar com meus pais.

- O quê?! – ele recobrou suas energias e autocontrole.

- Eles estão vindo me ajudar com as minhas coisas, o apartamento já estava mobiliado, então não será difícil entregá-lo. De resto, só preciso encaminhar correspondências.

- Julia, você não pode ir!

Ela olhou ao redor com medo de que alguém viesse alertá-lo de que estava gritando em um ambiente hospitalar, mas isso não aconteceu.

- E quanto a nós? – era uma súplica.

Ela afagou seu rosto com carinho sincero, ele cobriu as mãos dela com as suas.

- Henry, nós sabíamos que algo iria mudar com essa gravidez, eu juro que não queria que fosse assim, mas eu preciso pensar na minha filha acima de qualquer outra coisa.

- A gente não precisa terminar, não é mesmo? – apelou ele – Você só vai ficar lá por um tempo, eu posso ir te visitar...

- E o quê? Completamos um mês juntos e agora tentaremos um namoro à distância, eu estando grávida de outro? Henry, por favor, não tem sentido continuar algo que já começou errado, eu sinto muito.

- Julia...

- Eu gosto muito de você, muito mesmo, nunca vou esquecer o que você fez por mim e esse tempo em que ficamos juntos. Mas meu coração ainda é dele, e agora que eu tenho um pedaço dele comigo, só tornou mais intenso o amor que eu já sentia por ele.

- Ele nem quer assumir o próprio filho!

- Shh...

Ela o beijou, sem malícia, sem paixão, apenas como um adeus entre dois bons amigos. Ainda controlava um choro nervoso dentro de si, mas conseguiu segurá-lo mesmo depois de deixar Henry sozinho em sua sala e seguir para o aeroporto para buscar os pais. Era o começo de uma nova vida, novamente sem Jon, agora deixando também Henry e Daniel para trás. Estaria completamente sozinha, só ela e sua filha em uma nova aventura.


Notas Finais


Estou com uma peninha do Daniel, espero não ser a única kkkk


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