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História Everybody's Broken - Always


Escrita por: lara_henio

Notas do Autor


Gente, de longe esse foi o capítulo mais difícil de escrever para mim. Ele realmente me tocou de uma forma diferente e me fez sentir o quanto eu me apeguei aos personagens, suas histórias e à fanfic em si. Espero que vocês possam sentir o mesmo que eu.

Capítulo 23 - Always


“Sabe, sempre fui um lutador
Mas sem você, eu desisto

(...)

Nós podemos refazer nossos antigos sonhos e nossas antigas vidas
Nós vamos encontrar um lugar onde o sol ainda brilha e
Eu vou te amar, querida
Sempre
E estarei lá, para sempre e mais um dia
Sempre
Estarei lá até as estrelas não brilharem mais
Até os céus explodirem e as palavras não rimarem
Sei que quando eu morrer, você vai estar na minha mente
E te amo, sempre”

Seus pais haviam programado o despertador para que ela tivesse tempo suficiente para tomar um bom café da manhã e se arrumasse antes da consulta com o médico, mas Julia acordara antes do previsto. Remexeu-se a noite inteira na cama, estava quase dormindo pela manhã, quando sentiu suas coxas molharem-se.

Seu primeiro pensamento foi de que tivesse urinado na cama, mas era improvável que depois de quinze anos isso voltasse a acontecer. Sentou-se temerosa de que a bolsa houvesse estourado, mas nos lençóis havia apenas uma manchinha molhada... E vermelha. Seu pai acordou assim que a ouviu se sentando.

- O que foi? – perguntou com mau pressentimento.

Julia limitou-se a levantar da cama e apontar o lençol. Martin suspirou, chacoalhou levemente a esposa e levantou-se começando a se vestir. Sua mãe avaliava-a atentamente.

- Ainda está sangrando ou foi só isso?

- Não importa, vamos levá-la para o hospital agora – exclamou ele.

Sua mãe pegou o celular e começou a discar.

- Para quem você está ligando? – questionou Julia.

- Para o Daniel.

- Não é necessário, mãe, ele deve ter trabalho.

A mãe não a ouviu, falou rapidamente ao celular pedindo que ele fosse para o hotel o mais rápido possível. Ajudou Julia a trocar de roupa e pegar os documentos, que já ficavam separados para quando tinham aquelas constantes emergências. Daniel chegou quando já estavam todos prontos, Julia estava deitada na cama de casal dos pais, olhava o teto fixamente, pensando “Está tudo bem, está tudo bem”. Daniel a carregou até o carro, pois não arriscariam que ela fizesse qualquer esforço físico. A calça que vestira há pouco já continha uma gota vermelha no vão entre suas pernas.

Daniel a deitou em seu colo no banco traseiro, o pai arrancou com o carro rumo ao hospital a apenas cinco minutos de distância. Pediu uma cadeira de rodas na recepção, voltando ao carro junto com um enfermeiro que ajudou a colocarem-na sentada.

Julia foi encaminhada para o pronto atendimento.

(...)

Quando Jon finalmente saiu de seu torpor, sacou o celular e discou o número, que agora também se lembrava de cor, de Julia. Andou de um lado para o outro pelo apartamento, esperando inutilmente pelo momento em que ela atenderia. Fez outras quatro tentativas, até que desistiu.

Dirigiu descoordenadamente até o estúdio da gravadora, onde estavam ensaiando para fazer as gravações. Todos os quatro, contando com o novo empresário, já estavam reunidos em torno da mesa de som.

- Porra, Jon, a gente combinou... – Tico silenciou-se ao ver sua expressão – O que houve?

Jon abriu a boca, mas não havia outra forma de dizer que não fosse espantosa.

- Minha memória voltou.

Os amigos já tinham quase esquecido o fato, eles próprios quase não se prejudicaram por conta do incidente, por isso levaram algum tempo até comemorarem.

- Isso é ruim? – perguntou Alec, percebendo que Jon não estava exultante como os outros.

David aproximara-se para abraçá-lo, mas Jon repeliu-o olhando em seus olhos.

- Julia.

O amigo deixou o sorriso morrer, até que suspirou revirando os olhos.

- Jon...

- Dave, eu preciso achá-la, preciso falar com ela!

Não havia argumentos contra a expressão angustiada que ele sustentava, só restava a eles achar formas de ajudá-lo. Tico foi o primeiro a se manifestar.

- Jon, Alec trabalha para a mesma empresa que Daniel, talvez ele possa conseguir alguma notícia.

Jon virou-se para Alec, quase agarrou-o pelo colarinho da camisa, mas conteve-se, olhando fixamente para o outro. Alec encolheu os ombros.

- Não sou muito próximo a ele, na verdade, ninguém é. O cara é esquizofrênico e alcoólatra, quase não fala com a gente.

- Você não tem o número da Julia? – perguntou Phill a Jon.

- Ela não está atendendo – respondeu discando mais uma vez o número.

Alec ligou para a empresa, tentando conseguir alguma coisa com Daniel.

- Ele pediu folga para o resto do dia – anunciou ele – parece que teve uma emergência médica. Pode ser só uma desculpa por alguma ressaca forte.

David perdeu a paciência ao ver todos se mobilizando.

- Jon, deixa isso para lá, ela está com outro.

Ele ainda não havia se tocado sobre aquilo, franziu o cenho com expressão de mágoa.

- Você também está com a Emilly – David completou.

Seu rosto passou da mágoa para a culpa, levando as mãos à cabeça com um murmúrio de "meu Deus".

- Dave tem razão, Jon, ela está com o médico – completou Tico.

- Henry! – exclamou.

Deixou o estúdio no mesmo instante sem ouvir os protestos dos colegas, ligou o carro traçando mentalmente a rota mais curta para o hospital.

(...)

Quando o sangramento finalmente cessou, Julia havia perdido mais sangue do que o costume, e foi quando as contrações começaram.

Henry chegara sem vê-la nem por um instante, apressava-se em trazer a melhor equipe especializada para atendê-la, todos diziam a mesma coisa: teriam que fazer um parto emergencial.

- Não! – vociferou ele – Ela está muito fraca, precisa repor o sangue!

Mas ele próprio sabia que a dor das contrações também a prejudicavam, e não havia uma forma segura dela se recuperar para um parto tranquilo. Estava de mãos atadas, a decisão cabia unicamente aos médicos encarregados.

Ela sabia que ninguém a informaria sobre o que estava acontecendo, e não importava realmente. Sentia as forças se esvaindo cada vez mais de seu corpo, acompanhadas de um choro baixo que saía de sua garganta sem sua permissão. Perdia o controle de seu corpo, as dores tomavam tudo, mas sua mente ainda tentava raciocinar em meio a tudo o que acontecia, como uma pessoa se afogando e voltando à superfície antes de ser novamente puxada para baixo. Pensava em Jon, em tudo o que dera errado desde os primeiros momentos de fecundação até a gravidez quase finda. Não queria perder a consciência, mas não sabia o que fazer para mantê-la.

(...)

Jon passou reto pela recepção e foi direto para a sala de Henry, totalmente vazia naquele momento. Não tinha um plano de ação, não sabia o que diria a ele ou se realmente contaria a verdade sobre ter recuperado sua memória. Henry não era mais seu médico, era um estranho que o separava ainda mais de Julia.

Não teria condição alguma de ficar sentado esperando pelo momento em que ele voltaria à sala. Começou a vaguear pelos corredores de todos os quartos de internação, parava a cada cinco minutos, apenas para tentar ligar para Julia novamente e logo recomeçava as caminhadas. Não sabia dizer quanto tempo transcorria, não sabia por quais andares já passara, talvez até já tivesse passado pelo médico e não o notara.

Outra coisa que começava a martelar em sua cabeça era a morte dos dois amigos. Ele estava no volante, ele resolvera desviar a atenção para procurar a aliança, embora não houvesse nada a ser feito. Talvez se tivesse virado o carro para o lado oposto ele teria morrido, mas Phillip sobreviveria, e quem sabe Richie também. O acidente lhe tirara tudo, os amigos, a memória e talvez Julia. Ela era a única coisa que ainda podia recuperar, não havia nada a ser feito quanto aos falecidos, ela era a única com quem podia consertar tudo.

Parou no pronto atendimento sem acreditar que poderia encontrar o médico ali, mas ele o viu. Não Henry, mas Martin, seu sogro, embora aparentasse estar décadas mais velho do que realmente era e estivesse com expressão de profunda angústia. Seria coincidência demais que ele estivesse no hospital em que Henry trabalhava ao lado da casa de Daniel e na mesma cidade que Julia costumava morar. Jon deslocou-se por entre os enfermos esperando atendimento, segurou-o pelo ombro e esperou que ele demonstrasse reconhecê-lo.

- Onde ela está? – perguntou com voz estrangulada.

Martin ainda não o tinha reconhecido, até que ouviu sua voz e alterou as expressões faciais, passando do desespero à raiva.

- Suma da minha frente!

Chacoalhou o ombro, mas Jon não o soltou.

- Martin, pelo amor de Deus. – implorou à beira da loucura – Ela está aqui?

Jon olhou apressadamente ao redor, tentando distinguir os rostos. Quando pensou em voltar os olhos para o senhor à sua frente, uma maca virou o corredor, colocando em seu campo de vista a paciente ali deitada sobre lençóis manchados de sangue, grávida.

Soltou o ombro do homem, acreditando que fosse cair diante daquela imagem. Julia estava totalmente branca, seu rosto distorcia-se em dor, um volume médio assomava-se à sua barriga. Um médico desconhecido empurrava a maca a toda velocidade, seguido por Henry e Victoria. Jon não conseguiria alcançá-los, corriam em direção ao elevador.

- Julia! – gritou sentindo que a voz quase se recusara a sair.

Ela olhou-o diretamente nos olhos, a expressão de dor aliviou-se por uma fração de segundos, mas seus olhos reviraram e ela voltou a ficar semi consciente. Jon ordenou com todas as forças para que suas pernas o obedecessem, fez um primeiro movimento, mas Martin segurou-o pela gola da camisa. Antes que pudesse se desvencilhar, o sogro acertou um soco em seu maxilar que o fez perder o equilíbrio e cair.

Levantou-se calmamente, temendo que Martin o acertasse novamente, olhou para ele com súplica fervorosa.

- O que está acontecendo? Para onde vão levá-la?

Para sua total surpresa, Martin começou a chorar.

- C-como você ousa aparecer aqui depois de ter abandonado minha filha em um momento como esse? – balbuciou ele.

Jon sentiu como se ele o socasse novamente, só que mais fundo e mais dolorido. Não encontrou palavras para explicar.

- Ela não vai conseguir – Martin soluçava alto – Eles vão tentar um parto de emergência.

- Não... – murmurou em resposta, sentindo seu próprio rosto molhar, mesmo sem entender totalmente a situação.

Martin não o socara por raiva do suposto abandono, ele não tinha cabeça para pensar naquilo, ele o socara por que precisava lutar contra algo, contra o destino que levava sua filha, de novo.

Ele não o expulsou do hospital, Victoria também não questionou sua presença ali. Os três aguardavam na sala de espera por notícias. Henry entrara com o médico e Daniel havia saído para procurar o obstetra que deveria estar ali, mas ainda não voltara e não sabia que ela já se encontrava em trabalho de parto. Os três eram os únicos na sala, os únicos sons entre eles eram de soluços, mas Jon permanecia silencioso, em choro mudo.

 Daniel entrou na sala, não conseguira encontrar o médico e questionava a presença de Jon, mas o casal não conseguia respondê-lo.

- Por que vieram para cá? Onde ela está?

Jon não conseguiu sentir raiva, mesmo com toda a confusão que sabia que ele causara, Daniel tinha um verdadeiro temor por Julia.

- Ela entrou em trabalho de parto – Jon respondeu-o.

Daniel entendeu que era uma trégua entre eles, assentiu com a cabeça e sentou-se em uma cadeira isolada. Jon sentiu seu celular vibrar, era Emilly. Seu coração acelerou, esquecera completamente do fato de que tinha uma namorada... outra. Ignorou a ligação e desligou o aparelho.

Ninguém mais suportava aquele ambiente, o silêncio, o cheiro de remédios, a brancura das paredes...

Henry finalmente atravessou as portas que os separavam do corredor por onde havia entrado com ela. Victoria levantou-se correndo até ele, Henry não conseguia olhar para nenhum deles, e Jon achou que ela fosse esbofeteá-lo por isso.

- Então? – questionou angustiosa.

Henry engoliu a seco.

- Estão me chamando em outra ala, vou chamar o outro neurologista para ficar no meu lugar, mas ele pode demorar um pouco para chegar ao hospital. Aplicaram a anestesia agora, o parto já vai começar.

Victoria não parecia se contentar com a resposta.

- Ela esteve com pré eclampsia esse tempo inteiro – sua voz sumiu nas últimas palavras.

- Mas ela vai...?

- Eu não sei – Henry abaixou a cabeça e deixou a sala, escondendo suas próprias lágrimas.

Jon ouvira sua explicação, não quis que ele o notasse, não quis começar uma discussão. Olhou para Daniel em sua cadeira, ele estava barbudo e com cabelos mais compridos do que quando se viram pela última vez, mas o que chamava sua atenção era a postura dele. Ele fitava o chão como se mal pudesse respirar, movia a cabeça roboticamente em movimentos repetidos, soltando murmúrios ininteligíveis.

Pensou em perguntar para Martin se o sobrinho estava realmente bem, mas temia ser linchado caso respirasse mais alto do que devia.

- Daniel? – sussurrou inclinando-se em sua direção.

O outro pareceu não ouvi-lo, massageando a garganta com uma mão.

- Daniel – repetiu Jon, colocando a mão em seu ombro.

Finalmente Daniel fitou-o com olhos aturdidos, Jon falou alguma coisa que ele não entendeu. Levantou-se calmamente e saiu da sala; havia um ótimo bar a duas quadras dali.

(...)

Henry sabia que não faria nada produtivo, chamou seu substituto e trancou-se em sua sala. Parecia que o hospital estava prestes a desmoronar, em cada corredor um desespero diferente. Deitou a cabeça sobre os braços, encurvando-se todo à mesa e fechou os olhos para que suas pupilas parassem de tremer. Cochilou por alguns instantes, acordou com o bip tocando, sem saber quanto tempo se passara. Ignorou o chamado e voltou para a sala de espera onde os pais de Julia aguardavam com Jon.

- Jon?! – bradou com raiva.

Jon levantou-se pesarosamente colocando-se cara a cara com o médico. Manteve expressão tranquila para mostrar ao outro que não queria nenhum conflito com ele.

- O que você está fazendo aqui? – Henry trincou o maxilar.

- Dr. Crisp... Henry, minha filha está prestes a nascer em alguma sala atrás daquelas portas, por favor, eu não vim aqui para...

- Sua filha? – interrompeu-o – Você não tem direito algum de se intitular pai dessa criança!

Jon sentia-se perdendo a paciência.

- Ótimo, então eu vim aqui pela mãe mesmo – retrucou com agressividade.

Martin levantou-se ameaçando esmurrar o próximo que abrisse a boca, pediu que Henry voltasse para a sala em que estava sua filha. O médico atravessou as portas batendo os pés com raiva, mas a passos largos. Os três retomaram o silêncio e as preces.

Jon não sabia quanto tempo transcorria durante aquela vigília, sua mente gravara a imagem de Julia o fitando em uma fração de segundos. Parecia que muito mais do que aqueles poucos metros os separava, mais do que paredes, mais do que médicos, mais do que portas... O tempo criara uma lacuna entre eles, como se a visse por um vidro transparente e insondável. O tempo escorria pelos dedos de cada um deles, fino e escasso. Se a vida fosse palpável, talvez fosse exatamente como as areias de uma ampulheta, talvez se dispersasse como elas, e o vidro que as envolviam seria o coração dos   que ficassem.

Daniel voltou para o hospital uma hora depois de Henry voltar para a sala do parto. Havia muito mais pessoas circulando pelos corredores, mas nenhuma fazia muito ruído, havia pêsames no ar. Ele não conseguira beber, pela primeira vez em muitos anos, sentindo a maior sede de sua vida. O primeiro som que distinguiu foi o de um choro quase gritado e quase sufocado, vindo de sua tia. Estancou o passo na porta da sala de espera. Jon escondera o rosto entre os braços, mas os ombros balançavam. Victoria estava rubra, coberta em lágrimas, exatamente igual a Martin.

Uma enfermeira, que o ajudara horas atrás a procurar o obstetra, passou por ele, abaixou a cabeça.

- Sinto muito, é uma pena que ela não tenha sobrevivido.

As luzes ficaram mais claras ao seu redor, ele compreendera algumas coisas. Primeiro, ele e Julia nunca estiveram juntos desde que terminaram o namoro aos dezoito anos, eles não transaram e ela não engravidara dele. Segundo, ele cometera erros por ela, tentara consertar coisas que não cabiam a ele, mas ela continuara o apoiando em meio a sua loucura. Terceiro, ele realmente precisava daquela internação, daqueles remédios, daquele tratamento... A cortina de seu mundo fantasioso desabara, e ele era só um louco. Quarto, Julia estava morta.

Virou as costas, não havia ninguém ali por ele. Voltou para seu apartamento a passos calmos, mais calmos do que jamais estiveram. Entrou em seu quarto chorando, mas abriu a gaveta da cômoda sorrindo. Pegou a calibre 38 que guardava ali. Aquele seria seu passaporte para estar com ela. Daniel morreu sorrindo por baixo de um crânio destroçado.

           

            


Notas Finais


:'(


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