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História Everybody's Broken - Without Love


Escrita por: lara_henio

Capítulo 3 - Without Love


Fanfic / Fanfiction Everybody's Broken - Without Love

“Sem amor, não há nada sem amor
Nada mais pode te atravessar pela noite
Nada mais parece certo sem amor
Não há nada sem amor
Nada mais além do amor pode queimar com tanta força
E nada terá significado sem amor”

Era apenas um trecho de um quilômetro que tornou necessário interditar a estrada inteira, simplesmente porque não havia espaço entre os corpos, o sangue, os automóveis destroçados, as viaturas, as ambulâncias, as macas, os paramédicos atuando, os legistas analisando e os repórteres, fora os helicópteros de jornais locais que sobrevoavam.

A cena descrevia claramente o que ocorrera: um caminhão passava pela pista oposta à van de uma banda, um carro que seguia atrás do caminhão tentara ultrapassá-lo sem perceber a van que vinha. A colisão ocorreu porque a van ficou entre o caminhão e um desfiladeiro, o carro estava acima dos limites mundiais de velocidade e não teve como sequer reduzir o impacto.

Os legistas registraram duas mortes imediatas, sendo uma do motorista do carro, outros quatro feridos foram postos em ambulâncias e encaminhados para o hospital mais próximo. Quatro passageiros da van estavam sem cinto, mas apenas um tivera morte imediata, ironicamente o único com cinto. O motorista do caminhão, o único intacto, tivera que driblar seu choque para depor à polícia, que montara cerco no trecho interditado.

 (...)

Julia esperava. Congelara o jantar caso ele quisesse comer ao chegar, trocara os lençóis caso ele quisesse dormir, lavara e dobrara suas roupas caso ele quisesse levá-las. Pelo sim e pelo não, ela esperava. A sogra avisara que ele voltaria, mas não soubera informar o que ele havia decidido, então Julia esperava.

Quando o telefone tocou às quatro e quinze da madrugada, ela soube que era sobre ele, na verdade, ela pensou que fosse ele. Esfregou os olhos, pigarreou limpando a garganta e olhou o visor do celular sem reconhecer o número.

- Alô?

 - Boa noite, por favor, a Sra. Julia... – consultou algo – ...Walker se encontra?

Pensou que talvez ele mandara alguém ligar, alguém para avisá-la que ele não voltaria. Uma mulher desconhecida.

 - Eu mesma.

Ouviu atentamente às primeiras informações, as poucas que a recepcionista fora autorizada a dar, seu peito foi se comprimindo a cada palavra e um choro emudecido de pânico tomou sua garganta. Atropelou-se em cada móvel até encontrar papel e caneta. Não achou que fosse capaz de anotar o endereço do hospital e as instruções, mas precisava fazer aquilo por ele e, com esse mesmo pensamento, conseguiu cumprir o papel de acompanhante responsável.

Ela estava sendo chamada a um hospital em nome de Jon. Seu coração deu uma fisgada antes de começar a bater de forma descompassada, toda a carne de seu corpo passou a tremer e gelar. Escreveu em letras tortas com a pouca iluminação vinda da janela aberta, os cobertores e os lençóis revirados pareciam gélidos agora.

Desligou o telefone esperando que sua mente respondesse a tudo o que a mulher não falara. Tateou cega por lágrimas até encontrar as chaves do carro, inconscientemente agradeceu-se por tê-lo buscado com a namorada de David um dia depois que eles partiram em turnê.

Jamais saberia como fora capaz de dirigir, uma mão ia ao volante e a outra limpava os olhos sempre cheios de novas lágrimas. O estômago gorgolejava, o peito enchia e esvaziava em soluços altos, mas o maior desespero vinha de sua mente e da falta de informações que a obrigavam a criar hipóteses. Ele havia sofrido um acidente na estrada, aliás, todos eles haviam, mas como o encontraria e em que estado? Ele estava vivo, era sua única certeza.

Abraçou-se a bons pensamentos sem torturar-se com outros sombrios, embora soubesse que não a teriam chamado se não fosse grave. Preparou-se, não para ser forte, mas para ser útil. Jon precisava dela, talvez sem nem querer, ela teria que engolir histerias e fazer-se útil, é o que hospitais exigem de acompanhantes.

Estacionou em uma das vagas para pacientes abrindo a porta do carro e despejando seu jantar deglutido garganta a fora. Bochechou dois goles de água cuspindo no próprio chão, a garrafa deixada no carro estava quente e velha, mas bebeu alguns goles até limpar um pouco a garganta. Jon sempre deixava uma caixa de lenços no porta luvas, caso sua rinite atacasse. Limpar a boca com um deles fez-la chorar mais e sair correndo para dentro do hospital.

Não havia uma só placa que lhe indicasse o caminho, uma só pessoa que soubesse informar-lhe aonde ir, a recepção encontrava-se vazia.

Mal a noite começara e já estava cansada e quase esquecida do porquê de estar ali, mas o choro doído na garganta a lembrava. Uma recepcionista postou-se atrás do balcão, era parecida consigo, mas em um estado não deplorável. Ela olhou-a com certa pena antes mesmo de saber o que Julia procurava, tinha grandes olhos castanhos envoltos em cílios loiros, uma infantilidade nos gestos que a acalmou um pouco.

 Julia disse o nome do paciente e esperou que Amber, segundo o crachá em seu uniforme, localizasse-o. Quando ela explicou-lhe aonde devia ir e com quem falar, Julia teve certeza de que era a mesma que ligara minutos atrás.

 (...)

Sua cabeça latejava, Henry não sabia o que fazer enquanto o segundo neurologista de plantão não respondia a seu chamado. Tinha dois pacientes emergentes, fora os outros treze internados que precisavam de sua avaliação constante.

Os pais de um dos novos pacientes... Richard, segundo a ficha, entraram em choque ao descobrirem o filho em coma. Teria que lidar com os pais do outro e as perguntas sobre estatísticas e resultados que ele ainda não tinha. Instruiu os auxiliares a fazerem os procedimentos e conversaria com os pais de Jon enquanto os resultados não saíssem.

Entretanto, ao entrar em sua própria sala com a ficha de Jon, não encontrou um casal angustiado, mas uma moça loira, provavelmente com a mesma idade que seu paciente, e o que mais o espantou: ela estava de pijamas. Sim, entedia quão desesperador era receber uma ligação emergente no meio da noite, mas geralmente quem chegava de pijamas eram pacientes convalescentes e seus acompanhantes que não podiam dar-se ao luxo de arriscar a vida do outro para trocar de roupa. Mas ela provavelmente fora chamada em casa e, bem...

Julia esperou que o médico, que se apresentara como Henry Crispin, sentasse no outro extremo da mesa tentando não agredi-lo com perguntas. Ele começou a explicar de forma clara e paciente, descrevia o acidente enquanto ela montava a cena em sua mente.

Explicou o estado do paciente, tendo a certeza de que a qualquer momento a moça cairia em prantos e o atrasaria ainda mais, mas isso não aconteceu. Ela ouviu tudo com lábios comprimidos sem balbuciar, soluçar ou desconcentrar-se de suas palavras.

- Jon chegou ao hospital com uma leve pressão intracraniana, – observou a expressão facial da ouvinte tentando ver traços de dúvida – provavelmente algum edema se formou com o impacto do acidente. Nós drenamos o líquido e o mantivemos inconsciente durante o processo para acelerar os resultados. Precisamos ainda de alguns exames para saber se ele sofreu algum dano, mas ao que parece, ele está estável e logo acordará.

Julia assentia com a cabeça. Somente quando as enfermeiras deixaram-na naquela sala percebera o que estava vestindo, seu conjunto de mangas compridas cinza de flanela. Por sorte, o tecido era forrado e não marcava seus seios soltos por dentro. Sentira vontade de voltar, entendia por que as pessoas a ignoraram tanto nos corredores, parecia uma louca.

- Quando vou poder vê-lo?

- Agora mesmo, ele havia dado entrada pela UTI, mas assim que dissipamos o edema ele foi transferido para o quarto. Você poderá passar a manhã como acompanhante.

Aquilo trouxe um súbito alívio e desespero, tivera medo de não conseguir vê-lo e ter que se contentar com as imagens deformadas em sua mente, mas quando o visse perderia todo o controle que tivera para conversar com o médico. Pensando bem, talvez não precisasse ter controle...

Há três meses não o via, imaginara o comprimento de seus cabelos, o tamanho de sua barba... Agora, além de todas as questões simples, imaginava se seu rosto estaria retaliado, ou seu corpo marcado com hematomas.

O médico disparou pelo corredor sumindo assim que instruiu a enfermeira para que a levasse até o quarto. Jon estava pacificamente adormecido e, não fosse a região capilar enfaixada, diria que ele apenas resolvera cochilar em uma cama no hospital. Ela não percebera o quanto havia se acalmado desde que chegara, andou (não correu) até a cama e afagou seu rosto. Henry tirara seus receios e o acidente parecia apenas uma lembrança longínqua. Jon estava pacificamente adormecido e ela não tinha com o que se preocupar.

Passou a manhã desconfortavelmente encolhida na poltrona ao lado da cama, com passinhos discretos de enfermeiras acordando-a em cada leve cochilo. Sua cabeça doía e o rosto ainda estava inchado e marcado de lágrimas secas. Procurou um banheiro e molhou-se no rosto e nuca, seu estômago revirava e ela entendeu como sendo fome.

A cantina estava vazia exceto por uma moça de cabelos médios castanho-avermelhado e não a teria reconhecido, não fosse a coxinha que comia empapada em ketchup às oito e vinte da manhã.

- Claire? – limpou a garganta e chamou-a novamente enquanto se aproximava.

A moça limpou a boca e virou a cabeça em sua direção.

- Jules!

Abraçaram-se pesarosas e Julia sentou-se a seu lado perguntando por David, seu namorado.

- Está no pronto-socorro, quebrou a mão... mas os médicos quiseram mantê-los em observação durante a madrugada.

- “Mantê-los”?

- Tico está com ele, também saiu ileso.

- E os outros?

- Calma, e o Jon?

Julia soltou palavras-chave como “edema” e “inconsciente” fazendo-a entender que estava tudo sob controle.

- Jules, – Claire olhou em seus olhos com lábios inquietos – Richie está em coma.

Esperou uma reação que não veio.

- Os pais dele estão em choque e não explicaram nada do que aconteceu, mas é grave, digo, até para um coma, sabe? Acho que as chances não estão em 50-50.

- Mas, Tico e David...

- Eles estavam nos assentos laterais, só se chocaram contra os bancos da frente, Richie voou para o painel. Mas, Jules...

Engoliram seco, uma para falar e outra para ouvir.

- Phillip não sobreviveu.

Julia sentiu-se desabar no mesmo desespero que deixara para trás há pouco.

- Ah meu Deus, ele e Jon sempre foram tão próximos... ele era tão...

- Ele morreu na hora, com o impacto da batida, era o único com cinto, mas a parte do carro do banco do carona foi totalmente estraçalhada. E realmente, Jon e ele eram muito próximos, e... Jon estava dirigindo.

- Ah, não.

Ambas sabiam o quanto ele se culparia pela morte e provavelmente por todo o acidente, mesmo que o único culpado, o motorista do outro veículo, estivesse morto.

Ficaram em silêncio absorvendo os fatos das últimas 3 horas, o sol despontava e a cantina começava a encher quando Claire retomou os restos de sua coxinha e Julia encaminhou-se faminta ao balcão.



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