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História Ex Nunc - Um cãozinho confuso, mas obediente


Escrita por: Aoneko-Lee

Notas do Autor


Nem vou me desculpar pela demora, não tem sentido nisso, porque nenhuma explicação pode fazer da minha falta de responsabilidade menor.. Eu perdi esse capítulo duas vezes, já estava começando a achar que alguém tinha jogado um feitiço de azaração nessa fic.. Mas depois de um comentário lindo que recebi, decidi tomar vergonha e escrever outra vez..

Mesmo assim me perdoem pelo incômodo e ou por qualquer erro que eu possa ter cometido, boa leitura..

Ps: Não fiquem bravos com o nome do capítulo, não pude resistir a piada..

Capítulo 7 - Um cãozinho confuso, mas obediente


Fanfic / Fanfiction Ex Nunc - Um cãozinho confuso, mas obediente

Karakura não era uma cidade noturna, longe disso, ela dormia bem cedo e os raros seres humanos, ou não, que tinham uma fraqueza pela noite, aventuravam-se pelas pouquíssimas opções de lazer noturnas.

E era em um desses notáveis estabelecimentos que mantinham suas portas abertas durante a madrugada, que o grupo de jovens, recém saídos da adolescência, se encontrava.

Intimidados pela falta de experiência em passeios mais adultos, eles se limitavam a beber a pouco familiar bebida alcoólica amarga e conversar entre si. O grupo era amplo e de características peculiares, na verdade, qualquer um que os observasse acharia a união de tais elementos de certa forma improvável.

A trupe era composta por um moreno, formal demais para a ocasião, aparentemente estudioso e notavelmente deslocado neste ambiente. Uma bela ruiva, de corpo formoso, que atraia olhares masculinos e femininos, mas que transmitia inocência e infantilidade, fazendo dela uma contradição entre corpo e alma.

Uma moça morena de vestes largas e postura relaxada, que aos leigos era um estereótipo de lésbica. Ela era lésbica, ao menos achava. Um jovem de sorriso fácil, evidente carência de contato físico e pouco ou nenhum tato social. Para qualquer um de olhar mais atento, era nítido que estava apaixonado por sua amiga morena citada anteriormente.

O mais peculiar, sem dúvida, era o moreno alto de traços latinos e expressão severa. Se havia uma gota de sangue japonês nele, ela não se manifestava. O rapaz era um chamariz, provavelmente o mais alto no estabelecimento, mas parecia querer se esconder ou evitar chamar qualquer tipo de atenção sobre si. Estava falhando nisso.

Conversando com o latino estava outra criatura deslocada, certamente ele não era dali, sua postura ereta e comportamento delicado, complementados por sua pele pálida, olhos azuis e cabelos cor de areia, faziam-no transmitir um ar de sedução demasiado apelativo.

Está estranha turminha, pouco acostumada a saídas na madrugada tentava interagir de acordo com a ocasião, mas estava claro que não sabiam como festejar ou, ao menos, aproveitar a noite.

A ideia brilhante deste passeio fora de Keigo, que queria comemorar a visita de Uryuu como adultos o fariam, infelizmente. O único que havia convencido a isso (incrível proeza, diga-se de passagem), tinha sido o próprio Uryuu, que chamara Inoue e Sado que, respectivamente, trouxeram Tatsuki e Seiji.

Uryuu dava bicadas em sua cerveja analisando a sensação ácida na língua. Olhou de soslaio para a garota ruiva que balançava o conteúdo de seu copo como se desconfiasse da bebida.

— Inoue-san, não precisa ficar se não quiser.

— Não diga isso, eu estou me divertindo muito! — Exclamou ela e tentando provar isso virou todo o copo garganta abaixo, fazendo uma careta de desagrado em seguida.

— Não precisa fingir, esse também não é exatamente o lugar que eu gostaria de estar nesse momento, só vim porque o Keigo queria muito isso. — Secretamente, outro motivo para o jovem Ishida estar ali era se manter longe da companhia do velho Ishida.

Orihime não respondeu, apenas sorriu enquanto se ajeitava no banco em que estava. Mais uma vez, Uryuu encarou agressivamente, um homem que descaradamente avaliava o corpo da ruiva, deveria ser o terceiro que o moreno notava fazer o mesmo, por sorte, não só ele, mas Tatsuki, vigiavam Inoue como falcões prontos para atacar qualquer ameaça à amiga.

Seiji sorria carismático para a morena de cabelos curtos e faces coradas que havia se sentado ao seu lado no balcão. Era muito normal para ele lidar com esse tipo de situação, embora sempre mantivesse sua face amigável e, de certo modo, galanteador, para todas as moças que se aproximavam, esse comportamento da parte delas causava certa aversão no loiro, que já conhecia todas as táticas de conversação desses indivíduos que se interessavam por ele.

Com o canto do olho direito, ele observou o gigante moreno sair, o mais despercebido que conseguia, esgueirando-se para os fundos do estabelecimento. Não pensou duas vezes em dar uma desculpa a moça com quem conversava e seguir Sado.

-

Os olhos escuros observavam o beco sujo em que se encontrava, enquanto seus lábios liberavam mais uma massa esbranquiçada de fumaça. Não esperou muito para levar os dedos a boca e tragar novamente.

Um sutil movimento vindo do topo prédio do outro lado da rua chamou sua atenção. Uma figura vestida em negro saltou do terraço do edifício até um poste que se erguia na calçada da outra rua, parecia um ser humano, mas não era, não podia ser, era uma shinigami muito conhecida do moreno. Kuchiki Rukia estava zanzando por Karakura em sua forma espiritual e Ichigo não era o motivo para isso? Algo com certeza estava errado.

De imediato ele decidiu segui-la, mas antes que o ato estivesse iniciado, ouviu a porta dos fundos se abrir e se virou automaticamente para ver quem perturbava seu sagrado momento solitário. O rosto de Seiji o encarou com o sorriso de sempre e ele esqueceu de libertar a fumaça por um instante. Chad também se esqueceu da presença de sua amiga shinigami.

— Não sabia que fumava. — Comentou se encostando na parede de tijolos expostos ao lado do moreno.

— É um mau hábito que eu não deveria ter começado…

— Todos temos nossos maus hábitos secretos. — Ele falou encarando a pixação bem elaborada, colorida e quase cubista na parede do outro lado do esguio corredor. — Posso? — Perguntou levando a mão ao meio cigarro de Chad.

— Você fuma? — Sado o encarou quando o cigarro já havia sido tirado de seus dedos e migravam para os belos lábios do alemão.

— Toco violino não um instrumento de sopro. — Ele sorriu tranquilizando Sado enquanto lhe devolvia o pequeno cigarro. — Bom, mas admito que te encontrar fumando foi uma surpresa, você sempre me pareceu tão “correto”.

— Eu?! Acho que está confundindo as nossas imagens.

— Não, não. Sei bem a imagem que as pessoas têm de mim. Fui treinado desde a infância para ser impecável, não apresentar qualquer falha moral. Talvez esse seja meu maior defeito, a falsidade.

— Você não me parece falso, de maneira alguma, você é quem é.

— Eu sou o que esperam que eu seja. Por mais que eu fuja, não vou poder evitar esse mau hábito de tentar ser perfeito.

— É isso que está fazendo no Japão? Fugindo?

— De certa forma, sim. Precisava ficar longe da minha família, cometer meus erros, descobrir o que eu quero para mim. Mas a sombra do que fui treinado para ser nunca me deixa.

— Ninguém pode te dizer o que ser, nem aqui, nem na Alemanha. Se quer mesmo se descobrir, deveria começar voltando para sua terra e provando aos seus que não vai mais se sujeitar às vontades deles.

— É isso o que quer? Que eu saia do Japão?

A resposta do moreno não veio de imediato, ele pensou seriamente no que diria enquanto acendia outro cigarro, estava descontando o nervosismo com a proximidade com o loiro em seu vício.

— Não importa o que eu quero. Sua mudança começa quando você começa a fazer o que quer.

— Entendo, mesmo assim, mantenho minha pergunta, quer que eu fique?

Os olhos azuis vivos, como pequenas chamas focadas no homem maior capturaram a atenção de Sado que soube que as palavras de Seiji queriam dizer muito mais do que parecia. Jogando o cigarro quase inteiro no chão e pisando sobre ele, o guitarrista se aproximou perigosamente do amigo, como se esperasse a reação dele para confirmar suas suspeitas.

A mão delicada, quase feminina, de Seiji se ergueu até a bochecha dele, e no segundo em que a pele pálida e a bronzeada se tocaram, a descarga elétrica foi instantânea, como se cada átomo de seus corpos implorasse por aquilo e que cada momento de suas vidas tivesse sido meticulosamente programado para chegar àquela situação.

Sem exitar, Chad se curvou, levando seus lábios aos do menor, o gosto da nicotina e do álcool estava em ambas as bocas, mas isso não atrapalhou de forma alguma o beijo que, embora tivesse começado calmo, culminava em uma explosão de emoções únicas que geravam certa lascívia.

Quando, por fim, a conexão entre eles se rompeu, não se separaram por completo. Seus troncos continuavam apoiados um ao outro, com a respiração descompassada ditando o ritmo do momento. As grandes mãos de Sado prendiam a cintura fina do loiro que tinha os dedos pousados no peitoral do moreno.

— Isso é parte da sua atitude autêntica e não manipulada?

— De certa forma… mas é muito mais do que isso. — O loiro respondeu encostando a testa no peito do maior que levou a mão direita aos macios fios dourados. — Eu nunca… Nunca tinha feito isso com…

— Com outro homem. — Completou Sado. — Sei que deve ser estranho, sinto muito por ter feito isso…

— Não, não sinta. Nunca tinha me sentido assim… Acho que esse tempo todo eu estive mentindo para mim, além de para os outros.

— Então não vai se incomodar se eu fizer isso de novo?

O sorriso atrevido estampado no rosto de Seiji foi a resposta de que Chad precisou para dar início ao segundo beijo.

-

As mãos pálidas de Ishida seguiam se esfregando com força sobre a torrente de água derramada pela torneira. Seus olhos azuis focavam em seu reflexo no espelho. Estava frio, podia sentir, lábios levemente arroxeados, a água gelada também não ajudava.

Ele deveria voltar ao bar onde os amigos estavam, tinha que falar com Inoue. Havia decidido que essa seria a noite em que teria um conversa muito adiada com ela. Não queria pressionar a garota, sabia dos fortes sentimentos dela pelo Kurosaki, mas Uryuu não podia mentir mais, precisava ter certeza que ela entendia os sentimentos dele. Para que assim pudesse decidir se deveria trancar para si essa ideia, ou dar tempo até que a garota estivesse pronta para seguir adiante.

Saindo do banheiro os sons peculiares porém reconhecidos, vindos do corredor chamaram a atenção do moreno que encarou o casal que se agarrava de forma promíscua e carnal contra uma parede fria. O constrangimento o fez desviar os olhos para o chão, mas a súbita conclusão da familiaridade dos indivíduos lhe gerou a coragem para encarar novamente a cena  envolvente.

Por uns instantes permaneceu entorpecido pela clara falta de lógica no que seus olhos presenciavam e por fim, com um sorriso contido que se mostrou apenas no canto direito de seus lábios ele se permitiu admitir que fazia todo o sentido.

As unhas da mão esquerda de Tatsuki se cravavam com força na carne já avermelhada de Keigo enquanto sua mão direita puxava sem clemência os fios castanhos em sua nuca. A cintura da carateca era pressionada contra a parede por ambas as mãos do garoto que beijava-a com intensidade impondo um ritmo que merecia crédito.

Primeiramente, Uryuu estivera extasiado demais para reagir, mas com a compreensão que que estava acontecendo entre os colegas, também constatou que se Tatsuki estava ali, nos braços de Keigo, Inoue estava sem supervisão cercada de possíveis pervertidos em uma madrugada hostil em um bar de má índole.

Apressou os passos de volta à área de convivência do estabelecimento, olhando diretamente para o balcão onde a ruiva fora deixada. Ela não estava mais ali. Esquadrinhou o espaço encontrando-a no segundo seguinte, próxima a uma coluna na lateral esquerda, conversando alegremente com algumas pessoas, todos desconhecidos do Ishida.

Sem que pudesse pensar a respeito, seus pés o levaram até a moça que não o percebeu até que parasse ao seu lado encarando, de forma no mínimo agressiva, os homens que falavam com ela.

— Ishida-kun! — Exclamou ela alegre e levemente corada, aparentemente, a pouca experiência da ruiva com bebidas alcoólicas cobrava seu preço, afetando-lhe mais do que antes. — Esse é o Kazuo-san, um colega de trabalho e esses são uns amigos dele. — Inoue encarou os outros dois homens como se tentasse lembrar de seus nomes.

— Inoue, acho que bebeu demais, melhor eu te acompanhar até em casa…

— Como assim? Vocês acabaram de chegar. — Interveio o Kazuo sorrindo em direção a moça. — Tenho certeza que a Inoue-san quer ficar um pouco mais.

— Hm… — Ela parecia mais confusa que o habitual, mas sua típica simpatia e desejo de agradar, fez com que acenasse positivamente.

-

Keigo não poderia estar mais satisfeito consigo mesmo, havia visto uma moça de pele bronzeada e cabelos longos tingidos de loiro sorrindo para Tatsuki, isso o deixara ainda mais irritado do que costumava ficar quando a morena alegava ser homossexual, por isso sua decisão de arrastá-la para o corredor dos banheiros e beijá-la com intensidade foi tão desesperada que surpreendeu a moça e até o próprio.

Nesse momento, quando depois de quase meia hora, eles haviam se desgrudado, ofegantes e queimando de excitação, Keigo comprava bebidas para ambos no balcão onde antes os amigos estavam.

Seguiu rumo sua morena com uma sensação prazerosa de dever cumprido por ter feito Tatsuki preferir a ele em detrimento de uma jovem desconhecida quando encontrou-a onde a havia deixado.

Mas não estava só.

Um choque de raiva e desgosto percorreu toda a extensão de seu corpo de modo a fazer com que soltasse os dois copos que vinha trazendo, o estrépito dos vidros se partindo foi encoberto pela música que estava mais alta nesse momento. Sentiu a umidade salgada das lágrimas preencherem seus orbes castanhos e embora tivesse conhecimento de que a garota que amava frequentemente se envolvia com mulheres, jamais havia visto pessoalmente isso. Nesse momento soube que jamais poderia suportar dividi-la com quem quer que fosse e destruía-o pensar que não poderia satisfazer verdadeiramente ela por possuir o gênero errado.

Sem que as sinapses que mandavam-no andar se comunicassem com os pensamentos lógicos que deveriam estar escondidos em algum canto de sua massa cinzenta, ele marchou até as duas moças e sem qualquer vestígio de sanidade ou domínio próprio separou com um puxão a loira artificial que se atracava com a carateca contra a mesma parede que ele outrora o fizera.

— Mas que porra…? — Gritou a moça bronzeada, claramente indignada com a atitude do outro.

— Keigo! Por que fez isso? — Tatsuki sibilou em alta voz, mas não deu sinal de que agrediria ele como costumava fazer em outros tempos.

— “Por que?” Como assim? Porque você estava agarrando essa…

— E o que tem isso? Eu já deixei claro que nós não temos nada, você não tem o direito de…

— Eu não tenho o direito? Você que não tem o direito de brincar comigo, com meus sentimentos e de agir como se não existisse nada entre nós. — A voz dele saia carregada de uma raiva inédita, mas, acima de tudo, de uma mágoa palpável que chegava a soar melancólica à garota que não podia negar que a reação dele a afetava de modo que não deveria.

— Espera. — Falou a outra mulher olhando de um para outro visivelmente perplexa. — Você tem namorado?

— Não!

— Então quem é esse cara?

— Isso, o que eu sou para você? — Perguntou ele juntando todas as forças para impedir as lágrimas que já beiravam os cílios inferiores.

— Ninguém… — Falou baixo e desviou os olhos de Keigo que também não pode sustentar o contato visual.

Nenhuma lágrima ousou rolar pelas maçãs do rosto dele enquanto se encaminhou para a saída dos fundos, mesmo assim o coração de Asano estava destruído de tal maneira que nunca voltaria a ser como antes.

-

Com o corpo esbelto e esguio apoiado no maciço e forte, Seiji sentia o perfume natural de Sado se impregnar em si. A deliciosa sensação de estar nos braços do guitarrista beirava ao êxtase, era algo que ele nunca havia sentido e nem imaginava existir, como se o seu corpo fosse moldado para se encaixar naquele e vice-versa. O universo lhes presenteara um com o outro e possibilidade alguma de julgamentos cruéis ou perspectivas de pecados poderia obrigar-lhes a negligenciar o desejo de estarem juntos.

Os pensamentos do loiro se desfizeram quando o corpo maior afastou-o e falou em uma voz firme e baixa para um transeunte atrás dele.

— Onde está indo?

— Ham? — Keigo se virou para o casal de amigos com olhos opacos, parecia nem ter os notado antes. — Para casa.

— Andando?

— Sim. — Keigo residia em um bairro distante e viera de ônibus ao bar, entrementes, como Karakura estava longe de ser uma cidade noturna, o transporte público não passava a partir de certo horário.

— Eu posso te levar em casa, se quiser. — Comunicou Seiji, prestativo, sendo o único do grupo a possuir carro.

— Certo, obrigado. — Falou o outro sem perder a expressão vazia.

— Você também vem? — Questionou a Sado, com quem estava de mãos dadas.

— Não, fiquei de acompanhar Inoue até em casa.

— Okay.

O loiro faz menção de desfazer o enlace das mãos, mas pareceu receoso de romper o contato, como se tivesse medo de tudo o que aconteceu se desmanchar como a fumaça dos cigarros fumados por eles.

Por fim, um beijo casto uniu suas bocas por uma última vez antes de se separarem de vez, Keigo pareceu alheio a toda a demonstração de afeto, como se não fosse uma tremenda surpresa constatar o envolvimento destes.

-

Os olhos cinzentos encontravam dificuldade em se focar corretamente em algo e isso estava perturbando a ruiva ligeiramente. Sua risada estava mais alta que o normal e sua voz mais fina e entrecortada. Embora pudesse, vagamente, perceber os sintomas em si, não conseguia se impedir de agir desta maneira.

Uryuu estava muito tenso ao seu lado e seu rosto, rígido, enfezava-se cada vez mais conforme Kazuo oferecia mais rodadas de bebidas ao grupo. Inicialmente a ruiva aceitava por medo de fazer uma desfeita ao conhecido, mas no fim do terceiro ou quarto copo que recolheu, já havia tomado gosto pela bebida e espontaneamente virava em longos goles o conteúdo alcoólico.

Entrementes, uma pessoa com quem ainda não havia trocado qualquer palavra e de quem não lembrava sequer o nome vinha chamando mais e mais a atenção de Orihime a medida que a noite ia avançando.

O jovem que deveria ter a mesma idade do grupo de amigos da moça, recém saído da adolescência, bebericava a mesma bebida desde que ela havia se juntado ao grupo de amigos de Kazuo. Ele era um dos que vieram ao bar com o colega de trabalho da ruiva, tinha uma pele cadavérica de tão pálida e olhos grande e penetrantes de uma cor peculiar que remetia a uma assustadora, e paradoxal, sensação de segurança. A expressão emburrada, maquiagem pesada e o jeito calado davam à ruiva a impressão de que conhecia-o de algum lugar, mas a embriaguez lhe impedia de recordar de onde.

Os olhos azuis de Ishida queimavam em direção ao grupo de homens que também fazia companhia a Inoue, mas ele aguentou a raiva que crescia dentro de si até o momento em que Kazuo tomou a liberdade e a intimidade de passar o braço ao redor dos ombros esguios da ruiva. Neste curto instante o quincy constatou que mais um segundo daquilo seria insuportável para seu estômago já revirado e para sua mente perturbada pelo pouco que havia bebido.

Uryuu se lembrava de várias atitudes idiotas de sua parte, embora jamais tivesse admitido assim serem, como quando quebrou uma isca de hollow no meio de Karakura ou quando acreditou ter a capacidade de derrotar Yhwach. De toda forma, naquela madrugada de primavera, viria a fazer umas das coisas mais ridículas e estupidamente desnecessárias que já havia feito.

Com um movimento ligeiro, mal planejado, mas preciso e forte, golpeou o homem que segurava Inoue, separando-os e atingindo o cara com tanta força no rosto que ele se estatelou no chão como uma boneca de pano arremessada.

Todos no estabelecimento se viraram para a confusão e a música parou de tocar, da forma mais clichê que se poderia imaginar. Sentiu os olhos curiosos em si e observando que Kazuo parecia desacordado estirado ao chão com o nariz contorcido em um ângulo nada natural, tendo um jorro de sangue vazando deste.

Orihime estava pasma, sem reação ao que tinha ocorrido, olhou de Uryuu para Kazuo, ainda apagado, depois para os dois amigos dele que estavam tão espantados quanto a ruiva. Então Inoue sentiu o instinto de curar o homem.

Percebendo a intenção dela, Ishida tratou de agarrar Inoue pelo pulso e sair correndo pela porta da frente do bar sem se dar ao trabalho de procurar pelos amigo que ali também estavam.

-

Com o horário avançado as ruas de Karakura se esvaziavam de carros, mantendo um silêncio e uma paz até perturbadores para os indivíduos que perambulavam pela madrugada.

Em um carro espaçoso e caro, dois ocupantes extremamente distraídos mantinham silêncio absoluto enquanto seguiam pelas ruas desertas. Os motivos das distrações eram completamente distintos, enquanto o motorista de origem germânica se perdia em pensamentos afetuosos sobre a maravilhosa sensação de se envolver com o homem de quem gostava, o outro se contorcia em pesar por duas emoções destrutivas, a constatação da traição e a percepção de que significava absolutamente nada para a mulher que vinha amando nos últimos anos.

O amor é realmente traiçoeiro e perigoso, é impossível brincar com ele sem se ferir e sem experimentar da doce e idealizada sensação de acreditar que o destino abençoará a união desejada.

Mas o mundo não se deixa mover pelas esperanças vãs de meros humanos e tão pouco shinigamis, quincys, hollows ou fullbrings tem poder de dar sua opinião ao acaso, de modo que nenhum sofrimento ou alegria pode prever e, talvez, sobreviver às surpresas que podem vir a encontrar.

Naquela fria madrugada de primavera Seiji e Keigo estavam prestes a descobrir isso, quando, vindo de uma rua aparentemente deserta, um caminhão abastecido de produtos alimentícios e em alta velocidade, passou um sinal vermelho e se chocou contra o lado do passageiro do carro importado, arrastando-os por mais de quinze metros até espremer o veículo praticamente destruído contra um prédio comercial.

-

Uryuu se amaldiçoava enquanto arrastava Inoue pela calçada úmida procurando por qualquer sinal de um taxista de prontidão para levar a garota ao lar.

Ela seguia-o resignada, como um cãozinho confuso, mas obediente. De todo modo ele tinha que apoiá-la pela cintura, pois o álcool afetara consideravelmente os reflexos e equilíbrio desta.

Resolvendo o problema de uma carona para ela, o moreno poderia seguir andando, visto que sua casa não ficava distante dali.

Todavia, nenhum meio de transporte passava por aquela rua, estava cogitando voltar e pedir ao colega de orquestra de Chad que a levasse, mas a perspectiva de retornar ao bar onde havia nocauteado um homem em frente aos amigos do mesmo não era boa.

Por fim, após dez minutos andando a esmo, o Ishida decidiu que a única solução viável era levar a moça para sua casa e deixar ela dormir em um quarto de hóspedes.

Em pouco tempo já haviam chegado a mansão que outrora costumava chamar de lar, seu pai tal qual os funcionários, já estava adormecido à altura da noite, mesmo assim o quincy fez o máximo de silêncio possível, tendo em vista que trazia consigo uma pessoa alcoolizada.

Colocou Orihime sobre a cama de casal percebendo que ela não esboçava qualquer tentativa de controle, deixava o moreno fazer consigo o que quisesse, Uryuu viu o quanto seria preocupante se a moça ficasse nesse estado estando na companhia de estranhos que desejassem lhe fazer mal.

Enquanto removia os sapatos da garota a voz aguda e doce soou embargada e arrastada.

— Você acha que o Kurosaki-kun já olhou para mim?

— O que? Claro que já, Inoue. — Falou sentando-se aos pés da cama oferecida a ela.

— Não… Se ele já olhou para mim como olha para a Kuchiki-san ou como o Ishida-kun me olha.

O moreno não soube o que responder, avaliava a expressão de Orihime tentando entender o sentido de suas palavras, embora suspeitasse saber do que ela estava falando.

— Eu queria ter ficado no Hueco Mundo. — Continuou ela encantando o teto. — Ter morrido por lá…

— Não diga uma coisa dessas! Você não pode achar que…

— Quando eu soube que o Kurosaki-kun tinha ido me salvar eu… Eu me permiti… Criar esperanças. — As lágrimas escorriam pela face corada e sua voz estava ainda mais falha.

— Não foi apenas o Kurosaki, Chad, Kuchiki, Abarai e… E eu, fomos.

— É verdade… Minha cabeça sabe, mas… Meu coração não entende… Por que as coisas tem que ser tão difíceis, Ishida-kun? Nós somos tão jovens para sofrer tanto...

— Não sei, mas acho que ninguém tem uma vida fácil,  mas isso não é motivo para querer desistir ou voltar atrás.

— Tem razão… — Ela se projetou para frente em uma atitude que nunca teria sóbria e envolveu o pescoço do maior em um abraço, enfiando seu rosto úmidos na curvatura onde se encaixou perfeitamente. — Obrigada, Uryuu.


Notas Finais


É isso... Sem ichiruki nesse cap, mas o próximo só terá IR, para compensar.. Ele já está quase pronto, então tenham paciência comigo..

Vou aproveitar para fazer propaganda da minha nova (não tão nova assim) fic, Saturn https://spiritfanfics.com/historia/saturn-9492372 é um trabalho que estou desenvolvendo com carinho que já está bem adiantado para que eu não atrase demais na entrega dos capítulos..

Obrigada por lerem até aqui e até a próxima.. :3


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