História Explosão de Sons - 05. peças de quebra-cabeça

EXPLOSÃO DE SONS

Capítulo 5 - Peças de quebra-cabeça.

Três meses após o recesso de aulas, Baekhyun comprovou que esteve certo o tempo todo.

No começo, não passavam de alguns rumores aos quais Baekhyun não tinha dado muita atenção; Jongin finalmente havia retornado, assim como previu para Sehun, sem contar a ninguém o motivo de seu sumiço repentino. O Byun não se importava muito porque o mais importante era rever o sorriso nos lábios do garoto de cabelos coloridos, como se as coisas estivessem finalmente se encaixando com o retorno do moreno.

Aos poucos as pessoas começaram a comentar a respeito dos dois, como se estivessem subitamente conscientes da presença de ambos. O fato de estarem sempre juntos e os cochichos trocados entre uma música e outra ou a sutileza com que suas mãos brincavam com as do outro quando trocavam as HQs que estavam lendo. A rotina de Sehun e Jongin não havia mudado, mas os pequenos detalhes faziam toda diferença.

Baekhyun sentia-se feliz por conseguir enxergar naquele Sehun o mesmo garoto que passava as tardes em seu quarto, que ria consigo e parecia mais leve. Jongin havia feito muito bem ao garoto, trazendo de volta o brilho que havia em seus olhos; Sehun sequer parecia mais o garoto apático que estava sendo antes das férias de natal. Havia alegria novamente em seus olhos e Baekhyun poderia jurar tê-lo visto rindo.

Sabia que estava certo quanto a Sehun estar apaixonado.

Saber que Sehun seguiu em frente e estava novamente apaixonado por alguém o deixava com o sentimento de dever cumprido. Sabia que, entre os dois, Sehun era o que mais precisava de apoio emocional, o que só ocorreu quando Jongin chegou. Nos poucos meses de convívio, o moreno havia conseguido fazer o que Baekhyun teve medo de realizar e por isso o Byun sabia que Jongin o merecia muito mais.

O ruivo sabia também que seus sentimentos por Sehun tinham se transformado com o passar dos meses e que não era mais o mesmo garoto apaixonado de antes. Preocupava-se com seu bem estar e com o fato de que estava sempre sozinho, mas não sentia-se mais nervoso pelos mesmos motivos, tampouco sentia seu coração descompassar com sua presença. Com sua recente aproximação de Sehun, seus sentimentos tornaram-se boas memórias de um romance adolescente.

Com Sehun seguindo em frente, Baekhyun finalmente se dava a oportunidade de fazer o mesmo. Estavam presos a más recordações, fixos a ideia de que se nada havia certo então não havia motivos para tentar de novo, mas o tempo ensinou a ambos que algumas vezes é necessário enfrentar tempestades para alcançar a bonança. Com o ano em que passaram presos com seus próprios fantasmas, Sehun e Baekhyun cresceram para direções opostas, sem se deixar esquecerem de seu ponto de partida inicial.

Sentia que seus caminhos estavam finalmente se encaixando depois de tanto tempo estagnado. Afora sua relação com Sehun, sentia-se mais próximo novamente e ainda mais ligado a seus amigos; estava grato por toda a ajuda recebida e o apoio que não o deixou desamparado mesmo quando sequer percebeu o interesse de Yixing em seu amigo.

Kyungsoo tinha um gênio difícil e uma paciência limitada, mas foram seus conselhos os divisores de água para Baekhyun. Fora o mais novo a estimulá-lo a enfrentar seus medos e o Byun duvidava que teria feito qualquer coisa sem a ajuda de Kyungsoo. Sentia-se feliz pelo amigo estar saindo com Zhang Yixing agora, pois poderia dar maior atenção e devolver os conselhos dados, além do fato de que alguém precisava derreter o coração de Kyungsoo.

A parte mais surpreendente durante o período em que esteve afastado dos amigos foi, com certeza, Park Chanyeol. O platinado era seu melhor amigo há muitos anos, mais tempo do que Baekhyun podia se recordar, e sabia que poderia contar com ele para qualquer coisa. Entretanto, a forma como Chanyeol conseguiu remendar seus pedacinhos, colar cada caco de seu coração sem nada pedir em troca, mantendo os sorrisos bonitos sempre que precisava de consolo e não resistia em sorrir de volta… Chanyeol era um dos principais motivos para Baekhyun se sentir tão em paz quanto se sentia no momento.

Chanyeol fora parte decisiva de seus altos e baixos, sempre presente para não deixá-lo cair novamente. Quando olhava para trás, Baekhyun percebia a importância de seu amigo em questões onde não havia dado muita atenção. Chanyeol não se importou em escutá-lo se lamentar; o ouviu com um abraço apertado e aconchegante e tinha as palavras certas para consolá-lo, diferente dos conselhos certeiros de Kyungsoo. Talvez não tivesse encontrado o melhor caminho se Chanyeol não o tivesse guiado através de sua luz.

Naquela manhã em especial, Baekhyun decidiu que era hora de finalmente encontrar a verdade e seguir, definitivamente, em frente.

Jongin e Sehun chegaram juntos como era costume, conversando tão animados que não perceberiam em nenhum momento os olhares que recebiam. Baekhyun podia apostar que Jongin podia perceber, mas estava tão entretido em sorrir ao ver Sehun falando tão vivo e energético a respeito de algo que não lhe sobrava tempo para se preocupar com seus demais colegas. Baekhyun gostava de observá-los dessa forma porque sabia que, além de Sehun, o amor estava no ar para outra pessoa também.

Tinha pensado muito bem antes de se aproximar dos dois, ainda receoso de que sua presença não fosse desejada. Apesar de estar tendo mais espaço para lidar com Sehun, ainda se sentia indesejado todas as vezes em que Jongin estava presente, como se fosse um intruso em uma história que não lhe pertencia mais. Gostava de ser um espectador para os dois, estava bem com as coisas desse jeito, mas precisava de todas as respostas para poder continuar.

Por isso, quando Jongin e Sehun se aproximaram suficiente para que não perdesse o ímpeto de coragem, Baekhyun deixou os amigos sem explicar para onde estava indo e parou em frente aos dois garotos.

“Eu posso falar com vocês?”

Ainda havia o medo em seus olhos, mas Baekhyun se manteve o mais firme que conseguia. Foi um alívio ver o dar de ombros de Sehun, vendo que Jongin não faria nenhuma objeção após o ato. Seguiram até o mesmo banco onde outrora Baekhyun o dividiu com Sehun e agora era o banco dele com Jongin. Havia muita lembrança envolvida no que estavam fazendo, mas precisavam terminar de uma vez por todas, romper com os laços do passado e caminharem para seus próprios futuros.

“As pessoas estão comentando algumas coisas sobre vocês”, Baekhyun disse. “Não gosto muito de boatos, então achei que seria melhor perguntar direto a vocês… Vocês estão juntos?”

Houve um momento de silêncio em que nenhum dos três sabia o que dizer. Baekhyun sentia seu coração bater mais rápido, ansioso pela resposta. No fundo, tinha certeza da resposta dos dois, pela forma como se entreolhavam e como Jongin parecia nervoso, como se esperasse pela resposta tão ansioso quanto Baekhyun. O Byun acompanhou seu nervosismo perguntando-se se sua pergunta poderia iniciar algo.

“Estamos. Estamos, não é, Jongin?”, Sehun perguntou, olhando para o rapaz ao seu lado. Baekhyun sentiu seus lábios contorcerem-se em um pequeno sorriso involuntário.

Jongin pareceu surpreso, exatamente como Baekhyun previra. ‘Sim… Estamos.”

Aquela era a afirmação que Baekhyun precisava e da qual já tinha quase certeza. Seu sorriso abriu-se, mostrando os dentes pontiagudos no sorriso que lhe era característico. Sentia-se verdadeiramente feliz pelos dois, pela forma como Sehun parecia feliz de verdade ao lado de Jongin. Seus pequenos sorrisos estavam de volta e direcionados ao moreno confuso ao seu lado e Baekhyun percebeu que, de uma vez por todas, Sehun o tinha superado.

Sentia-se mais aliviado do que imaginava que estaria com isso. Sehun estava bem, Sehun estava feliz e Sehun tinha alguém que poderia amá-lo como Baekhyun não fora capaz de fazer. Levaria o mais novo em seu coração como um de seus primeiros amores que não dera certo, mas finalmente como uma boa lembrança.

“Eu fico muito feliz por vocês, de verdade”, Baekhyun disse, com um sorriso bonito. “Você merece toda a felicidade do mundo, Sehun, e eu espero que Jongin possa dá-la a você.”

Sehun pareceu agradecido e Baekhyun se despediu para deixá-los a sós. Já tinha conseguido o que queria e sua pergunta até mesmo poderia desencadear algo, por isso não poderia estar mais satisfeito. Após um ano desde seu término, Baekhyun finalmente sentia que podia deixar Sehun ir sem se preocupar se ele estava bem, porque sabia que ele estava. Kim Jongin fora a mudança necessária em sua vida.

Kyungsoo e Chanyeol não pareciam surpresos com seu retorno com um sorriso no rosto. Estavam acostumados com os últimos dias, onde Baekhyun desaparecia de repente para falar com Sehun, tentando reviver a antiga amizade que tinham. As coisas estavam funcionando bem, já que não viam mais Sehun ficando tão evasivo com a aproximação do Byun; algumas vezes era o próprio Sehun a iniciar um assunto, demonstrando que estava disposto a estar bem com o ex-namorado.

Ver Baekhyun sorrindo depois de conversar com Sehun já não era uma novidade, mas dessa vez era diferente.

O ruivo se jogou no banco ao lado de Chanyeol, encostando a cabeça em seu ombro em um gesto inconsciente, mantendo seu sorriso e os olhos fechados. Chanyeol passou o braço por suas costas, deixando-o mais confortável e mantendo sua atenção no rosto sereno. Kyungsoo, ao ver aquela cena, perguntou-se se Yixing realmente estava certo sobre aqueles dois.

Se Chanyeol seria aquele a curar as feridas de Baekhyun, Kyungsoo estava mais do que feliz em perder sua aposta com Yixing.

“Eu estava certo desde o início”, Baekhyun começou, abrindo os olhos. “Eles estão juntos!”

“Os rumores estavam certos, então”, Kyungsoo comentou.

“Eles formam um belo casal”, Chanyeol anuiu.

“Jongin olha para Sehun como se ele fosse a coisa mais preciosa do seu mundo”, Baekhyun disse. “Eu fico feliz de que Sehun esteja com ele, porque não havia ninguém melhor para colocar em seu lugar.”

Kyungsoo sorriu. “Eu fico feliz por essa história terminar bem para vocês, Baek”, disse. “Eu nunca mais vou repetir isso, então aproveite.”

Baekhyun não segurou sua risada. “Essa é a primeira vez em um ano que você me diz algo fofo, Soo”, provocou. “Agora que Sehun está bem, eu só preciso encontrar alguém que me olhe como Jongin olha para Sehun.”

Kyungsoo não pôde evitar que seu olhar recaísse sobre Chanyeol, que parecia alheio ao que Baekhyun tinha dito. Já era tão natural para o Park orbitar ao redor de Baekhyun que não surpreenderia o mais novo o fato de que Baekhyun não tinha percebido nada. Porém, Kyungsoo não era bobo em não perceber quanto tempo aqueles dois passavam juntos e a proximidade que desenvolveram ainda mais.

Sabia que estava sendo um pouco ausente com seus amigos em decorrência do tempo que estava passando com Yixing - apesar de estarem conversando por mais tempo e do chinês fazê-lo como nenhum outro, Kyungsoo insistia que não era nada demais -, mas talvez sua ausência estivesse sendo benéfica para aqueles dois entenderam de uma vez por todas seus sentimentos.

Baekhyun sempre fora muito afetuoso com seus amigos, estava sempre distribuindo sorrisos e abraços – mesmo para Kyungsoo, que detestava qualquer tipo de contato físico. Entretanto, era diferente com Chanyeol; os abraços trocados entre os dois, o carinho desprendido de Chanyeol, até a forma como Baekhyun apoiava a cabeça em seu ombro tornavam as coisas mais suspeitas. Há tanto tempo que não conheciam o conceito de espaço pessoal que Kyungsoo não se surpreendia que os confundissem com um casal.

O mais novo esperava que Baekhyun também notasse as mudanças sutis que os últimos meses causaram em si. Sabia que o ruivo era muito distraído, mas a mudança em seu comportamento era notável.

“Eu acho que já há alguém assim para você, Baekhyun”, Kyungsoo deu de ombros. “Você só precisa olhar ao redor com mais atenção.”

Baekhyun parecia realmente confuso e surpreso, desenconstando-se de Chanyeol para de fato olhar ao redor; o Park, por sua vez, pareceu perceber o caminho que Kyungsoo estava tomando, olhando-o alarmado. Não queria que Baekhyun descobrisse seus sentimentos dessa forma, mas sabia que agora a semente da curiosidade tinha sido plantada. Baekhyun estaria sempre alerta em busca de sua pessoa, sem perceber que esteve todos os dias ao seu lado.

Tudo que restava agora era sair do assunto que Kyungsoo tinha iniciado, antes que falasse o que estava evitando.

“E o que você vai fazer agora, Baek?”, perguntou. “Agora que seu caminho está oficialmente desprendido do caminho do Sehun.”

Baekhyun pareceu pensativo. “Na verdade, não sei”, respondeu. “Foi um longo ano aprendendo sobre mim mesmo, agora preciso fazer algo com essas informações.”

“Você deveria se reinventar em uma nova playlist”, Chanyeol sugeriu. “Se a música sempre pode falar mais do que nós mesmos, então quem sabe você encontre nelas as respostas que está buscando agora.”

Baekhyun pareceu considerar a dica; não tinha pensado em sua coisa favorita no mundo, que era organizar músicas de forma que pudessem exprimir os sentimentos que, às vezes, nem sabia que tinha. Sua mente parecia tão bagunçada com tantas coisas novas que só as músicas poderiam ajudá-lo dessa vez, e Baekhyun esperava ter todas as respostas quando terminasse.

Byun Baekhyun explodiria em sons novamente.

. . .

Baekhyun levou realmente a sério a ideia de Chanyeol de criar uma nova playlist para seu atual período de vida.

Recordava-se de todos os momentos em que a música se fez presente em sua vida, como o ajudou em diversas questões que não teria passado sozinho; seus piores e mais confusos sentimentos foram traduzidos por letras de pessoas desconhecidas, mas que pareciam conhecer cada pedacinho de sua história. Não havia nada que a música não pudesse fazer por Baekhyun e ele tinha certeza que aquela seria a melhor playlist de sua vida.

Nos primeiros dias, passou a escutar todas as músicas que gostava, buscando encontrar nos significados escondidos de cada letra e melodia os mesmos significados que buscava. Não estava encontrando muito êxito, já que descartava a maioria das músicas que ouvia, em partes por já fazer parte de alguma outra playlist, em partes porque não traduziria o que estava sentido da forma como gostaria. Essa playlist tinha que ser perfeita e Baekhyun não aceitaria nada menos do que seus sentimentos transcritos por outra pessoa.

Pensou em pedir ajuda dos amigos para que indicassem algumas músicas, mas desistiu em seguida; aquele deveria estar sendo seu trabalho e, se fosse para ser fácil, não deveria ter começado. Aquilo era algo que adorava fazer, por mais que algumas demorassem mais tempo do que o necessário para acontecer. Não se importava se o tempo que passava buscando as músicas era maior do que o tempo em que passaria ouvindo-as, encontrar paralelos e montar significados era a parte mais divertida de todo o processo.

Contudo, nunca havia se programado em criar uma playlist própria. Sempre pensou no que animaria mais seus colegas, em que música combinava mais com um e com outro, nunca parando para pensar em algo que pudesse refleti-lo. A maioria de suas músicas para si mesmo eram para os momentos em que estava tão triste que a música era a única coisa a mantê-lo. Agora que tudo estava dando certo e a vida era uma crescente, que música Baekhyun poderia dar para si mesmo?

Parecia uma tarefa difícil, mas Baekhyun sabia ter a paciência necessária. Podia ser o garoto animado e distraído como era conhecido, mas também era persistente e bastante focado quando queria alguma coisa - talvez sua experiência com Sehun, após o término do namoro, pudesse atestar este fato - e não iria desistir estando tão próximo de seu objetivo. Se criasse aquela playlist, marcaria o renascimento de um novo Baekhyun, melhor do que seu eu passado, em constante aprendizado.

Baekhyun sabia que tinha crescido bastante durante o ano que se passou. Outrora a palavra culpa não fazia sequer parte de seu vocabulário, já que se considerava um garoto amável e que fazia do melhor para todos. Com o incidente com Sehun, percebeu o quanto podia ser egoísta nas piores horas e sobre como o sabor amargo da culpa em sua boca demorava a desaparecer. Aprendendo com os erros cometidos no passado, o Byun prometeu a si mesmo de que seria alguém melhor.

Nunca mais faria com que alguém passasse pelo mesmo que Sehun e o primeiro passo era concretizar sua playlist perfeita.

Conforme os dias se passaram e Baekhyun buscava cada vez mais novas músicas, buscando eps de seus artistas favoritos que, por ventura, ainda não tivesse ouvido, o garoto começou a encontrar um padrão entre as poucas músicas selecionadas. Todas elas marcavam de alguma forma seus sentimentos e a forma como sua cabeça estava uma completa bagunça, mas, mais do que o furacão que sua mente se tornou, aquelas músicas recordavam outra pessoa.

A maioria de suas músicas escolhidas recordavam momentos que não tinha vivido com Sehun, sua até então mais recente paixão; não recordavam qualquer momento marcante de suas amizades, tampouco de seu âmbito familiar. As músicas recordavam alguém que estivera ao seu lado em todos os momentos, participando de todas as etapas de sua vida e, por isso, era tão importante quanto cada uma daquelas melodias.

Park Chanyeol não saía de sua cabeça enquanto montava a playlist cuidadosamente.

No começo, pareceu apenas um pouco curioso de que as músicas recordassem Chanyeol. Algumas que se recordava do amigo ter indicado que ouvisse, outras que fez parte da trilha sonora de alguma risada do maior, a maioria permeada por boas lembranças que Baekhyun havia esquecido ou deixado largado em sua mente. Conforme continuava a ouvir as músicas em sequência, cada vez mais passava a associá-las com o melhor amigo.

Baekhyun tinha ciência da importância de Chanyeol em sua vida e nunca poderia negá-la. Chanyeol era sua luz no fim do túnel, o garoto a quem sempre buscava quando precisava de um abraço, o dono dos sorrisos mais bonito que já havia visto. O Byun se perguntava todos os dias quem poderia ser a pessoa por quem Chanyeol fora tão apaixonado que não teria notado o quanto o platinado era encantador. Em seguida, descartava seus pensamentos; Chanyeol havia dito que não tinha superado sua paixãozinha e Baekhyun deveria respeitá-lo.

Perguntava-se o motivo do incômodo em pensar na suposta paixão de Chanyeol, a pessoa que o amigo nunca revelava o nome e era bastante cuidadoso ao citar. Não se recordava de ter ouvido Chanyeol falar a respeito nos últimos meses, talvez estivesse preocupado demais consigo para poder falar qualquer coisa sobre seus sentimentos, e isso fez com que Baekhyun se sentisse mal. O que tinha feito com seu amigo, afinal?

Uma parte de si ficava feliz em não ouvir mais nada a respeito desta pessoa; sentia-se mal por não apoiar os sentimentos de seu melhor amigo como Chanyeol fez consigo quando contou sobre Sehun, mas a ideia de perder Chanyeol para outra pessoa parecia impossível. Sentia-se nervoso em pensar que seus abraços preferidos poderiam pertencer a outra pessoa, que os sorrisos não mais fossem seus e que Chanyeol passasse a pertencer a outra pessoa, por mais que nunca tivesse sido seu.

A outra parte de si, a que tentava ser boa e melhorar todos os dias, pensava que não deveria ser egoísta em tentar manter seu melhor amigo apenas para si. Reconhecia que estava uma bagunça por inteiro e que seus pensamentos estavam tão bagunçados quanto seus sentimentos, mas não poderia jamais prender uma pessoa a si apenas por alguns caprichos. Chanyeol sempre seria seu melhor amigo, apaixonado por outra pessoa ou não.

A verdade é que Baekhyun buscava mascarar o incômodo dentro de si justificando-o nas músicas escolhidas, como se alguma delas pudesse tomar vida e explicar-lhe o que deveria fazer em seguida. Não sabia sequer se estava pronto para envolver outra pessoa em sua bagunça, se não o quebraria como havia feito com Sehun… Como poderia fazer algo do tipo com quem o ajudou a vida inteira?

Resolveu ignorar o que sentia de estranho ao pensar em Chanyeol, focando-se nas músicas que estava selecionando. Seu trabalho não pareceu muito melhor, já que cada música o recordava de algum momento ao lado de Chanyeol. As músicas que tinham indicado um para o outro, as músicas que cantaram juntos em seu quarto e as músicas que fizeram som de fundo em todas as noites em que passaram em claro, conversando sobre absolutamente nada e tudo ao mesmo tempo.

Byun Baekhyun já não fazia ideia do que estava sentindo e isso o assustava. O que havia mudado em relação a Chanyeol? O que a atenção recebida, o carinho dedicado e os sorrisos dados tinham feito com seu coração? Baekhyun tinha certeza de que não estava pronto para nada depois de Sehun, mas Chanyeol entrou em sua mente como uma música de refrão chiclete, porém com a letra mais aconchegante que já tinha ouvido.

Baekhyun sempre pensou que eram uma combinação perfeita entre letra e melodia, mas nunca havia parado para pensar sobre o que poderiam significar.

. . .

O final do ano letivo se aproximava e os três amigos se viram presos em uma redoma de preocupação com o futuro.

Até poucos meses atrás, o vestibular não parecia amedrontá-los mais do que o que Baekhyun poderia fazer no dia seguinte, imprevisível e difícil de dissuadir como era. Estavam tão preocupados em manter Baekhyun e Sehun inteiros que a ideia de que teriam uma prova importante em alguns meses não passou por suas mentes e não tinham sequer ideia do que poderiam escolher como carreira no futuro.

Kyungsoo, como sempre, era o elo mais responsável entre os dois e tinha certa ideia do que faria com seu futuro, por mais que ainda vacilasse sobre algumas coisas. Tinha certeza de que tinha vocação para a Medicina e suas notas eram muito boas; seus pais mantinham alta expectativa de que fosse bem e isso o deixava ansioso e nervoso ao mesmo tempo. Queria tanto ser médico que nada passava por sua mente caso isso não se concretizasse.

Chanyeol e Baekhyun, por outro lado, não tinham nenhuma ideia em suas mentes. A única coisa que sabiam é que queriam ficar ao menos em campus próximos, para que a vida universitária não conseguisse dissolver o que construíram por tantos anos com afinco. Saberiam lidar com Kyungsoo um pouco mais distante por causa da faculdade - o mais novo era, de fato, mais sério e reservado -, mas como fariam um com o outro, se eram praticamente colados?

A prova que parecia tão distante agora caminhava a passos apressados em direção aos garotos, obrigados a decidir seus futuros sendo tão jovens. Haviam feito diversos testes vocacionais pela internet e com o conselheiro da escola e estudaram as opções de curso juntos. Nada muito surpreendente a Kyungsoo quando os dois contaram seus resultados; possuíam aptidões semelhantes e cursos em comum em seus próprios testes.

Por esse motivo, estavam os três deitados no jardim atrás do colégio enquanto uma tediosa aula de física se desenrolava - física era a única matéria que conseguiam convencer Kyungsoo a cabular porque até mesmo Kyungsoo detestava física -, analisando os resultados de Chanyeol e Baekhyun e buscando fazer paralelos entre os cursos para saber qual seria de maior agrado de ambos, já que tinham decidido que fariam faculdade juntos.

Olhando para os dois garotos discutindo sobre Artes Visuais, Kyungsoo percebeu que já tinha perdido a aposta com Yixing. Não tinha como Baekhyun não perceber seus sentimentos agora.

Kyungsoo devia admitir que sentiria falta dos amigos quando acabassem a escola. Tinha ciência de que o curso que havia escolhido era difícil e o faria passar noites em claro e cada vez com menos tempo para o lazer, por isso buscava aproveitar seus amigos da melhor forma sem que ambos soubessem. Pelos poucos meses em período escolar que lhes restavam, Kyungsoo cabularia até mesmo sua aula preferida só para poder presenciar as briguinhas infantis entre seus dois melhores amigos.

Quem poderia consertá-los após a escola se demorassem demais para entender que seus sentimentos eram mútuos? Chanyeol jamais falaria por livre e espontânea vontade, preocupado demais em estragar sua amizade com Baekhyun, e o Byun nunca abriria a boca porque Baekhyun nunca percebia nada, mesmo quando esfregado em seu rosto, como Chanyeol vinha fazendo nos últimos anos. Kyungsoo sabia que tinha como obrigação juntá-los antes que o colégio terminasse ou nada nunca aconteceria.

Um riso seco escapou de seus lábios com o pensamento de que o famoso coração de gelo tinha que bancar o cupido mais uma vez para Baekhyun. Sua mira fora um pouco falha da primeira vez, mas Kyungsoo tinha certeza que dessa vez daria certo. Tinha que dar.

“Eu acho que vocês dois combinam com Música”, Kyungsoo disse. “Envolve coisas que ambos gostam, ainda mais Baekhyun, que só não nasceu como um iPod porque não teve escolha.”

Baekhyun e Chanyeol pararam de discutir para olhar para o amigo. Passaram por quase todos os cursos dos resultados do teste vocacional, mas ainda não tinham chegado em Música, um dos cursos que tinha maior visibilidade em ambos os resultados. Baekhyun acreditava que aquilo seria tão esperado de si que Chanyeol jamais iria querer cursar também, por mais que o mais novo fosse apaixonado por música.

Entreolharam-se, encontrando a resposta no sorriso que nascia, transformando-se em um riso frouxo em seguida. Deveriam imaginar que chegaria um momento onde não teriam um argumento para refutar a escolha de curso do outro; música era o curso que abrigava tudo que amavam e poderiam continuar juntos, exatamente como devia ser. Mais uma vez, Baekhyun tinha acrescentado mais um item à sua lista do que agradecer às músicas que faziam parte de sua vida a cada momento.

“Não acredito que vocês estavam brigando por algo que já estava na cara que vocês escolheriam”, Kyungsoo rolou os olhos, apoiando a cabeça novamente em suas mãos e fechando os olhos para aproveitar os raios de sol que o aqueciam.

Baekhyun imitou seu gesto, mas mantendo o braço por cima de seu rosto para bloquear os raios solares. “Eu imaginei que Chanyeol não escolheria esse curso”, explicou. “O que é bem estúpido, porque esse também é a cara dele.”

Chanyeol se manteve por um instante observando seus amigos com um sorriso de canto, antes de deitar-se ao lado de Baekhyun e esconder seu rosto na sombra que seu braço dobrado fazia. “Eu não me recordava que este curso também estava nos meus resultados e fiquei surpreso que você não o tenha escolhido de início, Baek.”

“O mal do vestibular é você precisar decidir um curso para tentar e não todos que te interessaram e esperar ver qual te aceitará”, Baekhyun lamentou. “Mas a música sempre esteve presente em tudo comigo, acho que dessa vez não seria diferente.”

“Eu espero que fiquemos todos próximos”, Chanyeol disse. “Mesmo que Kyungsoo vá ser médico e ganhar mais do que nós dois juntos no futuro, eu queria que nossos campus fossem próximos para que possamos continuar nos vendo.”

Kyungsoo abriu um dos olhos, encontrando a cena que os amigos protagonizavam. Chanyeol mantinha seu rosto escondido pelo braço de Baekhyun e o Do conseguia enxergá-lo pelo vão formado, os olhos apertados para evitar o sol, parecendo bastante confortável com a posição que tinham encontrado. Baekhyun, por sua vez, mantinha-se alheio a absolutamente tudo, aproveitando do calor gostoso que o sol do início da manhã tinha.

“Vocês não vão se livrar de mim assim tão fácil, idiotas”, reclamou. “Quem mais pode colocar juízo na cabeça de vocês?”

“Você não anda tendo muito juízo para falar da gente, mocinho”, Baekhyun riu, virando o rosto para poder encarar a face zangada de Kyungsoo. “Como anda Yixing?”

“Eu preferia quando você nem sabia o que tava acontecendo”, Kyungsoo resmungou. “Yixing está bem, sendo mimado por alguém como sempre.”

Chanyeol apoiou-se em um braço, erguendo-se para encarar o amigo do outro lado. “Será mais uma nota de ciúmes que vemos aqui, Baek?”

“Pode apostar que sim", Baekhyun confirmou, com um sorriso zombeteiro. “Você pode ser o único a mimá-lo se desistir dessa ideia de que não tem nada entre vocês quando obviamente tem, Soo.”

“Como você pode dizer que é óbvio quando Chanyeol teve que te contar sobre isso, senão você não descobriria?”, Kyungsoo rolou os olhos. “Só é… Complicado. Eu não quero estragar as coisas.”

“Como você poderia estragar as coisas se tudo que Yixing quer é que você pare de recusar seus pedidos?”, Chanyeol perguntou.

“Porque o colégio está acabando, Chanyeol, e eu não quero me envolver com alguém que daqui alguns meses pode estar na China de novo ou ir para outra cidade.” Kyungsoo explicou, deixando de olha-los. “Eu nem sei se Yixing não está brincando comigo esse tempo todo ou não…”

Baekhyun e Chanyeol perceberam que não deviam continuar com as brincadeiras porque agora Kyungsoo estava falando sério. Estavam acompanhando a odisseia de seu amigo com Yixing, gostavam de incomodá-lo fazendo piadas e brincadeiras a respeito de seu envolvimento com o chinês de covinhas, mas Kyungsoo nunca havia dito seus temores a respeito do que vivia. Era claro para eles que o amigo gostava de Yixing - Kyungsoo só pensava que podia enganar aqueles dois como fazia consigo mesmo - e isso justificava seu medo.

Antes não aceitar ter algo do que vê-la ser retirada de si depois. Não fora isso que Chanyeol fizera?

Baekhyun também se sentou ao lado de Chanyeol, olhando para Kyungsoo de forma séria. Era estranho não ver o sorriso em seus lábios, mas se havia algo que fazia Byun Baekhyun assumir uma postura séria e deixar as brincadeiras de lado, eram os sentimentos de seus amigos. Kyungsoo podia ser ácido e às vezes parecer odiá-lo, mas Baekhyun o ajudaria assim como Kyungsoo havia feito por si.

“Você já falou com o Yixing sobre isso, Soo?”, perguntou. “Sobre os planos dele depois da escola.”

“Não é exatamente o assunto que temos”, Kyungsoo respondeu. “E às vezes eu não quero saber porque só vai adiantar o inevitável.”

“Ou você só está sofrendo por antecipação”, Chanyeol retorquiu. “Talvez Yixing não vá a lugar nenhum e você está se privando de algo que quer por medo.”

“Vamos ter mesmo essa conversa, Chanyeol?”, Kyungsoo suspirou.

Chanyeol não se intimidou. “Vamos, porque aparentemente você não aprendeu comigo a não deixar a pessoa que você gosta escapar por entre seus dedos", disse. “Não fuja do Yixing porque tem medo de que não durem. Ele está há tanto tempo atrás de você que já deveria ser motivo suficiente para que você acredite nele, ou ao menos dê uma chance para vocês.”

Kyungsoo não respondeu e os amigos entenderam que não deveriam insistir no assunto. Kyungsoo era bastante perspicaz, saberia fazer exatamente o que era melhor para si mesmo. Diferente de Chanyeol, acostumado a fugir das situações difíceis e por isso perdia as chances que tinha, o Do saberia resolver seus problemas de cabeça erguida, mesmo que isso significasse perder Yixing antes do tempo.

Não podiam fazer nada, já que as decisões precisavam vir de Kyungsoo, mas torciam para que ele escolhesse o caminho certo - o caminho que o levaria até Yixing no final.

Para aliviar o clima que havia ficado tenso com o silêncio de Kyungsoo e as decisões não tomadas, Chanyeol resolveu brincar com os amigos novamente. Precisavam voltar para sala em breve, o mais novo nunca perderia a aula de Biologia por causa dos amigos, e não poderiam desperdiçar aquele momento histórico de Do Kyungsoo cabulando aula de qualquer jeito.

“Vocês são realmente a melhor companhia que eu poderia querer”, Chanyeol deu de ombros. “Eu sei que não é muito do nosso feitio ficar falando essas coisas, talvez eu seja o único idiota a falar, mas eu acho incrível que a gente siga juntos mesmo quando somos tão diferentes.”

“Você e Baekhyun só não são a mesma pessoa porque as leis da física impedem que dois corpos ocupem o mesmo espaço, Chanyeol”, Kyungsoo devolveu.

“Mas você é muito diferente de nós e é por isso que é tão incrível que estejamos o três ainda juntos, depois de anos”, Chanyeol insistiu. “Você sabe, você tem essa pose de coração de gelo, mas se preocupa com a gente mesmo quando tenta parecer que não. Você ouviu todas as vezes em que eu lamentava a respeito do-”

Chanyeol se interrompeu na mesma hora e Baekhyun estranhou sua reação. “Não está na hora de você me contar quem é, Chan?”

“Eu… Eu acho que não”, Chanyeol respondeu. “O assunto agora é nós três!”

“O assunto agora é sobre como nós somos amigos há anos e você não me conta coisas como por quem você está apaixonado”, Baekhyun o interrompeu, sentando-se para poder confrontá-lo. “Tudo bem que você ache que o Kyungsoo é mais indicado para ouvi-lo, eu sou só um idiota que não consegue perceber nada, mas me deixa magoado que você não confie em mim só para dizer um nome, Chanyeol. Eu não quero que você me apresente a pessoa, eu só queria saber o nome da pessoa por quem meu melhor amigo está apaixonado!”

O silêncio voltou a perdurar e Kyungsoo percebeu que aquele era pior do que o anterior. Chanyeol nunca fora confrontado de forma tão direta quanto Baekhyun fazia agora e podia enxergar nos olhos do mais velho a mágoa por não ter a confiança dedicada a si. Sabia que Baekhyun prezava pelos pequenos detalhes de sua amizade e o quanto Chanyeol era importante para ele, mas também sabia que não podia exigir aquilo de Chanyeol.

Chanyeol, o garoto que guardou seus sentimentos por anos para que o visse feliz; Chanyeol, o garoto que se manteve em silêncio enquanto sofria ao vê-lo feliz longe; Chanyeol, o garoto que nunca pensou em si mesmo antes de fazer algo que deixasse Baekhyun feliz. Em nenhum momento passou por sua mente que deveria deixá-lo ir ou superar sua paixão por seu melhor amigo e por isso Kyungsoo acreditava que ele não merecia ser jogado contra a parede dessa forma.

“É você.” Chanyeol disse, por fim. Nenhuma palavra fora ouvida em seguida. “Sempre foi você, sabe? Há tanto tempo que eu parei de contar. Eu não podia te contar porque… Bom, eu não queria estragar tudo. Desculpe por magoá-lo, mas Kyungsoo era a única pessoa com quem eu poderia falar sobre isso e eu não aguentava mais guardar apenas para mim. Desculpa por estragar tudo, Baekhyun.”

O Byun permaneceu atônito com a informação ouvida, encarando Chanyeol como se não pudesse acreditar. Não ousava dizer sequer uma palavra, mantendo seu silêncio como se fosse a melhor resposta para o garoto. Porém, Chanyeol nunca se sentiu tão nervoso em ser encarado por Baekhyun. Mal havia deixado que as palavras escapassem de sua boca e já sentia-se arrependido. Havia despistado Baekhyun por tanto tempo, por que diabos resolveu contar dessa vez?

Uma pequena parte de si acreditava que poderia ter seus sentimentos devolvidos pelo mais velho, que, com sua declaração impulsiva e improvisada, poderia alcançá-lo como tentava fazer há anos. Porém, uma parte maior de sua mente, a parte mais racional e que sabia manter seus pés no chão, o alertava para que fugisse antes que Baekhyun abrisse a boca; porque Chanyeol suportaria qualquer coisa, mas não a rejeição vinda de Baekhyun.

Por esse motivo, antes que Baekhyun pudesse dizer qualquer coisa para impedi-lo de ir embora, Chanyeol já havia se levantado e corrido para longe do jardim. Kyungsoo pensou em chamá-lo, evitando que fosse descoberto pelos inspetores e colocado em detenção, mas àquela altura essa era a última coisa que importava para o Park. Tudo que ele buscava era manter-se longe de Baekhyun e o faria independente de qualquer consequência.

Baekhyun, como sempre, havia interpretado errado.

“Por que ele foi embora, Kyungsoo?”, perguntou. “Eu… Eu não disse nada!”

“Justamente por isso, Baekhyun.” Kyungsoo suspirou. “Tem ideia de há quantos anos Chanyeol é apaixonado por você? Tem ideia de que a escola inteira sabe e você nunca notou?”

A culpa caiu em seus ombros antes mesmo que Baekhyun tentasse evitá-la. “Eu não tive a intenção…”

“Você nunca tem, Baek, mas as coisas acontecem”, Kyungsoo respondeu. “Chanyeol nunca o culpou por você não notar ou não gostar dele de volta, mas eu sempre achei isso injusto. Por que você não podia simplesmente olhar para o lado e não fazê-lo sofrer assim?”

“Eu nunca percebi, Chanyeol nunca deu indícios de que gostava de mim…!”

“Eu sei e não estou te culpando, apesar de parecer que sim.” Kyungsoo disse. “É que eu realmente detesto ver o Chanyeol triste, sabe? Ele parece um filhotinho de cachorro e é horrível não poder fazer nada porque eu também não podia chegar em você e fazê-lo gostar dele de volta só porque, para mim, é o mais certo a se fazer.”

Baekhyun fez menção de dizer algo, mas Kyungsoo o calou. “Sabe, a gente reclama do Chanyeol todos os dias, mas ele tem um coração gigante. Quando você estava com Sehun, ele me perguntou se era errado não se sentir feliz por vê-lo com outra pessoa.”

“Deve ter sido horrível para ele”, Baekhyun sussurrou. “Ele me ouviu falar tanta coisa…”

“Chanyeol não se importava porque ele ficava feliz em te ver feliz, sabe.” Kyungsoo disse. “Sempre achei que isso poderia fazer mal a ele em algum momento, mas ele sempre pareceu sorridente e feliz por te ver sorrindo. Acho que eu não conseguiria estar no lugar dele.”

“Eu me sinto mal por fazê-lo ficar triste, mesmo que eu não soubesse”, Baekhyun encolheu os ombros. “Chanyeol é meu melhor amigo e eu não fui capaz de notar algo desse tipo. Que tipo de melhor amigo sou eu?”

“Do tipo que é um tanto desligado, mas você não tem culpa. Chanyeol se recusava a te contar ou a demonstrar qualquer coisa, ele é teimoso como uma mula”, Kyungsoo respondeu. “Agora é a hora de você pensar nas coisas direito, Baek. Você não é obrigado a devolver os sentimentos do Chanyeol, mas esse é um momento que muda tudo. Se você gostar dele de volta, diga para ele. Acho que depois de todos esses anos, o Chanyeol merece uma resposta sincera sua e não algo que você possa dizer apenas para consolá-lo.”

Kyungsoo também se levantou, oferecendo-lhe a mão para que voltassem para a sala de aula. Sabiam que não encontrariam Chanyeol por lá e talvez não voltassem a vê-lo pelo restante da manhã, mas o tempo era importante para que colocassem suas ideias no lugar. Baekhyun precisava absorver as informações que lhe foram dadas, organizar seus pensamentos e fazer com que seu coração voltasse a bater no ritmo indicado.

Tentava fazer-se de impassível em frente a Kyungsoo, até despistá-lo avisando que iria ao banheiro antes de voltar para a sala. Sabia que Kyungsoo não tinha acreditado em si, mas não se importava; correu o mais rápido que podia pelos corredores, alcançando a escada que levava até o terraço da escola. Se os jardins eram seu local de contemplação e para onde ia quando estava triste, sabia exatamente a quem o terraço pertencia.

Assim como esperava, Chanyeol estava sentado à beirada do prédio, as pernas balançando de forma desanimada. Sua cabeça estava baixa admirando o chão tão longe, podia jurar que sabia exatamente como seu semblante estava pelos anos de convivência e Baekhyun controlou o ímpeto de se aproximar e dizer-lhe que estava tudo bem, porque, para ser sincero, o Byun não sabia há muito tempo o que era tudo estar bem. Parecia que o furacão Sehun mal tinha passado por sua vida e Baekhyun já se sentia bagunçado mais uma vez.

As palavras de Chanyeol continuavam a ecoar em sua memória, o rosto corado pela vergonha e os olhos aflitos evitando focar nos seus. Perguntava-se como havia sido tão relapso em não notar os sentimentos de seu melhor amigo, aquele que estava tão próximo de si todos os dias? O quanto havia sido egoísta focando apenas em si mesmo e em seus sentimentos, sem entender os que lhe rondavam? Como ainda poderia se dizer melhor amigo de Chanyeol se não havia notado seus sentimentos?

Baekhyun sabia que não tinha culpa por não ter notado, mas pensar que havia magoado Chanyeol doía em si quase da mesma forma como se sentia em relação a Sehun. Baekhyun pensou se a culpa um dia poderia deixá-lo ou se ela apenas mudaria de remetente. Era tão irônico que tivesse se libertado desse sentimento por algumas semanas e agora ela estava de volta, ainda mais intensa.

Sehun fora um de seus amores, o garoto a quem desejava proteger e jurar nunca mais machucá-lo, mas Sehun agora tinha Jongin ao seu lado, ele estava seguro. Porém, Chanyeol… Chanyeol era sua outra metade, como uma alma gêmea. Chanyeol era a metade de seus sorrisos, metade de seus abraços, seu refúgio em meio a tempestade, sua pessoa favorita há anos. Era a única pessoa em sua mente nos últimos meses.

A figura de Chanyeol estando tão próxima e ao mesmo tempo tão longe o recordava da playlist que estava terminando de montar, e todas as músicas que o recordava de seu melhor amigo. Talvez as coisas fizessem mais sentido agora, por mais que ainda sentisse que estava uma bagunça por dentro. As músicas começavam a se encaixar em seus pensamentos, cada melodia ecoava os batimentos acelerados de seu coração e suas letras cantavam sua felicidade, ainda que não sentisse que a merecia.

Aquela pequena partezinha sua explodiu em sons novamente ao sentir-se feliz por Chanyeol gostar de si, porque Baekhyun finalmente estava começando a encaixar as pecinhas do quebra-cabeça que formava sua vida e Chanyeol era a última peça que faltava. Tudo ainda poderia estar uma bagunça, mas Baekhyun não se importava; a confissão de Chanyeol era o último impulso que precisava para perceber o que estava tentando esconder de si mesmo nos últimos meses.

          Park Chanyeol completava seu quebra-cabeça, formava suas playlists e era sua música favorita entre todas, Baekhyun não sabia porque havia demorado tanto para perceber. Agarrava-se a esperança de que todas as vezes em que ouviu que nunca é tarde demais não fosse em vão.