História Exposed - Camren - O inicio

- 16 de janeiro de 2017 -

Meu despertador não para de apitar. Eu realmente não entendo porque tenho que passar minha vida toda estudando, nesse exato momento eu poderia estar em um avião voltando para minha cidade natal, mas não, estou em uma cidade que nunca havia conhecido antes, estou sendo obrigada à isso, estou sendo obrigada por meus pais a passar o resto dos proximos três anos aqui, eu definitivamente não conheço ninguém, isso vai ser um pesadelo, eu aposto. Sento na cama e olho ao redor, o pequeno apartamento, que consegui alugar com a ajuda dos meus pais, está devidamente arrumado, o meu toc as vezes é favorável. Levanto da cama sem a minima disposição, vou ao banheiro e faço minha higienização matinal, em seguida, abro meu armário e pego uma camisa com gola cinza de mangas compridas e uma calça jeans preta, parece que a camisa combina devidamente com meu cabelo e olhos castanhos, pego qualquer tênis que vejo pela frente e após um longo suspiro, arrumo em minha bolsa qualquer caderno e caneta que vejo.
Para ser sincera, eu não estou preparada, eu não me sinto preparada para começar essa nova vida, pela primeira vez eu sinto que preciso ser responsável, eu tenho que me virar sozinha, eu nunca fiz isso antes, eu tenho medo. Medo. Medo é a palavra que define o que eu to sentindo, medo de quem vou me tornar com essa experiencia, medo de ter que passar os proximos anos sozinha... Isso me assusta.
Ando em direção à geladeira e pego uma maçã. Tiro meu celular do bolso e noto que estou atrasada. Merda! Justo no primeiro dia? Desço as escadas do meu prédio, que não sei se posso chamar de prédio, tem no total cinco andares e eu moro no terceiro. Assim que saio do prédio, eu vejo um taxi passando. Maravilha! Faço sinal e ele para, lhe digo o caminho e encosto minha cabeça na janela, fico pensando o que me espera naquele lugar que eu não faço a minima questão de estar. Fazer administração na faculdade nunca foi meu sonho, nem se quer passou pela minha cabeça, eu não me interesso por esse tipo de coisa. O taxi freou com brutalmente, eu me assusto e acabo batendo minha cabeça, ele faz um sinal de que cheguei aonde pedi, então pago para o motorista e desço, a maçã estava pela metade, encontro a primeira lixeira na rua e jogo. Olho para o outro lado da rua e me dou conta, ali está. Aquele lugar é gigante, com portões e estacionamento imenso, porém, está vazio, me deu o maior frio na barriga, eu posso ter errado o dia de inicio das aulas, pego meu celular do bolso e tento ver os horários enquanto atravesso a rua. Passo pelos grandes portões e finalmente subo pequenas escadas que me deixam cara-a-cara com grandes portas que levam você a um corredor gigante, milhares de salas, eu estou perdida, não tem ninguém aqui. Não entendo, está tudo certo, é hoje o inicio das aulas. Olho para trás, vem chegando uma garota de moletom preto, cabelo preto escuro e cabeça baixa, ela está com uma bolsa , certamente deve estudar aqui. Ah, que sorte, não sou a única. Ela levanta a cabeça me vê parada em frente a imensas portas, a encarando, ela se assusta bravamente, me sinto culpada por um segundo, até que ela se aproxima mais e posso finalmente soltar algumas palavras.
— Por gentileza, é... me ajuda?
— O-oi, em que ajudo? — ela diz parecendo surpresa, subindo as escadas receosa. Ela tem uma bela voz, rouca, me sinto encantada.
— Eu estou perdida, esse é meu primeiro dia aqui e eu não entendo porque não tem ninguém, nem tenho ideia de onde é minha sala. — eu disse finalmente observando que ela tem belos olhos.
— Oh, então deixe-me ver, você fará o que? — ela diz parecendo mais tranquila e passando pela porta, fazendo sinal para que eu a siga.
— Administração, infelizmente. — ela me lança um olhar curioso enquanto andamos, eu não posso deixar de pensar em como aqueles olhos tão lindos brilham.
— Infelizmente? Isso não parece bom... Esse corredor na verdade é uma bagunça, você só chegou atrasada, por isso está vazio — ela disse parando de andar em frente à uma sala tão grande quanto as outras e soltando uma risadinha, relaxante. — É aqui, foi facil achar, nessa faculdade poucos se interessam por administração, é um dos cursos menos procurados, só tem um turma. — ela sorri intimidada.
— Eu não sei como agradecer, muito obrigada...? — eu disse tentando descobrir o nome dela enquanto se virava para ir embora.
— Você não quer saber meu nome, não me pergunte nem meu curso. Você é nova aqui e assim que passar por essa porta, fará amizades que lhe farão ter uma imagem errada de mim. Eu sei do que estou falando. — ela disse se virando para mim e andando de costas, em seguida virou e abaixou à cabeça, do mesmo jeito que estava quando chegou. Raciocinei por um segundo e não consegui chegar à conclusão dessa frase, logo me concentrei em criar coragem para entrar na sala. Abri a porta e tentei não ser notada, mas não deu certo quando o professor parou sua aula para fazer todos focarem em mim.
— Bom dia senhorita Cabello, ou prefere boa noite? — ele disse virando-se a porta, que fica ao seu lado esquerdo. Eu caminhei lentamente até as cadeiras e fui para uma das ultimas, onde fiquei sozinha e cabisbaixa a aula inteira. Não podia deixar de pensar na garota misteriosa dos olhos claros, cada detalhe dela ainda era muito forte em minhas lembranças, eu poderia procura-la no intervalo, eu só não conseguia entender porque ela agiu assim... Após uma aula inteira pensando e rodeando nesse mesmo tema, eu me acordo de pensamentos logos e percebo que duas garotas que sentam na frente não paravam de me olhar e comentar algumas coisas, aquilo era constrangedor. Abri minha bolsa, peguei meu caderno e minha caneta, eu poderia escrever o que o professor explicava, mas preferi desenhar cada traço que me lembrava do rosto dela, sempre fui muito boa em desenho e quando se tem emoções eles parecem melhores. Isso é estranho, nunca aconteceu antes. Já ouviu falar de histórias de amor à primeira vista? Certamente, isso não existe, eu sei, mas o que eu posso encontrar pra explicar a faísca perfeita que se ascendeu enquanto observava seus traços tão delicados, que foram perfeitamente desenhados, para seu rosto e seu jeito tão intimidado? Eu preciso descobrir o nome dela, o curso, qualquer coisa... Eu só preciso conhecer ela.
— Ei! Karla! — me assusto após ser interrompida de longos pensamentos enquanto desenho totalmente concentrada, uma das garotas que estavam falando de mim na frente sentou ao meu lado, mas sem seus materiais, provavelmente só quer bater um papo. Ela é alta demais, tem cabelo loiro, é linda.
— Oi? Como sabe meu nome? Me chama de Camila, por favor. — eu disse assustada notando que ela observava meu desenho.
— Antes de você chegar, o professor fez a lista de presença, Camila. Sou a Dinah. Tudo bem? Que desenho é esse? Vou ver, tá? — ela puxa o caderno de cima da minha mesa e arregala os olhos franzindo a sobrancelha, como se ela conhecesse a garota, a achei bastante intrometida mas desde que ajude a encontrar a misteriosa de olhos lindos, para mim tudo bem, apesar de nem conhece-la. — Por que você está desenhando a Lauren? São amigas? Ai meu Deus, eu vou voltar para o meu lugar.
— Lauren? É o nome dela? Dinah, espera. — eu disse antes que ela pudesse levantar. — Você conhece ela? Me explica, por favor.
— Explicar o que? Olha, eu vim aqui tentar fazer amizade porque eu me minha amiga, Ally — ela apontou para a garota que estava com ela, lá na frente — percebemos que você está sozinha e pensamos que seria bom se sentisse que é bem vinda aqui, mas você é amiga da Lauren, isso é constrangedor, desculpa.
— Eu não a conheço, mas pode me explicar? Eu sou nova aqui na cidade, não estou entendendo, quem é ela? — eu disse pegando o caderno da mão dela de volta.
— Lauren é conhecida, tanto pela faculdade, quanto pela cidade inteira, como a "Branca toca Disco", em outubro do ano passado ela teve videos íntimos vazados, ela mandou pra um ex namorado e ele divulgou por toda a cidade... É complicado, mas desde ai sofreu bullying por todos da faculdade, chegava aqui com hematomas, foi estuprada e gravaram, perdeu todos os amigos, menos uma tal de Normani, que logo começou a sofrer racismo por conta da amiga. Infelizmente, andar com ela seria considerado como um "crime à sua propria reputação", então se for amiga dela, teremos que parar por aqui, tenho uma reputação a zelar.  — eu não podia acreditar no que ouvia, eu não acredito que ainda existem pessoas assim no mundo, que atacam umas as outras por descuido, traem a confiança de alguem que chega a te amar de verdade, ou te maltratam por uma cor de pele. Agora eu finalmente entendia o que Lauren queria dizer, mas ainda não conseguia entender porque ela continuava estudando ali, continuava frequentando os mesmos lugares, isso deve ter alguma explicação, eu preciso conhecer ela, eu preciso falar com ela. Eu senti uma necessidade estranha de proteger alguém que eu nem conheço, talvez por imaginar a dor que ela sente, empatia. Eu preciso, não é querer, não é pensar, é uma necessidade de conhecer ela.