Ele não havia acreditado em mim, não havia acreditado que dei a luz de um filho seu. A noite estava gélida, a única coisa vista com total nitidez era a lua pálida que rompia a escuridão. O silêncio tomava conta de cada canto da floresta. Da última vez que estive aqui os pássaros cantavam e o sol aquecia e descongelava cada floquinho de neve entranhado em meio às folhas. Agora estou encolhida, sentada no chão gelado e úmido apoiada em uma árvore. Meus dedos estão calejados, o cansaço vai se espalhando aos poucos. O ar frio entra devagar em meus pulmões a cada respirada, arrepiando meus braços feridos e nus. A cada pequeno barulho feito muitas vezes pelas folhas secas caindo, meu ouvido se fecha e única coisa que eu ouço é meu coração, batendo rápido com se fosse fugir de meu peito. O medo me dominou.
Meus olhos se abriram lentamente, quando escutei vozes que aos poucos foram ficando nítidas, eram os soldados do Rei, estavam atrás de mim. Levantei rapidamente, agora as árvores ganharam formas e cor e os pássaros voltaram a cantar, o sol havia nascido. Por um breve momento esqueci que estava fugindo de pessoas que me consideram uma bruxa, francamente se eu fosse uma bruxa ou qualquer coisa do tipo, eu não estaria fugindo. Foi quando eles me avistaram. Disparos vinham em minha direção, o medo me fez ser rápida, me surpreendi com a destreza dos meus movimentos. Sentia leves arranhões em minhas pernas, mas não pude parar para ver se estavam muito feios. Sentia o suor escorrer, fazendo com que a roupas grudassem em meu corpo. Meus pulmões queimavam e minhas pernas latejavam. Ainda assim, eu corria. Tentei não desistir, mas os disparos continuavam, eu não fui rápida o suficiente. Não demorou muito para uma bala atravessar minha perna, foi quando caí.
O barulho e murmúrios ao redor eram altos, havia uma multidão. E eu era a atração principal, todos me olhavam com medo e desprezo. Tantas pessoas medíocres e curiosas, nenhuma sabe de verdade quem sou, Mas todas desejam minha morte. A única coisa que fiz de errado foi carregar esse sobrenome, e por algum motivo essas pessoas acreditam que ele me torna algo mais forte que os humanos. Sinceramente estou à procura desta força. Meus lábios estão sangrando, estou tonta, meus ouvidos estão zunindo. Quando percebo, que há algo pesando sobre meu pescoço, uma corda.
- Morgana Le Fay, - um homem anunciou- Uma feiticeira que há anos vem vêm amaldiçoando os membros da vossa realeza. E inventando calúnias a respeito do Rei Arthur!
A voz do carrasco transbordava um excesso de arrogância, como se ele estivesse ditando a cura para uma doença mortal. A multidão vaiou as acusações.
- A senhorita Le Fay afirma que tem um filho de Vossa Majestade.
A multidão começa a gritar, todos com expressão de raiva. Eles nunca acreditariam em mim. Todos acreditam que Arthur é infértil e estão muito enganados. Provavelmente estão pensando que estou caçoando de Arthur. Ele deveria saber que eu nunca faria isso, quando éramos crianças ele costumava ser compreensível, acho que não o reconheço mais debaixo de toda essa roupa acetinada e dessa coroa. A corda está muito apertada e a dificuldade para respirar vai aumentando.
- A senhorita caçoou da deficiência de vossa majestade, passou anos fazendo feitiços e matou sua melhor amiga!
As lágrimas escorrem sobre minha face. Os olhares de incredulidade a minha frente me fazem sentir pequena e impotente. Estou ofegando.
- Suas últimas palavras?
Olhei para Arthur sentado na cadeira Real.
-Você sabe que eu nunca mentiria!- As palavras saíram rápidas e baixas.
Quando uma pequena garota de olhos verdes e cabelos ruivos, surge no meio da multidão, segurando um ursinho de pelúcia, ela pergunta:
-Mamãe?
-Vai ficar tudo bem, Alice. - Respondo sem esperança.
Olho para a expressão de Arthur, ele não acredita no que vê, está intrigado e sem reação. Alice tem os traços faciais idênticos aos do pai. Agora todos acreditam em mim. Mas já é tarde. A cadeira na qual eu estava em pé o tempo todo, foi puxada. A escuridão me encontrou. A dor que sinto é como uma ponta solta e perfurante que se arrasta por cada tecido da alma, arranhando e corroendo; traiçoeira e repentina, ela se alastra por cada recanto e devasta cada encanto, em um momento tudo está repleto de vazios e a dor se apodera de cada pedaço.
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