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História Faith - De volta ao Dês Agnes


Escrita por: Teishin-chan

Notas do Autor


Capitulo 1, boa leitura ^^

Capítulo 2 - De volta ao Dês Agnes


Agosto 1763

 

              Toda criança abandonada tinha o sonho de encontrar seus pais de verdade, de que o motivo por terem sido abandonadas não passasse de um feliz engano. Assim como todo órfão nas ruas de paris temia perder a mão ou coisa pior por roubar. Toda criança sonhava em ter um teto e carinho. Qualquer órfão sabia que se encontrasse um lugar que não estivesse molhado e que não corresse risco de ser atacado era um luxo.

              Eu tinha 19 anos bem vividos e mal vividos nas ruas de paris e não acreditava mais em milagres.

– Volte aqui seu demônio! – o homem gritou brandindo seu porrete para mim.

  Antes que ele pudesse me alcançar eu já tinha saído de seu alcance tomando vantagem de minha agilidade e tamanho. E quando percebi que não seria mais seguida, sentei e comi meu queijo. Uma delícia que teria que servir para o dia inteiro.

               Logo eu teria que mudar para outra parte da cidade, ficar ali por muito tempo apenas me deixaria mais conhecida e fácil de pegar pelos comerciantes, e depois simplesmente teria que sair de Paris como eu já tinha feito uma vez, mas era duro ter que começar tudo de novo e pelo menos ali eu sabia exatamente onde estava pisando.

Me levantei.

              Estava ficando escuro e eu precisava de um lugar para me refugiar antes que só pudesse ver vultos. Eu havia nascido muito prematura, e acho que não se importaram de conferir se eu estava viva antes de me colocarem no meio do lixo. A questão era que eu não tinha boa visão, enxergava o suficiente para não esbarrar em alguém, mas de longe os rostos ficavam desformes e a noite não conseguia ver bem. E antes que o sol se posse eu precisava de um lugar seguro, contra os rigores do tempo e os perigos da rua.

              Sai saltitando de barriga cheia pelas vielas fedorentas, eu não tinha muitas certezas sobre minha vida, sequer tinha um nome. Eu não sabia se amanhã eu estaria viva ou morta, se teria algo para comer ou ficaria com fome, se me decepariam uma mão ou apenas me dariam chibatadas.

Ou se a vida sorriria para mim e num golpe de sorte eu esbarraria em algo bom...

Eu precisava de muita sorte.

Parei assim que vi uma mulher encostada na parede de uma casa, ela estava longe, mas pude ver que seus cabelos eram castanhos e cheios e sua pele pálida. Parecia muito bem vestida e aquele não era o tipo de lugar com uma dama deveria ficar.

– Está perdida madame? Quer ajuda? – perguntei.

Ela sorriu e deu as costas adentrando as vielas escuras.

– É perigoso madame! – gritei pois ela não parecia ter me escutado e como ela não parou fui atrás dela.

A mulher virou uma esquina e quando achei que iria alcançá-la, ela simplesmente sumiu.

Senti um arrepio subir a minha nuca.

– Jesus cristo – murmurei.

Não tive tempo para pensar no que teria sido aquilo, pois ouvi um grito abafado de uma criança.

– Me solte!

 – Você não pensou nisso antes de me roubar não foi pestinha? – um homem gritou.

A criança chorou.

             Morando na rua eu havia aprendido que as vezes para meu próprio bem era melhor ignorar as atrocidades que aconteciam ali, mas eu simplesmente não podia tapar os ouvidos enquanto uma criança gritava.

              Corri descendo o beco e me deparei com o homem segurando a criança, uma menina com roupas de menino. Foi o que eu pensei quando vi seus cabelos. Eram bem compridos e suas feições tão delicadas. E aquele homem era um brutamontes e um mendigo, percebi pela maneira que ele se vestia.

Peguei e uma pedra que estava no chão e joguei acertando seu ombro.

Ele gritou e olhou para trás procurando de onde havia partido o golpe.

– O que pensa que está fazendo Ruiva?

Ruiva era meu nome usual, era algo da minha aparência que sempre se destacava das demais e não importava onde eu fosse, ou que fizesse. Eu era a ruiva.

– Por que não deixa a criança em paz? – perguntei.

– Alguém pediu sua opinião.

– Não, mas não vou permitir que a machuque – empinei o queixo.

– Isso nós podemos combinar não? – ele perguntou me avaliando – se abrir as pernas para mim...

O olhei enojada.

– Nem tente – avisei.

Ele me atacou, ouvi o grito da criança de puro desespero, mas ela não sabia.

Agachei o corpo e dei um soco na barriga do homem que arquejou, xingou e me olhou chocado. Lancei um olhar de desafio.

Toda moça deveria saber se defender. Nem toda a moça sabia ou podia, mas eu sim.

 Ele voltou ao ataque, seu punhos eram pesados percebi quando me defendi e se eu leva...

             Antes de concluir o pensamento levei um soco no queixo e cambaleei tonta, porém me mantive de pé dando um chute em suas canelas foi quando ele puxou a faca. Eu ainda estava tonta por causa do soco e não consegui desviar a tempo antes que ela me acertasse nos flancos. Ele puxou meu braço para crava-la mais fundo em mim.

– O que acha disso vagabunda? Quer um pouco mais ou posso levantar suas saias agora?

– Por mim – eu disse entredentes – Você pode ir para o inferno.

Deus sabia a dor que aquilo me provocou, mas inclinei o corpo mais para ele e chutei com força entre as pernas.

Seu uivo de dor foi música para os meus ouvidos, eu arranquei a faca de mim quando ele caiu no chão.

Mon Dieu, mon Dieu – a Criança me abraçou e depois me puxou pelo braço para que eu corresse.

– Eu não sei para onde quer me levar, mas tenho certeza que não vou aguentar – falei sentindo que a cada passo minhas vistas se escureciam e meu vestido ficava cada vez mais empapado de sangue.

– Tem um hospital aqui perto, apenas aguente...

Não aguentei, o mundo girou sobre meus pés e tudo ficou no mais completo breu.

 

              Levar uma facada não era nada agradável, pensei comigo mesma enquanto pairava entre a consciência e inconsciência. Ouvia o som de mulheres conversando e outros sons externos que me assustavam um pouco, pessoas gemendo de dor e as vezes gritando. Eu sentia tanta dor e calor que pensei que estivesse no inferno. Sim roubar e matar deveria contar para Deus para que ele me mandasse para o inferno. Então comecei a rezar implorando perdão. Nenhum padre havia chegado para me dar a estrema unção e por isso eu havia sido condenada.

– Eu roubei, porque estava com fome – choraminguei – e matei... matei para me defender...

– Menina fique calma – a voz feminina sussurrou limpando minha testa – você ainda não morreu e acredite que se for o caso providenciaremos conforto para sua alma.

Eu não sabia se encarava aquilo como consolo ou não, mas só de saber que eu não havia ido para o inferno era um grande alivio.

 Não achei isso por muito tempo é claro, o ferimento estava costurado, mas eu estava delirando de febre comecei a implorar pelo colo de minha mãe. Uma mãe que eu não tinha e que sabia que nunca teria pois até aquele dia, acreditava eu ser um aborto de uma prostituta que fizera de tudo para se livrar de mim e conseguira.

Enfer je vais mourir!

– Não vai menina por Deus – a mulher me reprendeu delicadamente.

Minhas mãos subiram pelo cabelo suado. Para ela era fácil dizer não era ela quem estava queimando.

– Para que se distraia porque não me conta o que aconteceu?

Eu finalmente abri os olhos e percebi que era uma religiosa quem cuidava de mim. É claro, me lembrei. O único hospital que havia ali perto e aceitaria alguém como eu era o Dês Agnes.

– Não posso dizer na sua frente freira – olhei para a mulher que tinha uns vinte anos a mais que eu, não podia ver bem, estava escuro. E os corredores eram iluminados por algumas velas.

– Não se importe em me chocar mon cher – ela disse com mais delicadeza – trabalhando neste lugar já ouvi e vi muitas coisas, que desejaria não ter visto certamente, porém não acho que desfalecerei com o que me disser.

– Então bem... – engoli em seco o movimento lhe provocou uma dor aguda no flanco – primeiro por mais que eu seja uma pivete de rua nunca me deixei levar por qualquer... Bom já roubei madame sei que isso é pecado, mas prefiro roubar a ter que...

Estremeci, só de pensar naquilo me enojava. Por sorte consegui me safar a vida inteira por sorte e porque Deus apesar de tudo parecia gostar de mim, mas naquela tarde.

– Eu vi um fantasma de uma mulher – contei.

– Por que acha que era um fantasma? – ela quis saber.

– Quando fui atrás dela, ela simplesmente sumiu, se não for um fantasma não sei o que era, mas se não fosse por ela talvez eu não tivesse escutado aquele homem nojento atacando a menina – disse entredentes – e eu sei brigar irmã, tive que aprender então mandei que ele parece e sabe-se lá deus o que ele teria feito com ela se eu não tivesse o impedido. Ele me atacou e tenho que admitir que errei ao subestimar seu tamanho, mas teria me saído bem se ele não tivesse puxado a maldita.... Ai!

Me calei quando outra fisgada me atacou do lado.

Jésus-christ – suspirei.

Eu estava pagando todos os meus pecados

A freira pareceu me olhar com certo espanto, mas eu não podia ter certeza.

– Moça, – ela disse calma – foi o menino quem chamou por ajuda por isso está aqui, mas ele também se negou a dar qualquer tipo de explicação alegando que estava zelando por sua honra.

– Que menino?

– Cristian - ela apontou para um amontoado de cabelos compridos negros no chão.

– Não era uma menina? – disse me espantei.

– Não, seu salvador é muito corajoso não acha?

– Espero que ele não tenha se ofendido por eu ter duvidado de sua masculinidade.

Eu suspirei agradecida por ele estar bem. Paris não era lugar para crianças estarem na rua, algumas conseguiam sobreviver outras não.

– E você, como se chama?

Eu senti minhas bochechas arderem

– Ruiva – murmurei.

– Ruiva?

– Não tenho nome – eu disse cansada e ela percebeu.

– Conversaremos mais tarde enquanto isso descanse, eu estarei aqui quando acordar.

Não precisei de muito para dormir, mas acordei muito rápido ou assim me pareceu quando escutei pavorosos gritos masculinos. Então senti um corpinho tremendo perto de mim abri os olhos sem enxergar bem só com a luz de velas.

– Cristian? – perguntei.

Oui mademoiselle.

– Então foi você quem me salvou.

– Não antes de você – ele disse.

Eu ergui a mão para tocar seu rostinho redondo.

– Você é muito pequeno quantos anos tem?

– Cinco – ele deu de ombros – um homem deve sempre proteger uma mulher mesmo que essa mulher saiba dar um belo gancho de esquerda.

Eu ri.

– Tem razão uma mãozinha nunca caiu mal mon petit homme, mas não deveria estar sozinho nas ruas. Ainda mais nessa região que tem a mais alta classe de pervertidos e ladrões sujos que se possa imaginar.

– Eu sei, mas... Eu não tenho ningu...

Ele não precisava terminar a frase eu sabia como terminaria, mesmo que o grito do homem não o tivesse interrompido.

Ele não tinha ninguém e eu sabia bem como era.

– Se você não se importar pode ficar comigo – sugeri e era quase uma suplica fazia tempo que eu estava por conta própria e ter a companhia de uma criança era simplesmente maravilhoso.

– Quer ser minha mãe? – o menino perguntou com voz tremula.

– Eu não tenho idade para ser sua mãe... – me interrompi quando vi seus pequenos ombros se arriarem – mas se você quer uma mãe aqui estou eu Cristian Ruivo filho.

Eu ri e ele me abraçou. Sufoquei o gemido pela dor. Eu não o culpava por querer uma mãe. Eu com 19 anos, por mais irracional que fosse, ainda tinha a tênue esperança em deitar a cabeça no colo da minha mesmo que ela fosse uma prostituta. Talvez ela ficasse feliz por eu não ter morrido, talvez ela não quisesse me descartar.

Assim sonhava até voltar a nua e crua realidade.

 Muitas pessoas faziam o que não queriam quando estavam na miséria pura, mas eu me negava por teimosia ou por orgulho. Eu era a Ruiva indomável e de mãos leves que seguia sobrevivendo e agora era mãe de um garotinho. Ninguém me dobraria para seu bel prazer.

– Meu filho – sorri – vou cortar o seu cabelo fique ciente disso.

 

                                                


Notas Finais




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