– Vive les Frasers! – gritei animada quando chegamos a América.
Fergus havia deixado Marsali na Jamaica e havia me trazido depois de muita insistência, mas eu tinha meu probleminha com viagens em auto mar e na metade dela Fergus não tinha nenhum remédio para enjoos como minha mãe e achou uma solução me manter bêbada.
Era um incomodo querer fazer xixi a todo momento, mas pelo menos a tontura de estar bêbada não era tão aflitiva quanto a de estar no mar.
– Faith! – vi minha mãe lá embaixo e tentei pular para desespero dela.
– Non Lady Faith – Fergus me segurou – vamos descer por meios normais.
– Oui – sorri – vive les Frasers! Vive les Frasers!
Por que eu estava gritando aquilo? Eu adorava o meu nome e a restrição de fala-lo me deixou triste e agora que estávamos livres...
– Vive les Frasers!
– Nunca mais lhe darei nada para beber – Fergus disse infeliz enquanto me arrastava para baixo.
– O que aconteceu com ela? – ouvi a voz do meu pai e tentei encontrar minha cabeça para olhar para ele.
Eu sorri me soltando de Fergus abraçando minha mãe quase a derrubando.
– Ma Dame Blanche – beijei seus dois lados da face.
– Está bêbada – ela disse.
– Foi a única maneira de mantê-la livre dos enjoos.
– Definitivamente, você não sabe cuidar da minha filha – meu pai reclamou – Mo Chridhe, solte sua mãe sim?
Eu me soltei dela e me agarrei a ele.
– Mon perè – sorri – vive les...
Ele tapou minha boca.
– Já entendemos mo chridhe – ele riu.
– Onde está Ian? – perguntei contra a mão dele.
– Ele esta...
– Faith!
Olhei para trás e quase chorei.
Era ele!
Praticamente empurrei meu pai e me joguei nos braços de Ian que abriu espaço na multidão para nos encontrar.
– Menino levado – eu ri batendo a mão em seu peito – non suma mais assim ouviu bem eu fiquei preocupada.
– Sim prima eu não pretendia fazer isso muitas vezes sabe.
Minhas pernas cederam, mas ele não deixou que eu caísse e se sentou no chão comigo.
– Por que andou bebendo? – ele perguntou curioso.
– Para não vomitar – sussurrei em seu ouvido.
E como se fosse para descordar vomitei no colo dele sujando nós dois.
– Mon Dieu – gemi.
– Obrigada pelas boas vindas Faith – ele disse infeliz.
Entramos em um lugar eu não sabia bem onde era minha mãe me ajudou a tirar o vestido e me deu um banho. Ali fazia um calor dos diabos e nem me importei que a água estivesse fria.
– Vive les Frasers – murmurei quando ela me colocou na cama.
– Vive les Frasers mon amour – ela disse me dando um beijo na testa.
Acordei com a pior dor de cabeça que já tive em toda minha vida. Eu nunca havia bebido daquele jeito e não queria beber de novo. Vi um vestido limpo perdurado em uma cadeira ao lado da cama e sorri pela pequena atenção de minha mãe. O vesti e abri a porta.
Esbarrei em Ian.
– Mon Dieu rapaz o que está fazendo na minha porta? – perguntei.
– Tio Jamie mandou que eu cuidasse de você.
– Fale baixo – pedi infeliz.
Meus ouvidos estavam zumbindo.
– Ah, sei como é. A tia Claire deixou um chá para que você tomasse vai se sentir melhor.
Ele ofereceu o braço me acompanhado até uma das mesas e empurrou uma caneca com um liquido quente lá dentro.
– Pra onde eles foram? – perguntei.
– Pelo que eu entendi foram assistir uma execução.
Fiz uma careta.
– Eu não gostaria de ver algo assim – disse experimentando o chá de gosto horrível.
– Eu também não – ele confessou um tanto perturbado – mas ele é amigo do Tio Jamie, esteve na prisão com ele como o senhor Innes.
Meus ombros caíram.
– Que pena – falei – mas me conte o que aconteceu com você?
– Não sei se posso te contar agora – ele sussurrou gentilmente – gostaria de acrescentar as entonações de voz necessárias para tornar a história tão emocionante quanto foi.
– Minha cabeça e meus ouvidos agradecem – sorri terminado de tomar o chá intragável. – eu sinto muito pela sua roupa.
– Ah não se preocupe já me aconteceram coisas piores – ele piscou para mim.
Eu ri.
– Você é muito novo pra ter passado por tantos apuros.
– Você também – ele apontou.
– Eu sou uma adulta Ian e você ainda é um menino.
Ele fez uma careta.
– Eu sou um homem você ainda é uma menininha – ele zombou.
– Está dizendo isso só porque é mais alto?
– Por outras coisas também.
Eu não sabia o que ele queria dizer com aquilo, mas me emocionei por ele se lembrar da delicadeza de manter a voz baixa.
– Quer pegar uma queda de braço comigo?
Ele riu.
– Seria injusto Faith eu sou homem e você ainda está de ressaca.
– Talvez a ressaca seja um problema, mas você sabe que e sou forte.
– Mas não mais forte que eu.
Ele se encostou na cadeira apoiando as mãos na cabeça. Ian parecia um pouco mais alto desde a última vez que o vi, e de certa forma um pouco mais maduro, mas não importava o quanto ele repetisse que era um homem, eu só conseguia imaginar o menino que ele era na primeira vez que coquei os pés em Lallybroch.
– Isso nós veremos – sorri atraindo sua atenção – Quer sair?
– Queria, mas preciso ficar de olho em você.
Revirei os olhos.
– A criança é você não eu – falei de novo e dei de ombros.
Eu sabia qual era a lógica dele e do meu pai e a de Fergus.
Damas primeiro, protegidas recatadas e submissas.
– Podemos sair juntos – falei – estou bem o suficiente para andar, talvez o barulho me incomode, mas eu não quero ficar presa aqui.
Ele pareceu pensar um pouco, mas logo sorriu.
– Então vamos porque eu também não quero.
Nós saímos mais felizes pelo ar livre e ruas abarrotadas de pessoas.
– Paris era tão cheia assim? – ele me perguntou curioso.
– Às vezes dependia do lugar – disse – mas certamente Paris não era tão quente.
– Verdade, – ele disse limpando o suor da testa – o tio Jamie já mandou uma carta para minha mãe sabe, provavelmente ele vai querer que eu volte, mas eu não quero voltar.
– Não acha que já viveu emoções demais por uma vida toda? – perguntei.
– Não, gostaria de viver muito mais – ele sorriu com empolgação então me cutucou com o cotovelo – fiquei sabendo que você vai se casar.
– Não vou – foi a primeira coisa que pensei em dizer – É complicado Ian, eu menti porque me enfiei no Ártemis me fingi de homem e inventei um pretendente para não que... É uma história complicada.
– Mas você não inventou Callen MacNab e eu acho que ele realmente quer se casar com você.
– Não vai querer depois da carta que mandei a ele – falei.
– Tio Jamie sabe disso? – ele me perguntou com aquele ar de irmão preocupado.
– Não – dei de ombros – pretendo contar logo.
– E Cristian? – perguntou.
– Quero que ele venha logo, o lugar dele é comigo, mas por enquanto é melhor que esteja em Lallybroch seguro. Você vai me ajudar a escrever uma carta para ele de novo não é?
– Claro – ele deu três tapinhas nas minhas costas – Meu lugar também é aqui com vocês, eu não sou esperto como Jamie nem Michael e papai vive jogando isso na minha cara, pelo menos aqui eu não me sinto fora do lugar.
– Se servir de consolo posso implorar para o meu pai que não te mande de volta – me ofereci.
– Seria de grande ajuda. Você poderia convencer o tio Jamie, mas não sei se você poderia convencer a minha mãe também.
– Tante Jenny... non, non – eu ri – caso perdido.
Paramos ao ouvir gargalhadas de alguns marujos que que jogavam dados apostando.
Os olhos de Ian brilharam fascinados.
– Nem pense nisso Ian – avisei.
– Que mal tem? – ele disse indo até lá tentei puxar o braço dele, mas ele me arrastou junto.
– Não temos dinheiro para apostar – sibilei.
– Podemos conseguir – ele apontou.
– Quer jogar garoto? – um dos homens perguntou percebendo nossa discussão.
– Sim!
– Non! – falei ao mesmo tempo que ele.
Meu primo me encarou furiosamente e eu lhe lancei um aviso.
Não se atreva Ian Murray.
E ele devolveu.
Você não manda em mim Faith Fraser.
– Então vá jogue quero ver você perder! – gritei fazendo um forte zumbido na minha cabeça.
– Eu não vou perder você vai ver!
– Mulheres sempre são chatas – um dos homens riu.
Eu arregalei os olhos.
– O que você disse?
Ele olhou para os lados, como se não houvesse acreditado que eu havia respondido.
– Oui você!
– Ora deixe que ele jogue – ele deu de ombros.
– Você me desafiou – falei.
Ele ergueu uma sobrancelha.
– Você me desafiou – Reafirmei e me sentei com eles – quem de vocês vai começar.
Eu não havia planejado aquilo, mas não demorou para que Ian e eu estivéssemos ganhado muito.
– Faith acho que é hora de pararmos – ele disse agora bem mais cauteloso que eu.
– Escute garoto, não quer trocar o prêmio por outra coisa?
– Que outra coisa?
Essa outra coisa era enorme e parecia um...
– Ele parece um lobo – Ian disse desconfiado.
Eu olhei para o brutamontes de olhos amarelos e pelos escuros.
– Como vai mon Petit? – lhe falei amavelmente ele colocou a língua para fora me olhado atento.
– Exagero chama-lo assim não acha Faith? – ele perguntou.
– Não resisti – olhe a cara dele.
– Também me simpatizei.
O homem explicou que embora ele não fosse um lobo era bem provável que sua mãe houvesse cruzado com um.
– Ele é muito bom para caçar peixes, sua senhora vai aprovar.
– Minha senhora? – ele perguntou confuso e o homem apontou para mim.
Nós dois caímos na gargalhada.
– Ela não é minha senhora, é minha prima – explicou.
– Ah desculpe é que eu pensei, bem poderiam ser...
– Acho que eu não poderia me casar com alguém que considero um irmão não é Ian?
– De maneira alguma – ele concordou – Ah! Vamos ficar com o cachorro.
– Que nome vai dar a ele? – Perguntei afagando a cabeçorra do cão.
– Hum, não sei... Ah que tal Ran... Não – ele balançou a cabeça negativamente – Ah o que acha de Rollo.
– Rollo – repeti – não sei como fica mais estranho no meu sotaque ou no seu.
Ele riu e ergueu os olhos.
– O barco que o tio Jamie pretendia me extraditar de volta já partiu. Aposto que ele vai ficar feliz em saber disso – disse ironicamente – pode esperar aqui um pouco? Eu acho que eles devem estar perto.
– Pode ir Rollo vai cuidar de mim, non é seu brutamontes – falei afagando o pescoço da fera.
– Não vou demorar – ele disse sumindo entre a multidão.
Olhei nos olhos de Rollo, o tamanho dele até poderia assustar, mas eu sentia que ele era um gigante gentil.
– Que grandes dentes e olhos você tem mon amour – eu disse acariciando seu focinho e ele me surpreendeu com uma lambida.
Ah Cristian iria adorar aquele cachorro, que era bem maior que ele por sinal. Continuei afagando e mimando o animal até que ele me derrubou retribuindo o carinho com lambidas intensas.
– Mon Dieu brutamontes me deixe levantar – eu ri mal prestando atenção nas pessoas que passavam olhando.
– Meu Deus!
Ouvi a exclamação assustada de minha mãe e olhei para ver ela papai e Fergus me olhando com medo. Na verdade não era para mim que eles voltavam seus olhares temorosos e sim para Rollo.
– Ele não vai fazer nada – Ian garantiu tirando a cachorro de cima de mim.
– Mas ele é um lobo! – mamãe disse.
– Ele não faz mal a uma mosca – Eu disse me levantando.
– E como em nome de Deus conseguiram esse animal? – meu pai quis saber.
– Jogando dados.
Ian lançou sem dó nem piedade.
– Faith tentou me convencer a não jogar, mas a desafiaram e ela entrou no jogo comigo.
Meu pai ficou da cor de um tomate e eu achei que ele fosse explodir.
– Vocês dois andaram jogando dados com marujos?
– Você sempre faz isso – Ian disse enquanto eu desejava que ele ficasse calado.
– Cartas! Cartas não dados eu sei o que estou fazendo.
– Nós também sabemos não é Faith – ele buscou meu apoio.
– Oui – concordei.
– Se fossem irmãos não seriam tão parecidos – ele se lamentou – onde aprendeu a jogar dados?
– Por aí, já havia lhe dito – o lembrei – Quanto a Rollo não a o que temer ele é um bom menino.
– Um bom menino – mamãe repetiu erguendo uma sobrancelha.
Um grande menino pensei, mas muito bom.
Papai examinou o cachorro enquanto parecia pensar se deveria deixar Ian com ele ou não. Mamãe parecia apavorada com a possibilidade que ele fosse lhe arrancar mão, mas eu sabia que não e se ela desse uma chance para conhece-lo poderia chegar a ama-lo eu tinha certeza.
Então quando Ian contou que haviam chegado atrasados para o barco isso também graças a minha oportuna intervenção ele pareceu necessitado de beber alguma coisa.
Eu porém precisava falar com ele, sobre aquilo que vinha me incomodando desde que eu havia me revelado no Ártemis.
– Papai eu posso falar com o senhor um instante, sei que teve um dia difícil, mas é sério.
Deus me ajude ele disse em Gaélico.
– O que aprontou dessa vez mo chridhe?
Os outros foram na frente e eu olhei em seus escuros olhos azuis.
– Eu menti, eu não quero me casar com Callen MacNab.
Ele não pareceu se abalar.
– Eu já sabia – disse.
– Mamãe lhe contou?
– Claro que não – ele descordou – eu aprendi a ver os sinais de quando você mente e estava lhe dando a chance que me dissesse a verdade, demorou, mas fico feliz que tenha me dito.
Eu não sabia se sentia vergonha ou me sentia aliviada.
– Quer dizer que eu estou livre? – perguntei.
– De maneira alguma – ele disse – significa que você terá que dar suas explicações pessoalmente ao rapaz.
– Mas ele está do outro lado do mundo.
– E se ele te ama como eu acredito que ama ele virá aqui não tenha dúvidas e se ama você magoou os sentimentos dele.
– Eu não pensei nisso – falei infeliz.
– Você talvez ainda seja muito jovem para pensar nas consequências de pequenas mentiras, mas ainda é como lhe disse no Ártemis lavarei minhas mãos você resolverá este assunto sozinha.
– Mas papai...
– Seria assim tão mal se casar com esse rapaz? – ele suspirou e segurou minha mão – eu ficaria feliz de vê-la casada com um bom homem, gostaria de poder leva-la a igreja, pode rir de mim se quiser, fiquei feliz quando levei Marsali ao altar e eu ficaria ainda mais se pudesse levar você.
Era impressão minha ou aquilo era uma chantagem emocional?
Mordi os lábios.
– Não vou dizer que não pensei na possibilidade, mas não sou eu apenas há Cristian e eu devo fazer o que é melhor para nós dois.
– E você o deixou na Escócia – ele apontou.
– Eu não queria deixa-lo ele se ofereceu para ficar.
– E foi mais maduro que você.
A verdade nas palavras dele me atingiram como um soco.
– Eu sei que você agiu por impulso e emoção, mas quando temos filhos, não podemos pensar apenas em nós.
Em poucas palavras ele estava me dizendo em forma sutil que eu era uma péssima mãe e não era mentira.
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