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História Faith - Conversas


Escrita por: Teishin-chan

Notas do Autor


Boa leitura ^^

Capítulo 43 - Conversas


Callen ajudou Brianna a se levantar e parecia realmente surpreso ao ver que ela era da sua altura.

– Está bem senhora? – disse parecendo realmente preocupado.

– Eu estou bem, mas Faith... – Ela olhou de maneira duvidosa para mim.

– Estou muito bem – falei tentando me recompor.

Mas aquele cheiro de sangue...

Não era assim que eu esperava encontra-lo depois de dois anos. Sendo atacada, desgrenhada, suja de sangue e com a saia rasgada. Busquei em minha cabeça algum recanto que estivesse sóbrio para perguntar.

– O que você está fazendo aqui? – afinal havia sido um milagre ele ter aparecido em momento tão oportuno.

– Eu vim por você é claro. – ele disse simplesmente.

– Está bem mesmo menina? Parece verde. – o senhor Innes perguntou.

Eu não estava tão bem quanto eu gostaria, mas considerando a situação.

– Ficarei bem logo – tentei tranquiliza-los.

Fui interrompida quando os empregados e alguns escravos chegaram para ver o que acontecia.

O mais estranho era que eu não tive que explicar quem era Callen, eles sabiam e o tratavam da maneira mais respeitosa possível. Ou talvez eu estivesse mau mesmo e estivesse delirando.

– É melhor que vocês duas voltem para casa – ele disse e olhou para mim – vou logo em seguida e prometo te explicar o que aconteceu.

– Assim espero – falei pegando o braço de Brianna

 Fomos acompanhadas por um escravo para casa.

– Tem certeza que está bem? – Brianna me perguntou com exagerada preocupação.

– Claro, – respirei fundo – e pare de se preocupar comigo é você que está esperando um bebê tanta emoção non deve fazer bem.

Por mais que eu dissesse que estava bem e minha mente estivesse trabalhando nisso, minhas pernas ainda estavam bambas.

– Você não está bem, nem agradeceu ao seu noivo. – ela apontou.

Eu me interrompi.

– Tem razão, eu deveria voltar e...

– Você não pode voltar assim – apontou para meu estado.

Respirei fundo mais uma vez.

– Pode esperar um pouco? – pedi e me sentei no chão enfiando a cabeça entre os joelhos.

– Quer que chame alguém senhora? – o escravo perguntou.

Non – falei.

– Precisa de ajuda Sùbh-làir?

Olhei para cima e vi Callen me olhando preocupado.

– Acho que ela precisa – Brianna falou.

 Fiz uma careta.

– Vamos, não vai fazer mal que se apoie em mim – ele disse me puxando para cima.

Realmente foi reconfortante caminhar com o braço dele ao redor de mim, mas Brianna precisava mais que eu ela estava gelada e a cor não havia voltado a seu rosto.

Mas já que ela havia aceitado o braço do escravo, pelo menos me tirava a preocupação de que caísse.

Maman!

Cristian veio correndo e arregalou os olhos quando viu Callen.

– O que aconteceu? – perguntou preocupado e surpreso.

– Topamos com alguns ladrõezinhos nada que deva se preocupar a charaid.

Ele assentiu e foi se colocar fielmente ao lado de sua tia.

 Callen me deixou na porta do quarto.

– Tome um banho e descanse conversaremos depois....

– Eu vou tomar banho e quando eu terminar eu quero que esteja me esperando na sala me entendeu bem? – falei.

Ele sorriu.

Oui Mademoiselle.

              Ele deu as costas e se foi. E de novo perdi a oportunidade de agradecer, mas eu estava tão nervosa, tão atordoada que nem sabia direito o que dizer. Arranquei meu vestido apressada e me enfiei na banheira, me lavando da maneira mais rápida e meticulosa possível.

             Não tive vontade nenhuma de prender meu cabelo, na verdade eu estava com pressa e esperava que quando ele secasse totalmente os cachos não ficassem muito rebeldes.

           Callen estava exatamente onde eu disse para que ele me esperasse e conversava animadamente com Cristian.

– Eu sabia que você viria eu disse a ela – ele falou.

– Depois da carta que você me deixou eu tinha que vir para dar umas boas palmadas em você – ele o agarrou.

E eu sorri.

– Com licença cavalheiros – falei para que notassem minha presença.

 Eles se separaram nos mesmo instante assumindo uma postura seria e pouco convincente.

– Podemos conversar agora? – ele perguntou.

– Essa é ideia – cruzei os braços.

– Espero que se entendam muito bem – Cristian disse sorridente – vocês ficam muito bem juntos sabiam?

Ele saiu e eu lhe dei uma palmada no traseiro. Então olhei para um Callen sem jeito.

Eu lembrava bem da última vez que eu o visto, ele estava igual. E ainda não parecia estar disposto a tomar a iniciativa.

Revirei os olhos.

– Como veio parar aqui? – o ajudei.

Ele coçou a cabeça e deu um passo em minha direção.

– Primeiro queria lhe devolver isso – ele abriu a mão mostrando meu colar de âmbar.

Minha mão voou para meu pescoço vazio.

– Deve ter caído quando aquele – ele disse uma ríspida palavra em gaélico – mas aqui está.

Estendi a mão para pega-lo, mas encolhi no mesmo instante.

– Coloque pra mim? – falei tirando o cabelo úmido do caminho.

Uma boa ideia para ver como ele reagia.

– Claro mademoiselle – ele foi para trás de mim e deu o nó no cordão enquanto eu sentia seus dedos roçarem meu pescoço.

– Sùbh-làir – ele sussurrou.

Eu me virei para ele.

– Ainda continua com esse apelido ridículo.

– Não é ridículo – ele descordou – É o que você se parece, um morango, doce e ácido ao mesmo tempo...

– Bom, já protelou demais non acha?

– Em te beijar?

O encarei.

– Nisso você é bem adiantado.

– Tudo bem, vou te contar o que aconteceu.

– Sou toda ouvidos.

– Bem, na última vez que voltei a Lallybroch estava com tudo pronto para atravessar o oceano com Cristian para encontrar você, mas ele já não estava lá havia partido com a tia havia três semanas. Então eu vim.

– Quer dizer que está aqui desde de outubro e só me aparece agora? – falei furiosa – se bem que non foi você que apareceu, nós que viemos para a casa da tante Jocasta. Quando pretendia ir me procurar? Quando meu prazo acabasse? Porque eu estipulei um prazo você sabia disso?

– Calma, mulher – pediu ele erguendo as mãos – Cristian me falou do prazo e eu sinto muito não ter podido dar notícias antes, mas foi você quem colocou um oceano entre nós.

– Você sabe bem que non foi assim – apontei.

– Então não me acuse e me deixe explicar.

Eu tentei, assenti.

– Me atrasei na Escócia por causa da moça que te disse na carta que me ensinava francês.

Oui, ela estava te ensinando muito bem a língua non é?

Ele tossiu.

– Vai me deixar explicar?

– Desculpe minha boca se mexe sozinha, mas non tanto quanto a dela non é?

– Aprender francês era importante para mim...

– Para afiar a língua com sua professora.

– Já chega – ele disse irritado – Eu estou tentando da maneira que posso, te explicar o que aconteceu, mas você não quer deixar!

Non sou eu é a língua. – falei ironicamente.

Ele fez uma careta.

– E o que você quer que eu faça?!

Balancei a cabeça negativamente e dei um passo à frente, segurando a gola de sua camisa o puxando para que eu pudesse beija-lo. Eu não tinha muita experiência em roubar beijos, mas obviamente dessa vez estava disposta a roubar do que ficar esperando que ele se decidisse a rouba-lo de mim.

Seu hálito cheirava levemente a cerveja, mas ele não estava bêbado como da primeira vez. A surpresa dele logo deu lugar a satisfação e ele me abraçou tomando conta da situação. Pelo menos para beijar ele não era uma negação.

– Sùbh-làir – ele sorriu mordiscando meu lábio inferior.

Estremeci.

Eu não sabia se gostava dele, o suficiente, mas que ele sabia beijar Mon Dieu ele sabia.

– Pode parar de me chamar de morango por favor.

– Não, além de ser um apelido perfeito ainda é o seu nome, Fraser, você sabe disso.

– Eu sei, mas.... – eu o empurrei – você tem muito o que contar.

– Sinto muito não conseguir as me expressar da maneira correta. O problema é que a sua presença me perturba – ele confessou – Então para que isso não se torne um martírio para nós dois, não me interrompa quando eu estiver falando, oui?

Oui.

– Quer a verdade? A bondosa alma que me ensinou francês era uma prostituta e eu paguei pelas aulas.

Eu trinquei os dentes para não falar nada.

– O problema é que o cafetão dela queria que eu pagasse dobrado, sendo que eu não estava usando o outro serviço você sabe bem qual.

Fiquei vermelha.

– Então Charlotte me disse que se era para eu pagar que ao menos usasse.

– E você usou – eu rosnei não me controlando – É claro que você usou, mas do que eu estou reclamando? Eu non estava lá non é? Nosso noivado era apenas por cartas e eu sequer permiti que você falasse com meu pai como queria.

– Eu não usei – ele disse firme – tive que pagar a mais e quase me mataram na rua. A mulher se sentiu ofendida e disse aos outros que eu a havia atacado.

– Fantástica sua história – falei incrédula.

– Cabeça dura, eu não estou mentindo – disse me olhando nos olhos – acredite, foi isso que aconteceu.

– Tudo bem, digamos que eu acredite. O que aconteceu depois? 

– Saí de Edimburgo com as passagens nas mãos e fui atrás de Cristian, sua prima Janet zombou de mim até cansar a língua e sua tia disse me entregou a carta que Cristian havia me deixado.

– O que dizia na bendita carta afinal? – eu quis saber.

– Que se eu fosse homem de verdade eu viria atrás de vocês e que só então ele poderia me chamar de pai.

Eu sorri.

– Ele já te chama de pai sabia?

– Chama? – ele perguntou surpreso.

– Ele realmente nunca te chamou de pai?

– Não, eu sei que conquistei muito terreno com ele nos últimos anos, mas isso ele guardava para ele.

Eu assenti.

Cristian era cauteloso em relação a "pais" já que o seu havia sido pior do que uma merda para ele.

– Eu non sei o que você fez, mas conseguiu. Ele te ama e se non fosse por ele eu non teria te esperado mais.

– Gosta de outro homem?

Non gosto de ninguém eu só non achei que fosse justo, ficar te esperando se você havia desistido de mim.

– Eu não desisti – ele disse apertando minhas mãos - estava com problemas.

– Eu pensei que tinha desistido depois da narrativa excepcional que eu fiz do que aconteceu na taberna em Cross Creek.

– Não vou dizer que adorei o que você fez – disse com uma pitada de irritação na voz – se arriscou muito, por algo que seu pai poderia ter feito muito bem sozinho, mas você exatamente assim é como eu gosto.

Minhas bochechas esquentaram.

– O que aconteceu depois de ter lido a carta de Cristian? – mudei de assunto.

– Eu, escondi grande parte do meu tesouro em um lugar seguro...

– Tesouro? Você? – perguntei incrédula.

Ele riu.

– Eu não achei que era uma boa ideia atravessar o oceano com todo e meu dinheiro.

– Sim, você tem toda razão.

– Então eu voltei para Edimburgo e aconteceu algo parecido com o que te aconteceu em Cross Creek.

– Se meteu em uma briga?

– Me meteram em uma e quase que perco os dentes antes de embarcar. Não tivemos muita sorte no mar, pegamos duas tempestades, metade da tripulação morreu com alguma doença que desconheço até hoje e quando cheguei aqui, perdi o endereço de Jocasta que seu tio Ian havia me dado. Por sorte não há muitas senhoras viúvas escocesas e ricas na América e consegui encontrá-la no fim de outubro.

– E depois?

– Conversei humildemente com a senhora Cameron e ela disse que já havia ouvido falar de mim e isso foi um alívio. Me disse então que estava precisando de ajuda com uma mercadoria de tabaco que havia ficado encalhada com as autoridades da marinha. E que não havia resolvido isso ainda porque seu homem de confiança Duncan Innes estava resolvendo um assunto para seu sobrinho, mas ele acabou me encontrando depois.

– Estava procurando Roger – murmurei.

– Quem é Roger?

– É o... – me interrompi como deveria apresentar Roger a ele?

 Ele ainda não era marido de Brianna, não legalmente, não era nem seu namorado depois da briga que tiveram.

– Bem, é o amor da minha irmã.

– O pai do filho dela?

– Você demorou muito com os oficiais da marinha – mudei de assunto.

Ele estreitou os olhos percebendo que havia algo de errado ali, mas resolveu ignorar.

– Foi demorado principalmente por que os envolvidos não pareciam estar para conversa. Um senhor da região pareceu ter tido o mesmo problema com eles, dizem que houve até tentativa de suborno. Não revelaram quem foi é claro. E apesar de ser péssimo para falar com você eu sei negociar. – ele se gabou – Quando voltamos eu me separei dos outros queria vir na frente para avisar que o trabalho estava feito e que eu iria conversar com seu pai. Foi quando ouvi os gritos da sua irmã na floresta.

– Entendo – falei devagar – mas se já estava aqui porque não me mandou uma carta para avisar?

– Pelo mesmo motivo de sempre, fiquei com medo.

– Eu sinceramente non te entendo. – falei impaciente – Do que tanto tem medo? Eu sou tão assustadora assim.

– Você não é assustadora, você é linda – ela disse me fazendo corar e suspirou corando também – o problema é que eu sempre soube que você não gosta de mim como eu gosto de você.

Fiquei sem palavras.

– Eu queria que você me aceitasse, mas não porque fosse obrigada a isso e gostaria que acreditasse em mim, porque eu...

– Senhorita, senhor – Ulysses disse nos interrompendo no pior ou no melhor momento, eu não sabia – a Senhora Jo quer todos para o Jantar.

A senhora Jo era uma verdadeira harpia por falar nisso. Ela sabia que ele estava lá e havia se oferecido para me conseguir outro noivo. Será que ela pretendia me testar?

– Pelo visto teremos que deixar essa conversa para depois. – disse a Callen.

Ele suspirou visivelmente contrariado. Me ofereceu o braço e fomos juntos para a sala de jantar.

 

– O que quer que eu diga? – perguntei a Brianna que havia entrado no meu quarto com os olhos atipicamente iluminados.

– O que falou com seu noivo?

– Nada demais. – eu não sabia se era uma boa ideia falar daquilo com ela.

Melhor teria sido se Roger tivesse aparecido. Callen ainda tinha dois meses de prazo e eu não precisava tanto dele agora como minha irmã precisava de Monsieur Wakefield.

– Meu Deus – ela revirou os olhos – eu sei exatamente o que você está pensando, acha mesmo que eu me importo por seu noivo estar aqui e Roger não?

Non quero que fique sensível ou triste por ele não estar – falei.

– Acho que isso não tem remédio ele estando aqui ou não, mas não é justo que você se retraia só para que eu não me sinta mal.

Suspirei.

O que me restava se não falar.

– Ele é um bom rapaz e beija bem – acrescentei apenas para vê-la sorrir – no entanto não sei se acredito em tudo o que ele diz.

– Ele está aqui não está? Cris gosta dele, mas se você não gosta, não precisa se casar com ele.

– Mamãe me disse algo assim – lembrei – acho que preciso conversar muito com ele antes de tomar qualquer decisão.

Eu queria conversar com ele, mas tia Jocasta parecia ter outro planos.

– Já estou preparando o casamento de vocês – ela disse muito animada.

– Como? – perguntei.

– Sim, na falta de seus pais devo ajuda-la com isso.

Tante – eu sorri amarelo – agradeço e muito sua preocupação em me ajudar com isso, mas ainda é cedo para falarmos em casamento.

– Cedo depois de dois anos?

– O que eu quero dizer é que papa e maman non estão aqui e tenho certeza de que meu pai non ficaria exatamente feliz na situação atual em voltar e me encontrar casada.

– Seria uma preocupação a menos para ele. – ela fez pouco caso.

– Eu tenho certeza que partiria o coração de minha mãe non ver meu casamento – pensei rápido.

Ela pareceu ponderar sobre o assunto.

– Sim, isso pode ser um problema – ela disse pensativa – mas eles virão logo então todos estarão aqui para o casamento.

Fui atrás de Callen, ele estava conversando com Ulysses sobre os homens que haviam matado no dia anterior.

– Eu posso falar com você?

– Espere um pouco, sim.

Eu me escorei na parede esperando ele terminar enquanto batia o pé impacientemente no chão.

Depois de um tempo ele veio até mim.

– Diga Sùbh-làir.

– Precisamos conversar.

– Sempre precisamos. – apontou.

– Venha comigo.

Quando ela segurou sua mão ele só conseguia pensar em como ela era pequena, seu passos eram firmes e decididos enquanto o conduzia impiedosamente até a biblioteca, mas não se importava muito com o assunto quando podia toca-la.

 Apertou levemente sua mão.

– Sua mão é tão pequena, – murmurou fazendo pequenos círculos nas costas com o polegar.

– Pare com isso – ela mandou se voltando para ele.

– Ontem você me beijou e hoje sequer posso segurar sua mão? – perguntou um tato irritado.

Ela riu.

– Tudo bem, me desculpe, mas isso tem a ver com que preciso lhe dizer.

Cristian estava na biblioteca com um professor.

– Nos ignorem apenas vamos conversar baixo. – ela disse a eles.

– Poderíamos ter ido para outro lugar mais privado – ele resmungou.

– Não quero arriscar.

– Acha mesmo que eu a atacaria já expliquei, aquele dia eu só...

– Não quero arriscar que tante Jocasta nos abrigue a casar amanhã.

– Do que está falando? – perguntou confuso.

Ela o guiou até uma estante mais afastada cruzou os braços o encarando seriamente.

– Ela está pensando em nos casar logo, faria isso mesmo sem a presença dos meus pais e eu non quero dar mais um motivo de desgosto para eles.

– E você não quer se casar comigo? 

– Antes de me casar com você preciso te entender. 

Ele fez uma careta, mulheres tinham uma estranha mania de complicar as coisas.

– Isso é mais uma dessas bobeiras femininas?

– Isso non é bobeira, é importante – falou severamente – Porque non me diz de onde saiu esse seu interesse por mim?

– De onde saiu? – ele riu – de você criatura, não tem mistério.

– Bem, – ela corou adoravelmente – pode me contar desde o início.

– Tudo bem, – sorriu – sabe onde a vi pela primeira vez?

– Em Lallybroch? – tentou ela.

– Não, foi em Edimburgo...

Havia acabado de sair de um pub, havia sido um dia difícil, mal de vendas e arrastava-se praticamente até seu cavalo.

Foi quando ouviu uma voz feminina.

Olhou para trás e viu uma moça que falava com cuidado com uma criança. Infelizmente ela falava em francês e não entendia nada.

Ela era bonita, cabelos ruivos emolduravam o rosto pálido e fino.

O menino tinha um rosto redondo, mas se parecia com ela.

Na melhor das hipóteses poderia ser seu irmão, na pior seu filho, mas só saberia se perguntasse a ela.

O que sabia de francês?

Oui? Merci bocu. Que desgraça!

– Rapaz! – um velhinho lhe chamou.

– Sim.

– É você o dono daquelas mercadorias no porto.

– Sim, quer comprar.

– Quero tudo – disse.

Ele sorriu e olhou para ver onde estava a moça, mas ela já havia sumido. Para sua infelicidade, não a encontrou de novo antes de voltar para casa.

– Sabe quando você olha para uma pessoa no meio da multidão e ela se destaca das demais? Foi isso que eu senti quando vi você.

Callen a viu engolindo em seco o rosto corou ainda mais, ela desviou os olhos enrolando o dedo em um cacho que escapava da trança.

– Esse cabelo me destaca bem dos outros.

– Você não sabe agradecer quando dizem que você é bonita? – riu.

– Foi isso que quis dizer?

– Mas é claro. – falou – Temos mesmo muito o que conversar.

 

E conversamos...

– A primeira coisa que me chamou a atenção em você foi seu cabelo, e a maneira como você fala.

– Como eu falo?

– Fazendo biquinho

– Eu non falo fazendo... – me interrompi quando vi que era justamente o que eu estava fazendo.

Ele riu.

– Então, você me viu em Lallybroch – mudei de assunto - porque non foi falar comigo no moinho?

– Eu realmente não estava no moinho quando você disse que me viu.

– Então como te vi lá? – perguntei.

– Talvez Deus estivesse lhe mostrando que eu era a pessoa certa antes que eu te conhecesse.

– Hum – revirei os olhos – Porque não foi falar comigo – insisti.

– Ouvi dizer que seu pai tinha levado uma filha para morar com sua irmã, mas eu não sabia que era você até te ver tirando caixas daquele armazém no incêndio.

– Você estava lá?

– Estava, e teria falado com você se seus primos não a tivessem tirado de lá aos gritos.

– O que teria dito?

– Que você era louca que não deveria ter se metido ali – falou e riu ao ver minha careta – estou brincando, estava surpreso demais com a sua coragem para dizer qualquer coisa. Eu não te amava ou algo assim ainda, mas aquilo me deixou mais curioso sobre você, mas como eu não ficava fixo por causa do meu trabalho, realmente não tinha tempo para lhe falar e não estava exatamente propenso a me envolver com ninguém depois do que aconteceu.

– O que aconteceu?

– Eu ia me casar antes sabia?

– Ia?

– Sim, Fiona era muito bonita, e eu achei que ela gostasse de mim, falei com sua família e pedi sua mão tudo parecia certo até ela fugir com outro.

Mordi minha língua.

– Simplesmente fugiu?

– Fugiu e me mandou uma carta se desculpando – ele disse com uma pontada de irritação – isso uns três meses antes de você chegar a Lallybroch.

– Ela nunca mais deu notícias?

– Nunca – ele deu de ombros e sorriu – e lá estava você desbocada e corajosa xingando o pobre velho Murray.

– Isso parece atraente para você? Uma moça xingando um pobre idoso.

– Dentro daquele contesto sim, você parecia ultraja, fazia aquele biquinho e eu estava com um balde de água em cada braço, dividido entre a apagar o fogo do armazém ou o seu. Depois disso fiz algo realmente vergonhoso, espero que me perdoe por isso.

– O que você fez?

– Comecei a observa-la de longe.

Eu não sabia dizer se sentia raiva ou se achava graça.

– Isso tudo, porque non gostava de mim.

– Sim – ele corou – muitos diziam que Cristian era seu filho, sua madrasta alias vivia dizendo isso a quem quisesse escutar, que seu pai só havia dito que ele era adotado para encobrir a sua vergonha.

Estreitei meus olhos.

– É claro non me admira que os boatos tenham ganhado força se a própria mulher do meu pai os espalhava por ai.

Minha vergonha, não tinha nada a ver com Cristian e eu ainda não sabia como diria aquilo a Callen, só sabia que se ele queria se casar comigo ele precisava saber do meu passado.

– Mas como lá todos admiravam seu pai ninguém se atrevia a dizer nada. E devo admitir que eu também acreditei que o menino fosse seu filho, você agia como se tivesse saído de suas entranhas.

– Ele non saiu das suas e ainda sim o ama non é?

– Sim, já entendi isso, mas eu não me importava com isso, não me importaria se ele fosse seu filho de verdade.

Mais dias se passaram e com eles mais conversas.

– Eu via você brincando seus primos como se fosse uma criança, vi quando Ian te jogou na água gelada do riacho.

Ergui uma sobrancelha.

– Você apesar de tudo ria e eu achei que era muito bonita. Eu comecei a querer aquele sorriso para mim e decidi que iria falar com você...

– Então decidiu ficar bêbado para ter coragem? – perguntei enquanto caminhávamos pela propriedade.

– Não, fui atrás de você quando foi a estrada pegar ervas para dor de barriga. 

Arregalei os olhos me dando conta do que ele estava falando.

– Vo-você me viu com...

– Fergus – seus olhos se estreitaram minimamente – quando eu vi ele lhe beijando, eu tive a certeza que eu era um grande idiota, afinal porque eu estava te seguindo? Porque se era obvio que você gostava dele.

– Foi apenas uma paixonite. – expliquei.

– Eu percebi que ele disse alguma coisa que você não gostou e logo você foi embora e chorou, naquela momento eu devia ter ido falar com você, mas imaginei que você não gostaria de saber que eu estava te seguindo.

Non, non gostaria.

– O que aconteceu? – ele me perguntou curiosidade.

– Ah, eu estava um pouco fascinada com aquela cara de fora da lei dele, e num momento de distração ele deve ter me considerou atraente, o problema é que ele tinha namorada, Marsali.

Callen não pareceu ficar muito feliz com aquilo.

– Você pode continuar a contar sua história? – pedi.

– Vou continuar quando me disser se ainda gosta dele.

Non seja ridículo, eu já superei isso e pobre de mim se não tivesse superado. Fergus ama Marsali e eles tem Germaine, que me chama de tante. Aprendi a vê-lo como irmão.

– Graças a deus – ele murmurou então sorriu recuperando seu bom humor – onde eu estava?

– Nos meus banhos de lagrimas porque Fergus tinha namorada.

– Ah, claro, depois disso não sei pensei que ele tinha te rejeitado e tomei suas dores, e continuei observando.  E então chegou o dia do casamento de Sam e Cait, e você estava tão bonita, gritando com aquele bando de pirralhos e eu bebi um pouco para tomar coragem.

– Bebeu um pouco?

– Se eu conseguia falar e ficar em pé..

– Vocês escoceses tem uma maneira estranha de definir sóbrio, você estava caindo das pernas.

– Eu só via você, – ele riu – vi que ficou triste por algum motivo e vi o francês dançando com a filha da sua madrasta eu não liguei os pontos.  Você saiu e eu fui atrás, nós sabemos o que aconteceu depois.

– Você me beijou e estava com o bafo de bêbado. – eu parei ao lado de uma cerca de madeira para olha-lo.

Depois de tantas conversas ele não empacava mais ao falar comigo e eu gostava mais assim, ele tinha um sorriso divertido no canto dos lábios e se curvou na minha direção segurando minhas mãos.

– Sinto muito por isso, mas agora eu não estou bêbado.

Ele me beijou de novo e eu estava descobrindo que eu gostava daquilo.

Sair para conversar, nos beijar as escondidas e quando voltava para casa me sentia culpada por ver Brianna triste num canto esperando. Também me preocupava com meus pais pela demora em dar notícias, e esperava que nada houvesse dado errado e minha rotina continuava a mesma...

 

– Eu me senti muito culpado por aquele vexame no casamento e não tive coragem de encara-la nos olhos. Quando nos encontramos por acaso no celeiro eu tentei falar, mas não tive tempo. Então eu decidi que precisava de dinheiro para lhe oferecer algo e ir até seu pai para pedir a sua mão.

– Eu non aceitaria – apontei.

– Também pensei nisso, mas não sabia uma maneira de me aproximar de você. Kitty, Maggie e Janet me olhavam como se eu tivesse lepra sempre que eu passava e imaginei que você também olharia.

Non é verdade, eu bloquei isso, non queria lembrar nem ficar com raiva de você. Se você viesse me pedir desculpas eu teria aceitado.

– Mas eu não fui – disse infeliz – e quando eu soube que você tinha levado um tiro eu simplesmente me desesperei. Eu sabia que não era mais hora de hesitar, porém como sua mãe disse que você não podia se cansar eu não podia despejar todos os meus sentimentos em você. Parecia tão frágil em cima daquela cama, como eu nunca tinha visto antes. – ele afagou meu rosto – eu fui para te deixar descansar e acreditei que quando voltasse você ainda estaria lá, mas você se foi e eu tive que esperar.

– E você esperou por que?

– Porque...

– Senhorita – Phaedre me chamou – sua irmã está solicitando sua presença em seu quarto.

– Bom, temos visitas hoje à noite não é?

– Sim, acredito que seja sobre isso que ela queira falar.

Olhei para Callen infeliz por nossa conversa ter sido interrompida mais uma vez em uma parte realmente importante.

– Vá ver o que sua irmã precisa Sùbh-làir, vamos nos falar depois.

Eu sorri para ele e fui até o quarto de Brianna.


Notas Finais


Gostaram? Saiu gigante, kkkk mas depois de tanto blá blá blá acho que deu pra vocês entenderem o porquê de tanto empacamento por parte do Callen.
É isso pessoal, até a próxima o/


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