História Fallen Angel - When

Existem aqueles que acreditam em anjos, aqueles que acreditam em anjos e cupidos, aqueles que acreditam apenas em cupidos. Aqueles que acreditam que sabem sobre cupidos, aqueles que realmente sabem sobre cupidos. E aqueles que são cupidos.

Faço parte daqueles que realmente sabem sobre cupidos, e vou te contar um pouco sobre eles.

Cupidos também são anjos. Anjos, em geral, não sentem. Não sentem medo, não sentem amor, não sentem o vento, não sentem a água, simplesmente não sentem. Nem fome, nem calor, ou frio. São diferentes de nós. Bem diferentes. Têm habilidades que não temos, por exemplo, eles nos vêem, mas nós não os vemos. Eles nos ouvem, nós não os ouvimos. E Anjos da Guarda influenciam nossa vida, nossas escolhas, atos. E nós... Não temos direito a nada disso. E os Cupidos, eles escolhem quem amamos. Uma vez ou outra, uns imprevistos acontecem. Raridade, obviamente. Porém, raridade significa algo que aparece ou existe em pouca quantidade. Não inexistente. Apenas pouca quantidade.

Sky foi um exemplo dessa incrível raridade. Por mais que ela finja não gostar, no fundo, sua vida foi resumida nisso. Sky sempre sonhou em ser vista. Era não só um anjo, mas um cupido. Todos os dias, era torturada, sendo forçada a fazer e ver romances acontecendo. Por mais que anjos não sentissem, ela tinha uma vontade imensa de viver toda aquela baboseira. Sonhava em ter um romance como os que fazia acontecer. Cada um que realizava era melhor que o outro, e a cada flechada, pedia para um dia viver um igualzinho ao que acabou de criar. Cada história a impressionava ainda mais e algo muito ruim se apoderava dela. Quase como se conseguisse sentir. Hoje, ela acreditava, não seria diferente.

Havia muito tempo que observava a vida dos dois amigos, até que eles finalmente saíram. Após o término entre Niall e a namorada, ele finalmente chamou a amiga para sair. Ele confundia o carinho de irmão que tinha por Lindsey, com um amor-não-desenrolado. Essa noite, Sky mudaria as coisas, e Niall finalmente passaria a retribuir o que Lindsey sentia por ele.

De dentro do beco em que se escondia, o cupido observava Niall saltar do carro do outro lado da rua. Deu a volta nele e abriu a porta para a menina, então a guiou até a porta da casa dela. Sky levantou os braços, mirando a flecha, olhando perdida nos olhos apaixonados da garota do outro lado da rua. Encarou a cena de Lindsey o olhando esperançosa, provavelmente, esperando um beijo, e Niall apenas sorriu para ela, amigavelmente. A ruiva suspira, voltando o olhar para a porta, a destrancando. Estava perdendo as esperanças.

Ela abriu a porta e lançou mais um olhar ao garoto, sorrindo levemente para ele, mas enfim, desviou o olhar para o chão, entrando na casa. Niall acenou, sorrindo, para Lindsey. Ela retribuiu.

E finalmente, fechou a porta.

Sky podia ouvir os pensamentos tão melancólicos de Lindsey. Podia a ouvir se xingando, se perguntando por que a ex do garoto teve uma chance e ela não. Por que todas as outras tiveram uma chance e ela não.

Quando a ouviu deslizar pela porta, o cupido suspirou, voltando o olhar para Niall, mirando habilmente. Puxou o ar, como sempre fazia, prestes a mexer com o coração, cabeça e corpo de uma pessoa. Prestes a mudar a vida de um ser. E soltou.

Não era tarde demais, era o momento certo. Niall seria flechado, pensaria no que havia acabado de fazer, perceberia que a perdeu e que ela provavelmente estava mal, bateria na porta novamente e chamaria por ela até que ela abrisse, e quando aparecesse na porta, se perderia no olhar – novamente – esperançoso de Lindsey, então a beijaria.

A flecha girou, girou e girou, cortando o ar até alcançar a cintura do menino, mas uma mão a envolveu.

Sky levantou o olhar, surpresa, completamente em conflito, sem entender o que diabos estava acontecendo ali. Niall a olhava de volta, como se realmente conseguisse enxergá-la, fazendo com que o cupido olhasse em volta, procurando uma pessoa, ou simplesmente algo que ele pudesse ver, mas ela era o único ser ali.

Voltou o olhar para a flecha, checando que a mão do menino estava a segurando fortemente, segundos antes dela se tornar pó e desaparecer. No rosto de Niall, faltava expressão. Mas ele claramente a via, encarava descaradamente. Sky saiu de dentro do beco escuro, mas não da calçada que estava. Não ousaria chegar ainda mais perto dele. Não sentia medo, mas suas pernas estavam paralisadas.

O loiro observou cada passo de Sky, mas parecia estar inconsciente. Ou consciente demais. Será que estava tão perdido quanto Sky? Era a primeira vez que via um anjo? Ele era destinado a Sky, era o único cupido que podia o flechar. Era a única que o observava, montava seu romance. Nunca o viu vendo coisas desse tipo.

De uma hora para a outra, Sky não estava mais na frente de Niall. Havia sumido. Para ele, obviamente.

Ela ainda o observava de cima de um dos prédios que formava o beco que havia se escondido. O garoto finalmente teve uma reação. Sua testa se enrugou e ele olhou ao redor. Olhou para um lado da rua, para o outro, girou ao redor de si mesmo e tentou se aproximar do beco, mas não o fez. Por algum motivo, não teve a ideia de olhar para cima.

Sky não sabia o que pensar. Era a primeira vez dela também, não sabia como agir com aquilo. Por mais que sua cabeça estivesse a mil, qualquer resquício de sentimento que podia ter assombrado seu corpo havia sumido e tudo que se passava por sua cabeça era, bom...

Era, sim, tarde demais.