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História Falling in love for the last time. - Epílogo - parte 1.


Escrita por: gimavis

Notas do Autor


Olá, amoooooooores! Olha quem brotou aqui. KKKKKKKKKK <3

Eu sei que vocês não esperavam, mas nada como uma surpresa as vezes, não é? Então, esse Epílogo já estava sendo escrito há meses, mas eu só pude terminá-lo hoje. Como ele ficou enorme, contendo 22K palavras, eu o divide em duas partes de 10K e pouco, cada. Vou postar a primeira hoje, e a segunda no Domingo à noite. Escrevi com tanto carinho e amor, cheia de saudade dessa estória que tanto me fez feliz e fez vocês felizes. Resolvi que seria legal mostrar um pouco do futuro delas, e espero que vocês gostem. Comentem, me digam o que acharam, aqui ou no Twitter. Aproveitem, divirtam-se e principalmente, matem a saudade. Eu amo muito vocês. Qualquer erro, conserto depois.

Volto Domingo à noite com a segunda parte. <3

Capítulo 63 - Epílogo - parte 1.


Fanfic / Fanfiction Falling in love for the last time. - Epílogo - parte 1.

Lauren POV

6 anos depois ~

Paris, França.

"Give your heart and soul to me and life will always be la vie en rose." – Louis Armstrong.

Espreguicei-me sobre o lençol macio de linho, que esquentava o meu corpo de um jeito delicioso ao reter todo o calor. O inverno impiedoso de Paris naquele ano exigiu que mudássemos todas as roupas de cama que havia em casa para tecidos mais nobres, capazes de nos proporcionar um melhor acolhimento.

Eu não acostumava acordar cedo aos sábados, logo não fiquei surpresa ao deslizar uma das mãos sobre o colchão e notar o lado direito da cama vazio. Abri um sorriso preguiçoso com a bochecha esquerda esmagada contra o travesseiro, sentindo o cheiro do cabelo dela ainda fresco na fronha. Camila havia se tornado uma mulher matinal e pontual, para o meu tormento. Era isso que ela era para mim, afinal, o meu doce e mais profundo tormento.

Eu bocejei considerando ficar mais algum tempo na cama, me abraçando a um dos travesseiros deixados ao meu lado. A neve caía lá fora e tudo o que eu menos queria era ter que me levantar. Mas eu tinha me esquecido de um pequeno detalhe, e acabei sorrindo com o coração aquecido quando ouvi aquela palavrinha que tanto me fazia feliz ser pronunciada.

: - Mammy?

Abri os olhos com um pouco de dificuldade, fitando aquele pedaço de gente de pé ao lado da cama, me olhando com aqueles olhinhos negros que transbordavam dengo como em todas as manhãs. O sorriso em meu rosto cresceu, e eu levantei o grosso edredom que me cobria, dizendo com ternura;

: - Vem aqui, ma petite.

Demonstrando uma preguiça enorme, ela levou alguns longos segundos para subir na cama e se enfiar embaixo do edredom. A tomei em meus braços no mesmo instante, segurando-a contra mim com todo o fervor e carinho. Suas pequenas mãos tocaram o meu rosto, e eu beijei sua testa antes de dizer bem baixinho, apenas para ela.

: - Feliz aniversário, meu amor. Que hoje o seu dia seja tão perfeito quanto você. – A abracei com mais força, descansando o seu rosto delicado na curva do meu pescoço. – Eu te amo mais do que posso dizer.

Aimée era o seu nome, e ela era o pequeno amor da minha vida em seus três anos de idade. Minha filha, um laço eterno que Camila e eu havíamos criado, um pedaço da nossa família. Nós a adotamos ainda bebê depois de uma viagem que fizemos a República Democrática do Congo, a fim de visitar uma das instituições de caridade da qual ajudávamos financeiramente. A primeira vez que a vi deitada sobre uma esteira velha, coberta por uma manta verde suja e visivelmente desnutrida, eu soube de alguma forma que ela seria minha. Eu não precisei perguntar a Camila o que ela pensava, seus olhos me diziam com todas as letras quando paramos diante daquela criança: Quero que ela seja nossa. E pouco tempo depois, ultrapassando um processo rápido de adoção, ela se tornou nossa, exclusivamente nossa. A batizamos como Aimée, nome de origem francesa que significa "a amada". E ela era amada de tal forma que não sobrava espaço para dúvidas; sua presença havia se tornado tudo o que Camila e eu desejávamos na vida.

Naquela manhã de inverno, Aimée estava completando três anos. Ela era a coisa mais linda que eu já tinha colocado os meus olhos em cima. Sua pele negra possuía um brilho único, muito parecido com aquele que Normani possuía. Seus olhos eram grandes e negros como a noite, expressivos a tal ponto que podíamos decifrar o que ela queria apenas com um olhar. Seu sorriso de dentinhos brancos se estendia até as covinhas que suas bochechas exibiam. Seu cabelo, em um tom escuro de castanho, se elevava como uma pequena e bonita juba de leão quando Camila resolvia deixá-lo solto. E eu adorava, achava esplêndida a forma como ela agitava a cabeça para que pudesse sacudir os fios grossos e repetir, orgulhosa, o que nós sempre pedíamos para que ela repetisse: Eu sou linda. O meu cabelo é lindo. Eu sou importante. Eu sou amada.

: - Fome, Mammy.

Ela sussurrou sonolenta, coçando um dos olhos enquanto bocejava. Aimée tinha um grande problema com a fala, ela se embolava e gaguejava um pouco na hora de pronunciar frases longas, e preferia encurtá-las quase sempre. As sessões com a fonoaudióloga estavam fazendo efeito, mas em passos lentos.

: - Hmmm, então vamos tomar uma vitamina de morango bem gostosa, e depois vamos ligar para quem?

Seus olhos se iluminaram e ela sentou-se na cama com animação, me arrancando uma risada.

: - Mamá. – Sorriu travessa, deitando o seu pequeno tronco sobre a minha barriga. – Ligar agora. Pufavo! Agora.

No colégio em que Aimée estudava, o ensino era feito em Inglês e Francês, e nós ensinávamos espanhol a ela em casa. Camila fazia questão que seu idioma natal estivesse sempre presente na vida da nossa filha. Logo ela aprendeu a chamá-la de "Mamá", a palavra em espanhol fez minha esposa bastante feliz e orgulhosa. Vira e mexe, Camila fazia brincadeiras envolvendo palavras em Português, para que nossa pequena se sentisse familiarizada também com aquele idioma bonito, difícil e importante.

: - Primeiro vamos tomar o nosso café da manhã, ma petite. – Me levantei com dificuldade, a pegando no colo quando coloquei os meus pés para fora da cama. Ela abraçou o meu pescoço e estalou um beijo babado na minha bochecha, aquecendo o meu peito. Puxei a manta que descansava sobre a poltrona no canto do quarto e coloquei sobre seus pequenos ombros. – Aí sim ligaremos para a sua mãe. Alguém terá uma bela festa de aniversário mais tarde. É ou não é?

: - É!

Ela gritou animada, erguendo um dos bracinhos como se socasse o ar. Eu caí na gargalhada, levando-a para fora do quarto para que pudéssemos chegar a cozinha. Aquela seria mais uma de nossas manhãs agitadas.

Camila saiu cedo para comandar a organização da festa de aniversário da nossa garotinha. Alugamos um grande salão próximo ao nosso apartamento, e contratamos um dos melhores buffets da Cidade. Minha esposa estava convencida de que as coisas não sairiam do jeito que ela queria se não estivesse lá para dar ordens. Eu jamais diria ao contrário, até porque contrariar Camila acabava virando uma explosão nuclear. Ela era uma verdadeira mamãe leoa e, quando o assunto era Aimée, precisava estar por dentro de tudo ou enlouquecia.

Sentei a pequena em sua cadeirinha, que ficava encaixada na bancada de mármore que cortava a grande cozinha. Prendi seu cabelo com uma presilha e me dediquei ao máximo para que ficasse da forma como a mãe dela prendia. Satisfeita com o resultado, fui até a geladeira e toquei com as pontas dos dedos um pedaço de papel lá pregado, sorrindo com a caligrafia perfeita que se exibia.

"Deixei dois potes na geladeira com maçã e melancia para a Mêe comer no café da manhã, e coloca um pouco de banana na vitamina dela. Não esquece de dar o antibiótico 10:30 e de ligar para a lavanderia. Eu amo vocês mais do que tudo. Até mais tarde."

Fiz um breve sinal de negação com a cabeça, prendendo o meu lábio inferior entre os dentes ao sorrir. Aqueles eram recados de rotina, havia um deles naquele mesmo lugar todas as manhãs.

Camila havia se formado na faculdade de Psicologia há um ano, e posso afirmar que todo aquele tempo de estudo a fez sofrer uma enorme transformação. Estudar a mente humana trouxe uma nova mulher à tona, cheia de explicações para tudo e termos que eu não conseguia entender muito bem. O que antes parecia não ter resposta, passou a ter. Camila sabia identificar todos os erros apenas observando os gestos, o olhar, o comportamento. Havia um nome para cada problema absurdo que surgia e logo, um tratamento. Era surreal. O amadurecimento dela foi tão notável que quem passou a ser a piadista fui eu.

Ela abriu um consultório na Champs-Élysées, a avenida mais famosa de Paris, e desde então trabalhava a semana inteira com horários diferentes. Em alguns sábados, atendia de graça jovens dependentes químicos em um hospital da região, intercalando com ajuda psicológica e música, que aliás, era algo que ela jamais deixou de fazer. A música estava sempre presente em nossas vidas, uma paixão que jamais morreria. Ela era uma profissional exemplar, apesar de nova no ramo, seu nome já era grande e muito procurado por pessoas de diversos lugares. Não apenas por ter sido Camila Cabello, ex integrante de um dos maiores girlgroup's que já existiu, mas sim por ser Camila Cabello Jauregui, uma excelente psicóloga.

O meu estúdio fotográfico ia tão bem como a minha carreira de cantora foi, me rendia muito dinheiro e reconhecimento. Apesar de ter vários funcionários, era eu quem fazia o trabalho principal. As fotos tinham o meu nome e o meu toque, não havia nada que eu não pudesse transformar em uma verdadeira obra de arte. Tudo o que eu fazia dentro daquele estúdio, fazia por amor. O ateliê ficava perto de onde morávamos, logo me dava mais tempo para passar com Aimée pelas manhãs antes de levá-la ao colégio. Eu detestava babás, as poucas que contratamos, fiz questão de dispensar poucos meses depois. Sempre achava que elas não cuidavam do meu bebê como ele merecia ser cuidado, fora a preocupação extrema que eu tinha delas cometerem alguma brutalidade com um ser tão pequeno e frágil. Camila e eu éramos mães de primeira viagem, mas aprendemos o suficiente para dar a aquela criança dias longos de amor e carinho. Ninguém poderia cuidar dela melhor do que nós, então acabei ajeitando a minha rotina para que pudesse me dedicar aos cuidados que Aimée necessitava.

: - O que quer comer primeiro, filha?

Destampei os dois potes e os empurrei em sua direção, que olhava para as frutas picadas enquanto mantinha a ponta do dedinho indicador na boca.

: - Mêe gosta de maçã.

Eu achava uma graça a forma como ela usava o próprio apelido para se referir a si mesma. Esse era um dos pequenos problemas que a fonoaudióloga tentava reverter. Mas eu não fazia daquilo uma grande coisa, ao contrário de Camila que insistia em corrigi-la sempre que possível. Parece que os papéis se inverteram, não é mesmo? Quem diria que seria eu a mãe que faz vista grossa?

: - Então coma primeiro a maçã. – Peguei um pequeno garfo na gaveta e dei a ela. – Depois a melancia. Mamãe vai fazer a sua vitamina.

Aimée fez careta quando mencionei a melancia, ela não era muito chegada a essa fruta. Peguei as coisas para bater a vitamina enquanto a observava comer, vira e mexe largando o garfo e usando a mão.

: - Mammy... – Ela me chamou, me fazendo olhá-la da pia. Lavei alguns morangos e coloquei no liquidificador. – Fala pra Mêe... a história das... princesas.

Ela levou um tempo bem maior para pronunciar aquela frase, e meu coração sempre se apertava quando sua dificuldade aumentava.

: - Quais princesas?

Perguntei já imaginando a resposta. Um sorriso de canto brotou em meu rosto. Coloquei o leite no liquidificador e tampei.

: - Fifi Hamuni.

Ela chupou os dedinhos e voltou a comer, sacudindo as pernas na cadeira, visivelmente ansiosa para que eu começasse a história que ela nunca cansava de ouvir.

Aimée era apaixonada por Fifth Harmony, ficava agitada quando Camila e eu contávamos a ela a história do grupo, onde sabiamente a adaptamos para um lindo conto infantil, com direito a princesas, bruxas, unicórnios e dragões. Ela tinha uma coleção de bonecas em miniaturas de Dinah, Normani, Ally, Camila e eu. Quando a colocávamos na cama para dormir, seus olhos só se fechavam se fosse cantado um pequeno trecho de "1000 Hands". As vezes Camila tocava para ela no piano, e se criava um daqueles momentos que eu passaria a vida inteira admirando. Ela amava a história das cinco princesas que foram conquistando vários reinos perdidos em cada cantinho do mundo.

: - ... E ai a princesa Lolo...

Eu ia dizendo enquanto tomávamos nossa vitamina de morango e banana, sentadas uma de frente pra outra na bancada da cozinha.

: - ... Beijou a princesa... Camz. – Ela se adiantou e me interrompeu, terminando o pedaço da história orgulhosa. Eu abri um sorriso e concordei com a cabeça, observando-a lamber o pequeno bigode de vitamina que havia sobre seu lábio superior. – Continua, mammy.

: - E aí, depois do beijo de amor, a princesa Camz e a princesa Lolo foram atacadas pela bruxa má, muito má...

Aimée agitou os braços, nervosa, pronta para me interromper outra vez. Bebi o resto da minha vitamina entre uma risada.

: - Mêe não gosta... Dessa bruxa. – Ela fez que não com a cabeça, enfezada. – Bruxa Jodi muito feia... E má. Não é, mammy?

: - Isso mesmo, filha. Muito, muito feia. – Coloquei o copo sobre a bancada, lambendo os lábios. – Machucou as princesas e as deixou muito tristes.

Vi seus olhinhos caírem, e ela suspirou entristecida segurando seu pequeno copo azul sobre a bancada com as duas mãos.

: - Faz dodói... Aqui. – De ombros baixos, Aimée levou uma das mãos até o peito, com um biquinho lindo nos lábios sujos de vitamina. Eu me derreti inteira, meu coração me lembrando pela milésima vez o quanto ela era especial. Não importava quantas vezes ela escutava aquela história, sempre tinha a mesma reação. – Mas aí a princesa Dinah...

Ela mesma continuou, para que eu fizesse o mesmo.

: - Aí a princesa Dinah disse uma coisa muito importante para a princesa Lolo. – Me estiquei sobre a bancada e peguei em suas mãozinhas, acariciando. – Que não importava o quanto o machucado estivesse doendo...

: - Ela não podia... Desistir.

Sua voz cabisbaixa completou, e eu lhe acariciei o rosto.

: - Isso, meu amor, nunca desistir.

Ainda ficamos ali um bom tempo, não havia como escapar daquele conto sem contá-lo por inteiro. A manhã passou rápida e quando vi, já estava perto da hora do almoço. Enchi a banheira com água morna e banhei a pequena, deixando com que brincasse um pouco com a espuma e alguns patinhos de plástico. Sai do banheiro com as roupas molhadas, mas não me importava. Se aquilo a fazia feliz, eu deixaria que ela fizesse.

Meio dia em ponto eu coloquei o almoço na mesa e nós comemos entre risadas. Aimée era uma criança alegre e espontânea. Adorava conversar sobre animais, super- heróis e desenhos animados. O diálogo com ela precisava ser repleto de paciência, sem exigir muito de suas respostas. Quando nervosa ao extremo e se sentindo pressionada a falar, não saía nem mesmo uma palavra. Eu tinha uma paciência de dar inveja a qualquer um quando o assunto era a minha filha, e esperava o seu tempo para dizer qualquer coisa.

Depois de satisfeitas, nos sentamos no sofá da sala com a TV ligada. Coloquei em um desenho para ela e peguei o notebook, precisava resolver algumas questões do estúdio.

Estava concentrada na planilha aberta na tela a minha frente, mordendo a ponta de uma caneta quando o meu celular começou a tocar. Ergui as sobrancelhas e ajeitei os óculos de grau no rosto, me curvando para pegar o aparelho em cima da mesinha. Revirei os olhos com uma risada ao ler o nome no visor.

: - O que é, criatura?

: - Olha aqui, Lauren, eu te dou dois minutos para vir tirar a sua mulher desse salão, ou eu juro que enfio a mão na cara dela.

: - Dinah... – Neguei com a cabeça rindo, colocando o celular entre o ombro e a orelha para poder digitar algumas coisas no notebook. – Eu não tenho como ir aí agora, e além do mais, deixe Camila resolver tudo da forma que quiser. Ela quem manda, eu só obedeço e vocês deveriam fazer o mesmo.

: - Lauren, ela já gritou com todas as pessoas do buffet, ela já gritou até mesmo comigo. – Eu soltei uma risada, jogando a cabeça para trás e imaginando uma Camila muito brava para cima daquela que chamava de melhor amiga. – Sério! Vocês foderam essa noite? Porque pra mim isso é falta de uma boa foda.

Automaticamente passei meus olhos por Aimée, que estava deitada no sofá com as perninhas cruzadas, concentrada no filme que passava na TV.

: - Não me obrigue a te dar uma resposta à altura, Dinah, Aimée está aqui do meu lado.

: - Deixe minha monstrinha fora dessa, Jauregui, estamos falando da mãe dela.

Ela resmungou na linha e eu revirei os olhos, bufando.

: - Quantas vezes já falei para não chamar minha filha assim?

Eu detestava aquele apelido de mau gosto que Dinah havia colocado na menina. Quando não era isso, era "meu bichinho". Dizia ela que era uma forma carinhosa de chamar a afilhada, mas pra mim era terrível.

: - Sou a madrinha, não me diga como devo chamá-la. E não discute comigo que te desço a mão quando nos vermos mais tarde.

: - Os anos passam e você continua a mesma insuportável.

Eu disse irritada, mas sorrindo. Dinah soltou uma risada e eu pude ouvir uma falação alta perto dela. Uma das vozes era Normani e a outra...

: - Me dá esse celular aqui. – Era Camila, e tive certeza que arrancou o telefone da mão de Dinah com força porque foi xingada de todos os palavrões existentes. Salvei a planilha e fechei o notebook. – Lauren, cancelei com o pessoal que ia fazer a animação da festa. Você tem até 16:00 para arrumar outro melhor e sem palhaços.

: - O QUÊ? – Eu dei um berro, assustando Aimée e me arrependi na mesma hora. Larguei o notebook ao meu lado e me levantei, deslizando os dedos pelo cabelo. - Camila, por que diabos você cancelou com os animadores? Não tenho como arrumar outro grupo em cima da hora. Já são quase... – Olhei as horas no relógio da sala, bufando. – Já são 13:30.

: - Dá o teu jeito, Lauren, eu não sou obrigada a aturar esses palhaços aqui, eu detesto palhaços e Aimée também. E além do mais, não tem nada a ver com o tema da festa. – Seu tom de voz estava extremamente irritado e eu imaginei que estivesse vermelha de raiva. Que mulher tempestuosa ela se transformou. – Quando contratei não me disseram que teria palhaços e aí chegam aqui com uma centena desses bichos. Eu não quero nada disso na festa da minha filha.

: - Camila, são só palha...

: - EU NÃO QUERO. – Afastei o celular do ouvido, parando no meio da sala e enfiando a mão livre no bolso. Tinha como discutir com ela? Respirei fundo. – Você tem contatos, arranje outros animadores.

: - Está bom, amor, vou ver o que posso fazer, ok?

: - Vai ver não, vai fazer. – Ela bufou e eu só senti vontade de beijá-la. – Estou morrendo de fome, ainda nem almocei. Como está o meu bebê? Fez as batatas cozidas do jeito que ela gosta?

Ah, estava explicado o motivo de todo aquele estresse. Camila estava com fome e quando ela ficava com fome, virava um búfalo incontrolável. Se alguém aparecesse com um prato de comida na frente dela, em dois segundos ficaria mansa de novo.

: - Ela está bem, deitadinha aqui no sofá assistindo TV. – Passei os olhos por nossa filha e sorri ao vê-la com as sobrancelhas franzidas, observando o filme que passava em um gesto idêntico ao de Camila. – E fiz, porém, ela quase não quis comer as batatas, deve estar enjoando.

Ouvi Camila suspirar do outro lado da linha.

: - É, já notei isso, vou perguntar a nutricionista pelo que posso substituir.

: - Faça isso! – Deslizei os dedos pelo cabelo e fui andando para fora da sala, indo na direção da cozinha. – Por que não deixa tudo aí nas mãos de Dinah e vem para casa? Aimée está com saudade e eu também, além do mais, você precisa descansar, ou vai estar exausta na hora da festa.

: - Se eu não estiver aqui para controlar, Dinah fará disso um tributo a Beyoncé, Lauren. – Eu gargalhei, abrindo a geladeira quando cheguei a cozinha, para pegar uma garrafinha de água e tomar um gole. – Não posso deixar nada nas mãos dessa obsessiva. É sério, Dinah é obsessiva pela Beyoncé. Acho que vou oferecer um tratamento gratuito a ela.

Lá estava a Camila psicóloga que eu havia me casado há pouco mais de três anos, em uma cerimônia luxuosa sobre o Oceano Pacífico, na Ilha Bora-Bora, na Polinésia Francesa.

: - Você sabe que ela vai mandar você ir se foder. É melhor se poupar de desaforos. – Ela riu ciente, me deixando um pouco nostálgica. Bebi um gole de água e me apoiei na bancada da cozinha. – Venha para casa, por favor, vou lhe preparar um almoço bem gostoso e depois de colocar Aimée para dormir, podemos passar um tempinho juntas.

: - Hmmm, proposta tentadora essa. – Abri um sorriso, mordendo o lábio inferior ao imaginá-la corando. – Não posso recusar. Só vou passar algumas recomendações para Dinah e Normani, e já estou indo. Eu te amo!

: - Também te amo, meu amor. Até daqui a pouco.

: - Até!

Desliguei o celular com um pesar, deixando os meus ombros caírem um pouco. Não importava quanto tempo passasse, eu ainda sentia a falta de Camila em meus dias como na época dos meus dezessete anos.

Normani, Dinah, Ally, Troy e o pequeno Daryl, haviam chegado em Paris há dois dias para o aniversário de três anos de Aimée. Meus pais, meus irmãos, os pais de Camila e a irmã dela, chegaram naquele mesmo dia pela manhã. Todos estavam hospedados em um hotel na Champs-Élysées. Vero e Lucy não poderiam comparecer, estavam de viagem à Índia, e me ligaram de lá para nos pedir desculpas e desejar a Aimée um feliz aniversário adiantado. Mesmo longe, a mandaram presentes por correio, e o que eu mais gostei foi uma pelúcia do Deus Ganesha, que se resumia em um elefante com vários braços. Algo sagrado e lindo. De Sandra e Marielle, apenas Sandra embarcou para Paris, a irmã ficou em Miami por questões de saúde. Camila estava feliz por ter nossos parentes e amigos reunidos, em função de agradar nossa garotinha e fazer de seu dia muito, muito especial.

Depois de desligar o telefone com Camila, dediquei o meu tempo em achar um grupo de novos animadores para a festa da pequena. Graças a alguns contatos, não demorei a encontrar. Me certifiquei sobre a ausência de palhaços e agradeci mentalmente e verbalmente por isso. Não queria causar mais um transtorno a minha esposa que passou a manhã inteira se desdobrando em mil para deixar tudo perfeito. Só queria que ela ficasse satisfeita e contente. Se eu tivesse que cruzar os oceanos a nado para colocar um sorriso nos lábios dela, eu cruzaria.

Aimée estava quase dormindo no meu colo quando um barulho de chaves na porta a fez arregalar os olhos. Eu sorri erguendo as sobrancelhas, depositando um beijo em sua testa. Sentada no sofá com ela sobre as minhas pernas, deixei que seu corpo se erguesse em alerta.

: - Acho que tem alguém chegando...

Eu sussurrei para ela, acariciando suas costas. A porta bateu no final do corredor, e vi seus olhos brilharem em expectativa. Aquele era sempre o melhor momento do meu dia.

: - Onde está o bebê da mamá? Onde está o meu amor mais doce?

A voz de Camila preencheu todo o ambiente na mesma doçura de sempre, colocando um sorriso no meu rosto e fazendo a pequena pular do meu colo no mesmo instante. Ela jogou a chupeta azul que tinha na boca em cima de mim, e cruzou a sala em uma corrida desajeitada para encontrar a minha mulher assim que ela surgiu do outro lado, na entrada do grande cômodo em que nós estávamos.

: - Mamá! – Ela gritou na familiar agitação sempre que Camila voltava para casa depois do trabalho. – Mamá chegou, mammy! Mi mamá.

Camila se agachou e tomou Aimée em seus braços, a embalando em seu colo em um abraço sem escapatória. Vi um sorriso amoroso e aliviado surgir em seus lábios, e seus olhos fecharam-se para sentir melhor aquele calor oferecido. Eu admirei a cena com o coração aquecido, não havia nada mais bonito que presenciar aqueles momentos entre elas. A ligação que possuíam não podia ser comparada a nada. Os mesmos gestos, as mesmas expressões faciais, parecia que aquele pequeno ser havia mesmo saído de dentro de Camila. O amor estava lá em abundância, completamente diferente e maior do que o amor dado a mim. Mais puro, mais quente, mais intenso, mais resistente. Amor de mãe, um amor sem limites e incomparável. Amor que Camila dava a Aimée sem exigir nada, sem pensar em nada, sem medir forças. Um amor tão bonito e único que me fazia repensar todos os amores que eu tinha em minha vida. Aquele ali, aquele amor era o que valia a pena. Ser mãe fazia tudo valer a pena.

: - Olá, bebê! – Camila segurou o pequeno rosto entre as mãos e encheu de beijos, fazendo uma gargalhada gostosa escapar da garganta da nossa garotinha. – Senti tanto a sua falta. Ah, mal posso dizer! Abraça a mamá com mais força, abraça.

Aimée fez o que a mãe pediu, e se pendurou no pescoço dela com os pequenos braços, usando de toda a sua força. Camila se ergueu com a filha no colo, a apertando de volta, depositando beijos por todo o rosto delicado, pescoço, braços. Elas riam e sorriam juntas, e eu não conseguia parar de me sentir a mulher mais sortuda do mundo por fazer parte daquela família.

Enquanto a pequena contava a Camila sobre o seu dia, com lentidão e certa dificuldade, eu me levantei para andar até elas. Queria desfrutar daquele momento também, não havia nada que eu gostasse mais do que envolvê-las em meus braços e segurá-las como se nada e nem ninguém pudesse afetá-las.

Quando Camila encontrou o meu olhar por cima dos ombros de Aimée, seu rosto se contorceu em uma expressão suave, e identifiquei ali todos os traços do que o tempo jamais apagou em nós: Paixão. Uma paixão louca que não parava de queimar um segundo sequer. Ainda nos olhávamos como adolescentes, nossos olhos se procuravam a todo instante onde quer que estivéssemos. Nossas mãos se tocavam, nossos dedos se entrelaçavam, as bocas se preenchiam e nada mais era capaz de nos separar. A vida era gostosa com ela, o amor era uma base sólida e inatingível, e aquela paixão desmedida dona de todas as tempestades de desejo e luxúria que nos sacudia. Camila e eu, em todos aqueles anos depois de nos conhecermos, ainda nos apaixonávamos uma pela outra repetidas vezes por todos os dias. Não importava as brigas que tínhamos, os tempos ruins que as vezes enfrentávamos, o cansaço do trabalho, as pequenas dificuldades com nossa filha, os grandes problemas com a mídia. Ainda sim, nos encontrávamos ao final da noite em nosso quarto, sobre a nossa cama, e esquecíamos na pele uma da outra tudo o que nos incomodava, e um novo dia sempre começava. Ela era o meu melhor refúgio, meu mar calmo de águas quentes, que aquecia o meu corpo em dias de chuva e melancolia.

: - Você demorou. – Resmunguei com um pequeno sorriso, escorregando a mão esquerda até a sua nuca, trazendo-a mais para perto até que pudesse beijar sua boca vermelha e doce. Selei seus lábios com calma e suavidade, sugando o inferior por alguns segundos antes de largá-lo. Camila suspirou manhosa, e segurou Aimée com apenas um dos braços para envolver a minha cintura com o outro. Ela sorriu com a língua entre os dentes, e seu nariz enrugou-se naquele gesto que eu tanto amava e que tanto me lembrava a época do grupo. Acariciei seu rosto com a palma da minha mão, depositando um beijo casto em sua testa. – Já estava considerando ir até lá buscá-la.

: - Desculpe! – Ela me deu um selinho e soltou a minha cintura, passando os dois braços por baixo do bumbum de Aimée, para não a deixar cair. – Mas as coisas por lá estavam caóticas e eu não podia deixar Dinah resolver tudo sozinha. Só consegui escapar agora.

: - Imagino. – Suspirei, roubando mais alguns selinhos. Aimée enrolava uma mecha do cabelo de Camila entre seus dedos, que mais curtos, caíam na altura de seus seios. Ela estava ainda mais bonita, se possível. A maternidade e o tempo deram a ela um brilho a mais. – Está morrendo de fome, né? Vou lhe cozinhar uma massa. Está bom assim?

: - Ah, Lauren... – Ela gemeu e suspirou, acariciando o meu rosto antes de começar a andar na direção do sofá com a pequena no colo. – Essa é a melhor coisa que você pode fazer por mim agora. Eu não coloquei nada no estômago, estou o sentindo colar em minhas costelas.

Eu sorri da cara que ela fez, deslizando as mãos nos bolsos detrás da calça que eu usava. Camila se sentou no sofá e descansou Aimée sobre suas coxas, deixando que ela deitasse a cabeça sobre seus seios.

: - Por que não vai tomando um banho enquanto eu preparo? Quer que eu encha a banheira pra você?

: - Não precisa, amor. – Ela sorriu para mim com ternura, deitando as costas no encosto do sofá atrás de si. – Vou colocar nosso bebê para dormir antes, veja... – Camila sorriu ao observar os olhos de Aimée demorando um longo tempo para abrir e fechar em cada piscada, indicando a sonolência. – Está morrendo de sono. Depois eu mesma preparo o meu banho, não se preocupe.

: - Está bem. – Me aproximei do sofá e beijei sua cabeça, me curvando mais um pouco para beijar a bochecha da minha filha. – Vou te esperar na cozinha. Não demore.

: - Pode deixar. – Camila me deu um selinho e cutucou Aimée com a ponta do dedo indicador, apontando para mim. – Dê até logo para a mammy, mon ange.

: - Até, mammy.

Ela disse com um pequeno beicinho, bocejando. Eu me derreti inteira, pequenos gestos daquela criança me faziam passar o dia inteiro sorrindo.

: - Até, ma petite.

Beijei sua testa e me ergui, trocando um sorriso cúmplice com Camila antes de deixá-las sozinhas na sala e me dirigir até a cozinha.

Coloquei sobre a bancada da cozinha todos os ingredientes para fazer o macarrão de Camila, e depois de picar dois tomates inteiros, lavei as mãos e fui a procura dela, para perguntar que tipo de molho ela iria querer.

A sala estava vazia, então imaginei que ela já estava submersa em água bem quente dentro na nossa banheira. Ainda tínhamos algum tempo antes da festa, o que dava a ela o luxo de repousar por longos minutos. Quando ganhei o corredor que dava aos quartos, observei a porta do quarto de Aimée aberta, e uma voz quase celestial saindo lá de dentro. Fui me aproximando devagar para não chamar a atenção, e espiei com um sorriso no rosto o que acontecia ali.

A maioria das luzes estavam apagadas, a iluminação era pouca e apenas o abajur que ficava localizado ao canto se encontrava aceso, jogando nas paredes pintadas de lilás milhares de sombras de borboletas. No teto, estrelinhas fluorescentes brilhavam em um céu infinito, as prateleiras cheias de ursos de pelúcia e fadas completavam aquele mundinho de fantasias. A pequena cama com um dorsal, cercada por grades protetoras e desenhadas, ficava localizada ao meio, era coberta por um véu branco que se estendia até o chão, e ao lado dela, sentada em um poltrona acolchoada de balanço, Camila tinha Aimée deitada em seus braços, deixando que o balanço e sua voz angelical ninassem nossa filha.

Ela cantava, concentrada no rosto daquela criança que já dormia. Um pequeno sorriso estava estampado em seus lábios, e vez ou outra ela se curvava um pouco para depositar beijos delicados na testa de Aimée.

: - Sometimes these walls seem to cave in on me, when I look in your eyes, I feel alive. – Senti meu coração derreter inteiro ao ouvi-la cantar "Blue – Beyoncé", baixinho, como se estivesse confessando algo que ninguém mais sabia. Seus dedos da mão esquerda acariciaram o rosto de Aimée, logo depois correndo para o bracinho que descansava sobre seus seios. - Some days we say words that don't mean a thing, but when you holding me tight, I feel alive.

Me senti extremamente emocionada, nada podia se igualar a sensação de ver Camila sendo mãe. Era uma experiência única para mim, que me enchia de sentimentos bons e vivência. Meu coração se aquecia por inteiro, eu me sentia completa por dividir aquilo com ela. Minha família era a melhor parte de mim.

: - Make it last forever. Come on, baby, won't you hold on to me? Hold on to me.

Camila suspendeu um pouco o corpo de Aimée, e encostou a cabeça dela perto da curva de seu pescoço, a abraçando com cuidado para não acordá-la. A poltrona balançava para frente e para trás com lentidão, e aquele canto suave junto com aquele gesto cheio de amor e carinho, levou lágrimas aos meus olhos. Eu as amava demais, mais do que eu poderia dizer, mais do que o meu corpo aguentava, mais do que os anos me mostraram. Aquele amor nunca teria fim. Ainda que um dia nossas vidas chegassem ao seu final, o amor que nos envolvia viveria para toda a eternidade. Aquela era a minha certeza.

Mordi o lábio inferior e suspirei, antes de começar a me afastar para não atrapalhar, deixando para trás Camila e o pequeno amor de sua vida. Ou melhor dizendo, de nossas vidas.

[...]

: - Nós estamos atrasadas, Lauren. – Ouvi Camila resmungar ao passar pela porta de nosso quarto, carregando nas mãos um par preto de sapatos Louboutin, com suas registradas solas vermelhas. – Vamos chegar atrasadas na festa da nossa própria filha.

: - Temos esse direito, não?

Comentei com um sorriso, subindo o zíper do vestido preto que eu usava, localizado na lateral. Ele era bem justo no corpo e possuía uma fenda na coxa direita, e um decote generoso que eu fiz questão de enfeitar com um fino colar de ouro branco.

Camila me olhou com aquela expressão de repreensão, e calçou um salto de cada vez, ficando de pé sobre eles. Ela estava maravilhosa naquele exemplar da Dior feito especialmente para ela, sob medida. Sem alças, o vestido vermelho moldava seu busto pequeno e delicado de forma perfeita, caindo até o meio de suas coxas em uma saia levemente armada, dando a ela um ar de debutante e jovial. Seu cabelo estava preso em um coque frouxo, um penteado elegante que deixava sua nuca e seus ombros a mostra. Poucos acessórios e uma maquiagem que realçava seus traços e cor dos olhos. Às vezes, eu custava a acreditar que era casada com uma das mulheres mais bonitas do mundo, eleita em anos consecutivos por diversas revistas famosas. E Camila fazia jus a aquele título, ela era um espetáculo. Por dentro e por fora.

: - Claro que não, amor, por Deus! – Ela negou com a cabeça, se aproximando de mim em passos calmos. – Era para estarmos lá antes dos convidados, para poder recebê-los.

: - Isso tem pouca importância, Camila. – Dei de ombros, rodeando sua cintura com um dos braços quando ela parou na minha frente. – Estaremos lá de qualquer forma, independente da hora. – Selei seus lábios, e senti suas mãos subirem por meus braços. – E a propósito, você está maravilhosa. Vermelho, definitivamente, é a sua cor.

: - A cor mais quente, uh?

Ela balançou as sobrancelhas com uma expressão sugestiva, e eu soltei uma risada, beijando seus lábios de novo.

: - Em você, com certeza. Qualquer coisa em você fica mais do que quente.

: - Quero falar sobre isso mais tarde, bem aqui... Na nossa cama.

Seus braços rodearam o meu pescoço, e minhas mãos, mais do que ansiosas, deslizaram por suas costas e ombros. Seu hálito quente banhava todo o meu rosto, e seus olhos me faziam inúmeras promessas indecentes. O quarto, de repente, ficou abafado, e eu não pude evitar de que minha boca se enchesse de água só de imaginar.

: - Você é tão sedutora, sensual. – Suspirei, deslizando meu nariz por seu pescoço, inalando o cheiro suave de sua pele. Suas unhas desceram por minha nuca e eu me arrepiei por inteiro. – E eu te amo tanto, amo o que continua me fazendo sentir mesmo depois de tantos anos juntas.

: - Eu nasci pra você, lembra? É assim que será, sempre. – Eu abri um sorriso, me perdendo em seu olhar apaixonado, cheio de sinceridade. – Não existiria Camila sem Lauren, nenhuma outra mulher poderia ser mãe de Aimée junto comigo, além de você. Viemos ao mundo para isso, Lauren, para estarmos aqui juntas, até o fim. É o nosso destino.

: - Sou muito abençoada por ter você. – Encostei nossas testas e juntas, fechamos nossos olhos. Era bom senti-la de maneira tão íntima, na intimidade da alma. Segurei seu rosto com as duas mãos e acariciei com suavidade, ouvindo seu suspiro. – Obrigada por ser uma esposa maravilhosa e uma mãe perfeita para a nossa garotinha. Você é incrível. Se há um ser humano evoluído nesse mundo, com certeza é você.

: - Eu te amo!

Adorava quando ela dizia que me amava, adorava ouvir sua voz ao pronunciar aquelas palavras, a emoção, a paixão, o amor, a cumplicidade, a veneração. Adorava ser amada por ela.

A beijei com carinho, tomando cuidado para não amassar seu vestido e desfazer seu penteado. Nossas línguas se encontraram com delicadeza, rendendo a nós duas um suspiro de satisfação. Nos abraçamos com ternura, deixando que nossas bocas procurassem acalmar nossas mentes e saciar os corpos que imploravam por atenção. Ofereci a ela minha língua quente, e deixei que seus lábios a sugassem inúmeras vezes daquele mesmo jeitinho que eu tanto amava e me alucinava. Como ela era boa com a boca, como ela era boa em tudo. Terminei nosso beijo com uma sequência de selinhos demorados, e a envolvi em meus braços em um abraço protetor.

: - Também te amo.

Sussurrei, e no momento seguinte, ouvi uma tosse forçada encher o ambiente. Camila e eu olhamos ao mesmo tempo na direção da porta, encontrando Sofia de pé, com Aimée em seu colo. O sorriso que abri foi tão enorme que minhas bochechas doeram.

: - Desculpa interromper esse momento romântico, casal, mas a nossa sereia já está pronta para a festa.

: - Ah, meu Deus! – Eu disse encantada, andando na direção da minha cunhada para pegar minha filha no colo. – Olha só para você, olha só pra isso, Camila.

: - Essa é a sereia mais bonita que todos os oceanos já viram, com certeza.

Aimée caiu na risada ao ouvir a mãe, que a bajulava com beijos no pescoço e no rosto. Ela estava linda naquela roupa de sereia, com direito a uma calça brilhosa que imitava uma calda, bustiê em forma de concha e um prendedor de estrela do mar, que prendia uma mecha de seu cabelo para trás, na lateral de sua cabeça. Alguns longos cordões de perolas estavam pendurados em seu pescoço, completando o visual.

: - Vai deixar a mammy tirar muitas fotos de você? – Beijei sua bochecha gordinha, e a apertei entre os meus braços. - Você está tão linda que quero encher esse apartamento com fotos suas de sereia.

: - Mêe gosta de fotos. – Ela segurou o meu rosto com as duas mãozinhas, beijando os meus lábios naquele beijinho doce que só ela tinha. – E de seleia. Seleia Aimée... mais bonita.

: - Isso mesmo, a sereia Aimée é a mais bonita dos mares. – Segurei embaixo dos braços e a ergui acima da minha cabeça, fazendo uma gargalhada escapar de sua garganta. – E a mammy a ama demais. Mais do que tudo nessa vida.

A pressionei de novo contra o meu corpo, e a abracei apertado. Ela deitou a cabeça na curva do meu pescoço, me segurando com seus bracinhos gorduchos como se jamais quisesse sair dali. Camila e Sofi nos observavam sorrindo, esperando na porta para irmos.

: - Pega a bolsa que eu deixei no sofá, amor, minha câmera está lá dentro.

: - Certo!

Ela me deu um selinho e passou por Sofi, onde juntas seguimos para a sala.

: - Você está bonita, Sofia. – Elogiei a olhando, fazendo com que suas bochechas corassem. – Me surpreende que não esteja namorando.

: - Ah, Lauren, quero distância de relacionamento por muito, muito tempo, os homens são frustrantes.

: - Eu sei, é por isso que sou lésbica.

Lhe dei uma piscadela e nós caímos na gargalhada, deixando que um clima leve e divertido nos envolvesse. Sofia já era uma moça, responsável, estudiosa, a cópia perfeita de Camila. Mas ao contrário da irmã, era completamente hétero, para o desespero de Alejandro, que só faltava enfartar quando a filha aparecia de namorado novo. Segundo ele, não queria ser avô de um filho de Sofia tão cedo. Mas a Cabello mais nova era inteligente demais para engravidar no auge de sua juventude, e se havia uma coisa que ela não esquecia na hora do sexo, com certeza era a camisinha.

: - Vamos, gente, vamos logo. – Camila resmungou, passando os olhos ao redor da sala para verificar se não esqueceu nada. – Estou bonita?

: - Perfeita!

Sofia e eu respondemos ao mesmo tempo, fazendo aquela mulher magnifica sorrir.

Aimée bateu palminhas em meu colo, animada como fato de já estarmos de saída para a festa. Beijei sua bochecha e peguei na mão de Camila com a minha mão livre, e seguimos juntas para fora do apartamento. Eu só esperava que a minha coluna ficasse inteira até o final daquela noite, e que tudo desse certo.

Camila POV

A festa de aniversário do meu bem mais precioso rolava sem problemas, estava tudo tão bem organizado e luxuoso que todos os presentes ficaram encantados. Aimée amava o mar, e nem mesmo pensou duas vezes antes de escolher o tema de sua festinha. Oceanos. Tudo relacionado aos oceanos. Baleias, peixes, golfinhos, cavalos marinhos, estrelas do mar, polvos, tubarões, águas vivas e é claro, sereias, que para ela eram mais do que verdadeiras. E eu jamais diria ao contrário.

Mandei montar em todas as paredes daquele salão aquários enormes, que iam do chão ao teto, de um lado ao outro. Estávamos rodeados por uma grande quantidade de água e milhares, milhares de peixes e outros animais marinhos. Os animadores estavam a caráter, e Aimée, junto com as outras crianças presentes, ficaram encantadas com aquelas pessoas fantasiadas de baleia, tubarão, polvo e tudo mais. A mesa do bolo era outra obra de arte, feita com todo o cuidado para parecer uma ilha submersa no mais profundo oceano, com direito a baús cheios de moedas douradas em um tesouro perdido, que na verdade nada mais eram que pedaços de chocolate embrulhados em papel dourado. Tudo foi feito com capricho para fazer daquela noite inesquecível aos olhos da minha filha. Eu faria por ela qualquer coisa, se pudesse, comprava o mar só para presenteá-la. Eu faria o possível e o impossível para vê-la feliz.

: - Ai, Mila, está tudo tão maravilhoso. Estou me sentindo mesmo no fundo do oceano. Esses aquários formando paredes foram uma ideia brilhante.

Ally comentou enquanto olhava ao seu redor, sentada de frente para mim na mesa que dividíamos com Normani, Dinah, Taylor e Sandra. Como as fotos da festa ficaram por conta de Lauren e de algumas pessoas que trabalhavam em seu estúdio, ela quase não parava em nossa mesa. Já havia perdido as contas de quantas vezes a vi correndo atrás de Aimée para fazê-la parar e tirar fotos com nossa família e amigos.

: - Concordo! Aposto que custou uma fortuna, só de imaginar sinto o bolso doer.

Taylor disse fazendo uma careta, arrancando uma risada de todos a mesa.

: - Sua irmã e Camila gastariam milhões se fosse preciso, Taylor. Não sabe como são exageradas?

Dinah sorriu ao terminar sua frase, passando o braço esquerdo pelas costas de Normani, que estava sentada ao seu lado em toda a sua beleza esplêndida. Aquela mulher jamais perdia sua majestade, estava sempre bela e chique.

: - Não acham que o meu bebê merece? – Perguntei olhando ao meu redor. – Eu posso gastar o que for com ela e nada nunca vai parecer o suficiente. Sempre quero dar a ela o melhor e o que eu não tive quando criança.

: - Faz muito bem. – Normani respondeu, apoiando os braços sobre a mesa forrada por uma toalha azul. – Devemos dar aos nossos filhos o que não foi dado a nós. Minha mãe sempre me disse isso.

: - E sua mãe está certa, Mani. – Ally continuou, com aquele sorriso acolhedor que sempre me acalmava. – Dou a Daryl tudo o que posso, e o mais incrível em relação a ele e Aimée, é que mesmo sendo crianças que possuem tudo, são extremamente agradáveis e humildes. Nunca vi Aimée fazer birra de criança mimada. Quando vocês dizem não, é não. Daryl é a mesma coisa. Tenho orgulho disso.

: - Sou muito rigorosa, Ally. As vezes até acho que sou dura demais com certas coisas na questão da educação dela. – Vi Lauren segurar nossa filha pela mão, ao lado da mesa de bolo, a câmera na mão livre e um sorriso no rosto enquanto conversava com a mãe e uns amigos de trabalho. – Mas tenho medo de falhar, de pegar leve e falhar, entende? Quero que minha filha cresça tendo tudo sim, mas quero que ela saiba respeitar quem tem menos, que ela não é melhor do que ninguém por ter uma família rica, que um dia terá que trabalhar para ter seu próprio dinheiro, mesmo que não precise, que ela é igual a todo mundo, pobre ou rico, gordo ou magro. Quero fazer dela um poço de sabedoria e honestidade, que seja humilde como eu sempre fui.

: - E ela será, Camila. – Dinah se curvou sobre a mesa e pegou nas minhas mãos, me olhando com um sorriso enorme. – Ela será, pode ter certeza, não precisa ter medo. Você é uma mãe incrível, assim como Lauren, e eu tenho muito orgulho de vocês.

Puxei suas mãos para perto de meu rosto e beijei uma de cada vez, trocando com ela um sorriso cúmplice. Dinah era e sempre seria minha melhor amiga, que estava ali para mim por todos os momentos, sempre me dizendo o que eu precisava ouvir.

: - Obrigada!

Agradeci, colocando suas mãos de volta sobre a mesa.

: - Eu quero outra sobrinha, e bem, sua sogra outro neto. – Taylor disse depois de beber um pouco do champanhe em sua taça, fazendo as meninas rirem e minhas bochechas corarem. – Ela enche o saco de Lauren com isso sempre que liga para ela, eu escuto. "Quando vai me dar outro neto?" "Lauren, está na hora de vocês me darem mais um neto, eu não quero morrer sem encher essa casa de crianças. Taylor e Christopher não estão nem ai pra isso, não querem filhos tão cedo." "Lauren, e meu neto? Diga para Camila que eu estou esperando". – Taylor ia dizendo ao imitar a voz de Dona Clara, arrancando gargalhadas. Pior que era daquele jeito mesmo. – Sério, uma vez eu disse pra ela adotar meia dúzia de crianças e deixar vocês em paz.

: - Sua mãe é hilária. – Eu ri negando com a cabeça, deslizando os dedos pelo pescoço. – Mas eu quero mais um filho o tanto que ela quer mais um neto.

: - E por que não fazem logo um bebezinho?

Sandra perguntou sorrindo de canto, acariciando o meu ombro.

: - É, por quê? Também quero saber. Engravida logo, Camila, está esperando o quê?

Normani perguntou curiosa, e eu suspirei melancólica.

: - Não sei, na verdade. – Dei de ombros. – Lauren e eu combinamos que depois da chegada de Aimée, esperaríamos para ter outra criança. Dá trabalho, Mani, tenho medo de não dar conta, de não ter tempo o suficiente para educá-las.

: - Ah, Camila, deixa de bobeira. – Ally me repreendeu, sorrindo. – Criança é benção e vocês fazem um trabalho ótimo com a pequena, vão se sair bem com um segundo bebê também. Fora que estamos aqui para ajuda-las com o que for preciso.

: - Aposto que Lauren adoraria. – Taylor disse com uma piscadela.

: - Eu não vou engravidar, gente, sério... Isso... – Soltei uma risada nervosa. – É meu sonho ver Lauren grávida, durante todo esse tempo me imaginei sendo mãe de um filho dela, vê-lo crescer em sua barriga, cuidar dos dois com todo carinho e amor. Não quero mudar meus planos.

: - Não precisa mudar, só acho que não tem por que esperar. A hora é essa, não deixe para fazer ano que vem o que pode fazer agora. Lembre-se disso.

Dinah bateu com o dedo indicador duas vezes em minha cabeça, claramente me dando um conselho que eu passaria o resto da noite pensando.

Fiquei mais um pouco na mesa conversando com as meninas, rindo de algumas lembranças do passado e marcando uma reuniãozinha depois da festa, no meu apartamento.

Eu estava de olho em Taylor, ela era uma cafajeste de marca maior. Peguei no ar as piadinhas que ela fazia em relação a Sofia, sem contar as olhadas indiscretas. Deixei bem claro que se ela ficasse de graça para cima da minha irmã, cortaria seus dedos. Taylor apenas riu e fingiu que não era com ela. Cínica igualzinha a Lauren. Era mal de Jauregui.

: - Você deu água a Aimée? – Perguntei a Lauren quando me aproximei dela por trás, tocando sua cintura e a tirando de uma conversa com seu irmão, depois de pedir licença a ele. Ela se virou na minha direção. – Ela não para de correr, já está toda suada e suja. E eu passei horas pra arrumar esse cabelo, e olha só como está...

Eu disse arrasada enquanto observava minha filha completamente descabelada e suada, correndo de um lado para o outro com o filho de Ally e as outras crianças. Lauren soltou uma risada e passou um braço por minha cintura, beijando uma de minhas têmporas.

: - Deixa ela, amor, hoje ela pode fazer o que quiser. Além do mais, criança tem é que se sujar mesmo.

: - Depois eu quem sofro pra dar banho e tirar a sujeira dela. – Rolei os olhos, - Aimée, vem aqui com a mamá.

Eu disse ao me soltar de Lauren, falando mais alto para chamar a atenção daquela garotinha agitada que pulava ao som da música infantil que tocava.

: - Ela não vai te ouvir.

Lauren riu, negando com a cabeça, erguendo a câmera profissional que carregava para fotografar. Soltei um suspiro longo e me aproximei da roda de crianças com cuidado para não tropeçar nelas. Alguns animadores faziam palhaçadas e elas riam de contrair a barriga. Eu sorri com a cena.

: - Vem aqui comigo um pouquinho.

Eu disse a ela ao me curvar em sua direção, secando seu rosto com uma toalhinha lilás que eu tinha em mãos. Aimée tentava escapar a todo custo do meu aperto suave em seu braço.

: - Solta, mamá... Solta a Mêe.

Ela tirou a minha mão de seu rosto, enfezada.

: - Deixa eu secar, espera, bebê. – Ajeitei o prendedor em seu cabelo, e logo depois o bustiê de concha em seu pequeno peito. – Vamos comer um pouco e beber suco, depois você volta pra brincar mais.

: - Não, não... – Ela choramingou, fazendo beicinho. – Pufavo, mamá... Solta.

: - Você não comeu nada ainda, filha, não pode ficar sem comer.

Eu disse com pesar, detestava quando algo a fazia perder o apetite. As crianças esbarravam em minhas pernas me fazendo cambalear, e eu esbravejei sem querer.

: - Deixa a minha monstrinha em paz, Camila. Meu Deus! – Ouvi a voz de Dinah atrás de mim e me ergui. – Depois ela come. Não é, amor? Fala pra essa chata que você chama de mãe.

Dinah tirou Aimée da minha mão e a pegou no colo, enchendo suas bochechas de beijos. Coloquei as mãos na cintura e a encarei séria, que me olhava de volta com aquele sorriso amarelo.

: - Dinah, você vai estragar a minha filha.

Ela riu divertida, levando a mão até o cabelo da pequena para bagunçá-lo mais ainda.

: - Você está aqui para consertar, caso ocorra. – Rolei os olhos. – Deixe de ser chata, Chancho. Pode deixar que eu dou algo a ela para comer, mas deixe a menina brincar sem perturbação. É o aniversário dela hoje.

: - Não sei onde eu estava com a cabeça quando te escolhi pra ser madrinha dela. Você não tem juízo nenhum.

: - É por isso que minha vida é leve. – Ela me mandou um beijo no ar e ergueu a mão para Aimée. – Não é, bichinho? Coisa linda da madrinha. Como fazemos?

Soltando uma risada gostosa, Aimée bateu com sua pequena mão na de Dinah, completando um hi five. Acabei sorrindo, não tinha nada mais que eu pudesse fazer, afinal.

: - Sumam da minha frente, anda. – E antes que ela o fizesse, joguei sobre seu ombro a toalhinha que eu segurava. – Use isso quando for preciso e dê algo a ela para comer.

Apontei o dedo indicador em sua direção, numa expressão séria e Dinah rolou os olhos.

: - Okay, mamãe leoa, okay. Agora tchau! – Ela se virou de costas e falou mais alto. – Dê tchau pra sua mãe, bichinho.

: - Tau, mamá.

Mandei um beijo pra ela no ar, acenando com um sorriso no rosto.

: - Tchau, meu amorzinho.

Desviando da roda de crianças e voltei para perto de Lauren, que já se encontrava sozinha, concentrada para não perder uma captura sequer. Parei ao seu lado e peguei uma taça de champanhe da bandeja que passou a minha frente, apoiada em uma das mãos do garçom. Tomei um gole.

: - Dinah a levou. – Suspirei, observando Lauren olhar para a tela da câmera e logo depois para mim. – Fico preocupada quando ela não come direito. E Dinah não tem muito juízo.

: - Ela cuida bem de Aimée, não tem por que se preocupar. – Bebi mais um pouco, concordando com a cabeça. – Você precisa relaxar, Camila, ao menos hoje. Você dá conselhos a todo mundo, mas não segue o que aconselha. Seja uma psicóloga para si mesma, okay? Está tudo bem Aimée não comer direito hoje, ela está distraída e animada. Quando a fome bater, ela vai nos procurar para alimentá-la e pronto.

: - Me recuso a aceitar que ela está crescendo. – Meus olhos flagraram a cena de Dinah jogando minha filha para o alto sob gargalhadas, ao longe. Me lembro de quando Dinah fazia aquilo com ela e suas mãos se encaixavam perfeitamente em volta de seu corpo. Mas ali, naquela hora, eu percebi que o tempo voava e aquilo me assustou tanto. – Que logo não vai mais precisar de mim para tomar banho, comer ou pentear o cabelo. Estou passando pelo o que chamam de "ninho vazio", mas de forma antecipada.

Soltei uma risada triste e Lauren passou um de seus braços por minhas costas, me puxando para ela. Me deixei ser abraçada, e encostei minha mão com a taça no final de sua coluna.

: - Esse é o problema, antecipação. – Ela selou meus lábios e me encarou com ternura. – Também a vejo crescer rápido demais e isso me assusta, mas o tempo voa, amor, e temos que aproveitar tudo intensamente sem pensar no depois. O futuro a Deus pertence, okay? No momento Aimée ainda depende de nós para banhar, comer, e até dormir. Nosso ninho ainda está cheio e podemos cuidar do nosso filhotinho com todo zelo e amor. Vamos pensar apenas nisso.

: - Você está certa, as vezes acabo me desesperando. – Acariciei seu rosto, me sentindo completamente relaxada com o olhar que ela me dava. – Por isso sempre dizem que psicólogos precisam de psicólogos para eles mesmos e assim vai. É uma loucura!

Lauren soltou uma risada, me abraçando apertado.

: - Ah, Camila... Eu te amo muito.

: - Também te amo!

Fechei meus olhos e respirei fundo para sentir seu cheiro de uma maneira mais profunda, e quando voltei a abri-los, dei de cara com uma cena que me fez erguer as sobrancelhas.

Taylor e Sofia conversavam mais no canto, cheias de sorrisos e gargalhadas. Taylor, vez ou outra, tocava no braço de Sofia ao falar, e a mesma nem parecia notar a malícia. Mas eu notava, e bufei ao pegar Lauren pelo braço e virá-la de frente para a cena.

: - O que foi? – Ela perguntou me encarando.

: - Sua irmã. – A olhei com lábios torcidos. – Ela está dando em cima de Sofia e não é de agora, Lauren. Dê um jeito nela.

: - Amor, Taylor tem 24 anos e eu não vou mesmo ficar me metendo na vida dela. Ela já está bem grandinha pra isso.

: - Lauren, Sofia é hétero. Taylor sabe disso, né? E além do mais, ela... Ah, não, ela é o meu bebê. Eu fico louca quando ela surge com namoradinhos, imagina uma namoradinha canalha igual a Taylor.

: - Sofia tem 19 anos, Camila. – Ela rolou os olhos. – E se ela é hétero, você está se preocupando por quê? Vai ver só estão batendo papo como duas amigas.

: - Porque você também dizia ser e olha só onde estamos hoje. – Lauren soltou uma risada e passou o braço por minhas costas. – E minha preocupação não é em ela ser hétero ou não, é em Taylor. Você conhece a irmã que tem em questão de namoro.

: - Quem decide é Sofia e não você. Não estou vendo maldade nenhuma ali e se tiver e Sofia quiser, o problema é delas. – A cínica mais velha sempre iria defender a cínica mais nova, era lei. – Agora vamos voltar para a mesa e parar de cuidar da vida dos outros.

: - Mas amor...

Resmunguei, sendo arrastada pela cintura para longe dali.

: - Vamos, Camila! Deixe de teimosia ou vai dormir no sofá essa noite.

Olhei para ela incrédula, soltando uma risada sarcástica.

: - Me coloca pra dormir no sofá que quem vai perder é você, afinal. Eu posso fazer um bom trabalho comigo mesma, já você...

A lancei um olhar debochado e me soltei de seu aperto, passando a andar na sua frente para mexer o quadril enquanto rebolava o máximo que eu podia.

: - Camila... – Sorri ao ouvi-la dizer mais atrás. – Não seja malcriada.

Soltei uma risada, me aproximando da nossa mesa ao terminar de beber o champanhe presente na taça. Lauren não conseguia mais gozar sozinha desde que nos casamos. Era uma luta para ela se masturbar sem a minha companhia. Se eu não estivesse lá, ao seu lado, a estimulando de alguma forma enquanto ela se tocava, em nossas brincadeirinhas, ela não conseguia gozar. Sua dependência em mim passou a ser absoluta e eu me divertia com isso mais do que podia dizer.

Me tornei uma mulher geniosa e orgulhosa de mim mesma, superando todas as questões que um dia já fizeram a minha autoestima não existir. Me formei, me casei, me tornei mãe e dona de um amor próprio enorme. E não, passava longe de ser arrogância, mas sim um valor que eu merecia depois de passar tantos anos me sentindo inferior em alguns momentos da minha vida. Inferioridade não existia mais dentro de mim, eu era superior a tudo o que um dia me colocou para baixo, eu era por mim, por Lauren e por nossa filha.

 



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