Aquele era um dia especial.
Dois casais tinham um motivo muito especial para celebrar aquele domingo, que para o resto do mundo era só mais um dia normal, em que poderiam descansar, aproveitar a família ou, para os mais azarados, trabalhar.
Família. Era justamente isto que aqueles dois casais tanto queriam eternizar, marcando aquela data como única.
Cha Hakyeon com Jung Taekwoon e Lee Jaehwan com Kim Wonshik, comemoravam um ano desde que finalmente completaram suas famílias, cada um com uma criança.
Depois de todos os desafios por serem casais homossexuais, as visitas das agentes, a papelada e o tempo que as crianças demoraram para se acostumarem e aprovarem as famílias das quais fariam parte futuramente, o resultado enfim veio e não poderia ser melhor. Eles realizariam seu maior sonho e seriam completos.
E as crianças... foram o que mais lhes deram dor de cabeça, se tivessem que escolher. Primeiramente, Taekwoon e Hakyeon foram ao orfanato fazer uma visita e o Jung imediatamente se apaixonou por um menino de 4 anos, que tinha os cabelos castanhos jogados em uma franja sobre seus olhinhos sérios. Seu nome era Sanghyuk. O menino mostrou-se evasivo e desconfiado de primeira - algo normal para quem fora escolhido e rejeitado tantas vezes - mas depois de algum tempo conversando, ele abriu-se com Taekwoon e logo no primeiro dia jogaram futebol juntos - e com as outras crianças também - e Taekwoon decidiu que o adotaria, sendo apoiado pelo marido, que também se apaixonara pelo pequeno.
Quando foram contar ao menino, ele logo assumiu um semblante alegre - seu sorriso tão pouco revelado, porém único de um jeito fofo - perguntando se Hongbin iria junto com ele.
Hongbin era o melhor amigo de Sanghyuk. Segundo os funcionários, chegaram ao local com dois meses de diferença e por serem de idades próximas, logo tornaram-se amigos.
O problema era que o Jung e o Cha só tinham planos de adotar uma única criança e como se fosse uma incrível jogada do destino, naquele mesmo dia, Jaehwan e Wonshik disseram-lhes que decidiram que era hora de trazer mais uma alegria à vida deles e quando notificados, foram quase que imediatamente ao lugar... e não deu outra: ambos caíram de amores pelo jeito reservado e inocente do menino, sem falar que Wonshik sempre se derretia quando Hongbin sorria, suas covinhas deixando seu rostinho mais fofo.
Estava tudo correndo bem, até os meninos “se rebelarem”. Os pequenos estavam felizes por terem a possibilidade de serem adotados, isso não podia-se negar, porém eles não queriam viver separados e bem, os casais de amigos moravam a uma hora de distância do outro e seus horários quase nunca batiam, ou seja, seria difícil para as crianças manterem contato, o que fez com que passassem a agir mal com os adultos para tentar fazê-los desistir. Eram atitudes que impressionavam os mais velhos; mal saíram das fraldas e já tinham essa consciência de amizade e fidelidade. Resultou apenas em fazer os futuros papais amarem-nos ainda mais.
Foi preciso muito tempo, paciência e esforços para dobrar os garotos e até mesmo a diretora do orfanato estava perdendo as estribeiras e por diversas vezes pediu para que os deixassem, que era melhor desistir. Mas não podiam. Agora que já estava completamente cativados por eles, iriam tê-los.
Hakyeon então sugeriu certa vez que conversassem seriamente com os meninos, lavassem a roupa suja, colocassem as cartas na mesa. E se eles continuassem recusando-se a ir com eles, então desistiriam.
Entretanto, nem os pequenos aguentavam mais os joguinhos, queriam sair daquele lugar, ter uma família, coisas para chamar de suas, construir memórias, e também queriam permanecer juntos. Então, acabaram por chegar em um acordo: seriam matriculados na mesma escola para que pudessem manter a convivência e nos fins de semana, iriam revezar para passar na casa de um dos casais, assim, não precisariam ficar tanto tempo separados e ainda seria uma ótima desculpa para que o grupo de amigos se visse regularmente e não perdesse contato.
O que um pai ou uma mãe não faz pra ver seu filho feliz?
Depois daquele dia, tudo correu na maior normalidade possível e agora, eles tinham que se preocupar apenas com o preconceito das autoridades em dar-lhes as guardas por serem casais homossexuais. Contudo, conseguiram os melhores advogados e no fim, venceram as dificuldades.
As noites mal dormidas, os dias perdidos em estresse para regularizar e seguir todos os mínimos padrões da lei, mostraram seus frutos e eles nunca esqueceriam o dia que finalmente puderam levar seus nenéns para casa e chamá-los de “meu filho”.
Os quatro choraram bastante emocionados, sendo encarados por olhares de incredulidade e zoação por parte das crianças com Hongbin dizendo “que vergonha vocês, adultos não choram” e Sanghyuk completando “mas Bin hyung, eles são velhos, ouvi a Minyoung noona dizer uma vez que velhotes choram feito idiotas a toa”, arrancando risadas e pequenos protestos por parte dos adultos, que decidiram comemorar aquele dia indo à uma churrascaria.
Antes de irem embora, Hongbin abraçara Sanghyuk - que já estava quase se desmanchando em lágrimas - e disse no ouvido alheio, “tudo bem, agora você tem dois papais pra te salvar dos monstros” e os homens olharam para as crianças confusos, mas logo sorriram, achando que se tratava apenas de uma brincadeira entre elas, coisas da idade.
Porém eles descobriram que não.
Taekwoon estava com o menino colo que dormia tranquilamente e levou-o para o quarto que havia sido preparado para ele. Cobriu-o com o lençol, deu um beijo em sua testa e sussurrou um “durma bem”, indo juntar-se a seu companheiro na cozinha.
Até que ouviram Sanghyuk gritar e chorar, logo foram correndo para o quarto. Ao chegarem lá, o menino se debatia gritando “sai! vai embora!” e o Jung foi o primeiro a acordar filho, abraçando-o forte e dizendo “tudo bem, foi só um sonho”. Hakyeon sentara-se ao lado deles na cama, acariciando os fios molhados de suor, logo tirando-o do colo do marido e beijando seu rosto, levando-o para que pudesse banhá-lo, o menino tremendo violentamente em seus braços e pedindo “por favor, façam eles irem embora”.
E eles finalmente sentiram a ficha cair ao se darem conta de que aquela criança necessitava de muito mais do que aparentava.
***
Já com o outro casal, as coisas foram igualmente agitadas, porém por outro motivo. Hongbin não parava quieto um segundo sequer, correndo pela casa, mexendo onde não devia e quase quebrando tudo. Wonsik dava corda ao filho, correndo atrás dele e entrando no jogo, deixando Jaehwan desesperado de preocupação.
— Sikkie, pelo amor de Deus, para com isso, ele pode acabar se machucando!
Hongbin apenas olhou para o seu pai mais velho, sorrindo sapeca.
— Velho rabujento! - mostrou-lhe a língua - duvido me pegar! - e voltou a correr pela casa, deixando Jaehwan de boca aberta com a ousadia do menino.
No final, o Lee estava certo e Hongbin escorregou em um tapete, caindo e batendo a cabeça no chão, fazendo com que chorasse descontroladamente. O Kim ficou paralisado sem saber o que fazer, porém seu parceiro agiu rápido e foi socorrer o menino, colocando gelo no local atingido e dizendo palavras de conforto, para logo depois dar um sermão sobre como ele deveria ouvir os mais velhos.
Hongbin respondeu, a língua afiada e venenosa como uma cobra, mas foi devidamente repreendido e calou-se, aceitando os conselhos dos pais.
Naquela noite, ambas as crianças dormiram com os pais, Sanghyuk porque estava assustado demais para dormir sozinho e Hongbin porque alegou que queria saber se era tão bom assim dormir com outra pessoa, já que uma das meninas que foi deixada no orfanato pelos pais devido a problemas financeiros, disse-lhe uma vez que ela sempre dormia com eles porque era quente e aconchegante.
***
Foram precisas algumas sessões no psicólogo para que Sanghyuk superasse os pesadelos e muito punho firme para que Hongbin aprendesse a respeitar seus novos pais, mas a cada dia que passava e a cada batalha vencida, os casais sentiam-se vitoriosos e não poderiam pedir nada melhor, não se arrependiam nenhum minuto sequer de terem adotado aquelas maravilhosas criancinhas.
Realmente eles faziam a vida deles serem completas, traziam cores vibrantes a seus mundos monocromáticos.
Foi para celebrar e de certa forma agradecer aos pequenos, que Hakyeon e Jaehwan tiveram a ideia de fazer uma comemoração dedicada a Hongbin e Sanghyuk e os meninos poderiam pedir tudo que quisessem para a data e os pais não se surpreenderam quando eles entregaram uma lista meio ilegível onde continha diversos tipos de fast food estrangeiros, doces e refrigerantes. Eles riram e prometeram providenciar tudo que havia sido solicitado.
Jaehwan estava preparando o molho para cachorro-quente enquanto Wonshik arrumava os jogos e Hongbin colocava os pães nos saquinhos, quando a campainha tocou, anunciando a chegada dos convidados.
— Shikkie, abre a porta por favor. - gritou o Lee da cozinha e o Kim prontamente acarretou o pedido.
Ao ver que haviam chegado, Hongbin saiu correndo da cozinha para cumprimentá-los, abraçando fortemente Sanghyuk e começaram a brincar de lutinha, sendo chamados pelos os adultos ali presentes.
— Mas você e o Leite hyung sempre brincam de lutinha e ninguém reclama!
Hakyeon riu do apelido dado ao marido, levando um tapa do mesmo.
— Não fala mais com as pessoas, Binnie? - Wonshik repreendeu, pegando o bolo que o Jung trazia nos braços dele para colocar na geladeira.
Hongbin sorriu, mostrando as covinhas que todos adoravam e jogou-se entre os rapazes que haviam abaixado e aberto os braços para ele.
— Café hyung! Leite hyung! - os três apertaram-se fortemente, logo rindo e zoando um ao outro com os apelidos recebidos pelo menino. Realmente muito fofo.
O Lee chegava a sala esfregando as mãos na calça, secando-as.
— Taekwoon hyung, Hakyeon hyung! - Logo iniciaram um sequência de apertos de mãos e rápidos abraços, enquanto hongbin puxava Sanghyuk para jogarem alguma coisa.
— No que podemos ajudar, Hwannie? - como sempre, Hakyeon era bem pró-ativo e disposto a ajudar.
— Ainda preciso cortar os pães, terminar de aprontar a carne para os pastéis, fazer a farofa e temperar o frango.
— Então mãos à obra!
O moreno foi logo dirigindo-se para a cozinha, enquanto Taekwoon foi convocado pelos pequenos para jogar futebol com eles, pois não queriam mais montar o quebra-cabeças e Wonshik perguntou ao esposo se precisava de algo, ao que Jaehwan respondeu que ele podia fazer o brigadeiro, arrancando gritinhos alegres das crianças.
Todos os adultos riram - inclusive Hakyeon que estava na cozinha preparando a farofa -, extremamente felizes por verem seus filhos se divertindo.
Algumas horas depois, com tudo pronto e a mesa arrumada, todos foram lavar as mãos e se arrumarem para comer, com todos implicando um com outro: Hongbin zoando o nariz grande da “mãe” e a pele extremamente branca do “tio” com Sanghyuk zoando a pele morena do Cha e os cabelos rebeldes do Kim. Não demorou muito para que todos estivessem apontando os ‘pontos zoáveis’ que achavam, a casa ecoando os risos e provocações daquelas pessoas.
Antes que pudessem iniciar a refeição, Hakyeon fez questão de pedir para todos dizerem algumas palavras uns para os outros, então ele mesmo iniciou a rodinha.
— Bem, esse é um dia muito especial, como todo mundo sabe. Eu só… queria agradecer a todos vocês por fazerem parte da minha vida e tornarem os meus dias mais felizes. Por estarmos sempre juntos apoiando uns aos outros e às crianças por nos aceitarem mesmo que não sejamos a família que vocês provavelmente queriam. - Hakyeon encarou os meninos com os olhos marejados e as crianças retribuíam o olhar, que eram tanto de surpresa como de felicidade.
— Aish hyung, por que você tem que ser tão sentimental? - Wonshik provocou, tentando esconder sua emoção.
— Alguém mais tem algo a dizer? - o moreno ignorou-o, prolongando o momento.
— A gente ama vocês. De verdade, obrigado por tudo.
Quem quebrou o silêncio que havia se formado foi Hongbin, que segurava a mãozinha de Sanghyuk em cima da mesa, enquanto ambas as crianças olhavam para os adultos presentes. Depois daquilo, ninguém mais conseguiu se segurar e lágrimas de felicidade e gratidão foram derramadas. Aquele dia entraria na lista de “melhores momentos da vida”.
Depois de sequenciais “eu te amo” e “obrigado por fazer parte da minha vida”, o almoço foi enfim terminado e enquanto Taekwoon e Wonshik lavavam a louça, Hakyeon e Jaehwan foram limpar as crianças, que acabaram se sujando com o molho do cachorro-quente - ele acabou sendo usado de sobremesa e o bolo e brigadeiro foram deixados para o lanche.
Um pouco depois, estavam os seis reunidos na sala, jogando alguns dos jogos que os meninos aprendiam na escola e que fizeram parte da infância de seus pais. Quem observasse a cena não saberia dizer quem era mais criança dentre eles.
Não demorou muito para Sanghyuk se cansar de toda a agitação do dia e bocejar, então Taekwoon perguntou a Jaehwan se poderia deixar o menino dormir no quarto de hóspedes da casa, mas Hongbin logo os interrompeu, dizendo que Sanghyuk dormiria com ele, pois ele também estava com sono.
Taekwoon levou ambos ao quarto do menino mais velho e Hongbin pediu para ele contar uma estória e obviamente Sanghyuk juntou-se ao desejo, mesmo que já estivesse praticamente apagado de sono. O mais velho apenas sorriu e concordou, pegando um dos livrinhos infantis que havia na estante, logo acomodando aos três na cama.
***
Quando finalmente voltou a sala, Hakyeon estava emburrado no sofá enquanto Wonshik e Jaehwan riam e faziam algum carinho um no outro apenas para ver o bico do outro aumentar. Assim que a presença do Jung foi notada, Hakyeon jogou-se sobre o outro, beijando-o calorosamente, recebendo algumas brincadeiras em resposta.
— Calados, os meninos estão dormindo. - inquiriu o Jung quando soltou-se do marido.
— Você demorou demais e eles estavam se comendo aqui na minha frente só de implicância. - o moreno abraçou-o novamente, pelo pescoço, sorrindo maliciosamente - acho justo retribuir.
— Hyung, para de ser tão dramático, foram só alguns beijinhos, né amor? - revidou Jaehwan agarrando-se ao amado.
— Parem de implicância, parecem até que estão competindo com as crianças.
— Aish hyung, para de ser tão sério! - Wonshik quem ditou, parecendo incomodado.
— Certo, agora que as crianças estão dormindo, o que faremos? Não podemos comer bolo sem elas. - o mais velho do grupo tentou desviar o assunto.
— Vamos jogar baralho, quem perder tira uma peça de roupa? - sugeriu o Lee, divertido.
— Você realmente não presta, hein? - a resposta veio de Taekwoon, que até mesmo sorriu.
Não precisou mais nada para acatarem o jogo e o Kim pegou o baralho na cômoda da sala. Passaram um tempo jogando e a sorte não parecia estar do lado do Jung e do Cha, pois estavam perdendo e feio. A cada rodada, o Kim e o Lee cantavam os versinhos que improvisaram somente para irritar os mais velhos. Quando faltava apenas a cueca no corpo dos perdedores, resolveram parar a brincadeira, todos pegando suas roupas do chão e arrumando-se para jantar.
Wonshik ficou encarregado de acordar as crianças e assim ele o fez, tendo um pouco de trabalho por elas estarem com vontade nula de levantar da cama. Mas como toda criança que se preze, eles acordaram em “um pulo” quando foi dito que era para jantarem e comerem os doces que ainda estavam intactos.
Com todos novamente reunidos à mesa, a bagunça desta vez fora maior, pois até os pais decidiram entrar no espírito infantil. Após a refeição, os doces foram postos e rapidamente devorados, especialmente pelos pequenos, que tinham sorrisos enormes nos rostos ao se deliciarem com as guloseimas e provocar seus pais. Os adultos apenas olhavam satisfeitos pela cena com sorriso igualmente felizes por tudo que acontecia em suas vidas ser real.
Passava das nove da noite quando se deram conta da hora e Jaehwan sugeriu que eles dormissem por lá, já que roupas podiam ser emprestadas e só precisariam ir à loja de conveniência comprar as peças íntimas, pois como já haviam pernoitado na casa dos amigos, havia escova de dentes e toalhas por lá. Só foi preciso um pedido manhoso do pequeno Sanghyuk para que os pais se derretessem e acatassem o pedido. E também pq o dia seguinte era feriado e ninguém precisaria cumprir com suas obrigações de escola e trabalho.
Mas àquela altura, as crianças queria se trancar no quarto e virar a noite jogando vídeo-game, então foram liberados e Jaehwan foi até o freezer e trouxe algumas garrafas de bebidas alcoólicas quando as crianças já haviam saído. Eles faziam o possível para não beber perto delas, pelo menos até que tivessem idade para conversarem sobre o assunto. Por isso, esperaram tanto tempo e como ninguém sairia para trabalhar, podiam beber à vontade.
Enquanto aproveitavam as bebidas, relembravam o passado, e acabavam evocando o sentimento de nostalgia, emocionados com o quanto amadureceram como pessoas e tudo parecia dar certo em suas vidas.
Foi assim que terminaram a noite, os adultos relembrando bons e maus momentos na sala enquanto no quarto, as crianças jogavam e segredavam o quão felizes eram por terem sido abençoados com famílias tão boas e ainda permaneceram juntos.
E tudo que as seis pessoas naquela casa desejam naquele momento era que a vida continuasse a ser generosa com eles e que pudessem viver o resto de seus dias em paz.
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