História Faminto - 2. Final

    Ele comia e comia, como se seu estômago houvesse um buraco negro. Nunca estava satisfeito; sempre queria mais e mais. Jungkook nunca havia visto um humano normal comer tanto, mas não se importava em pegar quantas frutas e caçar quantos animais que o outro quisesse comer, pois quanto maior a fome de Taehyung, mais forte era o desejo de Jungkook pelo seu corpo.

    Já fazia alguns dias que haviam se conhecido, Taehyung havia caçado pássaros e esquilos o suficiente para que Jungkook tivesse forças para caminhar até o lago. Acharam um toca abandonada nas redondezas, usando-a para descansar enquanto Jungkook colocava seu plano em prática, alimentando o garoto com todos os animais que pudesse caçar; quando mais rechonchudo, melhor seria o prazer de devorá-lo. Pensava por onde deveria começar a comer: poderia ser pelas coxas, que já haviam começado a ficarem roliças; a barriga, que estava tão macia e pálida quando o resto do corpo ou talvez pelos braços que haviam ficado maiores. Pensar naquilo trazia um prazer a mais para o lobo, se deleitando a imagem de Taehyung que mais parecia ser a personificação do pecado.

    – Por que insiste em ficar aqui? – perguntou em uma tarde onde ambos estavam sentados sobre uma grande pedra à beira do rio – sabe que existem vários vilarejos ao redor daqui, com humanos como você e…

    – Eu não quero! – falou desesperadamente – quero ficar aqui. Quero ficar com você. Você quer que eu vá embora? – perguntou aflito e Jungkook se assustou.

    – N-não… você pode ficar até quando quiser – “Ou até quando estiver vivo”, completou em sua mente. O outro pareceu aliviado.

    – Não quero voltar àquela vila. Não quero ver aquelas pessoas – disse baixinho.

    – Por quê?

    – Minha mãe me mandou embora. Ela não queria me alimentar e ninguém me ajudou – respondeu baixinho, fazendo o outro suspirar.

    – Está tudo bem, você pode comer o que quiser agora.

    Durante três dias Jungkook fugia de seus caçadores. Homens armados de espingardas e canivetes seguiam seus rastros a fim de capturá-lo – os lobos eram os animais mais desejados pelos caçadores; sua pele era valiosa e sua cabeça era o mais belo e invejado item de decoração – O lobo fora longe demais do rio quando seguiu um animal grande, não poderia voltar como lobo para não ser visto pelos caçadores, e sua forma humana não era rápida o suficiente para voltar em pouco tempo.

    Não queria admitir que estava preocupado. Pensava se Taehyung conseguira se alimentar sozinho – o jovem não conseguia caçar animais grandes e nem alcançar os frutos das árvores altas, também não gostava mais de comer esquilos e pássaros – ou se proteger de possíveis predadores. Foi pensando nisso que correu o máximo que pode por entre as árvores mesmo sentindo-se cansado e fraco, as passadas rápidas cortavam seus pés e a mata fechada machucava seu corpo, mas nada o impediu de finalmente chegar ao local onde o garoto descansava.

    Encolhido naquela toca, Taehyung dormia. Seu rosto parecia aflito e aquilo quebrou o coração do outro. Foi ali que Jungkook percebeu que jamais poderia devorá-lo. Jamais poderia machucá-lo de alguma forma ou o perder. Porque o moreno o amava. Tanto que queria protegê-lo e tê-lo para si para sempre. Se agachou, passando uma de suas mãos pelos cabelos loiros e finos do outro e notou que o mesmo abriu os olhos. Em um impulso o garoto se levantou, jogando-se sobre o corpo do outro e o abraçando.

    – Você voltou – sussurrou – eu te procurei tanto, mas não achei – dizia de forma desesperada – estou com fome, céus, estou com muita fome – e o outro apenas aproveitou o abraço quente.

    – Me desculpe, mas não consegui caçar nada – disse um tanto quanto envergonhado pela aproximação do outro, que estava praticamente em seu colo. Os rostos estavam próximos e era possível um sentir a respiração do outro em seu rosto. Taehyung se pronunciou:

    – Eu faço isso – disse com firmeza.

    E o loiro aproximou seu rosto, fazendo com que seus lábios se tocassem de forma lenta e suave. Jungkook pode pensar que aquele toque fora o mais gostoso que havia sentido em toda sua vida. As línguas se tocaram de forma tímida, mas logo tomaram um ritmo selvagem e delicioso, o moreno sentiu as mãos macias tocando seu pescoço e se assustou quando as unhas do outro foram cravadas ali.

    Sentiu uma mordida forte em seu lábio e o gosto de sangue invadiu sua boca; o beijo foi separado e ao abrir os olhos Jungkook viu o outro mastigando. Taehyung voltou a se aproximar, arrancando um segundo pedaço da carne daqueles lábios – que para ele tinha um sabor agridoce – O moreno não teve reação quando seu corpo foi jogado para trás e atacado ferozmente pelo loiro, que arrancava a carne com os dentes e às vezes com as unhas, rasgando a pele e se banhando com o sangue escarlate que jorrava abundantemente.

    Jungkook não teve tempo para pensar o que estava acontecendo consigo, mas o que quer que fosse, era bom. Em pouco tempo perdeu a consciência, se entregando totalmente. E quando Taehyung sentiu que não conseguia mais comer, se afastando do corpo em pedaços e olhando para o sangue em seu corpo, abaixou sua cabeça e fechou os olhos.

    – Droga, comi demais novamente.