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História Universo Paralelo - Racionalização


Escrita por: BoonamoCatSy

Notas do Autor


A todos os novos leitores, sejam bem-vindos ^^
Espero que gostem da história

Capítulo 7 - Racionalização


 

Racionalização:
ato ou efeito de racionalizar.
mat. operação de racionalizar.

 

SungAh viu as marcas da violência no rosto de Baekhyun. Mas ela não perguntou nada. Se possível, o garoto até mesmo conseguia ver um brilho contente nos olhos da tia. Ele não a aguentava.

Subiu ao quarto exausto. O corpo todo doía, mas ele quase não se importava, pois o que mais latejava era sua cabeça tentando compreender a conversa que tivera com o garoto estranho mais cedo. Baekhyun não tinha certeza se D.O. era uma pessoa interessada naquela loucura que era sua vida, por isso jogou verde quando disse que não achava que o outro era uma coincidência. Jogou verde e colheu maduro. Sua cabeça doía apenas de pensar nas diversas possibilidades.

Baekhyun quase não percebeu a presença da máquina datilográfica ali de tão concentrado na história. Quase. Em algum momento da noite ele a encarou e sentiu uma vontade de absurda de, novamente, dizer tudo o que sentia para ela. Ele escrevia para si mesmo, mas era verdade que no fundo queria que alguém soubesse das coisas que ele passava. E alguém realmente sabia. Não só sabia como respondia, e era como um vício para o pequeno garoto.

Porém ele tinha medo também. Principalmente depois de ser respondido daquela forma. Ele não queria correr mais riscos do que já corria.

Ao encarar a máquina, acabou lendo a frase “por que não?” digitada na folha. A frase que tinha o ajudado a passar por alguns dias difíceis. Logo, ele perguntou a si mesmo aquilo: por que não digitar?

Aproximou-se do objeto e digitou com receio:

“Meu dia foi uma droga”

Esperou um minuto e não teve resposta. Continuou, ainda com medo:

“Como todos estão sendo ultimamente”

Não demorou três segundos para a resposta ser digitada.

“Por que?”

 “Me bateram de novo”

 “Quem?”

Baekhyun trincou os lábios, não queria revelar nomes, não sabia quem estava do outro lado, muito menos sua índole. Ele não respondeu.

“Você sabe que pode contar comigo, não sabe?”

 “Eu não sei quem você é”

Do outro lado, Chanyeol teve que concordar com o que a máquina digitava. Ele tinha uma maneira de se apegar muito fácil aos sentimentos dos outros, mas sabia que nem todo mundo era assim, ainda mais quado isso envolvia um objeto que escrevia sozinho sem que o conectasse a outro objeto. Mas Chanyeol tinha um defeito, sua curiosidade imensa e por isso decidiu dar um passo mais íntimo.

“Posso te perguntar algo?”

Baekhyun sentiu um arrepio na espinha. Ele tinha medo dessa frase porque normalmente depois dela sempre vinha algo ruim. Por isso foi esperto em fazer um acordo.

“Só se a cada pergunta eu poder perguntar também”

 “Fechado” a resposta veio tão rápido quanto um flash

Chanyeol pensou no que poderia questionar, até que se lembrou do que Minseok tinha dito sobre a máquina estar programada por algo do passado.

“Que ano é esse?”

 “2010” a resposta foi simples e curta. O ano era o mesmo. Era a vez de Baekhyun.

“Você é uma pessoa?”

Chanyeol quase pulou da cadeira. Que tipo de pergunta era aquela?

“Claro que eu sou humano! Por que perguntaria isso?”

 “Essa é sua pergunta?”

 “Não! Ah, droga”

A máquina tinha letras suficientes pra fazer uma risada em estilo coreano, mas Baekhyun achou que ainda não seria conveniente.

“Respondendo a sua última pergunta, falei isso pra ter certeza de que não estou conversando com uma máquina possuída ou algo do tipo. Minha vez. Quantos anos você tem?”

 “18. Você?”

 “18 também”

 “Então não precisamos de honoríficos! Você está no ensino médio, né?”

 “Hey, essa é minha vez!”

 “Foi mal”

Ao perceber o que estava falando, Baekhyun parou e pensou. Como aquilo tinha virado uma conversa casual e tão íntima? Era como se ele estivesse batendo papo com um amigo de infância. O que era no mínimo estranho, já que Baek nem tinha colegas. Por diversas razões, sendo o medo daquela intimidade toda o principal, ele tentou se recompor e voltar a digitar formalmente.

“Sim, estou no último ano do ensino médio. Agora tenho direito a duas perguntas”

 “A vontade”

“De onde você é? E por que quer me ajudar tanto assim?”

 “Seoul” A primeira resposta veio rapidamente, mas a segunda demorou uns dois minutos para começar a ser digitada. “Essa é difícil de explicar. Na verdade nem sei se consigo, só sei que tenho essa vontade. Seja você quem ou o que for”

Dois minutos se passaram.

“Boa noite” Baekhyun disse por fim, tirou o papel do rolo da máquina e a cobriu com um pano branco para depois se deitar.

Chanyeol ficou seriamente pensando se havia dito algo de errado. Será que a outra pessoa não tinha gostado da resposta que ele deu? Mas o garoto alto não podia fazer nada, era a verdade, aquilo era o que ele sentia na mais pura sinceridade. Ainda preocupado, deitou e após algumas horas pegou no sono.

Chanyeol estava errado. Não havia nada de errado em sua resposta. Baekhyun só não esperava aquilo.

Aquela felicidade repentina.

 

========

 

Naquela noite Baekhyun teve três sonhos.

O primeiro era parecido com um que ele tivera há dias. Estava em seu quarto, mas não o seu quarto. Tinha certeza de que o lugar era o mesmo, mas a decoração estava diferente e os móveis mudados. Sentiu também aquele calor infernal e olhou de relance para a janela que dava à sacada. Prédios. Muitos prédios. Brilhantes e majestosos, de uma engenharia que ele nem imaginava que seria possível. O ar da poluição tomava a paisagem, mas ainda era lindo, completamente diferente da paisagem que ele via de seu quarto, onde existia apenas prédios pequenos e uma cidade completamente cinza e sem cor.

Quando olhou para a cama observou a forma humana entre os lençóis. O coração do pequeno deu um salto ao se lembrar de quem encontrou na última vez que sonhou com aquilo. Era a mesma pessoa. A pessoa que ele mais odiava em todo o mundo.

Park Chanyeol.

Porém o rapaz estava adormecido em sua cama, com sobrancelhas franzidas e testa com algumas rugas, como se antes de adormecer estivesse pensando em algo muito complexo. Dormindo ele parecia menos assustador para Baekhyun, que ficou encarando as expressões que o outro fazia durante o sono.

Se tivesse se livrado do ódio que sentia naquele momento, Baek teria percebido como aquele Chanyeol parecia diferente do que ele conhecia.

Ele quase percebeu.

O sonho se esvaiu em uma fumaça de névoa e o menino foi trasportado em uma memória.

SungMin, sua mãe, estava sentada na cama. O corpo do garoto era menor também, já que tudo parecia maior. Seu pai estava atrás o empurrando em direção a mulher que quando o olhou arregalou os olhos e se afastou. O menino parou e observou o rosto pálido e doentio dela.

Ele lembrava daquela época. Quando sua mãe repentinamente passou a rejeitá-lo como se ele fosse um demônio. Baekhyun lembrava da última vez que a viu. Os olhos escuros, o rosto magro depois de dias sem comer, o corpo esguio e pálido. A pior imagem que ele tinha visto em toda sua vida foi sua mãe daquele jeito, gritando para ele sair de perto dela.

De repente o clima quente havia voltado. Não era mais uma memória e ele sabia disso. Estava flutuando em cima de um escritório, com uma mulher sentada na cadeira principal da mesa.

A mulher era sua mãe.

Mas estava mais saudável e mais velha. Era como se o tempo tivesse passado para ela também. Como se ela não tivesse morrido há anos atrás.

Ela mexia em alguns papéis do escritório, como fichas de pessoas. Algumas fotos iam passando. No canto da mesa Baekhyun viu uma foto dele com ela. Uma chama se acendeu em seu corpo, tudo pareceu girar em uma velocidade fora do normal. Ele se lembrava daquela foto. Lembrava de ter corrido até o lago do parque, pedido para um senhor que estava ali para tirar uma foto dele e seus pais. Todos os três sorrindo como se aquele dia fosse o melhor dia de todos.

Sem o sentimento de ódio em sua cabeça, Baekhyun percebeu aquilo que não tinha percebido com Chanyeol antes.

Elas não eram a mesma pessoa.

 

========

 

— Se liga nisso! — Chanyeol praticamente esfregava o papel da conversa no rosto de Minseok

— Me dá isso logo — o mais baixo tomou a folha e leu tudo o que tinha nela — Cara…

— Viu? Sua teoria estava errada. Errada!

Minseok apenas olhava o horizonte com as sobrancelhas franzidas tentando achar alguma outra explicação que fazia sentido.

— E agora Minnie? — Chanyeol puxava os cabelos para cima, fazendo-o parecer um cara completamente louco — Eu não faço ideia de como explicar isso!

— Acho que só nos restou uma alternativa.

— Qual?

— Procurar na internet — Xiumin disse por fim.

Os dois garotos se entreolharam e correram para o computador que ficava no escritório da casa. Xiumin até mesmo ligou a internet de seu celular última geração, com botões simples de usar e modelo portátil de abre-e-fecha. Os dois digitavam como loucos coisas completamente sem sentidos como “objetos que se comunicam” “fantasmas na casa nova” ou “eu converso com um amigo imaginário(?)”. Obviamente, as respostas que saíram foram tão loucas quanto as perguntas. Coisas como “Precisa de ajuda para lidar com atividades paranormais? Ligue já em nosso número! Fazemos limpeza espiritual e comunicação com entidades por um preço acessível. Venha conhecer nossos serviços!”.

Os dois estavam quase desistindo até que Chanyeol encontrou um site escondido nas profundezas do Google. O ufosandfriends.com.kr ofereciam muitas informações sobre OVNIS e derivados, mas apenas um post chamou a atenção do garoto.

Intitulado “Falha na matrix” o texto tinha traduzido diversos comentários de pessoas que mandaram suas experiências através de um fórum. Haviam relatos de todos os tipos, mas a grande maioria era de gente comum, fazendo coisas do dia a dia, quando de repente tiveram uma experiência completamente anormal, onde pressupunha-se que vivemos em uma realidade simulada e que as vezes acontecia uma “falha” entre as realidades.

As histórias variavam de pessoas que perderam horas do dia, à outras, que passaram no mesmo lugar sem voltar no mesmo ou de elevadores que alcançavam andares que não existiam.

Mas o relato que mais chamou atenção do rapaz foi o de um homem que viu a esposa morta há anos caminhando pela rua como se não o conhecesse. Ele dizia que ela parecia brilhar como um holograma e que sequer reparou na presença dele. Depois de praticamente surtar e perguntar se mais alguém a viu, todos disseram que não, mas o homem tinha certeza do que tinha acontecido.

Claro que qualquer pessoa que lesse aquilo poderia pensar mil e uma coisas. Mas as características semelhantes fizeram todos os pelos de Chanyeol se arrepiarem.

— Minnie, olha isso.

Xiumin se aproximou e leu o relato.

— O que? Você acha está vivendo uma falha na matrix?

— Eu não sei cara, mas é bem parecido.

— Chanyeol! — A mãe do garoto falou do outro lado da porta e ele teve de fechar a página rapidamente antes que a mulher visse aquela interface cheia de ETs na tela do computador.

— O-Oi mãe — sorriu amarelo.

— Arrume-se, você vai na nova psicóloga hoje.

O sorriso do garoto se esvaiu devagar.

Quem visse Chanyeol e Minseok como dois garotos risonhos nem imaginaria as coisas que os dois já passaram. Vindos de uma cidade do interior, os dois sofreram bastante na vida.

O pai de Chanyeol saiu de casa depois que o garoto se assumiu gay para a família. Depois disso, os boatos correram como um raio pela cidadezinha. A mãe do garoto prometeu nunca abandoná-lo porque ela o amaria de qualquer jeito, mas ele via os olhos tristes dela, a forma que ela o olhava se sentindo decepcionada.

A mãe do rapaz começou a pagar um psicólogo para ajudá-lo a passar pela fase. No fundo ele sabia que ela queria que ele mudasse e fosse “normal”. Mas Chanyeol não tinha culpa de amar pessoas do mesmo sexo.

A mãe de Minseok sofria violência doméstica, e depois de anos sendo violentada ela resolveu se divorciar e mudar para Seoul. A vida para Chanyeol e sua família também estava difícil com várias retaliações no interior, então logo após se mudaram também para a mesma vizinhança.

Chanyeol tinha uma nova casa, nova escola e agora uma nova psicóloga.

Mas o antigo olhar decepcionado de sua mãe continuava lá.

========

 

O refeitório estava cheio como de costume. Baekhyun era o único excluído das panelinhas do colégio. Mas ele já estava acostumado a se sentar sozinho em uma mesa do canto.

Sentiu um baque forte nas costas e algo descendo por suas roupas. Alguém havia jogado um waffle com creme no garoto.

Era Chanyeol.

Logo depois Kris segurou um ovo cozinho nas mãos.

— Ah cara, já disse que não gosto de ovos nessa escola. Acho terrível ter que jogar comida no lixo.

Jogou o ovo no cabelo do garoto menor com tanto força que esfarelou por toda a cabeça.

Todos do refeitório apenas observavam, alguns até soltavam uns risinhos de pura maldade.

Baekhyun pegou sua bandeja, caminhou de cabeça abaixada, entregou todas as vasilhas para a merendeira e saiu do refeitório. Ao entrar no banheiro viu a sua situação decadente. Os olhos já lacrimejavam prestes a chorar, o cabelo completamente sujo e as roupas grudadas na pele pelo creme.

O choro já descia enquanto ele limpava tudo e jogava água nas roupas. Ele não aguentava mais. Estava prestes a retirar as luvas e pegar em algum metal para A Coisa derrubar aquela escola toda. Mas ele se conteve e apenas apertou um dos tubos onde passava fios de eletricidade.

Baekhyun realmente estava explodindo.

 

========

Chanyeol esperou uns dez minutos na recepção. O escritório da nova psicóloga era todo trabalhado na madeira, com várias frases de avisos de horários espalhados pela parede.

Sua mãe lhe dizia que pagava um psicólogo para que ele passasse por aquela “fase” da melhor maneira possível. No fundo ele sabia o que ela queria dizer. Por mais que o amasse, ainda tinha uma mente tradicional e via a opção sexual do filho como uma gripe que ele pagava e depois sumia.

Como uma fase.

Em meio aos seus devaneios, Chanyeol quase não escutou quando seu nome foi chamado.

Na segunda vez que a mulher o chamou, ele se assustou e levantou no pulo. Desajeitado ele caminhou até a sala e fechou a porta.

A mulher sorria, mas era perceptível o cansaço nos olhos dela.

— Olá Chanyeol, entre e fique à vontade. Eu sou SungMin, sua nova psicóloga.


Notas Finais


Acho que nunca dei tantas dicas como dei nesse capítulo. Na verdade dá pra saber quase tudo se prestar atenção nele haha.
Bom, primeiro queria dizer que a fic tem um trailer!! Vejam lá ficou super legal.
https://youtu.be/rnmaa73YAi8
Segundo, quero pedir que comentem, pois essa história é movida em grande parte pelo mistério. Eu sei o que acontece e como ela acaba então o suspense não funciona em mim, por isso preciso saber de quem vê de fora como a história está se desenvolvendo.
Comentem o que acharam. Beijos, até o próximo capítulo <3


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