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História Os Garotos - Capítulo 09 - A Velha Casa Nova


Escrita por: andreiakennen

Notas do Autor


Agradecimento a todos que favoritam, colocam a fic no acompanhamento, mas vai meu muito obrigada especial para todos que comentam: Ellionay, DudsMendes, Saar-Louella, Andreunios, Disukidragon!
Espero que gostem!
Boa leitura!
Bom feriado!

Capítulo 9 - Capítulo 09 - A Velha Casa Nova


Os Garotos

Por Andréia Kennen

Capítulo IX

A Velha Casa Nova

Seiya estava de passagem pelo porto, quando seus antigos companheiros de trabalho o avistaram.

— Ei, Seiya, qual é o motivo da pressa? Está fugindo da polícia?

— Vai para o inferno, Natano!

— Olha a boca suja, seu malcriado!

Seiya resolveu parar e conversar com eles.

— Eu estou indo para minha nova casa e, para sua informação, estamos fazendo reformas.

Ao ouvirem a voz do ex-colega, o grupo todo se reuniu no convés da embarcação atracada e alguns deles caíram na gargalhada com aquela informação do rapaz que até uns dias atrás estava para ser despejado do pequeno quarto onde morava.

— Do que você está falando, Seiya? Ficamos sabendo que o seu senhoril estava prestes a te despejar. Ou será que ele conseguiu fazer e você está reformando uma barraca de papelão debaixo da ponte?

Houve uma nova remessa de risadas debochadas e o senhor Tanaka, que sempre gostou muito de Seiya, foi quem os repreendeu.

— Vocês não têm vergonha de debocharem da situação crítica que está vivendo uma criança?

— Não se preocupe, Tanaka-san — respondeu Seiya com um grande sorriso para o senhor que sempre o tratara com respeito e consideração. — Assim que a reforma se concluir eu irei convidá-lo para tomar chá.  Agora eu preciso ir, a minha casa fica naquela direção, de frente da praia, então, de vez em quando estarei passando por aqui. Bye, bye! — ele acenou e voltou a andar depressa.

O senhor Tanaka retribuiu o aceno.

— Vá com cuidado, meu filho.

— Casa na beira da praia, é? — pensou alto Natano, com a bituca de cigarro semi-acesa balançando no canto da sua boca. Mas logo seu pensamento virou riso. — Acho que ele endoidou de vez.

— Ou está fazendo algo ilegal — respondeu Katsuya arrogante e com um tom invejoso de sempre, sentindo-se ferido. — Um morto de fome como o Seiya não pode ter conseguido uma casa na praia do dia para noite.

 — Largue de ser venenoso, rapaz. Você sempre teve inveja do garoto — repreendeu o senhor Tanaka.  

Katsuya inflou as bochechas para soltar uma boa resposta para o velho Tanaka, mas não teve tempo, pois o chefe deles, Kanamura, saiu da sua saleta na embarcação e ficou irritado ao ver todos os empregados parados.

— O que significa isso? Por que estão vadiando?

— Foi por culpa do Seiya, senhor!

— Seiya? — O velho ficou ainda mais nervoso ao ouvir o nome do garoto que sempre fora seu tormento e a face redonda ganhou um tom intenso de vermelho. — E onde está o vagabundo do Seiya?

— O senhor o despediu, chefe, lembra?

— Ah? Isso é verdade. Então por que diabos estão me dizendo que ele é o culpado? Estão tentando me fazer de idiota? Voltem para o trabalho agora mesmo!

O grupo se dispersou rapidamente.

— Aquele maldito, moleque. Ainda não entendi porque ele não voltou chorando pedindo para ser reempregado.  

— Talvez ele tenha conseguido um novo emprego — Katsuya, que se mantivera sondando a reação do chefe, aproximou-se sorrateiro.

— Um novo emprego?

— Sim. E pelo jeito ele deve estar ganhando muito bem. Pois disse que está reformando sua nova casa e que ela fica na beira da praia — destilou um pouco mais do seu veneno.

 O velho Kanamura arregalou os olhos.

— Mas eu não posso perder um escra-... digo, um empregado como o Seiya para o concorrente. — O velho pensou um pouco, enquanto alisava o queixo arredondado, logo tornou para o empregado. — Faça-me um favor, Katsuya-kun, encontre esse moleque e tente descobrir o que ele anda fazendo.

— Posso mesmo? E o serviço? 

— Será um serviço extra, com a minha permissão.

— Sim, senhor — bateu continência. — Agora mesmo!

— Prometo que será bem recompensado se me trouxer boas notícias.

— Sim, farei o meu melhor!

O chefe voltou para sua saleta, e os demais colegas, que ouviram tudo as escondidas, se reaproximaram de Katsuya.

— O que você pretende com isso, hein, Katsuya? — perguntou Natano, desconfiado.  

— Apenas desmascarar o idiota do Seiya. Ele acha que pode vir aqui e nos humilhar dizendo que vai morar em uma casa de frente da praia e sair tranquilo? Terei o prazer de mostrar para todos vocês que ele está mentindo. Esperem e verão.

Katsuya deu uma alta gargalhada, como se fosse um tipo de vilão de novela, e seguiu para a rampa que descia para o cais.

Os demais colegas apenas balançaram a cabeça negativamente e voltaram ao trabalho.

...

Katsuya andou por toda orla da praia durante parte da manhã, procurou em todas as casas do local alguma que estivesse sendo reformada e não encontrou nada. O único lugar que parecia em reforma naquela região era uma parte do complexo que formavam o antigo orfanato.

Cansado e suado do calor escaldante que fazia naquele dia, ele encostou-se ao muro, tirou o boné e ficou se abanando.

“Eu não disse que esse Seiya está ficando maluco?”, pensou consigo mesmo, até que uma fala chamou sua atenção.  

— Oi! Alguém viu o Seiya?

Katsuya arregalou os olhos ao ouvir aquela fala e o susto o fez encostar-se mais ao muro, quase como se quisesse se tornar parte dele.

“Então, é esse mesmo o lugar?”, se perguntou, virando-se e ficando nas pontas dos pés, esticando-se até sua cabeça ultrapassar a altura do muro — que não era muito grande — e ele conseguir contemplar a parte superior do complexo de dois andares.

A residência estava mesmo sendo reformada e se fosse servir como moradia, seria praticamente uma mansão. Somente pessoas muito ricas possuíam um imóvel daquele tamanho no país.

— Você me chamou, chefe? — viu quando Seiya apareceu, parando diante de um homem alto, de aparência dura.   

— Pare de brincadeiras, Seiya — este o advertiu. — Temos muito serviço a fazer, venha vou te mostrar o trabalho.

Katsuya abriu um sorriso sádico.

“Chefe? Agora eu entendi. Morando em um casarão de frente a praia hein, Seiya? Você está é trabalhando na reforma desse lugar, seu pequeno mentiroso. Mas antes de voltar correndo para contar a novidade, vou fazer de tudo para que seja demitido e que volte implorando serviço para o senhor Kanamura. De quebra, vou ganhar uma promoção por trazê-lo de volta”, completou com uma nova risada, desta vez, resmungada, afinal não podia fazer barulho e ser descoberto, senão seu plano iria por água abaixo antes de começar.

...

Dentro do casarão, os poucos móveis que restaram estavam coberto por lençóis e havia jornais espalhados por todo o assoalho. A casa estava praticamente vazia e não precisaram de uma avaliação profissional para os cinco futuros moradores notarem que o lugar precisava de uma reforma geral. Havia buracos no teto, na parede e o chão estava ruído e rachado.

— Nunca percebi o quanto esse lugar era grande — exclamou Seiya, completando com um assobio.

— Éramos em muitos quando pequenos, Seiya — respondeu Ikki. — Por isso tínhamos a impressão que o lugar era pequeno e apertado. O problema é que a casa está realmente em péssimo estado. Bem que a doutora Kanagawa tinha razão, gastaremos todo o valor da nossa indenização nessa reforma.

— Todo?

— Sim, Seiya. Todo. Isso, se não faltar.

— M- mas, bem, nós teremos a ajuda de custo mensal, então, não há problemas em gastar todo esse dinheiro agora, né?  

— É, mas eu estava conversando com Shiryu e tínhamos cogitado a ideia de deixarmos uma parte guardada para ir ajudando a suprir com as despesas mensais, porque manter uma residência desse tamanho, na beira da praia, não sairá muito barato. É quase certeza que esse subsídio ainda será pouco. Teremos que poupar o máximo.

Seiya coçou a cabeça, não entendia muito daquelas coisas, mas achou que aquele não era um problema para eles se preocuparem naquele momento.

— De qualquer forma, vamos parar de conversa — Ikki declarou ao notar que Seiya parecia confuso. — Temos muito trabalho a ser feito.

— Concordo! Cadê os outros?

— O Shiryu está no piso superior, trocando o assoalho dos quartos. E o Hyoga está arrumando os encanamentos.

— E o Shun?

— Ele voltou no apartamento da família Kanamoro, parece que ele ainda tinha deixado algumas coisas para trás e foi buscar.  

— Entendi.  

— Vamos começar logo o trabalho, Seiya. Vem, vou te mostrar o que irá fazer.

Katsuya, que estava do lado de fora da casa, embaixo de uma das janelas, não conseguiu ouvir direito a conversa completa, mas entendeu bem a parte que o homem de cabelos negros e aparência assustadora, falou que iria passar o serviço para Seiya.

“Não pense que irá dar conta do trabalho comigo por perto, Seiya. Seu dia hoje será altamente improdutivo” e começou a rir, quando ouviu um grito de alerta.

 — Cuidado aí em baixo! — gritou Shiryu e despejou pela janela do segundo andar uma cascata de lascas velhas de assoalho.

— Socorro!

A chuva de lascas veio muito rápida e Katsuya não conseguiu escapar e acabou sendo soterrado.

— Você ouviu alguma coisa, Shiryu? — perguntou Hyoga, enfiando a cabeça por uma das janelas. 

— Parece que sim. Será que foi o Seiya? Seiya?

— Eu estou aqui — ele apontou em outra das janelas.

— E o Ikki?

— Estou aqui com o Seiya.

— Deve ter sido só nossa imaginação.

— Verdade — e os três voltaram as cabeças para dentro.

Katsuya saiu com dificuldade debaixo do entulho.

— Droga — tossiu, soltando alguns fiapos de madeira pela boca. — Maldito seja, Seiya! 

...

Enquanto isso, no apartamento da Família Kanamoro, Shun terminava de arrumar o restante de suas roupas em sacolas enquanto conversava com o diretor Soujiro.

— Se o senhor quiser, eu fico no estúdio até que encontre um substituto, Soujiro-san.

— Nem pensar, Shun. Você tem prioridades agora. Além da reforma da casa, o teste de nivelação escolar não vai ser nada fácil, você precisa rever as matérias escolares junto com seus colegas para que não tenham que refazer a escola desde o ensino primário. E vocês terão muito pouco tempo para estudar, pois falta menos de um mês e meio para o ano letivo começar. Tenho certeza que com sua capacidade conseguirá se nivelar em uma série adequada para sua idade.

Shun ficou tão agradecido que curvou o corpo para frente assim que o diretor terminou de dar seus conselhos e o agradeceu profundamente.

— Muito obrigado, Soujiro-san.

— Não me agradeça, filho. Eu não fiz nada demais. Só estou te dando alguns conselhos e o apoio que merece. Sentirei muito a sua falta, confesso. Mas estou imensamente feliz por você — e puxou Shun para seu peito, o abraçou, tendo que engolir a comoção que queria fazê-lo chorar.

Havia se passado quase um ano desde que se esbarrou com aquele menino no centro de Tóquio. No começo ficou em dúvidas se Shun era uma garota vestida como menino ou se era um menino de verdade, devido ao rosto que, definitivamente, achou muito bonito, além de os olhos grandes e verdes, os quais não pareciam ser lentes.

Enquanto o via se desculpar seguidas vezes, naquela ocasião, mesmo sendo o culpado pelo esbarrão, Soujiro permitiu-se admirar a beleza de alguém.

— Não se preocupe, eu fui o culpado — precisou repetir algumas vezes até vê-lo ficar envergonhado, ao ponto de suas bochechas brancas ganharem um tom rosado, e apenas depois disso que ele se conformou e voltou a encarar a placa de “Precisa-se de garçons” da vitrine de um restaurante.

— Você está procurando emprego, não é mesmo? — o abordou curioso. — Você sabe que poderia ser modelo? Tem um rosto bonito, é alto e esbelto. Se quiser, conheço alguns contatos — retirou do bolso um cartão de visitas e o estendeu para o rapaz. — Meu nome é Soujiro Kanamoro, sou diretor de televisão, se estiver mesmo precisando de emprego e quiser tentar esse ramo, posso te indicar bons profissionais. Fale com seus pais, terá que ter autorização deles.

Foi naquele instante, em que viu o rosto antes animado diante de uma possibilidade de emprego se esmorecer, que Soujiro entendeu algo que fez seu coração apertar: aquele garoto, de beleza pura, estava sozinho no mundo.

Convidou-o para tomar um café naquela tarde e o diretor acabou descobrindo toda a vida daquele rapaz. A princípio se preocupou por ele ser tão descuidado e falar tão abertamente com um estranho, mas quando o viu se defender do assédio de um cara que tinha a pinta de mafioso, o dobro do seu tamanho e o triplo da sua espessura, apenas com uma chave de braço, percebeu que estava se preocupando a toa.

— Ele vem me seguindo desde que entrei para ver uma proposta de emprego em um estabelecimento em um bairro não muito distante daqui — explicou. — Mas quando eu vi o lugar, senti algo ruim e achei que não era para mim. Pedi desculpas e disse que não tinha mais interesse na vaga. Mas o dono do lugar, que é um pouco parecido com esse, por algum motivo, não aceitou minha recusa e desde então esse senhor fica me seguindo pedindo para eu voltar. Desculpe-me o transtorno, Soujiro-san — Shun curvou-se pedindo desculpas.

— Por isso estava tendo mais cuidado ao olhar aquele anúncio do restaurante, não é?

— Sim. Não queria passar por um novo mal-entendido.

 O homem que fora agredido se levantou com as mãos nas costas e ainda insistiu.

— Por favor, garoto. O chefe quer que você volte.

— Ei — Soujiro apontou o dedo de forma ameaçadora para o homem. — Escute aqui, meu caro, ele vai trabalhar comigo em um lugar decente. Diga para o seu chefe que é melhor ele manter-se longe dessa criança ou vou chamar a polícia para os dois.

O capanga arregalou os olhos e rapidamente tomou seu rumo.

Notou, naquele momento, pelo olhar confuso de Shun que ele era ingênuo suficiente para não entender o que aquele homem e seu chefe realmente queriam. Ele recusara a proposta por mero instinto e, mesmo sendo muito forte, Soujiro sentiu que aquele garoto precisaria de alguém para norteá-lo.

Desde então, decidiu tutelá-lo e arrumar para ele um emprego decente. Ficou contente quando o próprio Shun disse que não tinha muita vocação para modelo ou artista, justificando que sentia muita vergonha. O próprio diretor pensou melhor sobre o assunto e concluiu que seria interessante não expô-lo, pois atrairia mais olhares de gente de interesse duvidoso.   

Apenas agora, desde o primeiro encontro, sentia-se confortável em permitir que Shun partisse. Mas o rapaz ainda era ingênuo e inexperiente para muitas coisas, todavia, tanto o irmão de sangue quanto os outros três não de sangue, pareciam jovens fortes e confiáveis. Shun ficaria bem. Suspirou fundo e afastou o menino dos seus braços, encarando seus belos olhos.

— Se tiver qualquer problema, Shun. Qualquer que seja. Não pense duas vezes em vir me procurar, está bem? 

— Sim, Soujiro-san — Shun concordou, limpando as pequenas lágrimas que começaram a surgir nas margens dos seus olhos.

— Por favor, não chore, ou eu vou chorar também. E confesso que sou um pouco velho para ficar me derramando em prantos como criança.  

— Está bem — ele assentiu e o diretor foi até a cômoda, onde havia deixado um envelope o qual apanhou e estendeu-o na direção de Shun, que o encarou sem entender.

— Guarde junto com as suas coisas e tenha cuidado para não perder.

Shun apanhou o envelope e seus olhos se arregalaram ao ver as várias notas que havia dentro. Voltou a estendê-lo para o diretor, com o corpo curvado.

— Desculpe-me, Soujiro-san, mas não posso aceitar.

— Eu quem não vou aceitar recusa desta vez, Shun — o diretor disse firme e expôs a palma da mão para o rapaz em um gesto de recusa. — Você sempre se negou a receber seu salário com a desculpa que o valor era para arcar com suas despesas em minha casa, mesmo que não fosse necessário deixar todo seu honorário comigo. Digamos apenas que guardei o que sobrou e juntei para te entregar em uma ocasião futura. Pegue, esse dinheiro é seu. Você trabalhou para tê-lo.

O tom raramente imperioso do diretor fez com que Shun recuasse com o envelope e, mesmo achando que não deveria, acabou aceitando.

— Arigatô. 

Soujiro sorriu satisfeito.

— Assim é melhor. Agora vá se despedir da Kally. — O pai da jovem atriz coçou a cabeça. — Agora você vai precisar de boa sorte, ela está trancada no quarto com aquele ‘tipo’ de humor.

Shun sorriu e não se intimidou com aquele alerta do adulto. Apanhou suas coisas, deu uma última olhada no seu antigo quarto e depois de outra breve reverência, seguiu em direção ao cômodo vizinho.

— Não quero ver ninguém — Kally respondeu depois que ouviu baterem na porta. — Vá embora.

— Desculpe-me, mas eu já entrei — disse Shun, após abrir a porta, entrar e voltar a fechá-la.

Kally estava deitada na cama, enrolada no edredom, com o ar-condicionado ligado no último. Ela cobriu a cabeça assim que Shun ascendeu a luz do quarto.

— Kally, eu estou indo.

— Odeio despedidas, Shun. Não faz isso comigo.

— Eu não estou indo embora do planeta, Kally. Só estou mudando de casa. Poderá me visitar quando quiser.

— Logo você vai se esquecer que eu existo.

— Não se esquece uma estrela. Estarei sempre acompanhando você pela televisão. Acho que é mais fácil você se esquecer de um anônimo como eu. 

— Não, isso nunca! — ela irrompeu, descobriu-se e levantou da cama em um impulso, jogando a coberta para fora dela e agarrando-se ao pescoço de Shun em seguida. Então se permitiu chorar abraçada a ele. — Eu nunca vou te esquecer, Shun. Nunca. Está me entendendo?

Shun assentiu, correspondeu ao abraço e os dois ficaram assim por um bom tempo.

...

De volta ao casarão e a reforma, Katsuya estava empenhado no seu plano em fazer com que Seiya fosse “despedido”, enquanto trabalhadores no local estavam empenhados em seus serviços. Ele juntava areia em um saco plástico, repassando a ideia que tivera.

“Vou entupir o encanamento com essa areia e quando a casa estiver inundada, Seiya levará um chute tão grande do seu novo patrãozinho, que ele irá parar chorando no nosso convés, implorando para o Kanamura-san seu emprego medíocre de volta”, pensou, segurando a gargalhada.  

Seiya estava limpando os azulejos do boxe do banheiro distraidamente, quando Katsuya entrou e despejou toda a areia que havia trazido dentro do vaso sanitário, então saiu da mesma forma sorrateira que entrou e ficou esperando até ouvir o barulho da descarga e, na sequência, os gritos desesperados de Seiya.

— Merda, merda, merda! O que tá acontecendo? A água do vaso não está descendo.

Katsuya cobriu a risada com uma das mãos e saiu de fininho.   

Ikki sentiu uma gota de água pingar na sua cabeça, olhou para cima e viu aquela mancha de umidade se espalhando pelo teto.

— Mas o que diabo está acontecendo lá em cima?!

Subiu as escadas rapidamente e assim que pisou na parte de cima viu que a água que vinha debaixo da porta do banheiro estava inundando o assoalho.

Shiryu saiu desesperado de um dos cômodos e levou as mãos na cabeça ao ver aquela bagunça.

— O assoalho que eu acabei de trocar!

— Eu até imagino de quem é culpa... — resmungou Ikki trincando os dentes e indo na direção da porta fechada do banheiro, mas bastou escancará-la para a enxurrada quase derrubar Shiryu e ele.

A bacia sanitária havia sido arrancada e o local onde ela estivera estava jorrando água.

— O vaso estava entupido! — tentou justificar um nervoso Seiya. — Eu fui tentar desentupir e acabou quebrando — explicou, enquanto tentava amparar a pressão da água com suas mãos.

Ikki não pensou muito para chamar o ex-cavaleiro do gelo.

— Hyoga, corre aqui!

— O que houve? — o loiro apareceu atrás de Shiryu e Ikki como se tivesse surgido em um passe de mágica. — Estava mexendo no encanamento da cozinha e de repente a água sumiu.  

— Veja e deduza por você próprio. Agora faça alguma coisa.

Em apenas alguns segundos começou a nevar dentro da casa e a água que se espalhava rápida pelos cômodos foi se solidificando e se transformando em um gelo límpido e reluzente.

Ikki, Shiryu e Seiya que estavam com as roupas encharcadas acabaram congelados também e passaram a tremer de frio.

— O- o- obrigado, H- Hyoga.

— Não foi nada. Vou encontrar a válvula principal e desligar a água para que possamos remover esse gelo. Já volto.

...

Depois de removeram todo gelo da casa, Ikki remanejou as tarefas. Hyoga ficaria responsável pelos encanamentos e deu a Seiya uma nova tarefa: ajudar Shiryu na troca das telhas quebradas.

— Não é tão difícil, né, Seiya? — perguntou Shiryu, mostrando como se fazia. — Você retira a telha quebrada com cuidado e coloca a nova no encaixe desse jeito, dá umas batidas de leve, e vai juntando as velhas do seu lado para podermos descê-las com cuidado depois. O Ikki me deu uma bronca por despejar entulho pela janela, ele não quer mais que façamos sujeira lá embaixo.

— Isso parece muito fácil, Shiryu — afirmou Seiya, mostrando para Shiryu que havia aprendido ao repetir perfeitamente o passo a passo do amigo. — Assim, né?

— Isso, perfeito. Vou deixar você fazendo esse lado sozinho enquanto eu faço o outro. Assim terminamos mais rápido.

— Sim, senhor — bateu continência.  

— E não brinque, Seiya. Faça o serviço a sério ou Ikki vai ficar bravo de verdade.

— Sim, sim, eu já sei — respondeu chateado.

Katsuya, que não havia se dado por vencido e continuava seguindo Seiya com a intenção de atrapalhar seu trabalho, acompanhou toda conversa de cima de uma árvore. Em uma das mãos ele segurava um gato e na outra uma pequena marmita com sanduíches de atum que havia comprado de um vendedor ambulante.

— Veja gatinho, olhe só que delícia, está com fome, não está? — mostrou a marmita para o gato que farejou inquieto o recipiente. — Que tal um sanduíche de atum delicioso, hã? — sussurrou e o felino miou alto em resposta, os olhos grandes e amarelos brilharam enlouquecidos com o cheiro da comida e, não contendo a fome, o gato de rua grudou as garras afiadas na mão do homem.

“Ah, bicho maldito!”, ele choramingou de dor em silêncio e desgrudou o bicho da sua mão ao puxá-lo pela nuca e soltá-lo em seguida. 

Habilidosamente o animal pousou sobre o tronco da árvore e passou a rodear a perna do homem esfregando a cabeça e seu corpo nele, fazendo um agrado para que lhe desse a comida. Katsuya decidiu agir de uma vez, abriu a marmita, apanhou um dos pequenos sanduíches bem dispostos dentro dela e o lançou em cima do telhado.

— Pronto, vai pegar!

Mas o felino não precisava da ordem, ele havia disparado na direção do alimento assim que ele fora lançado. Antes que o gato voltasse atrás de mais, o ex-colega de trabalho de Seiya passou a arremessar os demais pedaços no telhado e, enquanto o gato corria atrás da comida, passava pelas telhas soltas fazendo-as escorregar e despencar na parte debaixo.

De dentro de casa, Ikki ouviu o barulho das primeiras telhas caindo e estilhaçando no quintal. Correu para a janela mais próxima e colocou a cabeça para fora e confirmou que estava certo: as telhas velhas estavam sendo jogadas no quintal e causando uma bagunça.

De repente, um alerta do seu cosmo o avisou de um perigo e rapidamente ele recolheu a cabeça para dentro da casa, sentindo uma telha passar de raspão por seu rosto e logo se despedaçar ao chocar-se com a calçada.

Crispou os punhos.

— Shiryu?! — gritou Ikki para o chinês. — O que eu falei sobre não jogar as porcarias das telhas no chão?!

Shiryu estava tão entretido em seu trabalho que não ouviu a voz de Ikki explosiva dentro de casa, porém, ouviu o barulho de algo se quebrando do lado de Seiya e resolveu verificar o que estava acontecendo. Foi então que seus olhos se arregalaram não conseguindo acreditar no que estava vendo: Seiya corria desesperado atrás de um gato de rua e no processo ambos derrubavam as telhas velhas; desesperou-se.

— Seiya, o que está fazendo?! O Ikki vai nos matar!

— A culpa é desse gato desgraçado, Shiryu! Espere aí, eu já estou alcançando ele.  

— Apenas enxote-o, Seiya, esses animais são ariscos e costuma arra-...

Era tarde, Seiya apanhou o felino pelo seu corpo magro e enquanto comemorava gritando um alto “Eu peguei ele”, teve sua face atacada e arranhada pelas garras afiadas do bichano.

...

Katsuya abafava as gargalhadas enquanto ouvia Seiya receber uma nova e pesada bronca.

O moreno estava sentado com os joelhos dobrados na grama do jardim, apoiando o peso do corpo nas próprias pernas, enquanto Ikki, em pé, bronqueava sem parar, apontando o dedo para ele e gesticulando muito. 

— Você já pensou no tanto de prejuízo que nos causou somente hoje, Seiya? Como consegue se tão desastrado? Como? O que está tentando fazer? Destruir a casa que você quis tanto?  

— Mas tem algo de errado acontecendo, Ikki. Esses acontecimentos estão estranhos! É como se uma força externa estivesse conspirando contra nós.

— A única força externa que está conspirando contra aqui é você, Seiya. Olha, façamos o seguinte: não faça nada, está bem. Vá dar uma volta — ordenou, apontando a saída.

— Mas eu não quero ficar sem fazer nada — ele balbuciou choroso e pensou em algo. — Eu posso ir buscar comida?

— O Shun está chegando e ele disse que está trazendo pizzas. Não tem nada em que você possa ser útil no momento. Apenas fique longe, por favor.  

De longe, escondido atrás do tronco da única arvore no quintal da residência, Katsuya presenciou a discussão. Não conseguiu ouvir uma palavra do que diziam, devido a distância, mas viu perfeitamente quando o rapaz mais velho, com cara de mafioso, apontou a direção da rua para Seiya e deu as costas para ele. Em seguida, viu Seiya seguir na direção apontada de cabeça baixa, e quase pode visualizá-lo com orelhinhas de cachorro abaixadas e o rabinho entre as pernas.

Esperou o homem o qual acreditava, agora, ser o ex-chefe de Seiya, voltar para dentro da casa e saiu do seu esconderijo para ir atrás do adolescente.

 “Eu consegui! Consegui!”, ele comemorava dando pulos no ar. “Sou um gênio do mal. Seiya foi despedido. Agora é a minha chance de tirar uma com a cara dele”.

Rapidamente alcançou o garoto moreno que caminhava a passos lentos.

— Olha só quem eu reencontrei — entoou alto e sarcástico.

— Katsuya? — Seiya surpreendeu-se ao ver o ex-colega de trabalho. — Não deveria estar trabalhando?

— Eu estou aqui a trabalho. Vim trazer uma mensagem do nosso chefe para você, Seiya. O senhor Kanamura quer que reconsidere o pedido de demissão e volte a trabalhar com a gente no Cais.

— Para ser humilhado novamente e receber aquela mixaria? Não, muito obrigado.

— Mas, como assim, Seiya? Não se nega uma proposta de reemprego caída do céu quando se está na lama, ok? Você acabou de ser despedido. Eu estava procurando seu endereço quando passei em frente da casa em reforma e vi seu patrão te dando as conta. Escuta, vai ser um segredo só nosso. Não vou contar para ninguém que estava tentando cantar vantagem quando disse que iria morar nessa casa, beleza? Então, o que me diz?  

Seiya piscou seus grandes olhos castanhos impressionado com a capacidade do seu ex-colega de interpretar uma cena aleatória de uma forma completamente distorcida.

— Ei, Katsuya, eu não estou contando vantagens — respondeu enfadado, levando as duas mãos entrelaçada na nuca para fazê-las de apoio para cabeça. — Eu vou mesmo morar naquela casa. Eu não fui despedido coisa nenhuma, só estava levando uma bronca do Ikki porque eu... — ficou envergonhado em concluir a verdade, mas acabou suspirando fundo e confessando. — Merda. Eu fiz um monte de bagunça.

— Você está mentindo.

— Por que eu iria mentir?

— Para se achar melhor que a gente.

— Hã? Você está maluco? E o que eu ganharia me achando melhor que vocês? Larga de ser retardado, Katsuya. É claro que aquela será a minha casa.

— Então prove!

— Eu não preciso provar nada pra você!

— Seiyaaaa! — ouviu aquele grito interrompê-los. — Eu trouxe pizza, vamos comer — Shun acenava do portão da casa, mas ao ver que Seiya estava acompanhado decidiu correr até o encontro do amigo.

— Oi, Shun.

— Oi, Seiya — respondeu ao cumprimento. — O Ikki disse que você saiu para caminhar e pediu para que eu te chamasse para comer.

— Mas esse tal de “Ikki” não o despediu? — respondeu Katsuya se intrometendo na conversa deles.  

Confuso, Shun encarou os dois.

— Ele é louco — Seiya respondeu simplesmente. — Não ligue.

— É seu amigo, Seiya?

— Ex-colega de trabalho.

— Mesmo? Isso é ótimo! Amigo do meu irmão Seiya é nosso amigo também — garantiu Shun, apanhando o punho de Katsuya com uma das mãos e com a outra apanhou o punho de Seiya, passando a puxar os dois. — Agora chega de conversa e vamos entrar antes que a comida esfrie.

O rosto de Katsuya se abrasou de vergonha ao ter seu punho segurado pela mão leve daquele garoto e acabou deixando-se levar pelo entusiasmo de Shun.

 “Irmãos? Como é possível um garoto tão bonito como esse ser irmão dessa coisa feia do Seiya?”, perguntava-se incrédulo na informação.   

— Ei, Shun, me solte, eu sei o caminho — reclamou o moreno.

— É verdade, jovenzinho, isso é constrangedor.

Mas Shun não deu ouvido e só os soltou-os quando chegaram ao quintal da casa. Ikki havia improvisado uma mesa do lado de fora do jardim e servia as pizzas.

— Tadaima! — disse Shun. — Achei o Seiya, nii-san.

— Tá, só peguem um prato e venham.

— Certo.

— E quem é esse aí? — perguntou Ikki, apontando a faca para Katsuya

O conhecido de Seiya estremeceu, na sua percepção Ikki já tinha uma pinta de mafioso com aquela estatura elevada, a cara fechada e a cicatriz na testa, com uma faca na mão, pareceu-lhe altamente perigoso.

— É um ex-colega de serviço do Seiya, o nome dele é... — Shun parou e suas bochechas coraram ao se dar conta que não haviam se apresentado. — Minha nossa. Que educação a minha. Saí puxando o senhor sem nem me apresentar. Por favor, me desculpe — pediu ele, curvando o corpo para frente e voltando a ficar ereto. — Sou Shun Amamya, ao seu dispor. Qual é mesmo seu nome?

— Ah... Hm. V- verdade. O- Okumura K- K- Katsuya desu — disse, fazendo uma breve reverência com a cabeça.

— Katsuya-san, deixe-me apresentá-lo ao restante dos meus irmãos.

O primeiro que Shun apontou foi Hyoga. 

— Hyoga Yukida, seja bem vindo — o loiro falou.

— Domo[1] — o homem respondeu, olhando admirado para Hyoga. Nunca vira um estrangeiro de perto e aquele rapaz era, definitivamente, vindo de fora, devido ao cabelo muito loiro e os olhos extremamente azuis.

— Shiryu Suynama, não repare a bagunça, estamos reformando — disse Shiryu ao ser apontado por Shun.

Katsuya assentiu com a cabeça para o rapaz que apesar de aparentar ser asiático, era estrangeiro também, provavelmente da China, devido ao cabelo e ao traje que vestia.   

— Ikki Amamya. Calabresa Acebolada, Quatro Queijos o Lombo ao Creme?

— C- como?

— A pizza? Qual o sabor vai querer?

— C- calabresa, por favor.  

— Aqui — Ikki entregou o prato para o rapaz após servi-lo com um pedaço bem generoso da pizza. — Tem refrigerante no isopor perto da caixa de ferramentas — avisou.

Katsuya olhou Seiya constrangido, ele era o próximo atrás dele, mas o ex-colega ao invés de adverti-lo, apenas abriu um grande sorriso para ele.    

— Relaxa. Na hora do rango a gente esquece as diferenças. Vai, pode comer.

Ele assentiu e passou por Seiya.

— Quero um pedaço de cada, Ikki.

— Você não está merecendo nem a metade de um pedaço depois da bagunça que aprontou hoje, Seiya.

— Não seja tão perverso, Ikki! Já disse que foram acidentes sobrenaturais. Com certeza é coisa de Hades!

Todos riram ao mesmo tempo e Katsuya que estava comendo sentado em um banco ao lado de Hyoga ficou ainda mais envergonhado, por ele ter sido esse tal de Hades que Seiya falava.  

— Está realmente bom, não é? — comentou Hyoga.

O constrangimento intensificou. Apesar da aparência estrangeira o loiro falava o japonês fluentemente. Além disso, ele era tão bonito e simpático quanto o primeiro rapazinho que o enturmou com eles. Sentiu-se um peixe fora d’água perto de jovens como aqueles, mas ao mesmo tempo, sentia-se acolhido, pois eles agiam de forma espontânea e despreocupada mesmo na presença de um completo desconhecido.

— Vocês são mesmo irmãos de Seiya? — perguntou ao loiro.

— Irmãos de sangue somente eles dois — Hyoga apontou Shun que estava sendo servido por Ikki. — O restante de nós somos irmãos de consideração porque fomos criados juntos aqui, nesse mesmo lugar, onde era o orfanato. Todos nós perdemos nossos pais muito cedo e só tivemos uns aos outros para nos apoiarmos. Passamos por muitas dificuldades juntos, mas superamos e agora nos reunimos mais uma vez para tentarmos uma nova vida, como a família que sempre fomos.

Katsuya engoliu o pedaço de pizza que mastigava com dificuldade. Sentia-se o pior dos lixos por invejar Seiya que, assim como ele, não tivera uma vida fácil.

— Seiya, vai perguntar para o seu amigo se ele quer mais um pedaço de pizza.

— Hã? Por que eu, Ikki?

— Não foi você quem o convidou, idiota? Seja cordial. Não faça perguntas estúpidas.

— Pede para que eu seja cordial enquanto você é um poço de grosseria, né, Ikki? — Seiya reclamou e mostrou língua para o mais velho.

Mas obedeceu a ordem do mais velho e aproximou-se do ex-colega o qual nem considerava seu amigo.  

— Ei, Katsuya, vem comer mais.

— Estou me sentindo um pouco mal, Seiya.

— Mas você só comeu um pedaço.

— Não estou falando da pizza, estou me referindo as minhas atitudes — explicou ele. — Eu sempre tive inveja de você por ser o mais forte da nossa equipe, o mais rápido, o mais prestativo e ainda assim estar sempre de bom humor. E essa inveja só foi aumentando com o passar do tempo, ao ponto de eu começar a envenenar os nossos colegas contra você. E, mesmo agora, eu não aguentei o fato de saber que estava bem e vim sabotá-lo. Eu achei que estivesse trabalhando nesse lugar e queria que fosse demitido. Perdoe-me por ser uma pessoa tão mesquinha, Seiya. Você não merece ser odiado, pois é um cara legal de verdade.

— Então a areia no encanamento foi você? — Hyoga quis se certificar.

— E o gato no telhado? — perguntou Shiryu.

— Quer dizer que todas as trapalhadas do Seiya de hoje, não foram culpa dele? — perguntou Ikki incrédulo naquela possibilidade.

— Eu disse que tinham forças externas agindo, ninguém quis me ouvir.

— E se o Katsuya-san conseguiu fazer tudo sem levantar a suspeita de ex-cavaleiros, acho que Athena perdeu um grande candidato ao seu legado — complementou Shun pensativo.

— Não estão bravos?

Todos eles balançaram a cabeça em negação.

— Você mostrou-se arrependido — complementou Hyoga. — Acho que isso é o mais importante.

Aquela resposta causou um alívio que Katsuya nem imaginava estar sentindo.

 — Sabem... Eu notei algo com tudo isso: que quero ser amigo de verdade de todos vocês. Será que posso? Eu faço qualquer coisa para me redimir dos estragos que fiz.

— Qualquer coisa? — quis se assegurar Seiya.

— Sim, qualquer coisa.

Seiya e os amigos se entreolharam como se tivessem tido a mesma ideia ao mesmo tempo.

Katsuya não aceitou somente a proposta de ajudá-los na obra como pediu auxílio dos demais companheiros de trabalho depois de confessar ao grupo o que ele havia feito de mal com Seiya. Sem precisar de mais argumentos, visto seu claro arrependimento, todos aceitaram a tarefa e dedicaram um pouco do seu tempo diário na reforma, afinal, a maioria deles tinham uma grande simpatia por Seiya.

No último dia da reforma, o grupo se reuniu para um brinde na frente da fachada nova da casa.

— O brinde terá que ser com chá — informou Shun distribuindo as latinhas da bebida para todos. — Somos menores de idade, não podemos beber álcool.  

— Obrigado, Shun-chan — respondeu Katsuya sorrindo com as bochechas coradas. Não conseguia evitar aquele constrangimento mesmo sabendo que Shun era um garoto.

— Aqui, Tanaka-san. — Shun continuou distribuindo as bebidas.

— Arigatô, Shun-chan.

— É verdade — falou Natano. — Apesar das aparências, vocês não passam de moleques.

— Não somos moleques — resmungou Seiya.

— Aqui, Seiya.

— Valeu, Shun.

— Aqui, onii-san.

— Obrigado, Shun.

— Só faltou uma garota bonita aqui para brindar conosco.

— Aqui, Natano-san.

— Eu quem agradeço, Shun-chan — respondeu com um grande sorriso ao apanhar a bebida das mãos do caçula do grupo e franziu o cenho na direção do colega que fizera aquela estranha observação. — Do que está falando, Katsuya? E essa belezinha que está distribuindo as bebidas? — e apontou Shun.

Houve um silêncio abrupto após aquela nota e o rosto de Shun corou de imediato.

— N- Natano-san...

— Não fique envergonhada, Shun-chan. Eu só disse a verdade — complementou Natano, piscando um dos olhos para Shun, imaginando que a vergonha era devido ao elogio.

Ikki apertou tanto a lata em sua mão que a mesma explodiu e, antes que a cabeça de Natano explodisse igual a lata na mão de Ikki, Shiryu e Hyoga abriram suas latas e convidaram todos para o brinde.

— Obrigado aos colegas de Seiya por terem colaborado com a nossa reforma — declarou Shiryu com a lata em punho. — Digo, não somente amigos de Seiya, mas nossos amigos também, um brinde a amizade e a nossa velha casa nova, kanpai!

— Kanpai [2]! — repetiram em coro, brindando com suas latas e bebendo.

Mas Seiya não conseguiu se segurar e aproximou-se de Natano, enroscando o braço no pescoço dele e cochichando algo em seu ouvido.

— Só uma observação, Natano, meu camarada. Shun-chan[3] é só uma forma carinhosa que todos resolveram chamar o Shun, mas só para o seu conhecimento, ele é um garoto como todos nós aqui e não uma menina.

— O quê?! — o rapaz exclamou incrédulo e reparou melhor no corpo de Shun, que estava vestindo uma jardineira jeans, camisa branca com estampa de um gatinho na frente, tênis e tinha o cabelo preso em um rabo de cavalo. Mesmo assim, não conseguiu visualizá-lo como um garoto. Amparou a cabeça com ambas as mãos e começou a chorar, enquanto ouvia Seiya cair na gargalhada. — Isso não é justo comigo. Deus, por quê? Minha linda Shun-chan é um garoto? Isso não pode!

Era noite quando os ex-colegas de trabalho de Seiya se despediram e os cinco rapazes decidiram entrar na casa nova. Ainda havia alguns móveis para colocarem nos lugares certos, mas a única coisa que conseguiram fazer naquele dia foram deitar no hall de entrada mesmo, um do lado do outro.

 Estavam exaustos, desgastado, mas felizes, então deixaram o sono vir e dormiram debaixo do teto que agora eram deles.

Continua... 

Revisão e Suporte de roteiro: Naluza.

Escrito originalmente em: 13.07.2007

Versão revisada: 14.07.2015

Vocabulário:

[1] Domo: obrigado.

[2] Kanpai (乾杯): brinde, saúde!

[3] Chan: o honorífico é usado mais para meninas ou entre crianças pequenas.


Notas Finais


Já sabem, se puder, comentem! o/


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