História Fantasia (EM REVISÃO) - Lembranças desconectadas

Não há nenhum lugar para chamar de nosso

Como uma névoa à deriva que vagueia

Para onde vamos a partir daqui

-Ruelle

O assobiar dos pássaros ecoava por toda a floresta. Se tivesse uma ótima audição, quase perfeita, notaria os diferentes assobiar dos pássaros. Apesar de que poucos homens parariam no meio de seu percurso para analisar aquilo. Mas ele, aquele jovem de cabelos rebeldes e de temperamento avassalador, tinha seus momentos de acalmaria. Após sua última análise, ele continuou seu percurso rumo ao rio. Era distante de seu acampamento, e justamente por isso, fora para ali.

Como líder de sua matilha, deveria estar lá, junto dos anciãos para discutir sobre o futuro do clã quase extinto. Ou apenas para ouvir as lamentações do velho Jiraya sobre a perda de um amigo. Bufou ao pensar naquilo. Odiava lamento, e odiava ainda mais perder uma batalha. Uma corrente elétrica passou por seu corpo pela mera lembrança do estado que encontrou aquela vila. Se tivesse chegado a tempo, poderia ter salvado mais vidas, mas principalmente, teria lutado. Seus olhos vasculharam as redondezas. Seus ouvidos sensíveis escutavam minuciosamente o barulho da correnteza das águas. Sentou-se no barranco e continuou (demasiadamente divagando). Ele não queria voltar tão cedo para a confusão que estava o acampamento.

☾

Uma mulher de estatura alta, de fartos seios, contornava a mesa diversas vezes. Sua áurea raivosa era sentida por todos os presentes naquela tenda. Alguns sabiam que apenas um soco dela, partiria seus ossos, por isso, alguns mantinham uma distância razoável. Outros, mesmo sabendo do perigo, não disfarçavam admiração e cobiça pela loira. Principalmente Jiraya. Um homem muito maduro pela idade, mas que quando se tratava de mulheres, perdia completamente a razão. Ainda mais quando se tratava daquela mulher.

— Eu espero não encontrar Naruto tão cedo, pois, caso o encontre, quebrarei todos os seus ossos. - Tsunade socou a mesa, jogando as palavras raivosas.

Jiraya apenas acenou, concordando.

— Ele é um moleque, não tem nem a responsabilidade de tomar uma decisão. — Outra mulher, que também estava presente, disse com indignação.

— Se ele fosse tão irresponsável, não seria o líder, Sakura. — Um moreno de olhos ônix, que estava sentado em uma das cadeiras, disse indiferente e como resposta ganhou um olhar de desprezo.

— Ele deve estar pensando em algo. Mas enquanto isso, poderíamos decidir ao menos algumas possibilidades sobre o que fazer com ela. — Jiraya, que estava com os olhos nos seios de Tsunade, desviou o olhar para Shikamaru, o beta da alcatéia.

O ancião suspirou cansado.

— Já fazem dois dias que ela está dormindo. Isso é normal? — indagou Jiraya para Sakura.

— Sim. Ela estava exausta, e acredito que ter visto o que ela viu a deixou ainda mais em estado de choque.

— Eu até agora não vejo o motivo para esse ataque. — disse a loira. Seus dedos batucavam a mesa, mostrando seu estresse.

— Isso vai ser tão problemático. — soltou Shikamaru, enquanto acendia um tabaco.

— Eu me pergunto o que as bruxas ganhariam com isso. — suspirou Sakura, após o pensamento dito em voz alta.

A menção da palavra "bruxa" fez o corpo do jovem moreno de olhos ônix se arrepiar, mas não por medo, e sim por ódio.

— Não sabemos se foram as bruxas. — Shikamaru disse enquanto soltava a fumaça pelo nariz.

Sakura revirou os olhos.

— Sabemos que foram elas. - sua fala saiu com convicção. — Se não foram elas, quem foram? Quem teria tanto poder para isso?

O jovem conselheiro deu de ombros.

— Mas elas estão sumidas desde o ataque que sofreram. — Pela primeira vez, a voz de Tsunade saiu fraca. Ela não gostava de lembrar-se do ocorrido. Talvez, a culpa ainda a dominasse. — Já faz séculos...

— Elas apenas sumiram, não quer dizer que elas foram extintas, e também... — seu olhar foi direcionado para Sasuke, que estava ao seu lado.

— Eu sei Sakura. — interrompeu Jiraiya. — Mas nós a procuramos após o ataque sofrido pelo clã Uchiha, porém, não encontramos nem rastro delas. A não ser algumas bruxas que vivem nos vilarejos, solitárias. E nem ao menos sabemos se foram elas que atacaram o clã de vampiros.

— Foram elas. — Sasuke desviou o olhar da mesa, dando atenção a Jiraya. Sua voz estava no tom normal, entretanto, o velho ancião sentia ódio naquelas palavras.

Todos, exceto Sasuke, se mexeram desconfortavelmente nas cadeiras. As bruxas eram um problema sério. Era um problema que há séculos tentavam resolver.

Mais um suspiro fora dado por Shikamaru. Já fazia horas que todos estavam ali reunidos, tentando a todo custo encontrar uma solução. Ou ao menos algo que todos concordassem. Naquele momento, todos estavam em silêncio, cada qual discutindo mentalmente consigo mesmo. Entretanto, o silêncio não durou muito. A tenda fora aberta e por ela passou uma jovem, que reverenciou o velho Jiraya.

— Naruto chegou. — a jovem anunciou ao ancião.

— E onde está ele, Tenten?

— Ele foi direto para a tenda onde está aquela moça. — Um longo suspiro fora dado pelo velho Jiraya, para em seguida se levantar.

Assim que se colocou de pé, todos fizeram o mesmo.

☾

Já estava entardecendo quando decidiu retornar ao acampamento. Passar algumas horas no rio escutando a correnteza e os pássaros lhe fizera bem, apesar de ainda se sentir cansado. Ele tinha uma decisão a tomar, junto dos outros líderes. Não é como se ele estivesse muito preocupado com o futuro da moça, pelo contrário, sua preocupação é com algo que vem procurando há tempos. Os músculos de seu corpo se contraíram. Balançou a cabeça, tentando não pensar muito naquilo. Viu Tenten passar por si, e apostava que ela iria correndo contar para o conselho que ele estava de volta. Bufou. Não demoraria para Jiraya e Tsunade aparecerem. Parou de caminhar, abrindo a tenda à sua frente.

— Ela já acordou? — indagou, enquanto adentrava o quarto. Chyo, a velha curandeira, o olhou assustada, para em seguida mandar-lhe um olhar de repreensão.

— Quer me matar? — A senhora terminou de trocar o pano da testa da menina que estava deitada.

— Já ouviu falar que vaso ruim não quebra cedo? — sorriu o loiro, terminando de se aproximar. — Pelo jeito, ela não acordou. — disse, ao analisar a menina deitada.

Chyo apenas revirou os olhos. Naruto parou na beira da cama, para observar a moça.

— Tem certeza de que ela não está morta? Ela está bem pálida.

— Essa cor é característica do clã Hyuuga. Ela já esta bem melhor, não sei como ainda não acordou. — disse a velha enquanto molhava o pano em uma bacia.

O loiro suspirou. Ele precisava que ela acordasse o mais rápido possível.

Antes mesmo de poder soltar outro suspiro, viu Jiraya e outros entrarem na tenda.

— Então aqui está você. — a voz do velho era carregada de repreensão.

Naruto apenas deu de ombros. Sakura aproximou-se, parando pouco centímetros dele para olhar a menina que estava na cama.

— Já era para ter acordado. — constatou, após colocar a mão sobre a testa da moça.

— O que iremos fazer com ela? — quem indagou fora Shikamaru.

— Acredito que, por enquanto, o melhor a se fazer é esperar ela acordar, para saber o que ela viu. — disse Naruto, afastando-se da cama, deixando Sakura ainda olhando a morena.

Mas antes que pudesse falar algo a mais, Sakura disse:

— Ela está acordando. — sussurrou a rosada, fazendo todos que estavam na tenda se aproximarem mais da cama.

☾

Hinata sentiu seu corpo doer, seus olhos pesavam. Mas ela sentia que precisava abrir. Precisava saber sobre Hanabi, precisava encontrar a irmã. Tivera um pesadelo horrível, onde Hanabi tivera sido morta, mas sabia que era mais um de seus pesadelos inexplicáveis. Remexeu-se, impaciente.

— Hanabi. - pronunciou o nome da irmã, como se fosse à coisa mais necessária do mundo. Como se fosse água que precisava para sobreviver. — Por favor, Hanabi. — Novamente chamara a irmã, no breu que estava seu pesadelo.

— O que esta acontecendo? — indagou preocupado o loiro, que em resposta fora afastado por Tsunade.

— Ela está tendo um surto. — Chyo entregara um pano para Tsunade, que logo retirou o que estava sobre a cabeça da morena e colocou o que estava molhado. — Ela ficou repetindo esse nome o tempo todo.

— Saiam. —ordenou à loira, rígida.

Naruto bufou, dizendo algo incompreensível. Todos saíram, deixando apenas Tsunade, Sakura e a velha Chyo.

Do lado de fora da tenda, o acampamento ainda estava um pouco bagunçado, pois faziam apenas dois dias que tinham se instalado ali, já que não tinham moradia fixa. Não demorou muito para aparecer Kiba, com seu cachorro ao lado.

— Naruto, encontramos um vilarejo no sentido oeste, a 5 km. - informou o moreno, que tinha uma marca em cada lado da bochecha; eram dois símbolos vermelhos: um triangulo com a base começando abaixo dos olhos e terminado perto do canto da boca.

Naruto assentiu.

—Prepare a alcateia, atacaremos nessa madrugada. — ordenou.

Kiba assentiu e se retirou.

— Naruto. — chamou Shikamaru.

Naruto olhou para trás vendo Shikamaru ao lado de Sasuke.

— Onde está aquele velho. — disse sorrindo e aproximando-se dos dois.

— Foi para a tenda principal. Mas precisamos conversar. — quem respondeu fora Sasuke, que estava com um semblante mais fechado que o normal.

Naruto inspirou o ar e o soltou depois.

— Fala.

— Aquela garota lá dentro, ela tem que ficar conosco após acordar. — o loiro acabou franzindo o cenho.

— Por quê?

Ele abrira a boca para responder, mas Sakura apareceu o interrompendo.

— Ela acordou.

☾

Ao abrir os olhos, a primeira coisa que Hinata viu foi um teto muito estranho. Fixou seus olhos ali, sua mente estava em branco, não conseguia pensar em nada. Piscou várias vezes, tentando sair daquele transe. Mas só fora tirada quando escutou uma voz calma ao seu lado. Olhou para lado, vendo duas mulheres à sua frente. Uma loira de fartos seios e com uma roupa minúscula, e acabou por corar. E depois... Uma garota de cabelos rosa? Ela deve ter feito uma careta, porque a menina franziu o cenho para ela.

— Vou chamar os outros. — disse a garota, se retirando.

Hinata a viu sumir pelo que parecia ser uma porta.

— Você está se sentindo melhor? — dissera à loira, que pegou um copo que estava sendo estendido para ela. Só assim Hinata reparou na velha senhora ao lado da loira. — Quer um pouco d'água?

A morena, ainda aguada, assentiu. Levantou-se com um pouco de dificuldade. E foi ajudada pela senhora.

— Obrigada. — agradeceu antes de beber.

Quando seus lábios entraram em contato com a água, seu corpo todo se relaxou. Enquanto bebia o líquido, viu Sakura aparecer e, logo atrás, um homem. A morena sentiu suas bochechas esquentarem, e desviou o olhar o mais rápido que pôde. O homem que tinha cabelo loiro usava como vestimenta apenas um pano abaixo da cintura, que cobria apenas suas partes íntimas. Sentiu a água travar em sua garganta, a engasgando. Sentiu as mãos da pobre senhora batendo em suas costas, para desengasgá-la.

— Ora menina, o que foi isso? — ralhou a velha com Hinata.

— Estou bem. — disse envergonhada. Queria se enfiar em um buraco, pois não havia somente as mulheres e aquele homem a olhando. Havia agora mais três homens.

Fechou os olhos com força. Ela não podia desmaiar.

— Onde estou? Onde esta Hanabi? — indagou ainda de olhos fechados.

— Você não se lembra do que aconteceu? — escutou uma voz grossa e rouca perguntar, lhe causando um arrepio.

Não conseguia se lembrar com clareza. Como vieira parar ali, com essas pessoas estranhas de vestes ousadas? A pergunta se repetia em sua cabeça enquanto fitava o teto da local. A única coisa que era nítida em sua mente era o pesadelo que tivera. Ainda conseguia ver com clareza tudo que sonhou com sua irmã. Mas, das outras vezes que sonhou, dessa vez era diferente. Parecera tão real. Ainda conseguia sentir o medo. O medo por Hanabi, por Neji, e por ela mesma. A palavra "fraca" ainda se repetia em sua mente.

Ela tinha uma leve impressão de que as pessoas no local falavam alguma coisa, podia ouvir os murmúrios no fundo de sua mente. Entretanto, não conseguia prestar atenção em nada que as pessoas falavam. A única voz que conseguia ouvir era a de seu irmão, enquanto a imagem da foice atravessando o pescoço de sua irmã se repetia seguidamente sem parar. "Assim que acabar irei atrás de você." Ela tinha o esperado. Tinha esperado, mas onde ele estava?

— Neji. — sussurrou — Neji, não, não pode ser.

Hinata sentiu seu corpo enrijecer, então ela levantara o rosto e fitou todos os olhos que a encaravam no recinto. A conclusão chegou à mesma hora que ela escutara um grito de dor e agonia.

Não fora um sonho, aquilo tinha acontecido.

Levou as mãos até as laterais do rosto e as apertou uma de cada lado dos olhos, que doíam. O grito ainda soava e Hinata não se dera conta de que era ela a gritar, quando a escuridão a encontrou novamente, levando com os gritos todas as imagens do que acontecera com o seu clã. Com a sua família.