1. Spirit Fanfics >
  2. Fantasmas do Passado >
  3. Surpresa

História Fantasmas do Passado - Surpresa


Escrita por: anasanti10

Notas do Autor


Desculpa a demora de novo, a vida tá louca mas o otp persiste!

Capítulo 11 - Surpresa


A campainha de Paola tocou três vezes, sem nenhum intervalo. Ela contou cinco segundos, sentada na mesa da cozinha, até a música começar a vir acompanhada também de batidas na porta. Podia imaginar os pequenos dedos de Ana Paula fechados no punho; os nós da mão, que ela usava para ensinar os meses à Francesca, roxos de tanto bater contra a madeira. O porteiro não havia avisado, como sempre, da visita. Dessa vez, pelo menos, a jornalista tinha tido a decência de mandar uma mensagem avisando sua chegada, o que dera a Paola tempo para se preparar. 

    Ela não dava notícia a uma semana. Sempre que ficava muito tempo sem se pronunciar, Paola virava alvo de ligações insistentes da amiga, que, quase sempre, culminavam em uma visita. Ela não podia dizer que a presença de Ana era indesejada. Era, no entanto, trabalhosa, pois ela tinha que expressar seus sentimentos e, mais ainda, explicá-los, coisa que não fazia com frequência. 

    Quando decidiu que a jornalista já tinha esperado o suficiente, Paola se levantou da mesa, que já estava preparada com seu famoso bolo de banana integral e refresco de hibisco - pelo menos havia conseguido manter a tarde ocupada, com a perspectiva de alimentar a visita - e arrastou os próprios pés até a porta da frente. Destrancou-a e se deparou com sua pequena amiga, que tinha os cabelos presos, o rosto sem maquiagem e um pote plástico na mão. 

    - Porque sempre que venho à sua casa, você está com essa cara de deprimida? - Ana Perguntou, enquanto sentia os braços de Paola a envolverem e a cabeça da chef descansar em seu ombro. Enrolada com a bolsa e o pote que segurava, tentou alcançar a cabeça da mais alta para fazer-lhe um cafuné. Sentiu que ela precisava. 

    - Porque você escolhe os momentos tristes. Que pote é esse? 

    - Bolo - Ana sorriu, esticando a embalagem para a amiga assim que elas se soltaram. Paola pegou-a na mão e inspecionou o adesivo colorido que indicava a marca da loja de doces, sem conseguir esconder uma careta. - O que foi agora, Carosella? 

    - Essa marca é horrível, Aninha. Isso deve ser corante puro. 

    - Ótimo. Jogue fora, então. Eu tentei - Ana Paula levou as mãos ao alto, se rendendo, e deu a volta em Paola para entrar no apartamento. A argentina suspirou, arrependida de seu comentário. 

    - Me desculpe. Não ando muito bem. Mas fiz seu bolo preferido - Ela mordeu o lábio inferior, sugestivamente, aguardando sinais de perdão. - Está na cozinha. 

    Ana Paula não suavizou a expressão, mas rumou para a cozinha aberta de Paola instantaneamente, o que deveria ser um bom sinal. Após descansar o bolo recusado no sofá da sala, a argentina se juntou a ela, encontrando-a já devorando o doce de banana e se servindo de um copo de refresco. A argentina também se serviu da bebida roxa, preferida da filha, e sentou-se também. Os primeiros cinco minutos foram, felizmente, dedicados à gula de Ana Paula, que saboreou em segundos o primeiro pedaço de bolo. Paola usou esse tempo para respirar fundo e pensar em como contaria tudo o que estava acontecendo com ela. Quando Ana Paula se inclinou para pegar a segunda fatia, no entanto, iniciou a discussão que, cedo ou tarde, chegaria no encontro das amigas. 

    - Onde está a Fran? 

    - No quarto. Disse que, quando eu sair da cozinha, vem te ver. Não está falando conmigo.

    - Como? - Ana Paula piscou, sem entender. Não conseguia imaginar tal situação; Francesca idolatrava a mãe.

    - Ela está chateada porque mandei o Henrique ir embora da festa de dia dos pais da escola dela, porque o Solano chegou e disse que eu tinha que fazer isso, e você sabe como ele me tem na mão por causa da história da guarda, e eu não soube o que fazer, e…

    - Hey! - Ana levantou a voz, segurando firme no ante braço de Paola para que ela parasse de falar. Quando a argentina finalmente se calou, a jornalista viu que lágrimas já começavam a se formar em seus olhos negros. - Calma. Respira. Me explica essa história, querida. 

    - Certo… - Paola obedeceu, suspirando fundo. Estava visivelmente tensa; remexia nas unhas sem parar. - A festa de dia dos pais na escola da Fran foi semana passada. Eu falei para o Solano ir. Eu sei, eu sei, foi estúpido - ela admitiu, quando viu os olhos da amiga se arregalarem a sua frente. - Queria provar para mim mesma que ele não era um bom pai e que não ia aparecer. Talvez então eu tomasse coragem para pedir que ele sumisse da vida de Francesca. Mas não, ele apareceu. 

    - E o Fogaça também estava lá… - Ana concluiu sozinha, recebendo a confirmação de Paola, que balançou a cabeça para cima e para baixo. 

    - Sí. Eles assistiram a apresentação dela quietos, até porque eu fulminei os dois com o olhar para que o fizessem. Achei que estava controlando a situação, até a parte final. As crianças gritaram o nome de seus pais, e é claro que a Fran gritou o nome do Henrique. Isso deixou o Solano de um jeito… 

    - Com o orgulho ferido, você quer dizer, não é? - Ana Paula interrompeu. 

    - Com ciúmes, acho. 

    - Que ciúmes o que, Paola! - A jornalista levantou a voz, visivelmente impaciente. - Só você não percebe que ele não está nem aí para a Francesca? Só não consegue vê-la chamando outro homem de pai por orgulho idiota? 

    - Bom, talvez… - Paola admitiu, encarando os próprios dedos, que ainda brincavam com suas unhas. - O fato é que, quando ele me disse que mandasse o Henrique ir embora, eu tive que fazê-lo. Então, quando a Fran voltou com o desenho para entregar, o Fogaça tinha ido embora. Claro que eu disse que a culpa era minha; não queria que ela achasse que ele que não quis vê-la. Ele ligou depois, falou com ela, mas não quis falar comigo. Ela ainda não me perdoou. Nem ele. Agora nem minha filha nem meu namorado falam comigo. Fim - Paola levantou os olhos, sorrindo ironicamente. As lágrimas, finalmente, escorriam por sua bochecha. Ana Paula sentiu pena, mas a raiva era maior. 

    - E porque, exatamente, você teve que mandar ele ir embora, Paola? Não me venha com essa história de guarda - Ela aumentou a voz de novo, se levantando da mesa. Não conseguia controlar sua irritação. - Esse homem nunca nem apareceu, Paola! Não é possível que você ache que algum juiz em sã consciência daria a guarda dela para ele. 

    - Nenhum juiz brasileiro, Aninha, mas na Argentina… 

    - Que se foda a Argentina, Paola! - Ana Paula gritou, andando em círculos na cozinha. - A sua filha é brasileira! Nasceu aqui! Que direito ele tem de levar o caso para outro país? 

    - Bom, a Angie me falou sobre uma lei… - Paola começou, claramente em dúvida ao repetir o que tinha ouvido da advogada. Leis não eram o seu forte. - Desde 2002, o Brasil adota o critério da hereditariedade para a nacionalidade de seus habitantes. Dessa forma, sendo eu e Solano argentinos, para fins legais, a Fran é argentina. Então ele poderia. 

    - Você leu essa lei? 

    - Claro - Paola revirou os olhos. - Não posso dizer que entendi tudo, mas o termo "critério da hereditariedade” definitivamente estava lá. 

    - Isso me parece muito estranho - Ana respondeu, depois de refletir por alguns instantes. - Mudaria muito a matrícula escolar, plano de saúde, tudo dela… você saberia… - Finalmente, ela se sentou na mesa de novo, agarrando a mão de Paola entre as suas. - Por favor, deixe eu falar com um dos meus advogados, Paola. Deixe eles te ajudarem nessa história. 

    - Não - A argentina puxou a mão de volta, cada vez mais nervosa com o assunto. - Solano foi categórico quando disse que não quer que essa história se espalhe, e, até ter certeza de que ele não tem como tirar minha filha de mim, não quero irritá-lo. 

    - Certo… - Ana concordou, vendo que não teria a menor chance. A ameaça de Solano pairava como uma águia na cabeça de Paola, era visível. O medo a cegava, mas era compreensível. Dessa forma, Ana resolveu mudar o foco da conversa. - Me diga uma coisa. Tudo o que você está fazendo é para proteger a Francesca. Certo? 

    - . Claro que

    - E como ela está?

    - Como assim? - Paola piscava, incerta sobre os rumos que a conversa tomava. Ana Paula apontou para o corredor com a cabeça, onde a porta do quarto de Francesca se encontrava fechada. 

    - Ela parece bem para você? 

    Paola suspirou. Não, sua filha não estava nada bem. Em tempos normais, ela estaria na cozinha com elas, se divertindo horrores com sua amiga Ana, se deliciando com bolo e o refresco das fadas, como ela o chamava. Estaria pescando as flores de hibisco dentro do copo e colocando-as em seu cabelo, se molhando inteira e rindo historicamente das broncas de mentira da mãe. Estaria pulando de colo em colo, sendo a criança amada e feliz que sempre fora. No entanto, esta atrancada no seu quarto, se sentindo traída pela mãe e impedida de ver quem considerava como seu pai. Todo o esforço que Paola sempre fizera para que ela se sentisse segura estava indo pelo ralo. O quão segura uma criança de quatro anos pode se sentir quando se tranca no quarto, não querendo falar com sua família? 

    - No. Ela no me parece nada bem. 

    - Paola, eu entendo perfeitamente a sua preocupação de mãe, mas você tem que ver o que eu estou vendo. Esse afastamento do Henrique faz muito, muito mal para vocês duas. De que adianta manter a Francesca com você, se é para ela ficar trancada no quarto, sem falar com ninguém? 

    Paola suspirou. Sem falar nada, levantou-se e levou os copos e pratos sujos para a pia. Enquanto os lavava, de costas para Ana, pensou no que fazer. 

    - O que você sugere? - Ela se rendou, virando-se de volta para a amiga e apoiando as costas na bancada. Seu rosto indicava exaustão, e ela viu pena no olhar de Ana. Odiava que sentissem pena dela, mas, naquele momento, até mesmo Paola sentia pena dela própria. 

    - Vá falar com ele. Peça perdão. Faça as pazes. Peça apoio. Traga ele para ver a sua filha; a filha de vocês. São tantas coisas, e tão óbvias, que não sei como você ainda não foi. 

 

    Paola demorou apenas alguns minutos para acatar o conselho da amiga. Ela estava completamente certa, Paola sabia. Também queria ir vê-lo; queria tanto que o desejo a corroía todas as noites, todas as manhãs, todos os segundos. Mas se sentia culpada; se sentia colocando em risco sua filha, e então nunca ia. Precisava do empurrãozinho de Ana, e, com ele, vestiu seu sobretudo, calcou o primeiro tênis que viu pela frente e deixou o apartamento. Gritou na porta do quarto de Francesca que estava saindo e que ficaria com a jornalisra, e, depois que já estava no elevador, ouviu as risadas da menina, que devia ter saído do quarto para encontrar Ana. Sua filha havia mesmo esperado que ela saísse de casa para dar as caras. A situação estava crítica. 

    Ela dirigiu rápido até o apartamento de Fogaça, pensando mil vezes no que diria. Pediria desculpas, com certeza. Se jogaria nos braços dele? Era o que desejava, mas não sabia se o orgulho se colocaria em seu caminho, como sempre. Esperava que não. 

    Conseguiu estacionar na rua de trás, e contornou o novo prédio do namorado com pressa, apertando o casaco contra o corpo. O porteiro apenas acenou com a cabeça para ela. Ela tinha estado ali poucas vezes, mas, como era conhecida, ninguém imaginava que fosse assaltar alguém. Se sentiu grata por isso; queria pegá-lo desprevenido, apesar de não saber muito bem porque. 

    Seguindo seu plano de chegar de surpresa, usou a chave do apartamento que Fogaça havia lhe dado assim que se mudara, insistindo que seria como se os dois ainda morassem juntos, se ela pudesse entrar a hora que quisesse. Abriu a porta e entrou na sala, sentindo seu sangue gelar assim que pisou dentro do apartamento. Ouvia uma discussão entre duas pessoas; a voz do namorado e, mais alta e fina, uma voz feminina. Seguindo os sons, foi até a cozinha. Deixou a bolsa cair no chão e sua boca se abriu de susto ao ver a cena. Lá estava seu namorado, com uma panela na mão, como se costume. O que não era de costume, no entanto, era Angie sentada em sua bancada, sem sapatos, demonstrando uma intimidade entre os dois que Paola nunca imaginaria existir. Até agora.


Notas Finais


No próximo cap vocês vão saber tudo sobre Angie e Fogaça! bjs


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...