História Far Away - Prólogo

Oito anos antes...

Para Francielle, aquela noite não poderia ser melhor. O céu estava repleto de estrelas, e até se podia ouvir o som dos grilos. Seus pais enfim haviam permitido que ela acampasse com seus colegas, depois de tanto pedir. Embora cansada, mal via a hora de terminar de montar sua barraca para poder se juntar a fogueira. Se Castiel ajudasse já teriam terminado, mas ela já estava acostumada com a preguiça do irmão, que a única coisa que se importava era com seus fones de ouvido.

Francielle estava tão animada que, assim que terminou, correu até seus colegas. Tentou persuadir Castiel a ir, mas o menino se negava a levantar. Por fim, ela desistiu. Seus olhos surfaram pelos rostos até achar o de Ambre. A menina loira deu dois tapinhas no tronco ao seu lado, chamando a amiga para que se sentasse ao seu lado. Tão logo Francielle já estava lá.

Ela passara o mês inteiro ansiosa por essa viagem. Seu sonho era poder acampar e ver melhor as estrelas que ela contemplava apenas da janela do seu quarto. Mas ali naquela fogueira não era o melhor lugar. E ela sabia quem tinha o melhor lugar. Bastava esperar. Depois de algum tempo, todos já estavam conversando e rindo das piadas horríveis da professora Ana. Francielle sentiu um leve toque em seu ombro, e ao olhar para trás, não pode evitar de sorrir.

— Você achou? — Cochichou a menina

— Mas é claro. O melhor de todos — Nathaniel lhe lançara o sorriso travesso que Francielle amava. — Vamos.

O menino a puxou pela mão e, como estavam todos distraídos com as brincadeiras, nem perceberam a fuga das crianças. Nathaniel a guiou pelo meio das árvores escuras, iluminadas unicamente pela pouca luz das estrelas. Era uma noite sem lua, como ela amava. Para um criança de nove anos, o mais óbvio seria ficar com medo de andar “sem rumo” naquela escuridão. Mas Francielle sabia que não precisava ter medo. Ela confiava que Nathaniel sabia onde ia, mesmo sendo apenas um ano mais velho. E que, principalmente, a protegeria de qualquer coisa.

Nathaniel sempre esteve ao seu lado. Quando ela se machucava, ou quando aprendia algo novo. Quando estava feliz, ou quando queria chorar. Sempre ali, ao seu lado. Ela confiava nele tanto quanto confiava em seu irmão, por isso sabia que, mesmo que se nem mesmo as estrelas estivessem ali para iluminar, ele saberia onde a levava.

Enfim eles chegaram ao lugar que Nathaniel havia escolhido. Um lugar onde tinha um lago que era quatro vezes menor que sua piscina, mas era perfeitamente redonda, com algumas flores na margem. E uma rocha, grande o bastante para que os dois pudessem se sentar ali. E foi isso que fizeram.

— Uau! — Exclamou Francielle ao admirar as estrelas dali. Sem a luz da fogueira, ficavam ainda mais nítidas. — É tão lindo, Nath! Como achou?

— Eu já vim aqui uma vez — Ele respondeu, também olhando para o céu — Me perdi enquanto brincava com Ambre e acabei aqui. Sabia que você iria gostar.

— Mas é claro! — Ela sorriu, dessa vez para o garoto. Um pequeno rubor se espalhou pelas bochechas branquinhas do menino quando Francielle o abraçou. — Obrigada!

E eles ficaram ali, admirando as estrelas por alguns instantes. As estrelas exerciam um poder estranho sobre Francielle. Elas a acalmavam, era como se o mundo pertencesse apenas a ela. A lembrava de que seus pais estavam em algum avião agora, pegando estrelas para ela, assim como sua tia lhe disse.

— Fran... — Nathaniel a chamou.

— Sim? — Respondeu sem olhá-lo.

— Pra você — O garoto esticou o punho fechado em sua direção. — Feliz aniversário.

— O que é? — Perguntou, abrindo a palma da mão. Ele colocou ali um correntinha dourada. Como pingente uma estrela brilhava. — Obrigada! Muito, muito obrigada mesmo! É tão lindo!

— Eu ponho pra você — Encaixou a pulseira em seu braço.

A menina continuou admirando o presente do amigo por um tempo, mas, quando desviou o olhar por um minuto, percebeu algo branco colado ao braço de Nathaniel. Ela o puxou no mesmo instante, suspendo a manga comprida, claramente tentando esconder o machucado.

— Não acredito... Quando foi? — Ela foi direto, já sabendo como ele adquirira aquilo.

— Ontem. Ele não estava... muito bem. Mas não foi culpa dele.

— Não tente colocar a culpa em você de novo, Nath. Você sabe que eu te conheço. — Ela olhou novamente para o machucado, dessa vez um pouco mais triste. — Desculpe por não estar lá.

— Você não precisava estar.

— Eu queria estar. Você sempre me protege, também quero fazer o mesmo. — Ela o encarou por um tempo — Prometo que sempre vou estar por perto pra te salvar, ok? Juro juradinho.

O menino riu, não duvidando da coragem da menina, mas sim feliz por tê-la por perto. Ele a abraçou forte.

— Ok, Fran. Também estarei.