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História Far Away - Regras


Escrita por: Abby_Queen

Notas do Autor


Hey!

Voltei! E realmente deu um pouco de trabalho escrever esse daqui. Mas espero que gostem, dei o meu melhor. Caso encontrem algum erro, por favor, podem falar.

Boa leitura, nos vemos lá embaixo ;)

Capítulo 3 - Regras


Fanfic / Fanfiction Far Away - Regras

11 meses antes...

— Por isso é fundamental que vocês gravem essas três regras básicas... — O professor Faraize dava sua aula normalmente, embora 98% da sala não estivesse prestando atenção.

Para ser sincero, naquele dia nem eu mesmo estava conseguindo manter a atenção na aula. Não por falta de concentração, que é um problema que nunca tive. Naquele dia especifico, todos estavam estranhamente agitados. Fora do normal até para eles. Todos, com exceção de Melody e eu, estavam cochichando sobre algo. Não pude deixar de notar que até mesmo Melody estava se remoendo de vontade para saber do que se tratava.

Na verdade, está assim desde ontem, quando Peggy lançou seu mais atual artigo. Não dei uma olhada muito longa por grande falta de interesse, mas deu pra entender que um novo aluno chegaria ao colégio. Tudo bem que é uma novidade, e que as pessoas dessa escola não perdem a oportunidade de criar histórias, mas já tá dando nos nervos isso. Parece até que a filha do presidente vai vir estudar aqui.

O sinal tocou e, como um estouro de bois, os alunos praticamente arrancaram suas mochilas das cadeiras e saíram. O pobre professor Faraize nem teve tempo de terminar a explicação importantíssima que cairia na prova da próxima semana. Peguei meus livros e saí da sala.

O corredor não poderia estar mais silencioso e vazio. E isso se repetia no primeiro andar. Todos os alunos estavam concentrados no pátio, como uma pequena plateia. Ao avistar Francielle guardando tranquilamente seus livros no armário, passei meu braço por seu pescoço.

— Não me diga que o John Lennon ressuscitou e veio nos visitar — Falei enquanto caminhávamos para o portão, ignorando a turba aglomerada nas mesas.

— Poderia ser o Michael Jackson que eu não tô nem aí — Respondeu — Esse povo não precisa de muito pra fazer um estardalhaço. Deve ser o transferido.

Encontramos Castiel e Lysandre em frente ao portão.

— Não entendo como alguém tão certinho pode se atrasar desse jeito — Castiel deu um soco em meu braço.

— Simplesmente não tive pressa para descer. Ou eu deveria seguir seu conselho de nem ao menos assistir a aula? — Levantei uma das sobrancelhas.

— Seria uma boa ideia, confesso. — Ele riu.

— Vamos? Não vejo a hora de treinar a música nova — Francielle estava aos pulos do meu lado.

— Não vai desafinar de novo, né? — Olhei para ela, dando um peteleco em sua testa.

— Olha quem fala, por acaso fui eu que quase furei o olho do Lys por não segurar direito a baqueta?

— Acidentes acontecem. — Me defendi.

— Desafinações também.

— Vocês continuam nessa melação aí porque eu esqueci uma coisa no armário — Castiel fala — Já volto.

Ele entrou novamente na escola, enquanto Francielle e eu fomos para o carro.

Tempo atual...

11h50.

Quanto uma pessoa consegue correr em trinta minutos? Um ser humano normalmente alcança cinco quilômetros em uma hora andando. Com cinco quilômetros eu conseguiria chegar, talvez, na praia? Mas daí não teria pra onde ir.

Fugir obviamente é a pior solução. Quer dizer, não é solução. Ela me acharia em qualquer lugar mesmo. Talvez eu nem chegasse a praia até ela sentir minha falta. Com “sentir minha falta” eu me refiro à notar que eu não estou aqui. Já cheguei a duvidar seriamente que ela ao menos seja capaz de sentir alguma coisa. Mas qualquer coisa que fuja de seus padrões, a incomoda. Eu sumir, no caso, seria fugir de seus padrões.

Não é tão irritante viver cheio de regras quando você se acostuma. Mas uma vez ou outra a ideia de fugir lhe vem à mente. Embora pareça a mais fácil, ela é apenas isso: fácil. Digo isso porque já tentei. E, digamos, não me rendeu boas lembranças. Na verdade, isso causou consequências muito piores. Que se estendem até hoje.

11h58

Ok, talvez não dê para se acostumar tanto assim com regras, mas você aprende que, em algumas situações, elas são bem úteis. Regras são feitas para serem cumpridas. Para formar a sociedade. A sociedade é formada por dois tipos básicos de pessoas: os cumpridores e os infratores. Talvez seguir as regras não seja mais fácil, mas é o mais lucrativo.

Você pode achar que eu pareço um maníaco por regras falando assim. Digamos que eu aprendi que segui-las é o melhor. Pelo menos aqui. Veja o que acontece quando eu decido quebra-las.

Enquanto desço a escada, ouço meus próprios passos ecoando pela casa grande e vazia. O relógio da sala marca 12h05. Cinco minutos. Meros cinco minutos.

— Você está atrasado. — É assim que sou recebido pela minha mãe quando entro na sala de jantar, encontrando-a na cabeceira da mesa, com Ambre do lado esquerdo, já almoçando. — O que estava fazendo?

— Pensando. — Respondo puxando a cadeira ao seu lado direito.

— Quantas vezes terei que dizer para não deixar besteiras interferirem nos horários? O almoço é as 12h00, não 12h05. Não é algo difícil de se entender, é?

— Não, mãe. Desculpe.

— Faça seu prato e coma. Não perca mais tempo. O tempo-

— Não espera, eu sei, mãe — A interrompo, na frase que ouvi a minha vida toda. — Não estou com fome.

— Por acaso você comeu alguma coisa antes do almoço? — Vejo uma ruga de irritação pontar na sua testa.

— Não.

— E então? — Ela continua esperando uma resposta.

— Eu não posso simplesmente não estar com fome?

— Não, não pode. E não esqueça que sou sua mãe. Tome cuidado com o que diz — Ela limpa a boca com o guardanapo. Ambre faz o mesmo, tão quieta quanto uma tábua. — Ambre irá treinar piano agora, e você arrume isso tudo assim que terminar. Nada fora do lugar.

— Certo, mãe.

— Vamos querida. Quero ver como está no piano — Ela abraça Ambre pelos ombros, com um sorriso que nunca foi direcionado a mim.

Suspiro, apoiando as costas na cadeira assim que elas saem. É cansativo ter de lidar com uma pessoa que só pensa nas suas próprias regras, que qualquer outra coisa ou pessoa é um mero objeto de seu jogo. E lidar com outra que só pensa no próprio nariz. Pelo menos a pior parte de todas, já não preciso lidar mais.

Depois de guardar tudo, lavar todos os pratos e arrumar a mesa inteira, subo até meu quarto. Escuto o som do piano, e vozes do outro lado do corredor. O toque do piano é doce e delicado. Tudo o que o ar dessa casa não é.

Quando coloco o uniforme, pego a mochila, jogando-a nos ombros, e vou até a sala de música.

— Já estou indo para o colégio — Aviso.

— Não esqueça de voltar no horário. Você tem um relógio no pulso. Use-o.

Nada de “Tchau, filho, até mais”. Nem só “Tchau”. Essa é a minha mãe.

Largo a mochila na parte de trás do carro, dou partida e saio. A maioria das pessoas acharia estranho alguém passar mais tempo no colégio do que o necessário, mas quando se tem uma família como a minha — se é que posso chamar isto de família — qualquer motivo que arranje para passar fora de casa já é o bastante.

Porque esta é a vida que eu tenho. Uma mãe que não se importa comigo, ou com ninguém além dela mesma, sua empresa e sua querida Ambre, uma irmã narcisista e insuportável, que, surpreendentemente, é a mais fácil de lidar. E um pai que... bem, talvez não seja uma boa ideia falar dele. Não se fala de pessoas mortas.

Num termo geral, eu resumiria dizendo que não tive um pai. Nossa relação era extremamente mecânica, como chefe de família e membro. As únicas vezes que passávamos disso, era quando eu conseguia desagradá-lo em alguma coisa. Aí então ele dava “lembranças” para que eu nunca mais repetisse o mesmo. Não é algo do que eu goste de lembrar. Ele morreu há dois anos, e não pretendo desenterra-lo.

Paro o carro no estacionamento do colégio, e vou em direção à biblioteca. Melody, que cuida da biblioteca de tarde, está fazendo a lição atrás do balcão. Ela sorri e acena quando me vê. Melody é uma garota muito simpática, eu a conheci quando ela entrou ainda no fundamental. É inteligente e dedicada, só um pouco boba. Sua mãe, que a criou sozinha, é igualmente simpática.

Apesar de saber como ela se sente em relação a mim, não a vejo de outro jeito além de como uma amiga. A admiro pelo fato de, mesmo eu não correspondendo a sua confissão, ela continua me tratando normalmente. O mundo precisa de mais pessoas assim.

Sento-me em uma das mesas e começo a terminar alguns exercícios. Pouco tempo depois, Melody se senta à minha frente.

— Eu fico encantada quando você se concentra para fazer uma lição — Ela sorri.

— Eu apenas me esforço.

— Ah, eu não me referia a isso... — Ela ruboriza, logo balançando a cabeça — Mas não é sobre isso que eu queria falar. Lembra da Debrah?

— Por que quer falar sobre ela agora? — Tiro minha concentração do livro quando escuto aquele nome desagradável — Prometemos enterrá-la para sempre.

— Ah, desculpe, eu sei que você não gosta, mas é que eu achei bem interessante. Ela estava na TV. — Seu olhar parece longe — Parece que ela conseguiu o sucesso que tanto queria.

— Uma pessoa como ela, manipuladora, chegaria em qualquer lugar. Passaria por cima de quem quisesse pra isso. Ela não merece sua admiração.

— Ah, eu não a admiro! Longe disso! Eu apenas estava surpresa. Não achei que ela fosse tão longe. — Ela balança a cabeça rapidamente, negando. — E pensar que ela destruiu a sua melhor amizade...

— Nossa amizade foi destruída porque eles concluíram o que quiseram, sem ouvir os lados. Eu não posso, e nem quero fazer mais nada.

Ela faz um biquinho, chateada.

— Mas vocês eram tão bons amigos. Agora praticamente se odeiam.

— Eles me odeiam. Simplesmente isso.

— Mas você também não faz nada. Eu posso não saber muito sobre aquele dia, afinal eu não estava lá, mas eu acho que se você tentasse explicar...

— Isso já passou, não há por que se lembrar disso agora. As coisas são assim, porque sim — Me levanto, guardo o caderno na mochila e pego o livro. Abro um sorriso — Você deveria voltar a cuidar da biblioteca. Estarei na piscina, como sempre.

— Não se esforce demais.

O que importa se a culpada foi ela? Não poderia fazer nada. Castiel ficou obcecado por aquela manipuladora, ela o fez de gato e sapato. Ele sabia que ela o abandonaria no fim das contas, mas resolveu descontar em mim toda sua frustação. Ninguém conseguiu fazer alguma coisa. Nem Lysandre, nem seus tios. No fim, ele se tornou um poço de rancor. Não tenho motivos para tentar voltar a conversar com ele.

A única coisa que me perturba até hoje é o fato de Francielle ter acreditado naquela manipuladora e não em mim. Bolas que Castiel tivesse acreditado! Ele estava cego de amor, eu entendo. Mas Francielle? Éramos amigos muito tempo antes de Debrah aparecer e deixou que um simples mal entendido acabasse com tudo. E eu tentei explicar. Milhares de vezes, aliás. Mas ela simplesmente me ignorava, como continua me ignorando. Talvez nossa amizade não fosse tão forte como pensei ser.

Paro em frente a piscina, com o óculos de natação nas mãos. E se fosse o contrário? E se fosse ela a ser acusada por algo que não fez? Tenho certeza que as coisas não seriam tão claras como ela acha ser agora. Eles deixaram uma amizade da vida inteira se desmanchar por isso. Por que eu tenho que fazer alguma coisa? Por que não pode ser eles a escutarem um pouco por pelo menos trinta segundos?!

Pulo na piscina, instantaneamente atingido pelo frio da água. Braçadas longas, movimentos fortes. O meu maior erro foi ter tentado ajudar. Como eu poderia saber que aquela cobra estaria planejando? Nem eu fazia ideia do quanto ela era venenosa. Meu erro foi ter descoberto isso tarde demais.

Continuei nadando até meus músculos começarem a doer. Sentei na beira da piscina, tentando recuperar o fôlego. Não posso me lamentar por algo que não foi culpa minha. Francielle e Castiel que devem se sentir culpados. Eles que julgaram antes de ouvir todos os lados. Me crucificaram como a forma mais fácil de canalizar sua dor. O que eu posso fazer? Além de que eu tenho problemas mais importantes. Que eu não posso simplesmente jogar em cima de alguém como eles fizeram.

Depois de passar no vestiário, fui direto ao estacionamento. Já estava ficando tarde e eu já esgotei o limite do quanto posso contrariar minha mãe por dia. Então peguei o carro e fui direto para casa. Mas, ao parar em frente ao portão, vejo Francielle sair de casa, bater a porta com muita raiva. Depois, sentou-se ali mesmo. Eu conhecia aquela expressão muito bem pra saber o que estava acontecendo.

Assim que saí do carro, Francielle me olhou torto. Não me importei.

— Qual foi a desculpa deles dessa vez? — Coloco as mãos nos bolsos, parando em pé ao seu lado.

— Cuide dos seus problemas que eu cuido dos meus.

— Você não parece estar sabendo lidar muito bem com eles. Tem certeza que não quer ajuda?

Ela me encara friamente, depois se levanta.

— O que você quer, Nathaniel? — Ela pergunta — Mais um motivo pra me machucar? Não acha que já fez o bastante? Não preciso de ajuda sua pra isso.

— Eu não vou repetir o que eu já falei mil vezes.

— Ótimo! Não vai adiantar de qualquer forma. Guarde suas desculpas para alguém que acredite nelas.

Diz e logo vai embora. Eu sei o que ela fez. Mascarou a tristeza com raiva. Mas ela não consegue admitir que mesmo depois de tanto tempo a falta dois pais a machuca. A única diferença de antes para agora, é que antes ela me falava isso, pedindo ajuda. Agora eu sou só um espectador indesejado.


Notas Finais


Confesso que amo escrever no ponto de vista masculino, mas sempre fico apreensiva de fazer algo mal feito. O que acharam? Será que consegui passar a impressão que eu queria? Nathaniel é um personagem bem intenso para mim, e espero conseguir passar isso para vocês da maneira correta.

Dois beijos e até mais!


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