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História Farce - Jouir


Escrita por: souhamucek

Notas do Autor


Esse capítulo é dedicado a minha amiga, Anne.
Eu amei escrever esse capítulo, acho que foi um dos meus favoritos. Tentei trazer um ar bem leve e descontraído para "amenizar" um pouco da sequencia dark que sido.
Espero que vocês gostem.
Ps. Laurie só fará uma pequena participação na estória.
O próximo capítulo já está escrito, então não demorarei a atualizar a fanfic.

Capítulo 10 - Jouir


Fanfic / Fanfiction Farce - Jouir

Apreciar

Paris, 3 de março de 2015

O frescor marcante das manhãs parisienses não estava ávido como de costume. Atrevia-me a dizer que aquela alvorada estava calorosa. Os termômetros na cidade luz marcavam os graus positivos, como se combinassem com o meu estado de espírito. Junto ao frio, a minha solidão havia partido. 

Abri o mapa do metrô que Catherine guardara na gaveta da mesa de centro e busquei um novo destino. Eu queria me lembrar de Paris com alguma sensação indescritível. Eu não poderia mais associar a cidade aos olhos azuis mais brilhantes. Observei atentamente o caminho dos trens, as cidades adjacentes e decidi por explorar um pouco mais a França. 

Porém, eu não era o único interessado no meu intercâmbio. Era de minha responsabilidade avisar ao meu pai que tão logo eu estaria de volta. Analisando a instabilidade emocional corriqueira, o quanto mais próximo de casa eu estivesse era melhor para mim. Eu precisava avisar à minha família.

Eu conseguiria aprender francês em Quebec ou Montreal. Por que raios escolhi um país tão distante para morar? Tolo.

Deslizei a ponta dos dedos rapidamente sobre a tela lisa ao discar para o número de meu pai. Coloquei o celular no ouvindo, apoiando-o com o ombro e insisti em bisbilhotar cada detalhe daquele mapa. Sem obter respostas, disparei outra ligação. Assim que desisti de ligar, deixei o aparelho sobre a mesa. Levantei-me para escolher a roupa menos agasalhada que eu usaria e, naquele instante, o celular tocou. Embora eu estivesse relativamente perto, corri para atendê-lo.

— Alô, pai? — encaixei de novo o celular entre uma bochecha e o ombro. — Onde estava?

— Oi, meu filho. Como está? — sua voz era distante, como se o celular estivesse no viva voz. — Eu estou dirigindo, não ouvi o celular tocar. Peço desculpas. 

— Sem problemas. Como estão as coisas por aí? O vovô ainda está muito mal? — enrolei um pouco para chegar aonde eu pretendia.

Puxei um tricô de lã islandesa o qual a minha mãe comprara anos antes numa viagem à trabalho. Afastei o celular durante alguns instantes para me vestir, retornando-o em seguida.

— ...o papai está bem. Não há tempo para se sentir sozinho, estamos ainda mais unidos agora. — seu tom era esperançoso. — E você, Jus? O que me conta de bom?

Cocei a garganta enquanto eu procurava as palavras certas.

— Então, pai, eu estava pensando e acho melhor antecipar minha volta para casa. — ele ficou em silêncio. Eu só conseguia escutar sua respiração d'outro lado da linha. — Sinto-me culpado por não ter ido ao enterro da vovó. Acho injusto deixá-los aí enquanto aproveito a Europa sozinho. É egoísmo de minha parte. Vocês precisam de mim.

— De novo este assunto? Justin, não fale besteira. Já conversamos sobre o velório. Eu quis te poupar de tamanha tristeza. Quero que guarde apenas memórias boas da sua avó. Cemitérios são pesados e desnecessários. Eu mesmo só fui porque alguém tinha que velar o caixão. Sem contar que a sua presença aqui seria nula... — eu o interrompo.

— Obrigado por informar a minha relevância.

— Você entendeu. — ele riu. — Você estuda o dia inteiro. Nos finais de semanas, sai com os amigos. Quando você está em casa, mal sai do quarto. — concordei com a garganta. — Você não está feliz aí?

Bufei, encarando os pés descalços.

— Eu estou. Paris é linda e cativante, mas tudo aqui me faz lembrar a Chloé. — desabafei. — Então, é como se juntasse a minha culpa pela ausência com vocês à saudade da minha francesa.

— Justin, você está na Europa! — repreendeu-me. — Pegue um trem e vá a Amsterdã, ou eu sei lá para onde. Apenas divirta-se. — não pude deixar de sorrir ao ouvi-lo me encorajar, mas, ainda não contente, ele prosseguiu. — Às vezes nós não ficamos com as pessoas as quais gostamos. Veja eu e a sua mãe. É nítido que nunca a esqueci, contudo nós não éramos mais felizes juntos. Apesar de eu ter me magoado muito na separação e, ainda mais, quando descobri a traição, não me arrependo de nada o que eu vivi. Afinal, graças a ela que eu tenho você.

— Eu te amo, pai.

— Para resumir: Fique feliz porque ao menos você pôde conhece-la. Olhe para a torre à noite, lembre-se de que "não há nada no mundo mais que lindo que ver os olhos da Chloé brilharem" e sorria. — finalizou, imitando a minha voz e pude deduzir que ele gesticulou as aspas. Imaginação esta que foi de me arrancar uma risada.

— Pode deixar, pai. Agora eu preciso desligar, farei o que me pediu: aproveitarei Paris. — comemorou ainda na linha. — Obrigado, viu? Te amo!

— Também te amo, meu filho. Assim que resolvermos tudo por aqui, em Toronto, seu avô e eu visitaremos você. Um beijo.

Ouvi o ruído que indicava que ele havia desligado e atirei o celular na cama. Peguei o jeans jogado no chão, logo o vestindo. Sem perder tempo, joguei-me colchão bagunçado. Trouxe meu celular par perto de mim e comecei a pesquisar o melhor preço para as cidades praieiras francesas, dando preferência a Marselha e Nice.

Para a minha surpresa, o trem para os países baixos e Bélgica era mais barato. No entanto, uma parte de mim tinha esperança de um conhecer estes Estados ao lado de Chloé — eu sei, eu era um trouxa. O trajeto me tomaria muito tempo tanto de trem quanto de carro. Por conta disso, mesmo existindo uma pequena diferença entre os valores, preferi escolher um voo.

Viajar sozinho é uma experiência única e muito enriquecedora, porém, àquela altura, a última coisa que eu queria era ficar só.

Nem se quer me preocupei em vestir os pés para deixar a cama e rumar a residência em frente. Esmurrei seguidamente a porta de madeira. Impaciente comecei a chamar pelo nome de Pierre então não sessava as batidas. A vizinha do apartamento ao lado abriu a porta, erguendo uma das sobrancelhas para mim.

— Desculpe, Sra. Blanche. Não tive a intenção de acordá-la. — ela sorriu de forma rude, não tardando a fechar a porta. Chutei a madeira ao balbuciar. — Pierre, cadê você?

Antes que eu pudesse bater pela última vez, o magrelo abriu o portal de maneira brusca.

— Meu Deus! Não se pode mais fazer cocô em paz. — resmungou.

— Bom dia para você também, amigo. — sorrimos amplamente. — Venho com um convite irrecusável. Vamos comigo a Nice hoje? Eu pago.

— Nice não, vamos a Marselha, por favor. Laurie Cooper desfilará no Petit Nice Passédat!

— Quem é Laurie Cooper?

Os olhos acinzentados arregalaram junto aos lábios que se separaram numa feição de choque.

— Laurie Cooper é ninguém menos que a modelo mais bem paga no mundo sem nunca ter passado pela Victoria’s Secrets. — disse orgulhoso de cada palavra. — Ela é a minha maior inspiração. Nós precisamos ir ao desfile dela!

— Arrume-se! Sairemos à tarde, eu quero pegar o pôr do sol na praia.

De volta ao apartamento, revirei as sacolas com roupas novas. Experimentei três vezes cada peça até decidir a melhor opção para o evento. Com a ajuda de Pierre, escolhi por tênis marrons, calça jeans com lavagem bem escura e uma camisa cinza. Caso fizesse frio ao anoitecer, eu complementaria com um casaco preto grosso em corte de sobretudo. Os óculos club master de Pierre com armação tartaruga casaram muito bem com o restante da roupa.

Sentindo-me um influente em moda, eu estava pronto. O vizinho, por sua vez, apostou em um visual street style — o qual ele me ensinou que possui um ar despojado de propósito. Era o mesmo que dizer que o importante era dar a impressão que caíra de skate. Olhamo-nos no espelho satisfeitos com o que víamos e enchemos uma mochila com mudas de roupas leves.

Sem perder mais tempo, adentramos o RER a caminho do aeroporto. Enquanto a paisagem variava ao lado de fora do trem, Pierre me mostrava fotos de Laurie Cooper. Aprendi o nome de diversas marcas, modelos, agencias e coisas as quais nunca havia me interessado. Encarar uma viagem com o amigo gay, quem eu ficara dias antes, foi a escolha certa. O francês sabia exatamente como me distrair.

Pouco mais de uma hora de voo depois, nós havíamos chegado a Marselha. Ou, como era chamada por eles, Marseille. Não me recordo de ter visto um lugar tão belo quanto aquele nunca na minha vida. A estrada perfeitamente asfaltada e urbanizada fazia me lembrar as ruas de Miami, a cidade que até então era a minha preferida. Os iates ancorados no porto eram tão luxuosos quanto os hotéis à beira-mar.

Conforme o previsto, nós chegamos no momento em que as tonalidades de rosa e lilás ganharam os céus. O fervoroso amarelar do sol coloria água turva. A noite se iniciou com um crepúsculo impecavelmente apaixonante e, assim, Marselha me conquistou.

— Aqui é maravilhoso. Eu poderia passar a noite inteira observando cada detalhe desta praia. — declarei encantado, antes de me agachar para pegar um pouco de areia nas mãos.

— Mas, sinto te informar, não temos esse tempo todo. — advertiu o francês. — O desfile começa em uma hora e nós nem sabemos onde fica o tal hotel.

Levantei-me, batendo uma mão na outra para retirar a areia.

— Acho melhor alugarmos um carro, as coisas aqui são distantes. — sugeri.

— Você ganhou na loteria e não me contou?

Abri as mãos com quem dizia “será?”, divertindo o magrelo. Pegamos um táxi até a locadora de carros, escolhemos um luxuoso tendo em vista que só ficaríamos um dia na cidade.

Conversível, preto e esportivo, nossa BMW Z4 corria em direção a Rue des Braves. O vento contra o para-brisa fazia um barulho alto ao mesmo tempo que nossos cabelos voavam. A arquitetura da província me maravilhou com as paredes uniformes. Como a maioria possuía a coloração branca, remetia-me à Grécia. Paradisíaca era a palavra para definir Marselha.

Assim que chegamos ao Petit Nice, o carro o qual eu alugara deixou de ser luxuoso, igualando-se a todos os demais estacionados nos arredores. O evento estava lotado. De acordo com Pierre, todos os grandes nomes da moda estavam presentes.

Cruzamos a muralha de imprensa em torno da passarela, no entanto, ainda assim, ficamos distantes das modelos. Atrás das cadeiras de convidados, assistíamos o desfile que já havia começado. Diversas beldades percorriam o palanque preto iluminado. Assisti desde as roupas mais conceituais às mais bonitas.

De repente, todos ficaram de pé. O meu campo de visão quase se extinguiu quando senti a mão de Pierre tocar a minha, completamente suada e trêmula.

— Justin, é ela! — ele me chacoalhou. — Ai, meu Deus!

Em meio às inúmeras cabeças amontoadas na minha frente, pude avistar o monumento humano sobre a passarela. Era difícil decifrar sua altura ao certo por conta do tamanho do salto alto que lhe vestia os pés. As longas pernas douradas brilhavam sob a luz dos holofotes iluminando cada passo. Os músculos da barriga se contraindo com os movimentos eram visíveis pelo recorte do vestido conceitual o qual trajava.

Esvoaçantes estavam seus cabelos longos e loiros. Eles combinavam perfeitamente com o tom de sua pele. Todavia, o que mais me chamou a atenção na mulher foi o desenho perfeito dos lábios pintados de vermelho. Por conta da distância, eu não conseguia afirmar a cor de seus olhos, mas aparentavam ser claros.

— Pierre, eu acho que essa é a mulher mais bonita que eu já vi. — gritei enquanto a salva de palmas alta ecoava no salão principal do hotel mais luxuoso da cidade.

— A Laurie é a mulher mais linda do mundo! — o francês aplaudia sem parar, perseguindo-a com os olhos. — Amigo, precisamos tirar uma foto com ela. — ele pegou novamente em meu braço, desta vez, puxando-me para perto de si. — Vamos! As modelos estão saindo por ali.

Arrastado para trás de uma cortina, partimos em direção a área da piscina. A vista da praia iluminada com a maré quebrando na areia em pleno luar era indescritível. Eu não precisava de fotos com famosos, nem champanhe, eu só queria ficar ali admirando a paisagem. Com um vestido longo bordado, a loira abandonou uma saleta onde deveria servir de camarim naquela noite.

Inconveniente, ao meu ver, Pierre cercou a mulher antes que pudesse chegar as lentes dos fotógrafos que a aguardavam. Trôpego, o magrelo começou a formular uma frase em francês. Por mais que eu não dominasse a língua, eu sabia que ele não dizia nada com nada.

Excusez-moi — interrompi —, espero que entenda inglês porque eu não falo francês. — soltei uma risada tímida, e ela assentiu. — Este é Pierre, um grande fã seu, viemos de Paris para vê-la desfilar esta noite.

— Óh, meu Deus! — para a nossa surpresa, a loira não hesitou em abraça-lo fortemente. — Que honra saber que vieram de tão longe para me ver. — deu um beijo na bochecha com a barba feita de meu vizinho.

— Eu não poderia deixar de parabeniza-la pelo desfile. Você estava linda! — exclamei enquanto ela ainda o abraçava.

Segundos depois, ela se desvencilhou do magrelo, vindo em minha direção. Abracei-a de forma contida, mais precisamente constrangida.

— Sabe, Laurie, eu acompanho a sua carreira desde o início e você sempre foi a minha maior inspiração. — ele começou, emocionando-a. — Durante o voo, eu ensaiei toda uma conversa na minha cabeça e agora, na sua frente, estou tão nervoso que não sai nada. Desculpe-me por ser tão bobo. Apenas saiba que você é maravilhosa, ok?

Sorridente, seu corpo se afasta de mim.

— Eu tenho certeza de que tudo o que ensaiou não é tão lindo quanto essas palavras de agora, Pierre. Muito obrigada pelo carinho! — tornou a abraça-lo. — E você é o...?

— Trans. — respondi desatento, soltando uma gargalhada. — Justin. — corrigi. — Eu sou o Justin. — desviei meu olhar para o chão enquanto meu rosto corava inteiramente.

— Céus, eu quase me esqueci. — o moreno saca o celular do bolso, entregando-me nas mãos. — Justin, tire uma foto minha com ela, por favor.

— Claro! — ergui a tela para abrir a câmera e os enxerguei abraçados. — Pronto. Outra. Agora só mais uma para garantir que todas saiam boas.

Pela lente do iPhone consegui decifrar a cor dos olhos da modelo. Os benditos orbes eram azuis. Celestes e delicados como aqueles os quais eu jamais me esqueceria. As esferas reluzentes que não brilhavam mais por mim.

Chloé.

Aquele perfume adocicado invadiu minhas narinas. O cheiro que eu nunca confundiria. Vindo do salão principal, o rastro floral me fazia segui-lo. Abandonei os dois na piscina sem me despedir. Eu precisava encontrar a dona da fragrância.

— Justin? — pude ouvir do lado de uma voz sussurrada a qual sumia entre os visitantes. — Justin? — aumentou o tom enquanto seus fios loiros desapareciam por completo rumo a saída do evento. — Justin!

— Chloé! — gritei, confuso, olhando para todos os lados.

— Jus...

Corri desesperado à procura do perfume que me escapara as narinas, bem como os cabelos dourados fugiram na rua. Pude vê-la se esconder no pequeno estacionamento em frente ao hotel. Atravessei a primeira faixa, mas não ousei terminar a passagem. Eu hesitei em alcançá-la a fim de evitar que ela partisse.

— Chloé? — insisti em chamá-la.

Justin! — a voz suplicava para que eu a seguisse.

Ela se perdeu entre os carros. Eu não conseguia mais vê-la. Nós precisávamos conversar. Por que ela estava se escondendo?

Brie com damasco sempre foi a minha comida favorita e agora nem isso mais eu consigo comer. — o tom manhoso se fez presente.

Certos flashbacks invadiram a minha mente, eu tentava me manter são, mas eu não conseguia protestar. Eu estava perdendo uma guerra contra a mim mesmo.

Se você me pedir, eu abro uma brasserie só com queijo brie. — menti para animá-la.

Eu quero. “Leclaire — Brasserie du Brie”.

Eu faço tudo o que você quiser.

Com as lembranças da promessa, meus olhos se preencheram de lágrimas. Eu encarava a mulher agachada entre a Mercedes e o Porsche, sorridente. No decote da blusa preta, eu podia assistir seu colo definido exalando a fragrância que eu perseguia.

Eu sorri de volta, mordendo o lábio inferior, na tentativa de conter toda a feição abobalhada. Um grito se fez ouvido em meio ao flerte. A loira desapareceu completamente. Busquei a voz que me despertara, sem sucesso.

— Justin, cuidado!

Em forma de reflexo, virei-me em direção a um som estridente de buzina. Vi uma luz fortíssima se aproximar de mim em velocidade abusiva.  Antes que eu pudesse correr, percebi que não haveria escapatória.

Escutei outro berro, talvez fosse até meu. A única coisa a qual eu consegui distinguir, naquele milésimo de segundo, foi meu semblante de pavor refletido no insulfilm negro do veículo.

Estrondo. Gritos. Flashes.

Em seguida, silêncio. Escuridão.


Notas Finais


Apesar de leve, sem polêmica ou tragédia, não sei escrever capítulo kkk.
Por favor, digam o que acharam do capítulo. Isso é MUITO importante para mim.
E, mais uma vez, infinitamente obrigada pelos 205favs e cada comentário.
Vocês são maravilhosos ♥


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